sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ CHAIEI SARA 5770

BS"D


OS SINAIS SÃO CONFUSOS - PARASHÁ CHAIEI SARA 5770 (13 de novembro de 2009)


"Certa vez estavam um judeu e um chinês brigando. Eles estavam discutindo qual dos dois povos havia trazido mais avanços tecnológicos para humanidade. O chinês começou a contar vantagem:


- Sabe que em Pequim encontraram um sítio arqueológico com mais de 2000 anos. Ao escavarem, encontraram alguns fios enterrados.


- E o que isso significa? – perguntou o judeu.


- Que há mais de 2000 anos os chineses já tinham inventado o telégrafo com fio.


O judeu, para não ficar atrás, disse:


- Sabe que em Jerusalém também encontraram um sítio arqueológico com mais de 2000 anos. E ao escavarem, não encontraram nada.


- E o que isso significa? – perguntou o chinês, um pouco confuso.


- Que há mais de 2000 anos os judeus já haviam inventado o telégrafo sem fio"


Muitas vezes queremos enxergar "sinais" que justifiquem nossas opiniões e decisões, mesmo sabendo racionalmente que não são corretas. Nas piadas pode parecer engraçado, mas na nossa vida não.

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Na Parashá desta semana, Chaiei Sara, Avraham dá a Eliezer, seu serviçal de confiança, a importante missão de encontrar uma esposa para seu filho Yitzchak. Mas Avraham não queria para seu filho uma mulher de Knaan, pois os Knaanim eram pessoas sem valores morais e éticos. Por isso Avraham mandou Eliezer procurar uma esposa na terra de seus ancestrais, onde ainda havia pessoas de sua família e da família de Sara.


Eliezer viajou para cumprir sua missão. Chegou até um poço de água nos arredores da cidade e pediu a ajuda de D'us. Ele pediu para que a mulher escolhida pudesse ser identificada através de um sinal, um ato específico. Muitas mulheres vinham até o poço tirar água para levar para suas casas. Quando alguma mulher viesse, Eliezer pediria para ela um pouco de água para beber, e se ela aceitasse e oferecesse também água aos seus camelos, seria a mulher certa. Assim que Eliezer terminou de pedir para D'us, Rivka chegou ao poço trazendo uma jarra. Eliezer observou que aconteceu um milagre aberto diante dos seus olhos. Ao invés de Rivka ter que colocar a pesada jarra dentro da água, a água milagrosamente foi na direção da jarra e entrou sozinha. Eliezer continuou observando Rivka, aproximou-se dela e pediu-lhe um pouco de água. Rivka aceitou dar água para ele e ofereceu também aos seus camelos, cumprindo assim o sinal que Eliezer havia pedido para D'us. Eliezer então foi falar com a família de Rivka e finalmente levou-a para se casar com Yitzchak.


Desta narrativa da Torá ficam algumas dúvidas. Em primeiro lugar, Eliezer havia pedido a ajuda de D'us em sua difícil missão, e havia especificado um sinal. Mas por que Eliezer continuou investigando para saber se Rivka era a pessoa certa mesmo após ter visto o milagre aberto que aconteceu com ela? O sinal que ele havia pedido, comparado àquele milagre aberto, não significava mais nada. Em segundo lugar, é assim que se escolhe uma esposa? É assim que tomamos decisões de vida? E finalmente, ressaltam nossos sábios que "Eliezer pediu de maneira imprópria, mas D'us respondeu da maneira apropriada". Por que D'us respondeu o pedido de Eliezer, mandando imediatamente Rivka, se o pedido foi feito de maneira imprópria?


Eliezer era um servo muito dedicado e atencioso, e acima de tudo, muito íntegro. Ele havia jurado que não pegaria como esposa para Yitzchak uma mulher de Knaan. Isso foi fim do sonho de Eliezer, que queria casar Yitzchak com a sua filha. Por isso, Eliezer sabia que seu trabalho seria muito difícil, pois ele sabia que teria muitos interesses envolvidos, e mesmo que ele tentasse ser racional, as emoções atrapalhariam. Ele teve medo que suas emoções poderiam levá-lo a escolher uma mulher não tão boa, que terminaria se divorciando de Yitzchak, abrindo o caminho para o casamento dele com a sua filha. Mas Eliezer era uma pessoa muito correta, estava disposto a evitar se auto-enganar a todo o custo, então como poderia fazer para escolher sem que suas emoções atrapalhassem? Por isso ele pediu ajuda para D'us, pediu um sinal. Apesar de ter feito da maneira errada, pois decisões não devem ser baseadas em sinais Divinos, D'us o ajudou neste caso, pois a forma "imprópria" de pedir de Eliezer foi, na realidade, o máximo nível de honestidade e auto-sacrifício pela verdade que ele poderia chegar.


O medo de errar de Eliezer era tanto que, mesmo quando ele viu um milagre aberto, preferiu não acreditar nos seus olhos. Ele pensou que podia estar vendo o que queria enxergar, que estava apenas se enganando. Então como ele poderia saber se era a pessoa certa? Ele havia pedido para D'us um sinal, e este sinal incluía um teste das características pessoais da mulher, um teste do verdadeiro valor dela. Por que ele pediu no sinal que, ao pedir água para ele, a moça oferecesse também aos camelos? Pois isto mostraria, em primeiro lugar, que era uma moça de Chessed (bondade), que agia de maneira pró-ativa e não apenas quando era solicitada. Mostrava que era uma mulher que conseguia vencer a preguiça, pois os camelos eram numerosos, o que exigiria muito esforço para dar de beber a todos eles. Além disso o sinal de Eliezer testava a inteligência da mulher, pois quando Eliezer bebeu da jarra de Rivka, encostou sua boca direto na jarra. Rivka não sabia quem era aquele homem, se ele tinha alguma doença, e ao oferecer água aos camelos, ela estava também encontrando uma maneira de novamente ir até o poço para lavar bem a jarra sem ofender aquele homem estranho. Portanto, como Eliezer fez tudo o que era possível para ser objetivo na sua escolha e fugir dos interesses, D'us respondeu de maneira correta e imediatamente mandou Rivka ao seu encontro.


Das atitudes de Eliezer aprendemos a importância de tentar fugir dos nossos interesses. Assim temos que tomar decisões de vida. Temos que tentar, a todo custo, evitar as decisões emocionais, que nos levam a erros. Mesmo milagres e sinais não são a forma pela qual D'us quer que tomemos decisões de vida, pois mesmos sinais podem ser apenas ilusões e testes. Não precisamos adivinhar o que D'us quer de nós, Ele nos explicitou ao nos entregar a Torá, com todos os detalhes de qual o nosso trabalho aqui neste mundo. D'us nos deu um intelecto, a capacidade de raciocinar, investigar e pesar os dois lados de uma situação, justamente para tomarmos decisões de forma racional e não emocional. Quando decidimos as coisas de maneira emocional, nos desviamos da objetividade por causa de interesses momentâneos.


Portanto, quando nos esforçamos e tomamos as decisões racionalmente, estamos contribuindo para que nossa vida possa seguir na direção correta. Mas se deixamos nosso lado emocional tomar as decisões, podemos estar escolhendo viver uma vida que é, no final das contas, uma grande piada.


SHABAT SHALOM


Rav Efraim Birbojm