sexta-feira, 24 de abril de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5769

BS"D

BRONCA QUE VALE OURO – PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5769 (24 de abril de 2009)

"Um grande sábio conhecido como Chidushei Harim viveu, quando era jovem, na casa do Rebe de Kojnitz. Mas após algum tempo ele decidiu sair de lá e foi morar na casa de outro grande rabino chamado Rebe de Pshischa. Esta mudança, sem nenhum motivo aparente, causou um grande sofrimento para o Rebe de Kojnitz.

Após algum tempo muitas coisas ruins começaram a acontecer com o Chidushei Harim, e ninguém entendia, pois ele era um Tzadik, um homem correto e íntegro, por que tinha que passar por tantos sofrimentos? Mas foi o próprio Chidushei Harim que, após alguns momentos de reflexão, chegou a uma possível explicação. Como ele havia saído da casa do Rebe de Kojnitz sem dar maiores explicações, havia certamente deixado-o muito triste, e por isso estava passando por tantas dificuldades. Então as pessoas quiseram saber qual o motivo o havia feito mudar de casa e perguntaram se ele não havia se arrependido, e ele explicou:

- Não estou arrependido de maneira nenhuma, e recebo com alegria todos estes sofrimentos. Quando eu estava em Kojnitz, recebia apenas elogios e louvores, mas em Pshischa eu recebo muitas broncas e críticas. Para o meu crescimento espiritual eu não preciso de um rabino que fique me elogiando e ressaltando meus pontos fortes. Eu preciso é de um rabino que saiba apontar os meus defeitos e onde eu preciso me aperfeiçoar"

Com elogios inflamos o nosso ego, mas são com as críticas que melhoramos e crescemos espiritualmente. Os sábios da Torá souberam sempre aproveitar a oportunidade de buscar críticas para saber onde precisavam melhorar, ao invés de ficar procurando elogios e louvores.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Tazria e Metzorá, e as ambas falam basicamente sobre uma doença espiritual chamada Tzaraat, causada por algumas transgressões específicas, entre elas o Lashon Hará (falar mal dos outros) e o orgulho. E esta doença espiritual é muito confundida com a lepra, pois sua manifestação física se dava através do surgimento de várias manchas que se espalham por todo o corpo. Uma das provas que era uma doença espiritual e não física é que apenas o Cohen (sacerdote) podia diagnosticar a doença, como está escrito: "Quando estiver uma pessoa com manchas de Tzaraat, ele deve ser trazido para um Cohen (sacerdote)" (Vayikrá 13:9).

Deste ensinamento surgem dois questionamentos: se a Tzaraat era algo tão evidente, que deixava manchas na pele da pessoa, por que ela tinha que procurar um Cohen para receber o diagnóstico? E, além disso, o que acontecia se um Cohen se contaminasse com a Tzaraat, ele podia se auto-diagnosticar ou precisava procurar outro Cohen?

Explica o livro "Lekach Tov" que não existe nenhum ser humano que, em suas decisões cotidianas, não está "subornado" por seus interesses particulares. Achamos que somos racionais e corretos em todas as nossas decisões, mas se prestarmos atenção, perceberemos o quanto somos influenciados por nossas vontades, a ponto de vermos a situação de maneira exatamente oposta de como ela é de verdade. Em geral nosso ego não quer se ferir e não queremos admitir que erramos, e muitas vezes, mesmo que de forma inconsciente, negamos o que é óbvio e procuramos desculpas por nossos atos. Mas o Criador do mundo conhece suas criaturas, e por isso nos ensinou uma forma para chegarmos à verdade, independente dos nossos interesses. Essa forma é através do aconselhamento com outra pessoa, que está fora do problema e pode ver as coisas com claridade e sem nenhum interesse.

Ensinam nossos sábios que existiam dois tipos de Tzaraat. Um dos tipos causava manchas que tornavam a pessoa impura espiritualmente e obrigavam-na a passar por um processo de purificação, que incluía o total isolamento por pelo menos uma semana. Esse tempo era importante para que a pessoa pudesse refletir e entender a gravidade de suas transgressões. E havia outro tipo, cujas manchas não tornavam a pessoa impura e não era necessário o processo de isolamento e purificação espiritual. O grande problema é que ninguém gostaria de assumir que a Tzaraat veio como consequência de um erro grave, então a tendência do ser humano seria sempre olhar para si mesmo e se auto-diagnosticar como estando puro, mesmo que os sinais indicassem exatamente o contrário. É por isso que a Torá nos obrigou a procurar um Cohen, para que ele, uma pessoa completamente neutra, desse um diagnóstico livre de qualquer interesse pessoal. E é por esse motivo que mesmo um Cohen quando contraia Tzaraat precisava procurar outro Cohen para ser diagnosticado.

Este ensinamento não se limita apenas ao caso da Tzaraat, é algo que podemos utilizar no nosso cotidiano. A natureza do ser humano é saber enxergar os defeitos dos outros, mesmo que seja uma transgressão quase insignificante, e ao mesmo tempo ele tem a capacidade de ignorar completamente seus próprios erros e faltas, mesmo que sejam gigantescos. É por isso que nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Adquira para você um amigo". Que tipo de ensinamento é este, precisamos ir a uma loja de liquidações para comprar um amigo? Alguém já viu amigos em exposição na vitrine, ou um anúncio no jornal dizendo "Quero ser seu amigo, cobro barato"? Ensinam os comentaristas que "Compre um amigo" significa que é tão importante ter um amigo que valeria a pena pagar por isso, mesmo que fosse um valor alto. Mas para entender por que valeria a pena pagar para ter um amigo, antes precisamos entender o que a Torá chama de amigo. Será que amigo é aquela pessoa que vai conosco nas festas e viagens? Certamente não é deste amigo que a Torá está se referindo. Segundo a Torá, amigo não é aquele que sempre te faz elogios, que sempre te passa a mão na cabeça, mesmo quando você está errado, para mostrar fidelidade e "amizade". O amigo de verdade é aquele que se importa com você, e justamente por se importar, quando você erra, ele te chama a atenção, ele mostra onde você errou, ele te dá uma sacudida para te despertar. Para ter por perto uma pessoa destas, que nos coloca sempre nos caminhos corretos, valeria a pena até mesmo pagar por isso.

O ensinamento que fica para as nossas vidas é que sim podemos ver os erros dos outros, mas sem utilizar uma lente de aumento e com o único intuito de ajudá-los a melhorar. Podemos utilizar a lente de aumento apenas para buscar os nossos próprios defeitos. E mais do que tudo, devemos nos aconselhar com os nossos rabinos e verdadeiros amigos, que são aqueles que querem sempre o nosso bem e o nosso crescimento espiritual, mesmo que isso tenha quer vir através de uma bronca ou de uma crítica.

"Faça uma crítica a um sábio e ele te amará. Faça uma crítica a um tolo e ele te odiará" (Mishlei)

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm