sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ LECH LECHÁ 5769

BS"D

INFLUENCIANDO O MUNDO - PARASHÁ LECH LECHÁ 5769 (07 de novembro de 2008)

Um rabino muito erudito, com uma grande fortuna e descendência nobre, foi contratado como orador em uma pequena comunidade. Apesar de suas aulas serem esplêndidas e suas palavras inspiradoras, inexplicavelmente não tiveram nenhum efeito sobre a comunidade, e todos os erros e vícios que ele tanto criticava continuavam florescendo. Quando os habitantes da cidade foram questionados do porquê as palavras daquele homem tão sábio não tinham nenhum efeito sobre eles, muitos disseram: "É muito fácil falar sobre honestidade e caridade, estudo da Torá e espiritualidade quando se é milionário. Este rabino não consegue nos entender, pessoas que trabalham duro durante todo o dia e de noite já estão cansadas para dedicar seu tempo livre à Torá e às Mitzvót.

Então os líderes da comunidade decidiram contratar um outro orador, também um rabino muito sábio, homem piedoso e devoto, mas que, diferentemente de seu antecessor, havia passado a vida inteira imerso em pobreza. Infelizmente, apesar dos esforços, ele também falhou na sua missão e não conseguiu inspirar os moradores a se tornarem pessoas melhores. Quando questionados, os habitantes da cidade explicaram que aquele homem também não falava a língua deles, pois era um homem santo, que havia passado a vida inteira longe das tentações do mundo
material, e por isso não entendia as dificuldades de quem lutava diariamente contra elas.

Finalmente os líderes da comunidade escolheram como orador da cidade uma pessoa que não era um rabino, e sim um trabalhador, mas que também tinha uma grande erudição na Torá. Ele havia sido muito rico, mas alguns infortúnios fizeram com que ele perdesse grande parte de seu dinheiro. Este homem representava uma combinação ideal entre o conhecimento erudito e a sabedoria na prática. Ele conseguia falar a linguagem das pessoas, e foi o único que conseguiu realmente tocar o coração de todos.
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Os atos e os méritos de Avraham Avinu, o primeiro dos nossos patriarcas, continuam iluminando os caminhos do povo judeu e nos inspirando até os dias de hoje. Avraham chegou a um elevado nível de conexão espiritual com o Criador, e todos os seus atos eram voltados somente ao bem da humanidade. A Parashá desta semana, Lech Lechá, traz vários testes aos quais Avraham foi submetido durante sua vida, que ajudaram-no a moldar seu caráter e sua fortaleza espiritual. Testes muito difíceis, tais como como abandonar sua terra e ir para um lugar completamente desconhecido, e expulsar seu filho Ishmael de casa. O nível que Avraham chegou foi tão elevado que o profeta Yechezkel escreveu: "Avraham foi um" (Ezekiel 33:24). Nos ensina o Midrash (parte da Torá Oral) que quando a Torá utiliza a linguagem "haia" (foi) conectada a uma pessoa, é para indicar que esta pessoa foi Tzadik (Justa) e correta nos caminhos de D'us todos os dias da sua vida.

Mas há algo difícil de entender no ensinamento deste Midrash. O Talmud nos ensina que Avraham, como todos da sua geração, nasceu idólatra. Ele trabalhou duro na busca da verdade, observou, refletiu e somente chegou ao reconhecimento de que havia um único Criador com a idade de 48 anos. A partir deste momento Avraham começou a trazer muitas pessoas de volta ao serviço de D'us, e teve muito sucesso. Então, se dos 175 anos que viveu, Avraham passou mais de 48 anos envolvido com idolatria, como pode ser que o versículo de Yechezkel indica que Avraham foi uma pessoa justa e correta nos caminhos de D'us todos os dias da sua vida? E além disso, como pode ser que um ex-idólatra conseguiu trazer tantas pessoas de volta aos caminhos de D'us?

Explica o Maguid Mi Duvno que existe na Torá uma importante Mitzvá de repreender uma pessoa que não está nos caminhos corretos para que ela se arrependa e volte, como está escrito "Repreenda seu companheiro" (Vayikrá 19:17). A linguagem "seu companheiro" deixa claro que, para que a pessoa repreendida escute o que está sendo ensinado, é necessário que a linguagem seja compatível com ela. Se uma pessoa diz que é muito pobre e por isso não pode se dedicar às Mitzvót, devemos contar sobre Hilel, um dos maiores sábios do povo judeu, que viveu imerso em pobreza e mesmo assim gastou cada mísero centavo que recebia para se dedicar ao estudo da Torá. Já para uma pessoa que diz que seus negócios são tão prósperos que não sobra tempo para se dedicar às Mitzvót devemos contar sobre o Rabi Elazar ben Charsom, que herdou de seu pai mais de 1.000 propriedades e mais de 1.000 embarcações, e mesmo assim passava seu dia dedicado ao conhecimento das leis da Torá. Para cada tipo de dificuldade a resposta deve ser na linguagem de quem escuta.

Esta foi a grande força e o diferencial de Avraham Avinu para conseguir trazer tantas pessoas de volta ao caminho de D'us. Por ele mesmo ter sido idólatra e ter conseguido abandonar os caminhos errados, ele podia conversar com as pessoas de igual para igual, ele era um exemplo vivo de que era possível vencer as dificuldades, e por isso foi escutado por tanta gente. Apesar de Avraham realmente ter feito idolatria por muitos anos, tudo isso terminou sendo usado para D'us, para ajudar a trazer pessoas de volta e, portanto, se converteram em coisas positivas. D'us transformou as transgressões de Avraham em Mitzvót, fazendo com que ele fosse considerado Tzadik todos os dias da sua vida.

Esse importante conceito também se aplica nos nossos dias. Explicam os nossos sábios que no lugar que se encontra um Baal Teshuvá (pessoas que retornou aos caminhos corretos), mesmo um Tzadik Gamur (pessoa totalmente justa) não chega, isto é, os méritos espirituais daqueles que estavam no caminho errado mas decidiram se esforçar, vencer as dificuldades e voltar são muito maiores do que os méritos de alguém que já nasceu e foi educado nos caminhos corretos. Um dos motivos é porque aquele que volta em Teshuvá faz um grande Kidush Hashem (Santificação do nome de D'us) e torna-se um exemplo vivo para aqueles que desejam voltar mas têm medo das dificuldades. Se uma pessoa que nasceu em uma família religiosa tenta mostrar que é possível fazer Teshuvá, as pessoas refutam dizendo "E o que você sabe sobre vencer as dificuldades e tentações?". Mas a pessoa que fez Teshuvá facilmente torna-se um modelo positivo e que fala a mesma língua daqueles que estão afastados.

Existe um movimento cada vez maior de Teshuvá, isto é, milhares de pessoas em todo o mundo que estavam completamente afastados do judaísmo estão em um maravilhoso processo de retorno às suas raízes. E nos ensina a Parashá Lech Lechá que não apenas estão mudando seu futuro, mas estão também consertando todo o seu passado, limpando os erros cometidos e transformando-os em méritos, por servirem de exemplo para outras pessoas que querem voltar mas sentem dificuldade.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm