sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ VAISHLACH 5772

BS"D

 

PREOCUPAÇÕES DESNECESSÁRIAS - PARASHÁ VAISHLACH 5772 (09 de dezembro de 2011)

 

"Um rei Saudita conseguiu três prisioneiros de guerra: um americano, um inglês e um judeu israelense. Eles foram chamados diante do rei e informados de que receberiam uma difícil missão. Se eles conseguissem cumpri-la com sucesso seriam imediatamente libertados, mas se não conseguissem, seriam mortos. E qual era a difícil missão? O rei Saudita tinha um cachorro muito esperto, que entendia tudo o que seu dono falava. Mas o cachorro não sabia falar. E esta era a missão proposta pelo rei Saudita: fazer o seu querido cão falar.

 

O americano, ao escutar o estranho pedido do rei Saudita, deu risada e disse:

 

- Mas que tolice, todos sabem que cachorros não falam, isto é impossível!

 

Mal terminou de falar e os guardas reais atiraram, matando o prisioneiro.

 

O inglês, assustado, não foi tão direto. Hesitou um pouco e finalmente disse:

 

- Eu já vivi muito, já escutei de tudo. É possível fazer um papagaio falar, uma arara também pode aprender a falar, mas na minha vida inteira eu nunca escutei que é possível fazer um cachorro falar!

 

Também mal terminou de falar e recebeu tiros dos guardas reais, caindo morto.

 

Então o judeu israelense, o único prisioneiro restante, aproximou-se do rei Saudita e disse:

 

- Sem problemas, majestade, eu posso fazer seu cachorro falar. Porém, para isso eu preciso de um ano inteiro de intensos treinamentos.

 

O rei Saudita concordou e, juntando seus guardas, partiu dali com a promessa de voltar dentro de um ano para cobrar os resultados prometidos.

 

O treinador do cachorro, que havia escutado toda a conversa, balançou a cabeça e disse ao judeu:

 

- Escute, amigo, eu treino cachorros de todas as raças há mais de 40 anos e nunca escutei falar que é possível fazer um cachorro falar. O que você pretende fazer?

 

O judeu israelense calmamente respondeu:

 

- Por que você está tão preocupado agora? Eu tenho um ano inteiro pela frente. Neste ano o rei pode morrer, o cachorro pode morrer, até mesmo eu posso morrer. Então por que se preocupar?"

 

Em nossas vidas nos preocupamos e sofremos por antecipação. Muitos dos nossos problemas existem apenas na nossa cabeça. Se confiarmos mais em D'us e nos dedicarmos aos problemas que realmente existem, podemos evitar muita dor de cabeça desnecessária.

 

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Um dos assuntos mais delicados para o ser humano é o equilíbrio entre a necessidade de se esforçar para obter resultados na vida e a "Bitachon", a segurança e a certeza de que é D'us que faz tudo acontecer. Por um lado não podemos ficar sentados esperando um milagre acontecer, temos que fazer a nossa parte. Por outro lado não podemos nos esforçar mais do que o necessário ou nos desesperar com o que acontecerá no futuro, pois isto é uma demonstração de falta de Bitachon. Em cada situação precisamos encontrar o equilíbrio perfeito, e isto é algo difícil de ser conseguido.

 

Um exemplo da dificuldade de alcançar este equilíbrio está na Parashá desta semana, Vaishlach, na qual Yaacov iniciou a viagem de volta para casa, depois de 36 anos ausente. Ele havia fugido para a cidade de Haran, onde vivia seu tio Lavan, para escapar da fúria de seu irmão Essav, que queria matá-lo por causa da Brachá (Benção) de primogenitura. Para saber como estava a situação depois de tanto tempo, Yaacov enviou anjos com a seguinte mensagem de reconciliação para Essav: "Eu estou completo com você e desejo seu amor". Mas os anjos voltaram com más notícias, informando que Essav vinha em sua direção, com um exército de 400 homens. Yaacov se estressou com as notícias e preparou-se para o iminente confronto. No final não houve guerra e os irmãos se abraçaram no reencontro.

 

Mas uma grande pergunta surge sobre este episódio. Será que Yaacov agiu corretamente ao enviar os anjos? À primeira vista parece que sim. Yaacov conhecia a índole de seu irmão, sabia que ainda era grande o perigo de um confronto e a possibilidade de Essav querer matá-lo. Portanto, nada mais natural do que, ao voltar para casa, enviar emissários para buscar a paz com seu irmão.

 

Mas há um interessante Midrash (parte da Torá Oral) que mostra o quanto este assunto é difícil. O Midrash afirma que o ato de Yaacov ter mandado os anjos foi um erro. O Midrash ilustra com um provérbio de Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "Como aquele que agarra pelas orelhas um cachorro que passa, assim é aquele que se intromete em uma briga que não é sua" (Mishlei 26:17). O Midrash ainda compara o ato de Yaacov a um homem que, ao passar por uma região perigosa, vê um ladrão dormindo e o desperta para que ele tome cuidado com os malfeitores da região. O ladrão então acorda, começa a bater nele e diz "Não apenas o mal foi despertado, mas foi você quem o despertou".

 

Deste Midrash ficam duas perguntas. Havia uma briga real entre Yaacov e Essav, a ponto de Yaacov ter que fugir para salvar sua vida. Então por que o Midrash diz que Yaacov se intrometeu em uma briga que não era dele? Além disso, Essav era um Rashá (malvado), pronto para fazer mal a qualquer momento. Por que a comparação de Essav com um ladrão dormindo?

 

Explica o Rav Chaim Shmulevitz zt"l que daqui aprendemos um dos mais importantes fundamentos espirituais. Todo momento que um sofrimento ou uma dificuldade ainda não atingiram efetivamente uma pessoa, ainda devem ser considerados como "uma briga que não é sua". Mesmo que exista uma chance de alguma dificuldade acontecer, mesmo uma chance considerável, ainda assim está no nível de "um ladrão que está dormindo". Portanto, qualquer ato para afastar esta dificuldade que ainda não chegou pode ser uma demonstração de falta de Bitachon e, portanto, pode se transformar em uma complicação.

 

Qual é a prova que Yaacov, em seu gigantesco nível espiritual, cometeu um pequeno erro em seus cálculos? Explica o Midrash que Yaacov, com seu esforço onde não era necessário, acabou trazendo para si um perigo que não existia. O Midrash diz que Essav originalmente não vinha ao encontro de Essav. Ele estava apenas andando em seu caminho, cuidando de seus negócios. Mas ao enviar os anjos, Yaacov segurou pelas orelhas o cachorro que estava adormecido, despertando Essav e fazendo-o decidir ir ao seu encontro, acompanhado de 400 homens. A pequena falha de Bitachon de Yaacov causou o verdadeiro perigo. A preocupação desnecessária não apenas foi algo negativo, mas também transformou em real um perigo que era apenas teórico.

 

Muitas vezes vemos ensinamentos interessantes na Torá e não percebemos o quanto eles podem influenciar nossas vidas. O que devemos aprender deste episódio para o nosso cotidiano? Que muitos dos sofrimentos e preocupações que temos na vida são completamente desnecessários, sofremos por antecipação sem nenhuma necessidade. Por exemplo, no nascimento dos nossos filhos já começamos a nos preocupar. Com quem eles vão casar? Como conseguiremos o dinheiro para pagar o casamento? Como eles terão seu sustento? Nos torturamos com muitas dúvidas que, na verdade, estão muito distantes e são completamente desnecessárias neste momento. O que acontecerá em 1 ano? E em 10 anos? Por que nos preocupamos tanto com dúvidas sobre o futuro, se sabemos que D'us pode mudar tudo de um instante para o outro? Por causa de nossa falta de Bitachon.

 

A falta de Bitachon não acontece apenas em grandes decisões na vida, mas também nos pequenos detalhes do cotidiano. Temos que prestar atenção o quanto a falta de Bitachon nos atrapalha e nos causa problemas desnecessários. Por exemplo, quando temos que ir a um lugar que não conhecemos, já começamos a nos preocupar antes mesmo de sair de casa. E se eu não encontrar lugar para estacionar? E se eu não encontrar a rua? E se eu não souber voltar? Dúvidas que nos trazem angústia e sofrimentos desnecessários.

 

Viver com Bitachon não significa viver de maneira irresponsável, sem planejamento. Temos que fazer planos e plantar para poder colher no futuro. Mas não devemos sofrer com a ansiedade de como será o futuro, pois isto é falta de Bitachon. Temos que tratar dos problemas reais, não daqueles imaginários, que nos assombram. Se você vai a um lugar novo, leve um mapa ou um GPS. Se informe se há estacionamentos na redondeza. Faça sua parte. Mas sem nunca esquecer que D'us pode facilmente fazer aparecer uma vaga para o nosso carro quando necessitamos. Não precisamos sofrer por causa disso. É melhor guardar nossa energia para tratar dos problemas reais, não dos imaginários.

 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

 

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