sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MISHPATIM 5770

BS"D

A BALANÇA ADULTERADA - PARASHÁ MISHPATIM 5770 (12 de fevereiro de 2010)

"Certa vez o padeiro de uma pequena cidade foi ao delegado acusar o vendedor de queijos de estar adulterando sua balança para enganar os clientes. O delegado não quis abrir uma queixa formal sem antes investigar. Então o padeiro trouxe a prova da fraude: uma embalagem de queijo de 1 quilo que continha apenas 800 gramas. O delegado realmente constatou a diferença de peso. Então, sem alternativa, mandou prender o vendedor de queijos sob a acusação de ter adulterado a balança.

O vendedor de queijos, ao ser notificado da acusação, confessou ao delegado que realmente vinha fazendo algo errado. Ele não tinha na sua loja os pesos para utilizar na balança e por isso comprava da padaria do acusador, todos os dias, dois pães de meio quilo cada. Estes pães eram colocados em um dos pratos da balança e assim ele conseguia 1 quilo de queijo no outro prato.

O delegado comprou então dois pães e constatou que os dois pães de meio quilo, que deveriam pesar 1 quilo, na verdade pesavam apenas 800 gramas. O delegado então pôde concluir que quem estava fraudando a balança era, na realidade, o próprio padeiro que fez a acusação"

Nós também nos comportamos desta maneira: acusamos os outros de nossos próprios vícios.

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Um exemplo do quanto D'us se importa que sejamos honestos nas nossas atitudes cotidianas está na Parashá desta semana, Mishpatim. Uma grande parte da Parashá é dedicada a nos ensinar leis de compensação monetária no caso de danos causados ao próximo. Um dos casos trazidos é quando o dano é causado por um animal. Por exemplo, quando o animal de uma pessoa ataca e causa danos ao animal de outra pessoa, ela deve pagar uma compensação monetária pelo dano causado. Em relação ao pagamento, a Torá diferencia entre dois tipos de touro: o touro manso e o touro bravo. Se um touro não tem o costume de atacar outros animais ou outras pessoas, ele é considerado manso. Mesmo que ele eventualmente ataque, isto é considerado um imprevisto e por isso o dono paga apenas metade do dano causado. Já um touro bravo é aquele que costuma com freqüência atacar outros animais e, portanto, deve ser cuidado de maneira mais responsável pelo seu dono. Neste caso, qualquer dano causado por ele é considerado uma imprudência e por isso o dono precisa pagar o dano total.

A Torá ensina outro detalhe interessante: após 3 chifradas consecutivas, o touro manso passa a ser considerado um touro bravo e o dono precisa ser mais cuidadoso com ele. Mas por que isto acontece? Se nós tivéssemos a oportunidade de observar os motivos que levaram o touro a atacar, certamente perceberíamos que nas três vezes ele teve seus motivos. Pode ser por causa da invasão de seu território, pode ser que ele se sentiu ameaçado, pode ser que ele foi provocado por outro touro. Então, se ele tinha razão quando atacou as três vezes, por que mesmo assim ele se torna um touro bravo?

Explicam nossos sábios que daqui aprendemos uma lição muito importante para nossas vidas: quando um touro começa a atacar outros animais com frequência, mesmo que aparentemente em todas as vezes ele tenha razão, isso é um indício de que na verdade alguma coisa está errada com ele mesmo. Quando todos estão errados e nós estamos sempre certos, é sinal que talvez nosso referencial está com problemas. Neste caso, é bem provável que o problema está em nós mesmos e não nos outros.

Explica o Rabeinu Iona em seu livro Shaarei Teshuvá (Os portões do arrependimento) que quando a pessoa se torna um reclamão, isto é, está sempre irritada com os atos dos outros, com o tempo ela começa a julgar todos os acontecimentos para o lado negativo. Esta pessoa se sente explorada e agredida por todos, mas na verdade é ela quem está explorando e agredindo. A tendência deste tipo de pessoa é perder todos os seus amigos, que já não podem mais suportar sua companhia.

Continua o Rabeinu Iona e diz que se nos acostumamos a estar sempre reclamando, chegamos a um nível ainda pior: o de negar as coisas boas que recebemos dos outros. A pessoa começa a ver bondades como se fossem maldades e chega a pagar o bem com o mal. E qual será o fim desta pessoa? Terminará achando que as bondades de D'us também são para o seu mal, como ocorreu com o povo judeu na saída do Egito, quando uma parte do povo se acostumou a estar constantemente reclamando de tudo e no final chegaram a maldizer D'us, como está escrito após o episódio dos espiões: "E falaram mal em suas tendas e disseram 'D'us nos tirou do Egito por nos odiar' " (Devarim 1:27).

Ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "Moscas da morte, que apodrecem o óleo do perfumista". O que significa este versículo? Moscas da morte são as pessoas que falam mal dos outros e julgam todos para o mal. Qual a semelhança com as moscas? Quando uma pessoa está saudável mas tem uma pequena ferida, a mosca vai direto na ferida. Assim são as pessoas que reclamam e olham sempre o lado negativo das coisas, para elas mesmo os melhores perfumes terão defeitos e parecerão podres.

Portanto, estas são as escolhas que temos na vida: saber perdoar quando os outros erram e olhar o lado positivo de cada um, ou se tornar uma pessoa amarga e, como um touro bravo, atacar a todos os que cruzam nosso caminho.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm