sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - SUCÓT 5770

BS"D

CURTINDO A VIDA – SUCÓT 5770 (02 de outubro de 2009)
"Havia um homem paralítico que ficava muito triste por não poder sair de casa. Ele então conheceu um outro homem que, apesar de ser muito forte e saudável, também quase não saía de casa por ser surdo. O homem paralítico então teve uma grande idéia, que seria vantajoso para os dois: eles poderiam sair de casa juntos, de forma que um poderia cobrir a deficiência do outro, e assim ambos aproveitariam melhor os prazeres da vida. O homem surdo carregaria o paralítico em suas costas, enquanto o paralítico serviria como guia do surdo, alertando-o sobre qualquer perigo iminente. E assim eles fizeram.
Certo dia eles estavam passando por um salão de onde saía uma música muito agradável. Os dois resolveram entrar e perceberam que era uma festa, e viram que as pessoas se divertiam muito dançando ao som da música que a banda tocava. O paralítico, que gostava muito de música, quis ficar um pouco mais aproveitando aquele momento, apesar de não poder dançar. Mas como convencer seu amigo de também ficar um pouco mais? Afinal, ele não escutava a música e não estava contente de estar ali parado, sem fazer nada.
Foi então que o paralítico teve uma idéia brilhante. Pediu para que o surdo fosse até a mesa onde estavam sendo servidas as bebidas alcoólicas e ofereceu para ele uma bebida forte. Quando o surdo esvaziou o copo, o paralítico ofereceu outro, e depois outro, até que viu que o surdo estava levemente tonto. O surdo, em sua embriaguez, começar a dançar e a curtir o momento. E mais ainda curtiu o paralítico, que podia escutar a música e dançar nas costas do seu amigo surdo, que ficava cada vez mais solto e mais animado por causa do efeito da bebida. Desta maneira tanto o surdo ficou contente quanto o paralítico, pois os dois estavam, daquela maneira, aproveitando o momento"
Explica o Maguid Mi Duvno que esta história nos ajuda a entender a interação entre o corpo e a alma. A alma é como se fosse um paralítico, pois sozinha não pode fazer nada, precisa do corpo para se locomover e agir. Já o corpo se assemelha ao surdo, pois não consegue sozinho saber o que fazer, precisa ser guiado e auxiliado pela alma. A alma sabe que a única forma de conseguir ter prazer neste mundo é com a cooperação do corpo. Por isso é necessário de vez em quando agradar o corpo com boa comida e bebida, para que juntos possam ter o máximo de prazer.
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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Sucót. Cada uma das festas tem uma característica que se sobressai. Por exemplo, Shavuot é chamada "Zman Matan Torateinu" (época da entrega da nossa Torá) pois em Shavuót recebemos a Torá. Pessach é chamada de "Zman Cheruteinu" (época da nossa liberdade) pois em Pessach fomos libertados da nossa escravidão. E finalmente Sucót é conhecida como "Zman Simchateinu" (época da nossa alegria). Há uma Mitzvá especial em Sucót de se alegrar durante os 7 dias de festa, conforme nos ensina o versículo "Por sete dias você deve festejar para Hashem, teu D'us... e você deve estar feliz" (Devarim 16:14,15).
Explicam os nossos sábios que a alegria de Sucót vem basicamente de dois componentes. De um lado há o prazer espiritual da nossa proximidade com D'us, que sentimos através do cumprimento das Mitzvót associadas à festa de Sucót, que são os Arba Minim (quatro espécies, Etrog, Lulav, Adáss e Aravá) e de viver por uma semana dentro da Sucá, uma construção temporária, onde podemos voltar a sentir de verdade que nossa única proteção vem de D'us, e não dos alarmes, das trancas e das paredes de tijolo. Porém, por outro lado os nossos sábios nos ensinam a buscar a alegria de Sucót através dos prazeres do mundo material, aproveitando os dias de Sucót com festas, danças, boa comida e bebida. Entendemos que a alegria de Sucót deve vir de prazeres espirituais, através do cumprimento de Mitzvót que preenchem a nossa alma. Mas não parece contraditório a alegria de uma festa religiosa vir através de meros prazeres do mundo material?
Infelizmente muitas pessoas que estão afastadas do judaísmo têm receio de conhecer suas raízes pelo medo de que, caso se tornem mais observantes das Mitzvót, deixarão de curtir os prazeres da vida. De onde vem este medo? Do fato de muitas religiões ensinarem que a única forma de atingir a elevação espiritual é através da anulação do corpo material. A meta é evitar qualquer tipo de prazer, e mais do que isso, muitas religiões pregam o sofrimento auto-induzido ao corpo, utilizando cintas com espinhos que furam a pele ou chicotes. O corpo deve ser desprezado e os prazeres evitados a qualquer custo.
Mas isto é um erro muito grande, e a principal prova disso é que D'us criou um mundo repleto de prazeres ao nosso alcance. Por onde olhamos encontramos uma infinidade de frutas e comidas deliciosas. Todos os dias D'us nos presenteia com um espetacular nascer e pôr do sol. As flores embelezam o ambiente e seu cheiro delicia nosso olfato. Se o propósito fosse evitar a qualquer custo todos os prazeres, por que D'us teria criado um mundo assim tão maravilhoso? O Talmud nos ensina que se deixarmos de experimentar uma fruta que temos a oportunidade de saborear, seremos cobrados pelo fato de termos perdido a oportunidade de sentir aquele prazer. Pois o judaísmo ensina que um corpo faminto não consegue chegar ao prazer verdadeiro. Somente quando o corpo for abastecido com os prazeres do mundo físico é que a alma pode se alegrar com a alegria verdadeira da proximidade de D'us.
Porém, também não podemos chegar ao extremo do excesso de prazeres, como se tornar um glutão ou um bêbado, pois se colocarmos todas as energias apenas em conseguir alcançar os prazeres do corpo, terminaremos nos afastando de D'us, como diz o versículo "E Yeshurun engordou e deu um coice" (Devarim 32:15). Yeshurun é o povo judeu, e toda vez que nos voltamos apenas à busca dos prazeres materiais, acabamos nos afastando e esquecendo de D'us, como se estivéssemos dando um coice justamente em quem nos alimentou. Fora isso, o Talmud nos garante que aquele que se alegrar de verdade em Sucót, sua alegria permanecerá inalterada durante os 7 dias da festa. Se a Torá estivesse se referindo apenas aos prazeres físicos, isso não se cumpriria. Imagine se o prazer fosse apenas sentar-se em uma mesa farta, com as melhores comidas e bebidas. No primeiro dia sairíamos da mesa completamente satisfeitos e felizes. No segundo dia já não aproveitaríamos tanto, pois nosso apetite não seria tão grande. No último dia de Sucót o banquete já não seria um prazer, seria um sofrimento, pois após 7 dias de banquetes ininterruptos, nem as melhores iguarias poderiam nos satisfazer.
Portanto, o ideal, segundo o judaísmo, é o equilíbrio e a moderação. Se utilizarmos os prazeres materiais da forma correta, sem abusos nem excessos, estaremos não apenas aproveitando o mundo material, mas também nos encaminhando para atingir os prazeres do mundo espiritual. Não apenas no primeiro dia, mas nos 7 dias de festa. Podemos comer e beber, mas deve ser em honra da festa de Sucót, isto é, utilizando o material canalizado para atingir o prazer espiritual.
Quando um foguete é lançado para alcançar a lua, são necessários vários estágios. A ignição é dada pelo quinto estágio, que faz o foguete partir. Quando o quarto estágio entra em funcionamento, o foguete atinge a velocidade de 150 km/s. O terceiro estágio finalmente vence a força de atração da Terra e coloca o foguete em órbita. O segundo estágio direciona o foguete para o destino específico, e finalmente o primeiro estágio, quando acionado, faz o foguete e seus astronautas chegarem à lua. Assim são os prazeres materiais e espirituais. A meta é chegar na conexão com o Criador do mundo, mas isso somente é possível passando pelos prazeres do mundo material, que nos colocam "em órbita".
Se bloquearmos completamente nossos prazeres materiais fazendo votos de abstinência, nosso foguete nem mesmo parte de seu ponto inicial. Se, ao contrário, vivermos apenas pelo prazer material, não chegaremos ao prazer espiritual e, no final das contas, não teremos aproveitado nada. Mas quando utilizarmos os prazeres do mundo material como um impulso para chegar mais alto, conseguiremos aproveitar o prazer material e alcançar o prazer verdadeiro, que é o prazer espiritual de se conectar com o Criador do universo.
SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH