sexta-feira, 15 de agosto de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VEETCHANAN 5768

BS"D

PARASHÁ VEETCHANAN 5768 (15 de agosto de 2008)

"Quando o rabino Shlomo Zalman Oierbach comprou pela primeira vez uma máquina de lavar roupa, era ainda uma grande novidade. No dia em que a máquina chegou, foi uma grande festa em sua casa. Todos estavam ansiosos para ver pela primeira vez a máquina de lavar. Mas o rav Shlomo Zalman percebeu que seus filhos estavam mais preocupados em procurar alguma outra coisa. Eles reviravam o plástico e o papelão, levantavam a caixa, tiravam todo o enchimento, procurando algo. De repente, um dos filhos grita "Achei". Todos olharam para ele, curiosos, enquanto ele mostrava orgulhoso o manual de instruções da máquina. O rav Shlomo Zalman perguntou ao filho:

- Ei, como você sabia que havia um manual de instruções aí dentro, se é a primeira vez que compramos uma máquina de lavar?

O filho, com um sorriso, explicou:

- Pai, esta máquina deve ser difícil de ser manuseada. Certamente o fabricante, que é quem mais conhece a máquina, deseja que o usuário possa ter o máximo proveito do equipamento adquirido. Assim, achei lógico que viria, junto com a máquina, algum manual de instruções. E minha lógica estava certa, pois aqui está o manual." (História real)

Se não é possível imaginar que uma máquina de lavar possa vir sem um manual de instruções, mais ilógico é pensar que a vida, muito mais complexa do que uma máquina de lavar, venha sem um manual de instruções.
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No último livro da Torá, Devarim, Moshé descreve muitos dos acontecimentos ocorridos durante os 40 anos em que o povo judeu permaneceu no deserto. Além disso, Moshé também fez profecias do que ocorreria nas futuras gerações, como está escrito: "... e vocês farão o mal aos olhos de D'us, para irritá-Lo... E D'us os espalhará entre todos os povos, e vocês permanecerão poucos em número..." (Devarim 4:25-27). Isto realmente ocorreu na época da destruição do Segundo Beit Hamikdash (Templo sagrado), quando os judeus foram exilados da terra de Israel e começaram a ser espalhados pelo mundo. Além disso, na época do Beit Hamikdash havia 10 milhões de judeus e 10 milhões de chineses, enquanto atualmente há cerca de 13 milhões de judeus e 1 bilhão de chineses, cumprindo também a profecia de que iríamos permanecer poucos em número.

Mas Moshé não ensinou apenas o problema de que nos afastaríamos de D'us e seríamos espalhados por todo o mundo, ele também nos ensinou a solução: "E de lá vocês buscarão a D'us, e O encontrarão, se vocês procurarem com todo o seu coração e com toda sua alma... e nos final dos dias vocês voltarão para D'us e escutarão Sua voz" (Devarim 4:29,30). E vemos estas palavras se cumprindo nos nossos dias, quando milhares de judeus completamente afastados do judaísmo começam o caminho de volta, um incrível e inédito movimento de Teshuvá (retorno) observado em todo o mundo. E entre os Baalei Teshuvá (pessoas que retornaram) se encontram até mesmo cientistas, estudiosos e grandes pensadores. O que faz com que pessoas tão céticas e tão afastadas voltem ao judaísmo?

A maioria das religiões se baseia apenas na fé, e conseguem convencer milhares de fiéis a acreditar em suas palavras e ensinamentos através de um lapso de fé, isto é, aproveitando a necessidade que as pessoas têm de acreditar em algo que lhes dê força para superar as dificuldades da vida. É o caso da igreja da Cientologia, criada há 50 anos por um fracassado autor de ficção científica e que conta, atualmente, com mais de 4 milhões de adeptos no mundo. Já o judaísmo se diferencia, pois ensina que a busca pela verdade não pode ser algo baseado na fé cega, precisa ser embasado em entendimento racional, em questionamento, em reflexão e avaliação. Onde podemos ver isso na Torá?

Se observarmos a Torá, à primeira vista pode parecer que não é diferente de outros "manuais" apresentados por outras religiões. Mas se nos aprofundarmos um pouco mais, veremos que a Torá tem um imenso diferencial: ela não apenas traz ensinamentos bonitos e importantes para o ser humano, ela diversas vezes se auto-testa, para mostrar que seu "escritor" tinha total controle do tempo e do espaço. Um exemplo ocorre na Parashá desta semana, Veetchanan, quando observamos os seguintes versículos: "E pergunte-se, desde os tempos que te precederam, do dia em que D'us criou o homem na Terra, e de uma ponta do céu até a outra ponta do céu: ocorreu algo assim tão grande ou algo assim foi escutado? Houve algum outro povo que escutou a voz de D'us falando do meio do fogo, e sobreviveu?" (Devarim 4:32,33). Precisamos analisar de forma racional o que estes versículos estão ensinando. Se alguém fosse escrever um livro de auto-ajuda, como muitos alegam ser o propósito de um escritor humano da Torá, por que se auto-testar? Como alguém poderia ter garantido, há mais de 3.000 anos, que das 15 mil religiões que passaram pelo mundo até hoje mais ninguém utilizaria o argumento de que D'us falou com todo o povo? Quem seria o louco de arriscar todo o seu "best-seller" com um chute desses, se poderia ter escrito algo sem se comprometer?

Na verdade os historiadores descobriram que houve outra excessão. Existe um grupo de indianos que afirma que o deus hindu krishna se revelou diante de milhares de guerreiros antes de uma batalha. Isso seria uma ameaça à Torá, se a tradição oral dos indianos não dissesse que todos os guerreiros morreram nesta batalha, e a história foi revelada muito tempo depois, através de um profeta. Isso reforça ainda mais o versículo da Torá, que ressalta no final "e sobreviveu".

A palavra Torá vem de "Torat Chaim", que significa "Instruções de vida", pois este mundo tem um propósito, e D'us nos entregou o Manual para que possamos atingí-lo. E esta é a força que está trazendo tantos judeus de volta: a força do questionamento sincero e da busca pela verdade, não baseado em fé, e sim no racional e lógico. Mas temos que fazer a busca com todo o nosso coração, isto é, sem preconceitos e sem medos. Pois da mesma forma que foi profetizado o afastamento, também foi profetizada a volta, mas apenas para aqueles que querem de verdade.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm