sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ ITRÓ 5769

BS"D

OLHO GORDO - PARASHÁ ITRÓ 5769 (13 de fevereiro de 2009)

"Rachel era a filha de Kalba Sabua, um dos homens mais ricos de Jerusalém. Desde pequena foi mimada com roupas caras, jóias extravagantes e comidas refinadas. Porém, quando ela decidiu se casar com um homem chamado Akiva, na época um completo ignorante que não sabia nem mesmo ler e escrever, foi deserdada por seu pai e expulsa de casa. Rachel e Akiva começaram seu casamento em total miséria. Alugaram um estábulo velho para morar, quase não tinham comida na mesa e dormiam na palha. Akiva, para consolar sua esposa, prometia que um dia lhe daria uma valiosa jóia chamada "Jerusalém de ouro". A situação deles era cada dia mais difícil, mas apesar de todas as dificuldades, Rachel via em Akiva uma pessoa com um grande potencial espiritual e constantemente o incentivava a se dedicar aos estudos de Torá.

Certo dia o Eliahu Hanavi quis dar um presente para consolar Akiva. Foi até a casa deles, disfarçado de mendigo, vestindo roupas velhas, sujas e esfarrapadas. Bateu na porta e falou:

- Minha esposa acabou de dar a luz e não temos nem mesmo palha para o bebê dormir. Será que você poderia nos dar um pouco de palha?

Imediatamente Akiva deu para aquele pobre homem um pouco de palha. De noite, ele contou a história para sua esposa e comentou:

- Sabe, querida, hoje eu vi como somos ricos. Há pessoas que não têm nem mesmo palha onde dormir.

Quando escutou estas palavras, uma grande alegria encheu o coração de Rachel. Mesmo sendo tão pobre, naquele momento ela se sentia uma milionária...

Muitos anos depois, quando Akiva já era conhecido como Rabi Akiva, o maior sábio da sua geração, com mais de 24 mil discípulos, ele cumpriu sua palavra e deu para sua esposa a jóia prometida".

Se Eliahu Hanavi queria presentear o Rabi Akiva, por que não levou para ele uma jóia, para que pudesse dar de presente para sua esposa? Pois ele quis dar ao Rabi Akiva um presente muito maior: a oportunidade de saber apreciar o que ele tinha. Pois a riqueza é algo que pode ir e vir, mas estar contente com o que temos, ao invés de olhar o que os outros têm a mais do que nós, é um tesouro que adquirimos para sempre.
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Na Parashá desta semana, Itró, o povo judeu chegou ao Monte Sinal, onde D'us entregou os 10 Mandamentos. E o último mandamento nos adverte contra a inveja: "Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a esposa do teu próximo, e seu escravo e a sua escrava, e o seu touro, e o seu jumento, e tudo o que é do seu próximo" (Shemot 20:14). Entendemos por que a Torá proíbe o adultério, o assassinato e o roubo, que são crimes graves. Mas por que D'us se importa com a inveja, algo aparentemente tão natural e inerente ao ser humano? E por que a Torá deixou justamente este mandamento por último, como um fechamento dos outros anteriores?

Existem muitas forças espirituais que nós não sabemos o quanto influenciam em nossa vida cotidiana. Um exemplo é a inveja, em hebraico "Ain Hará" (Olho mau). Explica o Rav Chaim Fridlander em seu livro "Siftei Chaim" que para D'us a vontade já é uma realidade, isto é, basta Ele querer para que a coisa exista. Já para os seres humanos existe uma diferença entre a vontade e a realidade, existe uma distância entre querer algo e isto se realizar na prática. Mas D'us nos criou à Sua imagem e semelhança, e colocou nos seres humanos uma força que, dentro de certas condições, também pode se transformar em realidade apenas através da vontade, e esta força é a inveja. Por isso, quando alguém inveja algo de seu companheiro, pode causar muitos estragos e danos ao outro apenas com a força dos seus desejos. Mas nem sempre esta força consegue funcionar na prática, pois contra o desejo da pessoa que sente inveja está os méritos da outra pessoa, que a protegem. Portanto, todas as vezes que uma pessoa inveja algo de outra, começa uma "batalha espiritual". Caso o invejoso vença, ele consegue realmente prejudicar a outra pessoa. Mas se invejoso perde esta "batalha espiritual", a força com que ele intencionou prejudicar o outro volta, com a mesma intensidade, contra ele mesmo. É como se fosse um jogo de tênis, quanto mais forte jogamos a bolinha, mais longe ela chega. Mas se ao invés de uma quadra de tênis for um paredão, quando mais forte atiramos a bolinha, mais forte ela voltará contra nós mesmos, como nos ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "A inveja apodrece os ossos".

Portanto a inveja, apesar de parecer algo sem muita importância, pode se tornar algo terrível aos seres humanos e causar muitos danos e estragos. É por isso que a inveja foi deixada por último, pois ela inclui todos os mandamentos anteriores. A inveja desperta o desejo da pessoa, e o desejo faz com que a pessoa possa transgredir todos os 10 mandamentos. Por exemplo, o invejoso pode terminar roubando para obter o que deseja ou pode chegar a cometer adultério para conseguir a mulher do outro. Até mesmo idolatria a pessoa pode chegar a cometer, pois aquele que tem inveja pensa "eu mereço isso mais do que o outro", e começa a achar que sabe mais do que D'us, que é Quem decide o que cada um precisa na vida.

E justamente pela inveja ser algo tão prejudicial é que D'us castiga aquele que intencionalmente causa inveja ao seu companheiro, ao mostrar seu carro conversível novo ou sua jóia maravilhosa. Ao causar inveja, ele faz o outro transgredir um dos 10 mandamentos e o prejudica. D'us então pune o "exibido" na mesma moeda, pois da mesma forma que ele prejudicou seu companheiro, ele também acaba sendo prejudicado. Quando a pessoa causa intencionalmente inveja no outro não existe uma "batalha espiritual", pois a pessoa que causou a inveja perde seus méritos e é certamente prejudicada pela inveja do outro, sem chance de se defender. É por isso temos que tomar cuidado para evitar exibicionismos e excessos, e temos que saber que coisas feitas com recato e sem chamar a atenção têm muito mais sucesso.

Mas se a inveja é algo tão negativo, por que D'us a colocou dentro de nós? Ensinam nossos sábios: "Se não fosse por causa da inveja, o mundo não se sustentaria, pois sem a inveja ninguém plantaria um vinhedo, ninguém se casaria e ninguém construiria uma casa". Isto significa que a inveja têm um lado positivo, ela nos faz sair da apatia, ela nos motiva a querer crescer. Portanto existem 2 lados para onde podemos canalizar a inveja, um é negativo e nos destrói, outro é positivo e nos ajuda a crescer. A inveja negativa é ficar olhando os bens materiais dos outros e desejar tirar o que os outros têm. A inveja positiva é olhar o nível espiritual dos outros e desejar chegar no mesmo nível, como ensina o Talmud "Invejar os estudantes de Torá faz aumentar a nossa sabedoria".

Por isso, já que é impossível escapar da inveja, devemos canalizá-la para o lado positivo. A dica é espiritualmente focar em quem tem mais do que nós, mas materialmente focar em quem tem menos do que nós. Se nosso sapato está rasgado, não devemos olhar para quem está de sapato novo, e sim para aqueles que não têm pés. Assim cumpriremos as palavras do Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Quem é a pessoa rica? Aquele que está satisfeito com o que tem". Esse é o único antídoto contra a inveja.

"Toda pessoa consegue sentir o gosto doce de sua comida, menos o invejoso. Pois ele não consegue sentir o gosto bom da sua comida até que retire o que o seu companheiro tem de bom" (Orchot Tzadikim).

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm