sexta-feira, 25 de maio de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ BAMIDBAR E SHAVUÓT 5772

BS"D



AMOR ETERNO – PARASHÁ BAMIDBAR E SHAVUÓT 5772 (25 de maio de 2012)



"Fabiana, uma garota adolescente, viajou certa vez para visitar seus avós. Ficou a tarde inteira vendo um álbum de fotografias, onde estavam até mesmo fotos mais antigas, ainda em preto e branco. As fotos que mais chamaram a atenção de Fabiana foram as do casamento dos avós. Fabiana estava orgulhosa de ver como seus avós, após várias décadas de casamento, ainda se amavam e se respeitavam.



Fabiana quis saber mais detalhes do casamento, quando as almas haviam se conectado. Finalmente ela pediu à avó para ver a aliança de casamento, que parecia um anel muito bonito. Ao pegar a aliança na mão, ela estranhou. Era um anel pesado e grosso, diferente das alianças usadas atualmente. Curiosa, perguntou para a avó:



- Vó, por que a sua aliança é tão grossa e pesada?



A avó não resistiu. Abriu um lindo sorriso e disse:



- É por que na nossa época, os casamentos eram feitos para durar para sempre. Então a aliança precisava ser mais grossa, para resistir ao tempo..."



Infelizmente, com casamentos descartáveis, as novas gerações se afastam cada vez mais do conceito de construir um relacionamento para sempre. Mas todo o ano Shavuót nos recorda que o nosso relacionamento com D'us, cujo casamento foi no Monte Sinai, há mais de 3.300 anos, é eterno.

                       

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Nesta semana começamos o quarto livro da Torá, Bamidbar. E a Parashá da semana, Bamidbar, começa com um censo do povo judeu, como está escrito: "E disse D'us para Moshé no deserto... Faça a contagem de toda a assembleia dos Filhos de Israel, de acordo com suas famílias..." (Bamidbar 1:1,2). Mas por que D'us comandou Moshé a contar o povo? Se Ele é onisciente, já não sabia a quantidade de pessoas? E, além disso, várias vezes na Torá o povo foi recontado. Por que a necessidade de tantas contagens?



Nossos sábios explicam através da comparação com um colecionador de moedas raras. O colecionador adora ficar admirando suas moedas. Ele conta e reconta várias vezes, mesmo já sabendo exatamente quantas moedas existem em sua coleção. O mesmo paralelo se aplica ao povo judeu. O amor de D'us pelo povo é tão grande que, mesmo sabendo quantas pessoas existem, Ele se alegra em recontá-las diversas vezes. E este amor entre D'us e o povo judeu é um dos principais temas da festa que se inicia após o Shabat, quando revivemos um dos momentos mais especiais do ano: Shavuót, o dia em que D'us se revelou diante de todo o povo judeu e nos entregou a Torá.



Para poder aproveitar bem o dia de Shavuót, precisamos entender o que a entrega da Torá realmente significou para o povo judeu. Há um Midrash interessante que diz que D'us, antes de entregar a Torá ao povo judeu, ofereceu-a a todos os outros povos, mas eles recusaram, pois não queriam se comprometer com um código de leis e conduta que implicava em mudanças de atitude. Somente após a recusa de todos os povos é que a Torá foi oferecida ao povo judeu e aceita incondicionalmente.



Deste Midrash fica uma grande pergunta. As Parashiót do começo da Torá, no livro de Bereshit, se alongam nos detalhes da vida dos nossos patriarcas, Avraham, Yitzchak e Yaacov, de quem recebemos uma incrível herança espiritual. Poderíamos pensar que nosso mérito de receber a Torá foi consequência do nível espiritual que eles alcançaram. Mas se a Torá foi oferecida para todos os povos, que não tinham nenhuma conexão com os nossos patriarcas, isto quer dizer que a descendência dos patriarcas não era pré-requisito para o recebimento da Torá. Portanto, para que D'us nos entregou o livro de Bereshit, que descreve a vida dos patriarcas, e não começou diretamente no livro de Shemot, na revelação de D'us e a entrega da Torá no Monte Sinai? Que diferença fez o elevado nível espiritual dos nossos patriarcas no relacionamento do povo judeu com D'us?



A resposta está em uma Mishná do Pirkei Avót, que ensina um importante fundamento sobre o relacionamento entre as pessoas: "Todo relacionamento de amor que é dependente de uma razão, quando a razão termina, o amor também termina. E todo relacionamento de amor que não é dependente de uma razão, não termina nunca" (Pirkei Avót 5:16). Mas como entender esta Mishná? Será que existe alguma maneira de uma pessoa amar outra sem nenhuma razão? Se não há nada especial, o que torna o relacionamento algo único e duradouro?



A verdade é que, no início, a construção de qualquer relacionamento depende de uma razão. Tanto se for uma razão física quanto emocional, esta razão é o que faz o relacionamento começar a florescer. Então o que a Mishná está ensinando? Que há dois tipos de relacionamento: aquele que continua dependente de alguma razão inicial, nunca se desenvolvendo para algo maior; e aquele que continua a se desenvolver até transcender a uma relação que não mais necessita daquela razão inicial. O amor que consegue transcender é o amor que durará para sempre, mas o amor que continua preso a uma razão inicial, quando a razão deixar de existir, o amor também deixará de existir.



Esta é a importância do livro de Bereshit, que descreve que os nossos patriarcas foram escolhidos por D'us por suas qualidades exemplares, por terem se destacado, em seus atos e escolhas, dentre toda a humanidade. Mas não apenas eles foram o motivo da escolha de D'us, eles foram capazes de transcender e transformar este relacionamento em um amor que duraria mesmo quando estas qualidades, que originaram a escolha, não mais existissem. Isto possibilitou que o pacto entre D'us e o povo judeu, firmado no Monte Sinai através da entrega da Torá, fosse eterno, mesmo quando o povo judeu não estivesse cumprindo as palavras da Torá.



O que conecta o povo judeu a D'us é que, através do esforço dos patriarcas, nós fomos elevados ao status de "Filhos". O esforço dos patriarcas é a fundação do nosso relacionamento com D'us. Quando o povo judeu transgrediu durante a história, como no caso do Bezerro de ouro, foi o mérito dos patriarcas que impediu que D'us quebrasse o pacto com o povo, como está escrito: "Moshé começou a suplicar diante de D'us... Retire a Sua raiva e não faça mal ao Seu povo. Lembre-se dos teus servos Avraham, Yitzchak e Yaacov, que Você jurou para eles..." (Shemot 32:11,13).



O que teria acontecido se os outros povos também tivessem recebido a Torá? Seria um pacto baseado em um compromisso mútuo, mas sujeito à revogação no caso de uma das partes quebrar o compromisso. Apenas o povo judeu conquistou, pelas fundações cavadas pelos nossos patriarcas, o mérito de construir um relacionamento eterno com D'us, que nunca foi e nunca será revogado. D'us pode ficar bravo quando o povo judeu se desvia dos caminhos corretos, como já ocorreu diversas vezes na história, quando sentimos a Sua fúria por termos nos afastado. Mas, apesar das dificuldades, o pacto com Ele nunca será quebrado.



Portanto, este é o verdadeiro valor de Shavuót. Devemos reviver neste dia o momento em que selamos um pacto de amor eterno com D'us, recebendo novamente a Torá. A Torá não deve ser algo do passado, uma lembrança dos nossos patriarcas, do alto nível em que chegaram. Deve ser parte de nossa vida, um manual de instruções, um modelo de onde podemos, com esforço e perseverança, chegar.



SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH



R' Efraim Birbojm