quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAERÁ 5770

BS"D

INFLUENCIANDO PARA O BEM - PARASHÁ VAERÁ 5770 (15 de janeiro de 2010)

Quando o rabino Moshe Grunenbaum (nome fictício) se casou, demorou alguns anos até que ele conseguiu ter filhos. Ele decidiu então, junto com sua esposa, dedicar o tempo livre que tinham para ajudar casais com problemas de Shalom Bait (paz familiar). Em uma noite de Shabat, a família Grunenbaum recebeu um casal não religioso que, segundo os amigos mais próximos, estava com grandes problemas de Shalom Bait. Durante o jantar a conversa fluiu tranquilamente, e eles não conseguiram perceber nada de errado com o casal. Mas quando o marido pediu licença para ir ao banheiro, a mulher então aproveitou para desabafar:

- Vocês precisam me ajudar. Meu marido está ficando louco. Ele tem um ótimo emprego, recebe muito dinheiro, mas não quer gastar um centavo. Chego a passar fome de vem em quando! A casa está caindo aos pedaços, enquanto o dinheiro fica guardado no banco. Tento conversar, mas ele sempre fica muito agressivo quando falamos sobre dinheiro. Não sei até onde consigo aguentar esta situação!

O Rav Grunenbaum ficou muito preocupado. Quando o marido voltou para a mesa, o rabino pensou em como abordar o assunto sem que o marido percebesse que haviam falado sobre ele. Aproveitou que a Parashá da semana tratava de assuntos monetários e começou a comentar sobre a importância do bom uso do dinheiro e, entre outras coisas, a obrigação do marido de suprir as necessidades da esposa. De repente, o marido interrompeu o Rav Grunenbaum, olhou para a esposa e começou a gritar com ela:

- Você falou algo para eles? Por que você insiste em falar dos nossos problemas com outras pessoas?

E virando-se para o Rav Grunembaum, ele falou:

- Minha esposa acha que eu sou um sovina, mas ela está errada. Ela não entende que eu sou apenas uma pessoa econômica.

Ensina o Rav Grunembaum que assim é o ser humano, achamos que estamos sempre certos, muitas vezes não conseguimos enxergar o quanto estamos afastados dos caminhos corretos, ao ponto de um marido não cuidar das necessidades de sua esposa e se achar apenas uma pessoa "econômica". (História Real)

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Na Parashá desta semana, Vaerá, após o faraó se mostrar intransigente e não permitir a saída do povo judeu, D'us ordenou a Moshé que começasse a trazer as pragas sobre o Egito. Mas se prestarmos atenção nas três primeiras pragas, que foram sangue, sapos e piolhos, observamos algo interessante. As pragas do sangue e do sapo deveriam ser feitas golpeando as águas do Nilo com o cajado de Moshé, enquanto a praga dos piolhos deveria ser feita golpeando a areia com o cajado. Mas nestas três pragas D'us ordenou que Aharon golpeasse a água e a areia, e não Moshé. Por que?

Explicam os nossos sábios que daqui aprendemos a importância de reconhecer as bondades que recebemos. Quando Moshé era bebê e foi colocado na cestinha, foram as águas do rio Nilo que salvaram sua vida. Quando Moshé matou um egípcio para salvar a vida de um judeu que era açoitado sem piedade, a areia serviu para escondeu o corpo do egípcio. Como Moshé, que havia recebido tantas coisas boas da água e da areia, poderia agora golpeá-las? Por isso foi Aharon quem golpeou e trouxe ao Egito as três primeiras pragas.

A explicação é muito bonita, mas ficam algumas dúvidas. Por que Moshé tinha que se importar com os "sentimentos" da água e da areia, que são coisas inanimadas? Além disso, para a água e para a areia seria um "mérito" serem golpeadas por Moshé, pois através delas começaria a salvação do povo judeu e os egípcios seriam castigados por todos os seus maus atos. E finalmente, por que Moshé devia algum agradecimento para a água e para a areia se, afinal, elas não fizeram nada de especial por Moshé, apenas continuaram sendo o que sempre foram?

Explica o Rav Eliahu Dessler que desta Parashá aprendemos algo importante sobre as forças que atuam na alma do ser humano. As nossas Midót (traços de caráter) não são influenciadas somente pelo nosso lado intelectual, mas também recebemos uma forte influência do nosso lado sentimental. Quando D'us ordenou a Moshé que não realizasse as três primeiras pragas, não foi por causa dos sentimentos da água e da areia, e sim pelas Midót de Moshé. Se não reconhecermos o bem recebido, mesmo que seja de um objeto inanimado do qual tivemos algum benefício, influenciamos a nossa alma de maneira negativa. A Midá de Hacarat Hatóv (reconhecer uma bondade recebida) de Moshé Rabeinu teria sido prejudicada se ele tivesse golpeado a água e a areia. Mesmo que para a água e para a areia teria sido um "mérito", as conseqüências para Moshé teriam sido negativas, não teria valido a pena.

Se nos aprofundarmos um pouco nos ensinamentos da Parashá, podemos aprender mais um fundamento da Midá de Hacarat Hatóv. Poderíamos pensar que devemos ter gratidão apenas quando alguém se esforça para nos fazer algo bom, mas se recebemos alguma coisa boa indiretamente, não estaríamos obrigados a reconhecer e a agradecer. Por exemplo, se uma pessoa é convidada para jantar com uma família muito grande, e a comida não foi feita especialmente para ele, pensaríamos que não há nenhuma necessidade de agradecer, afinal, não foi feito nada especial por ele. Se uma pessoa vai ao trabalho de táxi, pensaríamos que não há nenhuma obrigação de agradecer ao motorista, pois ele ganhou dinheiro pelo serviço, e não fez por bondade. Mas da Parashá aprendemos que nossa obrigação de Hacarat Hatóv vai muito além. Mesmo que as águas do Nilo e a areia não fizeram nada de especial por Moshé, pelo fato dele ter recebido algum benefício, mesmo que de forma indireta, isso já o obrigava a ter Hacarat Hatóv. E se a obrigação recai sobre coisas inanimadas, muito mais sobre pessoas que nos fazem coisas boas, não importa que seja de forma indireta.

Portanto, aprendemos o quanto somos influenciados pelo que fazemos e pelo que vivenciamos. Mas se analisarmos o nosso dia-a-dia, perceberemos que recebemos muitas más influências, que certamente vão atuando na nossa alma de maneira negativa. Vemos apenas notícias de tragédias e de desonestidade, as propagandas tentam provar que precisamos de coisas que são completamente desnecessárias, os ambientes de trabalho estão carregados de Lashon Hará (falar mal dos outros) e de concorrência desleal. Como fazer para não ser corrompido por todas estas forças negativas?

Um dos maiores presentes que o povo judeu recebeu foram as Mitzvót da Torá. Além de toda a influência espiritual positiva que nossa alma recebe ao cumprir as Mitzvót, algumas delas ainda influenciam nossas atitudes, e muitas vezes atuam no nosso subconsciente e nos ajudam a ser pessoas melhores sem que percebamos. Por exemplo, uma pessoa que tem uma natureza sovina e tem dificuldade de utilizar seu dinheiro para fazer coisas boas, ao cumprir Mitzvót como dar Tzedaká ou tirar o Maasser (separar 10% de todo o dinheiro que recebemos para dar aos necessitados), começa a quebrar sua natureza negativa. Pessoas mais suscetíveis aos seus desejos, quando cumprem a Mitzvá de não misturar carne com leite, estão melhorando seu autocontrole. E assim com muitas outras Mitzvót.

Cada ato que fazemos influencia as nossas Midót. Ensinam os nossos sábios que se uma pessoa têm 100 reais para dar de Tzedaká, é preferível que ela dê 1 real para cem pobres do que 100 reais para um único pobre. Por que? Pois ao fazer o gesto de dar Tzedaká 100 vezes, além de ajudar ao próximo, isso tem uma influência sobre a própria pessoa muito maior do que se fizesse o mesmo gesto apenas uma vez. Obviamente que cada caso deve ser estudado com cuidado, se há uma pessoa necessitada que precisa urgentemente dos 100 reais é preferível dar para ela todo o dinheiro. O que nossos sábios querem ressaltar é que quando repetimos muitas vezes um bom ato, algo que é apenas externo se internaliza e passa a fazer parte da nossa natureza. Por isso aqueles que vivem de acordo com as Mitzvót têm muito mais chances de se tornarem boas pessoas.

Aquele que se esforça em reconhecer a bondade que recebe dos outros consegue, no final das contas, também reconhecer tudo o que recebe de bom do Criador do mundo. Pois Ele nos faz bondades e milagres 24 horas por dia e, por nossa falta de trabalho na Midá de Hacarat Hatóv, raramente lembramos de agradecer por tudo o que temos de bom na vida.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm