sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BO 5769

BS"D

NÓS FAZEMOS NOSSO FUTURO - PARASHÁ BO 5769 (30 de janeiro de 2009)

Um grande sábio não-judeu chamado Avlat encontrou-se com um grande sábio judeu chamado Shmuel. Enquanto eles conversavam, passou um grupo de trabalhadores em direção ao pântano, onde iriam passar o dia cortando e recolhendo juncos. Avlat, que era um grande conhecedor da astrologia, apontou para um dos trabalhadores e disse para Shmuel:

- Você está vendo aquele trabalhador? Ele não voltará do trabalho hoje. Será picado por uma cobra venenosa e morrerá.

- Depende – respondeu Shmuel – se ele for judeu, não é certeza que não voltará, pois ensinaram nossos sábios que "Ein Mazal Le Israel" (o povo judeu não é influenciado pelas estrelas). Pode ser que a minha Tefilá (reza) funcione para ele.

Esperaram até o fim da tarde e viram que o homem retornou do trabalho. Avlat ficou desconcertado, estava escrito nas estrelas que aquele homem deveria ter morrido! Abriu a sacola na qual o homem carregava os juncos que havia cortado e lá encontrou uma cobra cortada ao meio. O trabalhador levou um grande susto, nem havia visto a cobra dentro de sua sacola! Provavelmente durante o trabalho havia dado um golpe com a foice para cortar um pedaço de junco e havia matado, sem saber, uma cobra muito venenosa que estava à espreita para atacar. Shmuel então perguntou:

- Você se lembra se hoje você fez algum ato diferente, algo especial?

- Todos os dias – começou o homem – no horário do almoço, nós recolhemos pão de todos os trabalhadores em uma cesta e dividimos entre todos. Hoje eu percebi que um dos trabalhadores não tinha trazido pão e estava muito envergonhado. Então eu prontamente me ofereci para recolher o pão de todos, e quando chegou na vez daquele trabalhador, eu fingi que também peguei um pão dele e completei o que faltava com um pão meu.

Então Shmuel disse:

- Você fez uma grande Mitzvá. E assim nos ensinou Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "A Tzedaká (caridade) salva da morte". (História real, retirada do Talmud Shabat 156b)
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Na Parashá desta semana, Bo, a Torá continua descrevendo as 10 pragas que D'us mandou sobre o Egito para convencer o faraó a deixar o povo judeu sair. E a Parashá começa justamente quando Moshé anunciou a vinda da oitava praga, gafanhotos. Os conselheiros do faraó temeram que todos morreriam de fome caso os gafanhotos devorassem o que havia sobrado das plantações, e convenceram o faraó a deixar os judeus saírem para servir a D'us no deserto, como Moshé exigia. O faraó concordou, achando que apenas os homens mais velhos iriam, mas quando Moshé disse que todos iriam, inclusive as crianças e o gado, o faraó se enfureceu e disse "Então que D'us esteja com vocês quando eu enviar vocês e seus filhos. Veja que o mal está diante das suas faces" (Shemot 10:10). O que significam estas palavras do faraó?

A explicação mais simples é que o faraó desconfiou que os judeus não queriam apenas servir a D'us no deserto, esta era apenas uma desculpa para esconder um plano de fuga. O faraó ficou irritado com o descaramento dos judeus, pois não havia nenhum outro motivo para levar crianças e animais para o deserto. O desabafo do faraó foi sarcástico, dizendo que nem D'us os ajudaria por estarem sendo desonestos e mentirosos.

Já o Midrash (parte da Torá Oral) dá uma explicação mais profunda deste versículo. A palavra "mal", em hebraico é "Raá", que é também o nome de uma estrela cujo simbolismo é sangue e destruição. O faraó e seus magos, que tinham muitos conhecimentos de astrologia, estavam advertindo Moshé e o povo judeu que sua ida ao deserto seria regida pela influência desta estrela, que segundo o entendimento deles significava a destruição dos judeus. Então por que levar as crianças e o gado para também serem destruídos?

Porém, esta explicação do Midrash causa uma grande dúvida. Os judeus realmente estiveram sob o risco de destruição no deserto, quando fizeram o bezerro de ouro. Mas como podem os egípcios terem visto a estrela de sangue influenciando os judeus se apenas ela teve influência depois do erro deles, isto é, como foi possível ver o futuro se este dependia da livre escolha do povo judeu? Se o povo judeu não tivesse feito o bezerro de ouro, nunca teriam passado por nenhum perigo de destruição!

A influência das estrelas não é uma mera bobagem, como fazem parecer os atuais horóscopos, que servem apenas como entretenimento das pessoas e não trazem nenhuma informação séria. A astrologia é o conhecimento de quais influências espirituais estarão sobre o mundo material de acordo com o arranjo das estrelas e planetas no céu. As pessoas que tenham este conhecimento podem saber exatamente o que foi decretado nos mundos espirituais e quais serão as consequências no mundo material.

Explica o Rav Eliahu Dessler, em seu livro Michtav MeEliahu, que o conceito espiritual de "Ein mazal le lsrael" (o povo judeu não é influenciado pelas estrelas) não significa que um judeu nunca é influenciado pelas estrelas. Todos os seres humanos são influenciados pelo posicionamento dos astros no céu, mas quando os judeus receberam a Torá no Monte Sinai, se conectaram com D'us de uma maneira mais direta, "passando por cima" da influência das estrelas. Os judeus ganharam, através das Mitzvót, a capacidade de modificar o que está decretado nos astros. Quando um judeu cumpre Mitzvót, ele pode mudar o que está decretado. Mas se um judeu não cumpre Mitzvót, ele continua "preso" no que está escrito nas estrelas.

Portanto, o faraó realmente viu que a estrela Raá, que simboliza sangue e destruição, influenciaria o povo judeu no deserto. Mas enquanto o povo judeu estava mais elevado do que as estrelas, esta influência não era sentida por eles. Somente quando os judeus cometerem o terrível pecado do bezerro de ouro é que eles despencaram de nível espiritual e voltaram a estar sob a influência direta das estrelas. Neste momento eles entraram em um grande perigo de destruição, e o que os salvou foi a reza de Moshé e a Teshuvá (arrependimento) do povo. Mesmo após o perdão de D'us, como a influência da estrela Raá já havia recaído sobre o povo judeu, ela foi transferida para um outro "derramamento de sangue", o sangue do Brit-Milá que os judeus fizeram sob o comando de Yoshua, o sucessor de Moshé, antes de entrarem em Israel.

Daqui aprendemos a força das Mitzvót e o quanto elas podem mudar nossas vidas, inclusive coisas que já haviam sido decretadas nos mundos espirituais, como ensinam os nossos sábios "A Tefilá (reza), a Teshuvá (arrependimento) e a Tzedaká (caridade) mudam um mau decreto". Pois as Mitzvót são o caminho para, ao invés de nos conectarmos com os ministros e intermediários, nos conectarmos diretamente com o Rei.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm