sexta-feira, 20 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHELACH 5768


BS"D

APRENDENDO COM OS ERROS - PARASHÁ SHELACH 5768 (20 de junho 2008)

Certa vez duas moscas caíram num copo de leite. A primeira era forte e valente, e logo ao cair nadou até a borda do copo para tentar sair, mas como a superfície era muito lisa e suas asas estavam molhadas, seu esforço foi vão. Tentou por várias vezes subir com todas as suas forças, mas não conseguiu. Acreditando que não havia saída, a mosca desistiu e afundou.

Sua companheira, apesar de não ser tão forte, era persistente e observadora. Aprendeu que não adiantava tentar escalar as paredes do copo, e decidiu tentar algo diferente. Juntando todas as suas forças, começou a se debater, e assim ficou por tanto tempo que, aos poucos, o leite ao seu redor foi se transformando em manteiga. A mosca subiu em um pequeno nódulo e conseguiu levantar vôo para um lugar seguro.

Tempos depois, a mesma mosca se descuidou e novamente caiu em um copo. Imediatamente começou a se debater, na esperança de que, no devido tempo, se salvaria, mas o tempo passava e nada acontecia. Outra mosca, passando por ali e vendo a aflição da companheira, pousou na beira do copo e gritou:

"Tem um canudo ali, nade até lá e suba pelo canudo".

A mosca não lhe deu ouvidos, e baseando-se na sua experiência anterior de sucesso, continuou a se debater e a se debater até que, exausta, afundou no copo. Desta vez o copo estava cheio de água.

"Podemos e devemos aprender com os nossos erros. Porém, o aprendizado não precisa ser apenas através dos nossos próprios erros. Podemos aprender muito observando os erros que os outros à nossa volta cometem"
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A Parashá da semana passada, Behalotechá, terminou com o Lashon Hará (malediscência) que Miriam fez de seu irmão Moshé, e o duro castigo que ela recebeu por isso. E a Parashá desta semana, Shelach, começa a contar sobre os 12 homens enviados para espionar a terra de Israel. O que deveria ser apenas uma missão de reconhecimento se transformou em uma tragédia: os espiões falaram mal sobre a terra, e o povo judeu, desesperançoso, chorou. D'us decretou que aquela geração não tinha méritos para entrar na terra de Israel, e por isso o povo passou mais 40 anos no deserto, até que toda aquela geração morresse e a nova geração pudesse entrar em Israel.

Ensinam os nossos sábios que não apenas as palavras da Torá foram meticulosamente escolhidas, mas também a ordem com a qual os eventos foram descritos foi meticulosamente definido por D'us. Portanto, sempre que dois assunto são escritos próximos um do outro é porque há alguma conexão entre eles e podemos aprender algum ensinamento importante. Qual é a conexão entre o castigo de Miriam e o erro dos espiões, e o que aprendemos desses dois assuntos para nossa vida?

Uma das características de D'us é nos castigar "Midá Keneged Midá" (medida por medida) por um erro cometido, isto é, D'us se comporta conosco da mesma forma que nós nos comportamos com os outros. Se gritamos com alguém, outra pessoa gritará conosco. Se roubamos algo, terminaremos sendo roubados. Isso é uma grande bondade de D'us, pois muitas vezes cometemos erros sem nem mesmo perceber, e se não fosse o castigo, não teríamos chance de nos arrepender. Quantas vezes ofendemos uma pessoa com uma brincadeira de mau gosto sem nem mesmo perceber que a estavamos magoando? Quantas vezes deixamos de dar atenção a pessoas que precisavam, e nem nos demos conta? A maneira que D'us tem para nos despertar é se comportar exatamente da mesma maneira conosco, para refletirmos e entendermos que fizemos com alguém o mesmo erro que outros estão fazendo conosco.

Porém, o ser humano tem uma incrível capacidade de ser subjetivo quando o que está em jogo é o seu ego. É muito difícil para o ser humano reconhecer que cometeu um erro, e o mais comum é que as pessoas tentem, a todo custo, justificar suas atitudes. Se pegamos troco a mais no banco não é roubo, é acerto de contas pelos juros cobrados indevidamente. Se pegamos os talheres do avião é porque já estava incluído no preço da passagem. Então, como os castigos podem funcionar para ensinar algo ao ser humano?

Ensina o Rav Chaim Shmulevitz que aquele que pára e presta atenção ao que lhe acontece no dia-a-dia certamente chegará a entender qual é a mensagem que D'us está transmitindo, pois os sofrimentos têm como uma de suas principais funções nos ensinar algo para a vida. Mas como somos subjetivos quando se trata de nossos erros, há uma outra maneira de aprendermos: observando o castigo recebido pelos outros.

Explica Rashi, comentarista da Torá, que este é o motivo da junção dos dois assuntos aparentemente tão desconectados. Quando Miriam fez Lashon Hará e foi punida, os espiões deveriam ter visto o castigo de Miriam e aprendido a lição de quanto pode ser dolorosa a consequência de denegrir e de ver as coisas de forma negativa. Mas a Torá mostra que os espiões não aprenderam a lição de Miriam, pois logo em seguida eles falaram mal da terra de Israel, causando não apenas para eles mesmos uma terrível punição, mas para o povo inteiro.

Portanto, a Parashá nos ensina duas lições práticas para melhorarmos um pouco mais a cada dia. A primeira é prestar atenção aos nossos próprios sofrimentos, tentando associar o que nos aconteceu de ruim a atos que tenhamos feito de mal a outras pessoas. E a segunda lição é aprendermos com o erro e o castigo que os outros recebem. Aprendendo com o que acontece aos outros, evitamos que futuramente aconteça conosco.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm