quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHEMOT 5770

BS"D

O AMOR VENCE O EGOÍSMO - PARASHÁ SHEMOT 5770 (01 de janeiro de 2010)

No meio de uma aula, uma das crianças perguntou à professora o que era o amor. A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que havia feito. Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor. As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora pediu para que cada um mostrasse o que havia trazido.

A primeira criança trouxe uma flor que exalava um delicioso perfume. A segunda criança trouxe uma linda borboleta, de asas coloridas e brilhantes. A terceira criança trouxe um filhote de passarinho que havia caído do ninho junto com outro irmãozinho. E assim cada criança apresentou o que havia trazido do pátio.

Terminada a exposição, a professora notou que uma das crianças tinha ficado quieta o tempo todo.
Ela estava envergonhada por não ter trazido nada. A professora se dirigiu a ela e perguntou:

- Meu querido, por que você não trouxe nada?

E a criança timidamente respondeu:

- Desculpe, professora. Vi a flor, senti o seu perfume e pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que outras pessoas também aproveitassem o perfume. Vi também a linda borboleta colorida, mas não tive coragem de aprisioná-la e tirar dos outros o prazer deste maravilhoso espetáculo da natureza. Finalmente vi também o passarinho caído entre as folhas, mas, ao subir na árvore, notei o olhar triste de sua mãe e não tive coragem de pegar o filhote. Portanto, professora, trago comigo o perfume da flor, a beleza da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho. Como posso mostrar o que trouxe?

A professora agradeceu a criança e deu-lhe nota máxima, pois ela foi a única que percebeu que o amor verdadeiro só existe quando conseguimos anular o nosso egoísmo e pensar de verdade nos outros.

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Nesta semana começamos o segundo livro da Torá, Shemot, também conhecido como "Sefer Hagalut ve HaGueulá" (Livro do Exílio e da Redenção), pois conta sobre o exílio do povo judeu no Egito e a milagrosa redenção, com as 10 pragas e a abertura do mar Vermelho. E a Parashá desta semana, Shemot, começa justamente com o início da escravidão no Egito e o nascimento de Moshé, o escolhido de D'us para nos salvar.

Quando Moshé nasceu, os astrólogos do faraó viram nas estrelas o nascimento do salvador do povo judeu, e por isso foi decretado de que todos os bebês homens fossem atirados no rio Nilo, tanto os judeus quanto os egípcios, pois não sabiam de onde viria o salvador, se seria um judeu ou mesmo um egípcio traidor. Os pais de Moshé, que tinham muita Emuná (fé), colocaram-no em uma cesta, revestida por fora com um material impermeável, e colocaram a cesta no rio Nilo para salvar a vida do bebê, certos de que D'us dirigiria a cesta para a salvação. E assim aconteceu, o cesto chegou até o local onde Batia, a filha do faraó, estava se banhando. Moshé, o salvador do povo judeu, foi ironicamente criado na casa do mesmo faraó que tentou matá-lo.

Mas no versículo que descreve o encontro de Batia com Moshé há algo que chama a atenção. Assim está escrito: "E (Batia) abriu (a cesta) e viu a criança, e eis que o jovem estava chorando. E ela teve misericórdia e disse: 'Esse é um filho dos hebreus' " (Shemot 2:6). Deste versículo surgem algumas perguntas. Primeiro, por que está escrito "o jovem estava chorando" se Moshé era apenas um pequeno bebê? Além disso, como Batia sabia que o bebê era hebreu? E finalmente, por que a Torá juntou, no mesmo versículo, a idéia do choro com o entendimento de Batia que o bebê era hebreu?

O Egito era um lugar espiritualmente muito baixo. Eram comuns os atos de enganação e traição, incluindo o adultério, pois os egípcios eram egoístas, centrados apenas em seus próprios interesses e prazeres e não se importavam com os outros. Já os hebreus eram justamente o contrário. Descendentes de Avraham, Ytzchak e Yaacov, que constantemente praticavam a bondade, o povo judeu foi moldado com a característica de amor ao próximo. A diferença saltava aos olhos.

Explicam nossos sábios algo fantástico. Na verdade quem Batia ouviu chorando não foi Moshé, e sim seu irmão Aharon, que estava chorando de preocupação com o destino do seu pequeno irmãozinho, e por isso a Torá escreve que quem estava chorando era um jovem, e não um bebê. Quando Batia viu alguém chorando por outro ser humano, teve certeza de que não era um egípcio. Certamente era um hebreu.

A Parashá mostra outros exemplos de como os judeus se importavam com os outros. Moshé foi criado no palácio do faraó, com tudo do bom e do melhor, mas não estava contente vendo seus irmãos sofrendo com a escravidão, e perdeu todo o luxo que tinha na vida para salvar um hebreu que estava sendo covardemente açoitado por um egípcio. Miriam, a irmã de Moshé, arriscou a vida ao acompanhar a cesta que descia o rio Nilo, pois como Aharon, ela estava preocupada com o destino de seu irmão.

A história se repete. Atualmente vivemos em uma sociedade que também está voltada apenas aos seus próprios prazeres e interesses. Convivemos com notícias de políticos corruptos que agem apenas em seu próprio benefício. A traição e a mentira voltaram a ser práticas comuns. Vivemos em um capitalismo selvagem, onde cada um procura garantir o que é seu, passando por cima dos outros se for necessário. Uma quantidade cada vez maior de mendigos vive nas ruas, e achamos normal ver um ser humano imundo dormindo na rua feito um animal. Cada vez menos as pessoas se ajudam e se importam. Em um mundo tão egoísta, podemos ser boas pessoas e nos importar com os outros?

Os judeus também são conhecidos como hebreus por causa de Avraham Avinu, chamado de "Ivri", do hebraico "Ever", que significa "lado". Enquanto o mundo inteiro estava do lado da idolatria, Avraham estava sozinho do outro lado, defendendo o monoteísmo. Ele não se importava que o mundo inteiro estivesse contra ele. O importante era fazer o que ele sabia ser o correto.

Herdamos estes dois potenciais espirituais de Avraham: a força de ir contra a sociedade e a capacidade de se importar com os outros. Não podemos nos acomodar, não temos a desculpa de não nos importar com os outros porque ninguém se importa. Aharon não se acomodou, Moshé não se acomodou, Miriam não se acomodou. Pessoas que tiveram coragem de não viver no comodismo escreveram a história do povo judeu. Mesmo nos dias de hoje temos incontáveis exemplos dentro do povo judeu de pessoas que dedicam suas vidas a ajudar ao próximo. Os grandes rabinos de nossa geração, como o Rav Eliashiv e o Rav Chaim Kanievski, praticamente não têm uma vida particular, todo o tempo deles é voltado a ajudar as pessoas que durante todo o dia os procuram com problemas para resolver.

Que possamos ter a coragem de fazer parte do grupo daqueles que não se acomodam e estão, atualmente, escrevendo a história do mundo.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm