| Nesta semana lemos a Parashat Toldot (literalmente "Gerações"), que continua contando um pouco da vida do nosso segundo casal de patriarcas, Ytzchak e Rivka, e em especial o momento em que Rivka engravidou de gêmeos, após passar muitos anos sem conseguir ter filhos. A Parashat então descreve o nascimento e os "primeiros passos" do nosso terceiro patriarca, Yaacov, e a difícil convivência com seu irmão gêmeo, Essav. Eles escolheram caminhos opostos na vida. Enquanto Yaacov escolheu os caminhos de retidão, seguindo os passos de seu pai e seu avô, Essav escolheu o caminho das transgressões, tornando-se uma vergonha para a família. Porém, nem sempre foi assim. Nossos sábios explicam que até os treze anos de idade os dois irmãos tinham comportamentos muito parecidos, não era possível perceber que eles seguiriam caminhos tão diferentes. E o auge da diferença entre os irmãos foi atingido aos quinze anos de idade, quando Essav chegou a um nível tão grande de maldade que D'us quis poupar Avraham de ver no que seu neto havia se transformado, levando-o embora do mundo cinco anos antes do que ele estava destinado a viver. No próprio dia do falecimento de Avraham, a Torá descreve algo interessante sobre Essav: "E Essav voltou do campo e estava cansado (Ayef)" (Bereshit 25:29). Esta é a primeira vez na Torá que encontramos a utilização da palavra "Ayef", indicando que alguém estava cansado. Mas por que a Torá não utilizou esta expressão anteriormente? Por exemplo, em relação a Avraham, não houve nenhum momento em que ele se sentiu cansado? Se examinarmos a vida dele, certamente encontraremos muitos motivos para ele estar exausto e, mesmo assim, a Torá nunca afirma que ele estava "Ayef". Quando Avraham já não era mais tão jovem, ele teve que deixar sua casa e sua família, abrir mão de tudo e viajar para Eretz Knaan. Lá, foi confrontado com uma época de fome e precisou descer para o Egito, onde sua esposa Sara foi sequestrada. Após retornar a Eretz Knaan, ele se envolveu no que foi literalmente a "Primeira Guerra Mundial" para salvar seu sobrinho Lót, que havia sido sequestrado. Na sequência, Sara foi novamente sequestrada na terra dos Plishtim, certamente mais um momento de muito estresse. Finalmente, Avraham teve filhos já em idade avançada, mas precisou expulsar seu filho Ishmael de casa e enfrentou o trauma de quase ter sacrificado seu filho Ytzchak. Em resumo, Avraham teve uma vida dura, longa e extremamente cansativa. Apesar disso, a Torá nunca descreve Avraham como "cansado". Já Essav, que não passou por tantos testes quanto Avraham, é a primeira pessoa sobre quem encontramos a palavra "Ayef" escrita. O que isso nos ensina? O Rav Yssocher Frand shlita explica que "Ayef" não se trata apenas de um cansaço que podemos resolver com uma boa noite de sono. Ayef se trata de estar cansado das dificuldades da vida. Avraham, apesar dos testes e dificuldades, nunca quis se aposentar e nem desistir. O fato de "Ayef" aparecer pela primeira vez em relação a Essav nos ensina que estar cansado da vida não é um conceito judaico. Mas por que Avraham nunca desistiu? Por que ele nunca ficou "Ayef"? Se a vida de uma pessoa está envolvida com espiritualidade, com Torá e Mitzvót, então há uma Brachá especial: "Mas os que depositam suas esperanças em D'us renovarão suas forças; subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão" (Yeshayahu 40:31). Isso significa que aqueles que fazem Avodat Hashem não ficam cansados. A Avodat Hashem, na verdade, revigora. Às vezes podemos ter frustrações na vida, e a pessoa pode pensar que está ficando sem forças, mas a Brachá é que, de fato, isso não acontecerá. Ela conseguirá, através da sua conexão com a espiritualidade, renovar suas energias. Foi isso o que aconteceu com Avraham. Porém, o mesmo não se aplica quando se trata de alguém como Essav, cujo foco principal da vida era estar no campo, "caçando". Essav abandonou completamente a sua espiritualidade. Nossos sábios dizem que, no mesmo dia em que Essav voltou reclamando que estava cansado, ele havia acabado de cometer cinco crimes hediondos, incluindo as três piores transgressões: idolatria, assassinato e relações ilícitas. Portanto, não é surpresa que ele tenha voltado dizendo que estava cansado. Se a vida de uma pessoa está vazia de espiritualidade, se ela não tem propósito, é muito fácil se desgastar. Quando alguém fica o dia inteiro jogando cartas, rapidamente se cansa de jogar cartas. Mas aqueles que confiam em D'us não se cansarão nem se fatigarão. Os nossos sábios são um grande exemplo de como isto é verdade na prática, não apenas na teoria. Por exemplo, o Rav Moshe Feinstein zt"l (Império Russo, 1895 - EUA, 1986) viveu até os noventa anos. Quando sua saúde enfraqueceu e ele foi levado ao hospital pouco antes de falecer, literalmente em seu leito de morte, ele comentou: "Não tenho mais forças". Logo depois ele faleceu. Naquele momento, seu propósito espiritual e sua missão haviam se cumprido. Quando a missão de vida de alguém está completa, não restam mais forças. Mas até aquele momento, embora tivesse 90 anos e estivesse doente, ele cumpriu as palavras "os que depositam suas esperanças em D'us renovam suas forças". Já o Rav Yossef Shalom Elyashiv zt"l (Lituânia, 1910 - Israel, 2012), que viveu até os 102 anos, era tão dedicado ao estudo que passava mais de 18 horas por dia aprendendo Torá, mesmo em idade avançada. Um visitante certa vez perguntou como ele conseguia estudar tantas horas sem parecer exausto, especialmente aos 100 anos. O Rav Elyashiv respondeu simplesmente: "Quando se ama algo, não se cansa". Seus filhos relatam que, já muito idoso, ele ainda acordava antes do amanhecer para estudar, e quase nunca tirava férias ou fazia pausas longas. Finalmente, o Rav Elazar Menachem Man Shach zt"l (Lituânia, 1899 - Israel, 2001) foi o Rosh Yeshivá de Ponivezh até mais de 100 anos de idade. Quando tinha quase 100 anos, alguns alunos sugeriram que talvez fosse hora de diminuir o ritmo e se aposentar. Ele respondeu: "A Torá não se aposenta. A minha vida é a Torá. Se eu parar, quem cuidará dela?". Mesmo com uma idade avançada, ele discursava durante horas na Yeshivá, com voz firme e clareza, e participava de reuniões decisivas para dirigir o mundo da Torá. Muitas vezes, nossos grandes sábios, apesar da idade avançada, têm forças para permanecer de pé e falar por horas. Mesmo já bem idosos, encontram forças para cuidar das necessidades da comunidade. De onde vem essa resistência? A resposta é que estar cansado não é um conceito judaico. Essav pode ficar cansado e parar, mas não Avraham. Obviamente que às vezes nos sentimos cansados com as dificuldades da vida. Sofremos constantemente com as aparentes injustiças, com a violência das grandes cidades, com as preocupações com os nossos filhos e com a volta cada vez mais forte do antissemitismo. Mas a história mostra que um judeu não desiste diante das dificuldades. Ele reforça a sua Emuná e continua nas suas lutas, com forças renovadas. Os judeus sobreviveram às perseguições, expulsões e massacres. Sobreviveram à inquisição, aos pogroms e ao Holocausto. Às vezes perderam batalhas dolorosas, mas nunca perderam a guerra. Pois nós herdamos a força dos nossos patriarcas, que nos ensinaram que quando estamos cansados nós descansamos, mas nunca desistimos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |