quinta-feira, 31 de julho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MASSEI 5768

BS"D

O VESTIDO AZUL - PARASHÁ MASSEI 5768 (01 de agosto de 2008)

Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita, e ela freqüentava a escola local. Sua mãe não tinha muito cuidado com ela, e por isso a criança quase sempre ia suja para as aulas, com roupas muito velhas e maltratadas. Seu professor ficou penalizado com a situação da menina, e pensava como era possível que uma menina tão bonita pudesse vir para a escola tão mal arrumada. Separou algum dinheiro do seu salário e resolveu comprar para ela um vestido novo.

Ela ficou linda no vestido azul. Quando a mãe viu, decidiu que usando uma roupa tão bonita ela não podia ir tão suja para a escola. Passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos e cortar suas unhas.

Quando terminou a semana, o pai se perguntou se não era uma vergonha que aquela menina tão bonita e bem arrumada morasse em um lugar caindo aos pedaços. Decidiu ajeitar a casa, e nas horas vagas ele pintou as paredes, consertou a cerca e plantou um jardim. Em pouco tempo a casa se destacava na pequena vila, com flores que enchiam o jardim. Os vizinhos, envergonhados por seus barracos serem tão feios comparados com aquela linda casa, resolveram também arrumar as suas casas, plantar flores, usar tinta e criatividade. Em pouco tempo, o bairro todo estava transformado.

Um político que acompanhava os esforços daquelas pessoas pensou que eles mereciam um auxílio das autoridades. Foi ao prefeito expor suas idéias e saiu de lá com autorização para diversos melhoramentos no bairro. A rua de barro e lama foi substituída por asfalto e calçadas de pedra. Os esgotos a céu aberto foram canalizados, e o bairro ganhou ares de cidadania. E tudo começou com um vestido azul...

Não era intenção daquele professor consertar as casas, canalizar o esgoto ou plantar jardins. Ele fez o que podia, fez a sua parte. Será que cada um de nós está fazendo a sua parte? É difícil limpar toda a rua, mas é fácil varrer a nossa calçada. É difícil reconstruir o mundo, mas é possível dar um vestido azul. Faça a sua parte.
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Somos constantemente bombardeados por notícias de crimes hediondos, assaltos, delinqüência e roubos. Parece que ninguém mais tem medo da polícia. Afinal, estamos em um mundo de impunidade, e o incomum é o cumprimento da justiça. E mesmo nos casos onde o criminoso é condenado e cumpre sua pena na prisão, será que ele sai uma pessoa melhor, menos perigosa para a sociedade? A experiência mostra que não. Pessoas presas por pequenos delitos saem das prisões como criminosos perigosos. As penitenciárias são, atualmente, verdadeiras "escolas do crime". Deixar impune não é correto, mas o sistema presidiário também não funciona. Então, o que fazer?

A resposta está na Parashá desta semana, Massei. D'us ensina a Moshé que o povo judeu deveria construir, quando conquistassem a terra de Israel, seis cidades de refúgio. O que eram exatamente estas cidades, e para que serviam? Quando alguém matava acidentalmente uma pessoa, ele deveria ir para uma destas seis cidades de refúgio, e deveria permanecer lá até a morte do Cohen Gadol (Sumo Sacerdote). Mas estas cidades não eram muradas, não tinham grades, não tinham arame farpado nem policiais armados na porta. O que impossibilitava os assassinos de saírem antes do tempo? A Torá dava permissão para os parentes do falecido fazerem justiça com as próprias mãos, isto é, eles tinham permissão de matar o assassino. O único lugar onde o assassino estava protegido era dentro das cidades de refúgio, pois lá os parentes do falecido eram proibidos de fazer qualquer mal a ele. Com isso, os assassinos não pensavam em sair antes do tempo, mesmo sem policiais na porta, muros ou grades. Mas o que há de tão especial nestas cidades de refúgio? Qual a grande novidade, afinal elas eram como prisões, já que o assassino ficava impossibilitado de sair!

O homem é um ser social, altamente influenciado pelo ambiente em que vive. Por isso, quando a pessoa é mandada para um presídio, ela passa a conviver diariamente com pessoas de má índole, com bandidos perigosos e com pessoas que não dão o mínimo valor para a vida humana. Mesmo que seja um processo lento e silencioso, toda esta influência vai entrando no coração da pessoa, e alguém que foi preso por roubar uma bicicleta pode sair da cadeia como um potencial assassino. Somos moldados pela sociedade na qual escolhemos viver, e mesmo sem perceber, acabamos absorvendo os conceitos e valores desta sociedade.

E quem vivia nas cidades de refúgio, junto com os assassinos refugiados? Pessoas da tribo de Levi. Todas as tribos receberam uma porção na terra de Israel, e a única excessão foi a tribo de Levi, que havia sido escolhida para fazer o serviço Divino, e por isso não praticava nenhuma outra atividade. Quando D'us fez a divisão de Israel, não deu nenhuma terra para os Leviim, deu apenas algumas cidades onde pudessem morar, e entre elas as seis cidades de refúgio.

Que tipo de pessoas eram os Leviim? Desde o exílio no Egito, a tribo de Levi se ocupava muito com o estudo da Torá, com a prática das leis espirituais e com o comprometimento em alcançar o auto-aperfeiçoamento, e trabalhavam constantemente para anular suas características negativas e chegar ao máximo potencial espiritual. E este comprometimento se refletia de forma positiva em cada ato que eles faziam no cotidiano. Por isso, quando um assassino passava algum tempo na cidade de refúgio, ele recebia toda essa influência positiva, e saía de lá uma pessoa melhor, uma pessoa mais humana, uma pessoa que dava mais valor à vida.

Isso nos ensina que temos duas grandes responsabilidades na vida. Uma é a responsabilidade de escolher o ambiente que queremos para nós e para os nossos filhos, lembrando que somos constantemente influenciados, mesmo que de maneira inconsciente. E a outra é a responsabilidade que cada um de nós tem sobre o mundo todo. Muitas vezes pensamos que somos pequenos, que nossos atos não mudam muitas coisa, mas isso não é verdade. Cada ato que fazemos influencia outras pessoas, criando uma corrente que nunca sabemos onde pode chegar. Maus atos ajudam a destruir o mundo, e bons atos certamente ajudam a construir um mundo melhor. Por isso, ao invés de passar o dia apontando o que o mundo tem de errado, que possamos pelo menos fazer a nossa parte.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm