sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIETZE 5770

BS"D
SUBINDO OU DESCENDO? - PARASHÁ VAIETZE 5770 (27 de novembro de 2009)
"Pedro, um experiente lenhador, estava desempregado e saiu à procura de uma nova oportunidade de trabalho. Ele era, porém, muito franzino, e fugia completamente dos padrões dos lenhadores, que em geral eram homens grandes e fortes. Além disso, o machado que ele carregava era desproporcional ao seu tamanho.
Em suas andanças, Pedro chegou a um local onde muitos homens derrubavam árvores a machadadas. Apresentou-se ao capataz da madeireira como um lenhador em busca de um emprego, mas o capataz, após olhar seu tamanho, disse com desdém que precisava de pessoas capazes de derrubar grandes árvores e não de catadores de gravetos. Pedro, que necessitava muito do emprego, insistiu. Pediu que lhe fosse dada uma oportunidade para demonstrar sua capacidade. Afinal, ele era um profissional experiente.
Com relutância, o capataz resolveu levar Pedro à área onde as árvores estavam sendo derrubadas.
E só fez isso pensando em divertir os demais lenhadores às custas de Pedro. Afinal, ele parecia um fracote, seria engraçado vê-lo tentando, sem sucesso, derrubar uma árvore. Sob os olhares dos demais lenhadores, que riam por dentro diante daquele homem franzino, Pedro se postou frente a uma árvore de grande porte e, com o grito de "madeira", deu uma machadada tão violenta que a árvore caiu logo no primeiro golpe. Todos ficaram atônitos. Como era possível tanta habilidade e uma força tão descomunal, que conseguia derrubar uma grande árvore numa só machadada? Pedro foi imediatamente admitido na madeireira. Seu trabalho era elogiado por todos, principalmente pelo patrão, que via em Pedro uma fonte adicional de receita.
O tempo foi passando e, gradativamente, Pedro foi reduzindo a quantidade de árvores que derrubava. O fato era incompreensível, uma vez que Pedro estava se esforçando cada vez mais. Meses depois, ele encontrava-se entre os lenhadores que menos produziam. O capataz, que era um homem experiente, chamou Pedro e questionou sobre o seu fraco desempenho. Pedro não sabia explicar, nunca havia se esforçado tanto e, apesar disso, a produção continuava diminuindo.
O capataz pediu, então, para que Pedro lhe mostrasse o seu machado. Notou que ele estava completamente cego, sem fio de corte. Perguntou para Pedro por que ele não havia afiado o machado. Pedro, surpreso, respondeu que estava trabalhando tanto que não tinha sobrado tempo para afiar a sua ferramenta de trabalho. O capataz ordenou que Pedro ficasse naquele dia no acampamento e amolasse seu machado, e só depois disso poderia voltar ao trabalho. Pedro fez o que lhe foi mandado.
Quando retornou à floresta, no dia seguinte, percebeu que tinha voltado à antiga forma, conseguia derrubar as árvores com uma só machadada. O problema não era falta de habilidade ou de força. O problema é que a ferramenta não estava adequada ao trabalho"
A história de Pedro ensina algo importante para nossas vidas. Preocupados em executar nosso trabalho e julgando que já sabemos tudo, esquecemos de "afiar o nosso machado", ou seja, deixamos de investir no nosso crescimento e, sem saber por que, vamos perdendo nosso potencial. Algumas vezes na vida precisamos "perder tempo" para afiar o nosso machado, para assim continuarmos a crescer.
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Na Parashá desta semana, Vaietze, Yaacov foge de seu irmão Essav, que queria matá-lo, e vai para a casa de seu tio Lavan, onde se casa com suas primas Rachel e Lea. E assim a Torá descreve o primeiro encontro de Yaacov com Rachel: "E Yaacov deu um beijo em Rachel, e levantou sua voz e chorou" (Bereshit 29:11). Rashi, comentarista da Torá, explica que Yaacov chorou pois havia encontrado a mulher com quem gostaria de se casar mas, ao contrário de seu pai Ytzchak, que havia mandado muitas jóias e mercadorias de valor para oferecer à família de sua esposa, Yaacov vinha de mãos vazias, não tinha nada para dar para à família de Rachel. Isso é um pouco estranho, pois a Torá conta que da mesma forma que Avraham teve muito sucesso e acumulou riquezas, assim também Ytzchak cresceu e prosperou muito. Então por que Yaacov vinha de mãos vazias?
Rashi explica que quando Yaacov fugiu, Essav mandou seu filho Elifaz persegui-lo, com a intenção de matá-lo. Mas Elifaz, que havia sido criado no colo de Ytzchak, tinha recebido muitos bons ensinamentos, e mesmo quando alcançou seu tio Yaacov, percebeu que seu valores morais não o deixariam matá-lo. Porém, por outro lado, Elifaz sentia-se culpado por não cumprir a ordem de seu pai. Yaacov resolveu o problema de maneira brilhante. Segundo a Torá, a pessoa que é completamente pobre, pelo fato de não ter condições financeiras de fazer caridade com os outros, é considerado como se estivesse morta. Então Yaacov orientou Elifaz a tirar dele todos os bens que trazia para a viagem, para que assim Yaacov fosse considerado morto e Elifaz pudesse cumprir a vontade de seu pai sem derramar sangue.
Porém, fazendo uma análise psicológica de Elifaz, percebemos que aparentemente há algo muito errado com ele. Por um lado sua moralidade o impedia de matar, mas por outro lado ele queria de qualquer maneira cumprir as ordens de seu pai, mesmo que para isso tivesse que assassinar uma pessoa inocente. Em um momento ele é o filho de Essav, o malvado, no outro ele é o aluno de Ytzchak, o Tzadik (justo). Como pode um ser humano lidar com duas forças tão contraditórias dentro de si?
Ensina o Rav Chaim Shmulevitz que isso não é algo específico só de Elifaz. Dele aprendemos um pouco mais sobre a alma de todos os seres humanos, pois dentro de cada um de nós existe uma luta entre a luz e a escuridão, que se misturam constantemente. E é daí que surgem as grandes contradições do ser humano. Queremos ser boas pessoas, mas gritamos com alguém que nos incomoda. Queremos ser mais espiritualizados, mas não estamos dispostos a abrir mão de nenhum prazer material. É isso que possibilita que muitas pessoas enxerguem a verdade mas prefiram continuar vivendo na mentira.
Desde o erro de Adam Harishon temos esta contradição dentro de nós. Quando Adam Harishon comeu o fruto proibido, ele colocou o mal para dentro do ser humano. O mal se misturou com o bem, e a conseqüência é que muitas vezes fazemos transgressões achando que são Mitzvót. Por que é tão importante este ensinamento? Pois muitas vezes tentamos ser boas pessoas, fazemos bons atos e tentamos viver da maneira correta, e achamos que o mal se anula sozinho. Porém, aprendemos de Elifaz que o lado negativo não se anula sozinho, é preciso um trabalho específico para tirá-lo de dentro de nós. Ele foi criado no colo de Ytzchak, mas mesmo assim se confundia a ponto de pensar em matar alguém para cumprir a Mitzvá de honrar seu pai. Apesar de todos os bons ensinamentos, o mal continuava lá, influenciando em suas decisões.
Portanto, não há nada pior para o ser humano do que o comodismo, achar que já somos boas pessoas e não precisamos crescer. Pois todo momento que não estamos expulsando o mal de dentro de nós, nossos atos podem estar sendo direcionados por esta força negativa. É necessário um trabalho de reflexão, de enxergar as nossas más características e trabalhar para mudá-las. Ser uma pessoa completa exige esforço, exige dedicação. Temos tempo para tudo, mas nunca encontramos tempo para refletir. Isso é um grande erro, pois disso depende todo o nosso sucesso espiritual. Não adianta apenas o talento e a força, pois todo momento em que o machado não está afiado, ele não consegue derrubar nenhuma árvore.
"A vida é uma escada rolante que desce. Se não estamos subindo, então automaticamente estamos descendo"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm