sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BO 5770

BS"D

FORÇA SOBRENATURAL - PARASHÁ BO 5770 (22 de janeiro de 2010)

"Em um dia quente de verão no sul da Flórida, um menino decidiu nadar no rio que corria atrás de sua casa. Ele se jogou na água refrescante e estava tão entretido que não percebeu quando um crocodilo enorme começou a nadar em sua direção. Sua mãe, que havia ficado em casa, aproximou-se da janela para ver se estava tudo bem. De repente, viu o crocodilo se aproximando de seu filho, que nadava tranquilamente sem perceber o perigo. Começou a gritar o mais alto que podia para alarmar o filho. Apesar da distância, o menino percebeu que havia algo de errado. Foi então que notou o crocodilo vindo em sua direção. Tentou nadar o mais rápido que podia para sair do rio, mas já era tarde demais, o crocodilo já o havia alcançado.

A mãe, em total desespero para salvar seu filho, atirou-se no rio. Quando o crocodilo abocanhou as pernas do garoto, a mãe agarrou-o pelos braços. A mãe, usando todas as suas forças, lutou contra o crocodilo para salvar a vida de seu filho. O crocodilo era forte, tentava arrastar o menino para o fundo do rio, mas a mãe não desistia, não parava de lutar.

Naquele instante passou por ali um caçador. Ao ver a luta desesperada da mãe com o crocodilo, sacou sua espingarda e, com um tiro certeiro, matou o crocodilo. A mãe trouxe o filho até a margem e levou-o o mais rápido que pôde ao hospital. O menino, apesar dos graves ferimentos nas pernas, sobreviveu e depois de alguns meses voltou a andar normalmente.

Enquanto o menino estava hospitalizado, ele recebeu a visita de um jornalista que havia escutado a história e queria saber mais detalhes. O garoto contou tudo o que havia acontecido e, levantando a colcha, mostrou os ferimentos dos pés e pernas, que deixariam cicatrizes profundas para o resto da vida. Quando o jornalista estava saído do quarto, o garoto o chamou de volta e disse:

- Perdoe-me, mas as marcas mais interessantes eu ainda não lhe mostrei.

Então, com muito orgulho, mostrou as marcas e cicatrizes de seu braço. Eram as marcas das mãos de sua mãe que, ao segurá-lo com muita força para tirá-lo da boca do crocodilo, tinha ferido seu braço. Então uma lágrima escorreu dos seus olhos e ele falou, muito emocionado:

- Eu tenho estas marcas porque minha mãe não me largou. Ela sabia que não podia lutar contra um crocodilo, mas ela não mediu esforços. Mesmo que parecia impossível, ela não desistiu de mim. Somente assim ela conseguiu salvar minha vida"

Não sabemos a força que temos dentro de cada um de nós, e muitas vezes desistimos, sem mesmo lutar, de batalhas que poderíamos vencer se conhecêssemos o nosso verdadeiro potencial.

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Na Parashá desta semana, Bo, D'us continuou castigando os egípcios com as pragas, em retribuição a todo o mal que eles haviam feito aos judeus durante todos os anos de escravidão. Outro motivo das pragas era para que D'us revelasse o Seu imenso poder a todo o mundo. Mas aparentemente as pragas não conseguiram fazer o faraó se curvar diante de D'us. Mesmo após oito pragas terem devastado o Egito, assim está escrito na Parashá "E ele os expulsou (Moshé e Aharon) diante da presença do faraó" (Shemot 10:11). Como o faraó ousou tratar Moshé e Aharon de maneira tão vergonhosa, expulsando-os de seu palácio, como se eles não fossem nada, depois de todos os milagres que eles haviam feito aos olhos de todos os egípcios?

A resposta encontramos na Parashá da semana passada. Após D'us ter mandado a sexta praga, uma doença que causava bolhas sobre todo o corpo dos egípcios, está escrito "D'us endureceu o coração do faraó e ele não os escutou" (Shemot 9:12). Até a sexta praga o faraó teve o livre arbítrio de enxergar seus erros e se arrepender, mas a partir da sexta praga seu livre arbítrio foi retirado. É por isso que, mesmo após tantos milagres e destruição, o faraó ainda tratava Moshé e Aharon com desdém, pois D'us havia endurecido seu coração.

Observamos que após a sexta praga, se D'us não tivesse endurecido o coração do faraó, ele teria deixado os judeus saírem do Egito. Mas surge uma grande pergunta: qual a diferença desta praga para as cinco pragas anteriores, que não tinham conseguido tocar o coração do faraó? Podemos entender o porquê das pragas do sangue e do sapo não terem tocado o coração do faraó, já que a Torá escreve que seus magos também conseguiram, através do uso de magia negra, repetir as pragas. Mas a partir da terceira praga, piolhos, os magos não conseguiram mais repeti-las, e eles mesmos afirmaram "É o dedo de D'us". Então por que a praga das bolhas tocou mais o coração do faraó do que as anteriores?

Explica o Rav Chaim Shmulevitz que o ser humano tem forças dentro de si mesmo que ele não consegue nem mesmo imaginar. Quando Adam Harishon (Adão) foi criado, o Talmud (Torá Oral) ensina que ele podia enxergar de um extremo do mundo até o outro extremo, desde a Terra até o céu, e apenas quando ele pecou é que seu potencial foi diminuído. Isso quer dizer que ele tinha uma força sobrenatural, tudo estava ao seu alcance. Quando Yaacov foi dar água para o rebanho de Rachel, ele retirou sozinho da boca do poço uma gigantesca pedra que normalmente somente era removida com a força de vários pastores juntos. Quando Batia, a filha do faraó, viu a cesta de Moshé no rio Nilo, ela esticou sua mão e conseguiu alcançá-lo a uma distância que qualquer ser humano normal não teria conseguido. E Torá traz vários outros exemplos de eventos nos quais nossos antepassados mostraram ter uma força sobrenatural. Qual a fonte desta força?

Responde o Rav Chaim Shmulevitz que para conseguir esta força sobrenatural a pessoa precisa acertar o seu foco e os seus objetivos na vida. Quando a pessoa está completamente focada e determinada em atingir seu objetivo, ela consegue obter forças que nem mesmo imaginava. São inúmeros os casos de pessoas que, quando ameaçadas por qualquer tipo de perigo, conseguem realizar façanhas que eram consideradas impossíveis. Mães levantam sozinhas carros para salvar seus filhos de um atropelamento certo, pessoas fazem coisas impossíveis para salvar suas vidas em um incêndio. A obrigação de resolver um problema e a sensação de necessidade cria nas pessoas uma força imensa, muito maior do que sua força normal.

Esta foi a diferença da praga das bolhas e as pragas anteriores. Como Moshé executou a praga das bolhas? Assim está escrito: "E eles (Moshé e Aharon) pegaram um punhado de cinzas, ficaram diante do faraó, e Moshé atirou (as cinzas) aos céus, e elas se transformaram em bolhas que atingiram os seres humanos e os animais" (Shemot 9:10). Explica Rashi, comentarista da Torá, que a linguagem utilizada na Torá, "atirou", somente é utilizada quando alguém joga algo com muita força. Mas se as pragas eram para revelar o poder de D'us, por que Moshé teve que atirar as cinzas com força? Se fazia parte do milagre, por que D'us não fez algo ainda maior, com Moshé jogando as cinzas para cima sem força?

Responde o Rav Chaim Shmulevitz que o ato de atirar as cinzas não fazia parte do milagre. Moshé conseguiu atirar o punhado de cinzas sobre todo o Egito com sua própria força, pois tinha o foco e a determinação, e conseguiu chegar a uma força sobrenatural. Quando o faraó presenciou isto, seu coração se derreteu e ele finalmente enxergou a grandeza de D'us.

Vemos na história do povo judeu muitas pessoas que se superaram e chegaram a níveis inimagináveis. Um dos maiores exemplos foi o famoso Rabi Akiva, a quem devemos muito por toda a Torá que temos até os nossos dias. Até os 40 anos ele era um completo analfabeto. Passou 24 anos estudando longe de casa e voltou com 24 mil alunos. Poderíamos pensar que todas as pessoas que tiveram desempenhos sobrenaturais na vida eram pessoas já "predestinadas" ao sucesso. Mas isso não é verdade, é um grande engano. Tudo depende do nosso foco e da nossa determinação na vida. Quando qualquer pessoa colocar em seu coração e sentir a necessidade de se conectar com a sua espiritualidade, certamente conseguirá despertar em sua alma forças inimagináveis, como fez o Rabi Akiva.

Quando a Torá descreve o nascimento de Moshé, está escrito: "E um homem da casa de Levi foi e se casou com uma filha de Levi. E a mulher engravidou e deu a luz a um filho" (Shemot 2:1,2). Por que a Torá escreve "um homem da casa de Levi" e "uma filha de Levi", ao invés de escrever "Amram" e "Yochevet", o nome dos pais de Moshé? Pois poderíamos pensar que Moshé foi grande apenas porque era filho de Amram, o líder do povo judeu no Egito, e Yochevet, uma grande Tzadiká (Justa) que arriscou a vida para proteger os bebês judeus. Então a Torá escreveu apenas "um homem da casa de Levi" e "uma filha de Levi" para nos ensinar que Moshé chegou a ser grande por seu próprio esforço e vontade de alcançar altos níveis espirituais.

Dizem os nossos sábios que todos os dias temos que nos fazer a seguinte pergunta: "Quando meus atos chegarão no mesmo nível dos atos dos meus antepassados Avraham, Itzchak e Yaacov?". Não é uma utopia cobrar isso de nós mesmo, que estamos atualmente em um nível espiritual tão baixo? Nossa Parashá ensina que não, pois se conseguirmos nos concentrar no nosso objetivo na vida, colocando todo o nosso foco e os nossos esforços no nosso crescimento espiritual, certamente descobriremos dentro de cada um de nós uma força que nunca sonharíamos ter.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm