quinta-feira, 28 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - SHAVUOT 5769

BS"D
QUANTO VOCÊ VALE? - SHAVUOT 5769 (28 de maio de 2009)

Um jovem procurou seu professor porque se sentia um inútil, achava que não conseguia fazer nada direito. Perguntou ao professor como poderia fazer para que os outros o valorizassem. O professor, ao invés de responder, tirou um anel do dedo e falou:

- Sinto muito, mas antes de tratar do seu problema, preciso resolver algo urgente, e talvez você possa me ajudar.

Deu para o aluno o anel e recomendou que ele fosse até o mercado e o avaliasse, pois estava precisando urgentemente de dinheiro para pagar uma dívida. Orientou o rapaz a conseguir por ele o máximo que pudesse, mas não aceitar menos do que uma moeda de ouro.

O rapaz pegou o anel e foi oferecê-lo aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse, mas quando o rapaz mencionava o valor de uma moeda de ouro, alguns riam, outros saíam sem ao menos olhar para ele. Abatido pelo fracasso, o rapaz retornou ao professor dizendo que o máximo que lhe ofereceram foram duas ou três moedas de prata. Ouro, nem pensar.

O professor então sugeriu que o jovem fosse procurar um joalheiro experiente para uma correta avaliação. E fez outra recomendação: não importava o valor que ele lhe oferecesse, o anel não deveria ser vendido. O jovem foi, um tanto desanimado. O joalheiro, depois de examinar com uma lupa a jóia, pesou-a e lhe disse:

- Fale ao seu professor que, se ele quiser vender agora, não posso lhe dar mais do que cinqüenta e oito moedas de ouro. Mas se ele puder esperar mais tempo, posso chegar a setenta moedas de ouro.

O aluno, completamente assustado com o alto valor oferecido, recusou a oferta e voltou correndo para dar a boa notícia ao professor. Depois de ouvi-lo, o professor falou:

- Sente-se, meu rapaz. Você é como este anel, uma jóia única e valiosa. Como toda jóia preciosa, somente pode ser avaliada por quem realmente entende do assunto. Por acaso você pensou que qualquer um poderia descobrir o seu verdadeiro valor?"

Todos somos como esta jóia, muito valiosos. No entanto, andamos por todos os mercados da vida, esperando que pessoas inexperientes nos valorizem.

"NINGUÉM PODE NOS FAZER SENTIR INFERIORES SEM O NOSSO CONSENTIMENTO"
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Nesta quinta-feira de noite (28 de maio) começamos a comemorar a festa de Shavuot, dia em que revivemos a entrega da Torá no Monte Sinai. Dia em que D'us se revelou diante de todo o povo judeu, milhares de pessoas, e todos recebemos diretamente Dele os 10 Mandamentos. Mas observando o primeiro mandamento da Torá, surge uma dúvida, pois assim está escrito: "Eu sou Hashem, teu D'us, que tirei você da terra do Egito, da casa da escravidão" (Shemot 20:2). Se os mandamentos foram entregues diante de tantas pessoas, por que está escrito no singular, "que tirei você"?

Desde o nascimento, passamos a vida inteira buscando ser alguém especial. Por que temos esta necessidade tão forte dentro de nós? Explicam os nossos sábios que este é um potencial espiritual que D'us colocou dentro de nós quando nos criou, como diz o versículo "E criou D'us o homem à sua imagem" (Bereshit 1:27). O que significa que fomos criados à imagem de D'us? Uma das explicações é que, da mesma forma que D'us é único, assim também Ele nos deu o potencial de sermos únicos. A nossa auto-estima é a expressão do quanto estamos alcançando nossa busca de sermos alguém único e especial.

Porém, vemos que algo está errado, pois o sonho, na maioria dos casos, se transforma em pesadelo. Uma das doenças mais terríveis que ataca o ser humano é a depressão, e uma das principais causas é a falta de auto-estima. Os sintomas mais perceptíveis são pessoas dependentes de bajulação, muito sensíveis a qualquer tipo de crítica, constantemente buscando auto-afirmação e com a tendência de procurar sempre em quem colocar a culpa. Se D'us nos criou com o potencial de sermos únicos e especiais, por que tantas pessoas não conseguem alcançá-lo?

A resposta é que a definição de auto-estima segundo a cultura ocidental é diferente da visão judaica. De acordo com a cultura ocidental na qual vivemos, o valor de uma pessoa não é algo intrínseco, e sim depende do quanto a pessoa contribui para a sociedade. A pessoa vale de acordo com o que ela produziu, e não de acordo com o seu potencial. Por isso vivemos em constante competição, sempre nos comparando com os outros. Limitamos nosso valor ao que fizemos e ao que temos, ao contrário de definir nosso valor de acordo com quem somos e o que podemos produzir. A consequência é que muitas vezes deixamos de ser nós mesmos, vivemos apenas de aparências. Passamos a nos sentir apenas "mais um tijolo no muro", mais um número no meio da multidão. Assim os alemães tentaram nos destruir psicologicamente durante o Holocausto, apagando nossa individualidade ao nos transformar em números tatuados no braço.

O judaísmo, por outro lado, nos motiva ao ensinar que nosso valor é algo intrínseco, e está relacionado ao entendimento de que somos únicos e, portanto, valiosos. A Torá nos ensina a estarmos conscientes da nossa capacidade, do que podemos construir, do nosso potencial. E justamente na entrega da Torá este conceito foi ressaltado, pois apesar de D'us ter entregado os mandamentos diante do povo judeu inteiro, Ele falou no singular, isto é, falou com o coração de cada judeu, para ensinar que cada um é uma criatura única e insubstituível.

A Torá descreve que havia 600 mil pessoas na entrega da Torá. E um Rolo da Torá também tem aproximadamente 600 mil letras. Isto não é uma coincidência. Mesmo com 600 mil letras, se uma letra de um Rola da Torá for apagado, esta Torá se torna "psulá" (inválida) e não pode mais ser utilizada em leituras públicas até que seja consertada. Assim também acontece com o povo judeu, somos tão especiais, tão únicos, que se cada um de nós não cumprir seu trabalho espiritual, não há ninguém que pode substituir nem preencher esta falta. Somos únicos, somos insubstituíveis. Esta é a nossa verdadeira auto-estima, este é o nosso verdadeiro valor.

Todos nós temos defeitos, todos nós cometemos erros. Mas isso não define nosso valor, pois nossos erros em geral não estão enraizados na nossa essência. Temos que focar no nosso potencial, no que somos de verdade. Fomos criados à imagem de D'us, temos dentro de nós uma alma infinita, uma parte do Criador. Shavuot reforça o nosso orgulho, a nossa importância para o mundo, a responsabilidade de cada um de nós ter um trabalho único e especial.

Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Se eu não for por mim, quem será por mim? E se eu for só por mim, o que eu sou? E se não agora, quando?". "Se eu não for por mim, quem será por mim?" significa que devemos estar focados no nosso valor intrínseco, não importa o que aconteça, não importa o que as pessoas pensem. "E se eu for só por mim, o que eu sou?" significa que devemos focar no que somos capazes, no nosso potencial de trazer vida para os outros. "E se não agora, quando?" significa que o mais importante não é ficar atolado no passado nem intimidado com o futuro. O mais importante é maximizar o presente, saber que o agora é o momento mais importante das nossas vidas.

CHAG SAMEACH e SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm