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EXPULSANDO A ESCURIDÃO - PESSACH II 5772 (13 de abril de 2012)
"Certa vez um rei muito sábio decidiu procurar um bom marido para sua filha preferida. Buscava um jovem que tivesse diversas boas qualidades, mas entre elas a que ele mais desejava era a sabedoria. Para isso, criou um desafio e anunciou que aquele que vencesse poderia casar-se com sua filha. Qual era o desafio? O pretendente deveria encher o salão principal do palácio com alguma substância leve e sem gastar muito tempo.
Vários candidatos se apresentaram para tentar vencer o desafio e conquistar o mérito de casar-se com a princesa. O primeiro trouxe uma enorme quantidade de penas, mas apesar de seu imenso esforço e vontade, o tempo passou e ele não conseguiu encher o salão inteiro. Já o segundo tentou encher o salão com uma seda fina, porém também desistiu após algum tempo. E assim centenas de pessoas tentaram encher o salão com os mais diversos materiais, mas não conseguiram. O rei, ao ver o fracasso de todos, ficou desesperado. Será que ninguém venceria o desafio? Será que não encontraria o marido ideal para sua filha?
Certo dia, um pretendente entrou no palácio. Para a surpresa de todos, ele vinha de mãos vazias. O rei então questionou:
- Meu jovem, se você não traz nada nas mãos, como pretende vencer o desafio? Com o que você vai encher o meu salão?
O jovem rapaz não respondeu, apenas pediu aos ajudantes do rei que apagassem completamente as luzes do salão. Quando o salão ficou completamente tomado pela escuridão, o jovem rapaz tirou uma pequena vela do bolso e a acendeu. A luz preencheu imediatamente todo o salão, expulsando a escuridão. O jovem havia vencido o desafio"
O mundo está repleto de maus atos, que se comparam à escuridão. Chegamos a ficar sem esperanças de ver um mundo melhor, mais justo e mais feliz. Mas temos que saber que cada bom ato que fazemos se compara a uma vela, que mesmo sendo pequena, tem o poder de expulsar a escuridão.
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Na noite desta quinta feira (12 de abril) novamente é Yom Tov, no qual comemoramos o sétimo dia de Pessach. O Yom Tov é um dia com mais Kedushá (Santidade), no qual, como no Shabat, nos abstemos de certas atividades criativas. Entendemos porque D'us determinou que o primeiro dia de Pessach fosse Yom Tov, já que neste dia ocorreu a saída do Egito. Mas o que houve de especial no sétimo dia de Pessach, que justifica outro Yom Tov?
Mesmo depois dos judeus terem saído do Egito, após as 10 pragas devastadoras, a escravidão não havia terminado definitivamente. Eles ainda se sentiam escravos, pois apesar de já terem escapado do local de escravidão, sabiam que os egípcios poderiam persegui-los através do deserto para levá-los de volta. E os judeus estavam certos, pois foi justamente isto que ocorreu. Os judeus ainda não haviam se afastado muito quando o Faraó, sem medo das consequências, juntou 600 charretes de guerra e seus melhores homens e partiu em sua perseguição. Os judeus viram-se completamente cercados: dos lados, o deserto inóspito, cheio de animais perigosos. Diante deles, o Mar Vermelho, instransponível. E atrás deles, o bem treinado exército egípcio, declarando guerra contra eles. Foi então que D'us preparou o grande final, abrindo o mar para que os judeus passassem em terra firme e fechando-o sobre os egípcios, matando todo o exército e libertando definitivamente os judeus.
Mas como podemos entender esta obstinação do Faraó? Será que ele era tão tolo? Depois de ter presenciado as 10 pragas, após ter visto que D'us tem poder infinito e controle sobre toda a natureza, o Faraó não sabia que seu exército seria facilmente esmagado? Após sentir a mão pesada de D'us na morte dos primogênitos, ele foi pessoalmente permitir aos judeus que saíssem do Egito, então por que voltou a perseguir os judeus, alheio às terríveis consequências que certamente viriam?
A Torá explica que mais uma vez D'us endureceu o coração do Faraó, e somente por isso ele O desafiou novamente. Em outras palavras, o grande milagre da abertura do mar precisava acontecer, a para garantir que aconteceria, D'us forçou o Faraó a perseguir os judeus. Mas por que foi necessário mais este milagre? Afinal, se todo o propósito de D'us ter quebrado as leis da natureza nas 10 pragas era libertar o povo judeu do Egito, o propósito já havia sido alcançado. Então por que foi necessário endurecer o coração do Faraó mais uma vez? O que o milagre da abertura do mar acrescentou ao povo judeu?
Outra pergunta que surge é em relação à reação do povo judeu após a morte do exército egípcio. Quando eles viram os egípcios mortos na praia, imediatamente fizeram um cântico de louvor a D'us, chamado "Shirat Haiam" (Cântico do mar). Antes eles estavam encolhidos de medo, mas agora eles comemoravam, cantando de alegria. Porém, há um Midrash (parte da Torá Oral) que parece contraditório com a reação do povo judeu. O Midrash conta que quando os egípcios morreram, os anjos também se alegraram e começaram a cantar. Imediatamente D'us interrompeu a comemoração dos anjos e disse: "Minhas criaturas estão morrendo e vocês querem fazer cânticos de louvor para Mim?". Como podemos entender este Midrash? Se D'us deu uma bronca nos anjos por causa da falta de sensibilidade deles, por que a Torá não criticou o povo judeu pelo mesmo motivo? Além disso, o "Shirat Haiam" foi inserido no texto de Shacharit (reza da manhã). Se este cântico é algo indesejável para D'us, por que o repetimos todos os dias?
Para responder estas perguntas, precisamos antes entender o que são os anjos. Em Lashon Hakodesh (língua com a qual D'us criou o mundo e escreveu a Torá), a palavra "anjo" é "Malach", que também significa "mensageiro". Um anjo é uma criatura cuja única função é cumprir a missão designada por D'us. O nome da cada anjo representa a sua essência, isto é, a missão para a qual ele foi criado. Por exemplo, o anjo Rafael é o anjo da cura ("Refua" é "cura" em Lashon Hakodesh). Os anjos, portanto, não tem livre escolha. Um entregador do correio que está a caminho de entregar um pacote não precisa decidir se a pessoa merece ou não receber a encomenda, ele deve apenas cumprir a sua função. Assim também os anjos devem cumprir exatamente o que D'us comandou, nem a mais nem a menos. Eles não precisam desenvolver um senso de justiça, de certo e errado, de bom e mal. Por isso era desnecessário, e até mesmo inapropriado, que eles cantassem de alegria diante da morte das criaturas de D'us.
Os seres humanos, ao contrário, foram criados com livre escolha. Nossas escolhas entre o bem e o mal fazem muita diferença. Nós precisamos trabalhar para desenvolver o senso de justiça e a vontade de lutar para que o bem vença o mal, como diz David Hamelech: "Aqueles que amam D'us odeiam o mal" (Salmos 97:10). Por isso para o povo judeu era apropriado, necessário e até mesmo digno de louvor expressar a alegria quando a justiça foi feita e eles viram o bem derrotando o mal.
Mas o que havia de diferente entre o milagre da abertura do mar e os milagres das 10 pragas no Egito? Nas 10 pragas, o povo judeu era apenas um espectador, completamente passivo, não estava em guerra contra o mal. Já na abertura do mar houve uma declaração de guerra entre os egípcios e o povo judeu. D'us queria, com a abertura do mar e a morte dos egípcios diante dos olhos de todo o povo, colocar no coração de cada judeu a noção de justiça, da necessidade de lutar pelo bem. E nossos sábios fixaram este cântico na Tefilá diária justamente para que possamos sempre refletir sobre a necessidade de fazer o bem e lutar contra o mal.
Vivemos sonhando com um mundo onde o mal não existe, onde todos fazem o bem e a paz reina. Não é uma utopia, pois este é o propósito do mundo, é a realidade na qual um dia certamente chegaremos. Mas não podemos viver sonhando, precisamos viver na realidade de que o mal ainda existe e precisamos lutar contra ele. Martin Luther King, um grande líder negro dos Estados Unidos, eternizou uma frase interessante: "Pior do que a maldade dos perversos é o silêncio dos justos". Não podemos nos acomodar, não podemos enxergar a maldade como algo normal e aceitável. Não podemos nos trancar em nossas casas e viver como se o mal não existisse lá fora.
Mas como se luta contra o mal? Praticando ativamente o bem. Através de atos de Chessed (bondades), do cumprimento das Mitzvót e do refinamento das nossas características pessoais, como a paciência e a humildade. Dizia o Rav Noach Weinberg zt"l, que dedicou a vida para trazer judeus de volta ao judaísmo, que uma de suas maiores motivações era lembrar que os nazistas, a serviço do mal, mataram 6 milhões de judeus. Eles se esforçavam, pensavam o tempo inteiro em como ser mais eficientes, em como matar mais judeus de uma só vez. O Rav Noach Weinberg dizia que se o mal conseguiu destruir a vida de 6 milhões de judeus, precisamos nos esforçar com toda a nossa energia para que, através do bem, possamos trazer muito mais do que 6 milhões de judeus de volta aos caminhos da bondade e do conhecimento da Torá e das Mitzvót. Não é suficiente apenas boas intenções, precisamos de esforço e determinação.
Fomos ensinados que não somos especiais, que somos apenas "mais um tijolo na parede". Mas a verdade é que o futuro do mundo está nas mãos de cada um de nós. Cada alma é uma vela na escuridão. Cada alma pode iluminar a vida de muitas pessoas à sua volta. Pois toda a escuridão do mundo não pode extinguir a luz de uma pequena vela acesa. Por isso, cada pequeno bom ato vale muito.
Que em Pessach cada um de nós possa sair de sua própria escravidão, e que possamos acender a nossa própria vela para iluminar, inicialmente as pessoas à nossa volta, e aos poucos o mundo inteiro.
CHAG SAMEACH E SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm