sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - SHMINI ATSERET E SIMCHÁ TORÁ 5770

BS"D
TESOUROS ESCONDIDOS – SHMINI ATSÉRET E SIMCHÁ TORÁ 5770 (09 de outubro de 2009)
"Em uma pequena cidade morava um simpático velhinho que vivia uma vida simples. Certo dia, ao cavar seu jardim para plantar uma árvore, ele encontrou um tesouro enterrado. Eram muitas jóias de valor inestimável. Mas apesar da grande alegria de ter encontrado algo tão valioso, ele teve medo que sua fortuna iria atrair muitos interesseiros, e por isso ele preferiu continuar vivendo modestamente. Para que ninguém desconfiasse, ele decidiu esconder as jóias dentro das paredes da sua casa.
Após algum tempo o velhinho ficou muito doente e morreu de repente, sem tempo de contar para seu único descendente, um parente muito distante, o seu grande segredo. O rapaz, que era muito pobre, ficou contente ao saber que havia herdado a casa do velhinho, e imediatamente mudou-se para lá, sem imaginar os grandes tesouros que aquelas paredes ocultavam.
Certo dia o rapaz perdeu um pequeno objeto. Ao procurá-lo, percebeu que havia uma pequena abertura em uma das paredes da casa. Ao se aproximar mais ele viu que havia lá dentro um brilho estranho. Abriu um pouco mais a abertura na parede e encontrou um colar de diamantes. Ele dançou e pulou de alegria com a sua descoberta. E conforme ele ia abrindo a parede, surgiam as mais maravilhosas jóias que ele já havia visto. Quando terminava uma parede, o rapaz começava a procurar em outra parede, até que todo o tesouro foi encontrado e o rapaz se se tornou um grande milionário"
Explica o Maguid Mi Duvna que assim também é a nossa Torá, D'us ocultou dentro dela vários tesouros do conhecimento humano. Quanto mais a pessoa se esforça para conhecer a Torá, mais vai revelando seus maravilhosos conhecimentos e maior é a alegria que ela vai sentindo.
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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Shmini Atseret, e no Domingo comemoramos a festa de Simchá Torá, quando terminamos o ciclo anual de leitura da Torá com a Parashá Vezot Habrachá e dançamos alegremente segurando o Sefer Torá. Apesar da festa de Shmini Atseret vir imediatamente depois de Sucót, a Torá diz explicitamente que são duas festas distintas. Porém, nossos sábios explicam que estas duas festas estão muito conectadas.
Sucót é a festa que fecha dois ciclos. O primeiro ciclo é o dos Shalosh Regalim (três festas nas quais todos os judeus saiam de suas casas e iam para o Beit Hamikdash, o Templo Sagrado), que começa com Pessach, segue com Shavuot e termina com Sucót. Sucót também fecha o ciclo das festas do começo do novo ano, que começa com Rosh Hashaná, segue com Yom Kipur e termina com Sucót. Shmini Atseret é, portanto, o clímax do ano, e representa o momento em que o amor de D'us pelo povo judeu chega ao seu limite máximo.
Porém, se a festa de Shmini Atseret é como se fosse uma continuação de Sucót, por que não temos mais a Mitzvá de habitar na Sucá?
Em Sucót nós trabalhamos nossa conexão espiritual com D'us, abandonando nossas casas e habitando por sete dias na Sucá. Saímos do nosso mundo para viver no mundo Dele por uma semana. O nome Shmini Atseret significa, literalmente, "O oitavo (dia), dia da parada". Depois de toda esta inspiração e proximidade que construímos em Sucót, D'us nos pede para pararmos e ficarmos com Ele mais um dia, para manter por mais um dia nossa proximidade com Ele. Segundo o judaísmo, o número 7 representa a natureza e as leis do mundo material, enquanto o número 8 representa o sobrenatural, o espiritual. Os 7 dias de Sucót representam a vida neste mundo, e portanto nós precisamos da proteção da Sucá e do lembrete de que este mundo é como a Sucá, algo apenas passageiro e provisório. Porém Shmini Atseret, o oitavo dia, representa a nossa vida no Mundo Vindouro, e portanto não precisa da proteção nem do lembrete da Sucá.
Rashi, famoso comentarista da Torá, explica que o versículo que descreve a festa de Shmini Atseret tem dois significados. Literalmente está escrito "No oitavo dia haverá uma congregação sagrada para vocês... é uma reunião, e você não deve realizar nenhum trabalho construtivo" (Vayikrá 23:36). Porém, a palavra "Atseret", que significa "reunião", também significa "parar". Explica Rashi que é como se D'us estivesse pedindo "parem diante de Mim mais um dia, pois é difícil a partida de vocês". Mas normalmente quando duas pessoas se despedem, o normal é que elas digam "é difícil nossa partida". Por que Rashi explica que é como se D'us dissesse "pois é difícil a partida de vocês"?
Desde Elul começamos a sentir uma proximidade maior com D'us. É um mês de muito trabalho espiritual, e que nos esforçamos para melhorar um pouco mais em cada Mitzvá que praticamos. Então chega Rosh Hashaná e entramos no quintal do Rei. Yom Kipur é o momento em que despertamos a misericórdia de D'us e nos aproximamos mais um pouco Dele ao pedirmos perdão por todos os nossos erros, e Ele nos perdoa. Finalmente vem Sucót, quando saímos das nossas casas e moramos por uma semana na casa Dele. Chega então Shmini Atseret, o momento da despedida, e recebemos um pedido especial de D'us para passarmos mais um dia juntos. D'us, na despedida, nos deixa claro que somos nós que estamos indo embora, pois Ele permanece perto de nós. Somos nós que nos afastamos. Voltamos para nossa vida cotidiana e muitas vezes nos esquecemos Dele. É por isso que está escrito "É difícil a partida de vocês", pois nós partimos, mas não Ele. Então como fazer para não nos afastarmos, para não irmos embora, para guardarmos esta proximidade para todo o ano?
É isso que ensinam os nossos sábios ao comemorar a festa de Simchá Torá junto com Shmini Atseret (fora de Israel, onde temos dois dias de Yom Tov, as festas são separadas, mas em Israel, onde há apenas um dia de Yom Tov, as duas festas são comemoradas no mesmo dia). A Torá é o tesouro que D'us nos entregou, o nosso manual de instruções que nos ensina como viver a vida da melhor maneira possível e como tirar o máximo proveito dela, tanto para este mundo quanto para o Mundo Vindouro. São ensinamentos de sabedoria preciosos, que iluminam nossos caminhos e nos possibilitam crescer em espiritualidade mesmo vivendo em um mundo material. Em Simchá Torá nós dançamos carregando em nossas mãos o Sefer Torá. Nenhum outro povo dança com seus livros como nós fazemos em Simchá Torá. Alguém já viu um professor de matemática dançando com seu livro de Álgebra? Ou um professore de Ciências dançando com seu livro de Biologia? A Torá não é apenas um livro de histórias, é a nossa vida, é o que alonga nossos dias neste mundo e nos ajuda a conquistar a vida eterna. É o que nos mantém conectados com D'us durante todo o ano. Por isso dançamos com tanta alegria, pois reconhecemos o maravilhoso tesouro que recebemos. Mas será que encontramos tempo para estudar e conhecer a Torá cada vez com mais profundidade? Será que nos esforçamos para não nos afastar Dele durante todo o ano?
Encontramos em nossas vidas tempo para tudo o que consideramos importante. Nosso dia tem 24 horas, o suficiente para tudo o que precisamos fazer. Encontramos tempo para o nosso trabalho, para aquele curso importantíssimo, para a ginástica, para assistir ao programa de televisão favorito ou o jogo de futebol do nosso time do coração. Mas para a Torá muitas vezes não sobra tempo. Isso talvez indique que não consideramos a Torá como algo importante, não é algo que faz falta na nossa vida. É porque esquecemos que dela depende nossa eternidade. É porque não entendemos que dela depende a nossa felicidade neste mundo. Se todos nós fixássemos tempos diários de estudo de Torá, mesmo que fosse meia hora por dia, assistindo a uma aula ou lendo um livro, nossas vidas seriam completamente diferentes.
No mesmo dia em que terminamos o ciclo de leitura da Torá já o recomeçamos, em uma demonstração de que sabemos que, apesar de lermos as mesmas Parashiot de novo, não será o mesmo livro. Cada ano em que estudamos as Parashiot novamente, entendemos a Torá de uma maneira mais profunda. Em cada ciclo, mais e mais tesouros vão sendo encontrados dentro da Torá. Tesouros que sempre estiveram lá, mas que nós nem sonhávamos que eles existiam. Tesouros que nos ajudam a nos manter conectados com D'us durante todo o ano, diminuindo cada vez mais a distância entre nós e Ele.
SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH
Rav Efraim Birbojm