sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ KI TAVÔ 5773


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FORÇA DAS PALAVRAS - PARASHÁ KI TAVÔ 5773 (23 de agosto de 2013)

“Havia um escravo do rei que era muito dedicado e fiel. Ele era muito inteligente e gostava de ouvir as palavras dos sábios e observar a natureza. Certa vez o rei estava oferecendo um banquete em casa. Chamou seu escravo e, diante de todos, entregou-lhe algumas moedas. Pediu-lhe que fosse ao açougue comprar o que havia de melhor. Passados alguns minutos, o escravo entrou no salão nobre e, diante de todos, apresentou ao rei uma grande língua. O espanto foi geral.

- O que é isso? - perguntou o rei em alta voz - Tire esta coisa nojenta daqui! Como ousa me afrontar diante dos meus convidados? Explique-se!

- Majestade, o senhor me pediu para que buscasse o que há de melhor no açougue. Eu trouxe uma língua. Ela é responsável pela nossa comunicação. É através dela que Vossa Majestade pode me dar uma ordem e elogiar os convidados. É através dela que os sábios e artistas nos transmitem as sabedorias dos antepassados. Como vê, a língua é a melhor coisa que há.

Todos ficaram admirados. O rei, querendo testar novamente a sabedoria de seu escravo, deu-lhe outra tarefa. Pediu para que ele voltasse ao açougue e lhe trouxesse o que havia de pior. Entregou ao escravo mais algumas moedas e enviou-o à sua tarefa. Pouco depois o escravo retornou com outra língua na mão.

- O que é isso? Outra língua? Mas você me disse faz pouco tempo que a língua é o melhor que há!

- Sim, é verdade, majestade, a língua pode ser o melhor que há, mas também pode ser o pior. A língua é usada para a discórdia e para a inveja. A língua, quando utilizada para maldizer e caluniar, provoca divisão e afastamento entre as pessoas. Quando ela é mentirosa, é a pior coisa que há”.

Assim nos ensinou Shlomo HaMelech (Rei Salomão): “A morte e a vida estão no poder da língua, e aqueles que a amam comerão do seu fruto” (Mishlei - Provérbios 18:21). Quando utilizamos a língua para coisas positivas, como ensinar, incentivar ou consolar, ela traz vida para o mundo e podemos aproveitar dos seus benefícios. Mas quando a utilizamos de maneira negativa, como mentir, denegrir e ofender, ela traz apenas morte e destruição.

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Passamos da metade do mês de Elul, o último mês do ano, e no horizonte já começa a aparecer Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento, quando todos os nossos atos serão julgados e tudo o que acontecerá no próximo ano será decretado. Será que estamos nos preparando bem para o nosso julgamento? Será que estamos conseguindo realmente mudar e consertar nossos erros como gostaríamos? Por que às vezes parece ser tão difícil mudar nossas atitudes?

A Parashá desta semana, Ki Tavô, nos ensina um fundamento muito importante, que pode nos ajudar no nosso trabalho de crescimento espiritual e na preparação para Rosh Hashaná. A Parashá começa com o conceito dos Bikurim, as primícias (primeiros frutos), que os agricultores precisavam levar até o Beit Hamikdash (Templo Sagrado). Lá eles deveriam dizer: “Eu declaro hoje diante de D’us que eu vim para a terra que D’us jurou aos nossos antepassados que nos daria” (Devarim 26:3). Rashi, comentarista da Torá, explica que o propósito desta declaração era para demonstrar que o agricultor não era um negador de bondades, uma pessoa mal agradecida. O agricultor então continuava o seu agradecimento a D’us através de uma longa declaração, que recordava desde a proteção que D’us deu ao nosso patriarca Yaacov até a conquista e o estabelecimento do povo judeu na terra de Israel, a terra onde flui o leite e o mel.

Mas a explicação do Rashi para a primeira declaração do agricultor é difícil de ser entendida. Se o propósito da declaração era demonstrar gratidão a D’us, não era suficiente a própria vinda do agricultor até o Beit Hamikdash, abandonando tudo para cumprir a Mitzvá de Bikurim? Por que ele também tinha que pronunciar esta declaração?

Explica o Rav Yaacov Weinberg que a fala é uma força muito mais potente e explosiva do que imaginamos. Há uma diferença muito grande entre expressar o nosso agradecimento e apenas senti-lo no coração. Por que? Pois embora as coisas que pensamos nos influenciam e ajudam a moldar nosso caráter, o que nós falamos nos afeta e influencia nossa identidade de uma maneira muito mais forte.

Isto pode ser percebido quando a Torá nos ensina sobre a importância de manter nossos juramentos, como está escrito: “Se uma pessoa fizer um voto para D’us ou jurar um juramento para proibir algo sobre si, ela não deve profanar sua palavra, ela deve manter todas as palavras que saíram de sua boca” (Bamidbar 30:3). Por que a Torá utilizou a expressão “profanar sua palavra”, ao invés de “transgredir sua palavra”? E por que está escrito “manter todas as palavras que saíram de sua boa” ao invés de simplesmente escrever “manter o seu juramento”?

A resposta é que a Torá está nos ensinando o valor de uma palavra proferida. Não podemos desprezar nem mesmo uma palavra que foi pronunciada, como se fosse algo sem valor, pois a palavra, quando proferida, se torna uma realidade. O problema de quebrar uma promessa não é apenas ser desonesto, é muito mais do que isso. Quando alguém quebra uma promessa, está destruindo uma realidade que foi criada com cada uma de suas palavras.

Daqui aprendemos que dizer algo em voz alta tem um efeito profundo sobre a personalidade humana. Muitas vezes pensamos que apenas importa o que dizemos em público, o que os outros escutam, mas o que dizemos para nós mesmos em um local privado não importa tanto. Porém, isto não é verdade, e novamente aprendemos este conceito observando as leis referentes aos juramentos. Um juramento não precisa ser feito em público, pode ser feito mesmo em particular, sem mais ninguém escutar, e o efeito de quebrar este juramento é tão devastador quanto quebrar um juramento feito em público. Isto quer dizer que amaldiçoar alguém ou mesmo falar palavrões, mesmo se for feito em um local privado, mesmo que mais ninguém escutou, causa um grande dano espiritual para aquele que falou. Enquanto a ideia esta apenas nos pensamentos, ela ainda não se transformou em algo real e nos influencia pouco. Mas após as palavras terem sido pronunciadas, uma poderosa transformação ocorre, pois a fala cria uma nova realidade e causa um profundo impacto na pessoa que falou.

Isto explica também porque um dos grupos que nunca terá o mérito de estar próximo de D’us, mesmo no Olam Habá (Mundo Vindouro), são os mentirosos. Maior do que o efeito da mentira de enganar o outro é a destruição que ela causa a nós mesmos. A realidade criada pelas palavras é destruída quando alguém fala mentira. Por isso nossos sábios ensinam que mesmo em casos em que há permissão de distorcer os fatos, como quando o Shalom Bait (paz familiar) de um casal está em jogo, o ideal é omitir e não mentir. Nestas situações, a pessoa deve tentar ao máximo dizer as coisas de uma maneira ambígua, ao invés de falar uma mentira de maneira explícita.

Mas da mesma forma que a fala negativa tem uma influência poderosa no ser humano, o mesmo vale para a fala positiva. Se uma pessoa apenas pensa em melhorar, ainda assim é muito difícil concretizar este pensamento. Porém, a partir do momento em que a pessoa externaliza seus pensamentos através da fala, isto é mais do que apenas fazer planos, já é uma realidade física.

Quando nossos sábios ensinam os princípios do arrependimento verdadeiro, um dos passos importantes é o Vidui, a confissão dos pecados, em especial no dia de Yom Kipur, quando o Vidui é parte central das nossas rezas. E assim ensina o Rambam (Maimônides): “Teshuvá significa abandonar a transgressão, retirá-la do coração e decidir nunca mais repeti-la. A pessoa deve também se arrepender pelo seu ato. E a pessoa deve confessar com seus lábios e dizer todas estas coisas que ela pensou em seu coração” (Halachót Teshuvá 2:2). Mas se D’us já conhece todos os nossos pecados, por que temos que mencioná-los em voz alta?

O Rambam, ao utilizar a linguagem “confessar com seus lábios”, quer ressaltar o enorme poder que a fala tem em transformar a pessoa que quer se arrepender dos erros cometidos. D’us lê nossos pensamentos, Ele vê todos os nossos atos, portanto não é para Ele que serve a confissão dos nossos erros. A confissão funciona para o nosso próprio crescimento, pois quando os pensamentos se transformam em palavras, as mudanças internas que isto acarreta são muito mais duradouras. Sem a confissão verbal, o arrependimento verdadeiro não pode ser alcançado, e qualquer pensamento de mudança e crescimento espiritual pode acabar se dissipando.

É por isso que temos que tomar muito cuidado com este precioso utensílio que D’us nos presenteou, chamado fala. Apesar de não darmos tanto valor, a fala tem um enorme impacto sobre nossas vidas, tanto para o lado positivo quanto para o lado negativo. Se prestarmos atenção no Vidui de Yom Kipur, perceberemos que 25% dos nossos erros estão relacionados com o mau uso da fala. Este potencial mal utilizado pode destruir, causar sofrimento e desunião. Mas bem utilizado pode trazer vida ao mundo e nos ajudar, no nosso julgamento de Rosh Hashaná, a sermos inscritos no Livro da Vida.

SHETIKATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida)

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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