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OPORTUNIDADES PERDIDAS CUSTAM CARO - PARASHÁ PINCHÁS 5771 (15 de julho de 2011)
"Fernando Rodrigues era um trabalhador esforçado que sonhava se tornar milionário. Trabalhava duro, mas mesmo assim o dinheiro não vinha. Certo dia escutou que haviam descoberto uma nova mina de pedras preciosas, que estava à disposição de todos os que quisessem escavar.
Fernando Rodrigues enxergou que aquela era a chance de enriquecer que ele tanto esperava. Mas não queria apenas para si, decidiu convidar também seus amigos mais próximos, para que todos aproveitassem aquela excelente oportunidade. Reuniu os amigos, contou a novidade e sugeriu que viajassem juntos, pois assim seria mais fácil agüentar o trabalho cansativo. Para sua decepção, todos deram as mais incríveis desculpas para não ir, pois no fundo não queriam se esforçar na viagem e no trabalho na mina. Muito triste, Fernando Rodrigues juntou suas ferramentas, arrumou as malas e foi sozinho.
Passaram-se alguns anos e Fernando Rodrigues voltou, trazendo uma enorme quantidade de pedras preciosas. Ele estava milionário. Aqueles poucos anos de trabalho foram suficientes para que ele vivesse com muito conforto e luxo para o resto de sua vida. As pessoas sempre o viam andando pelas ruas de carro novo, com um incrível sorriso no rosto.
Já os amigos de Fernando Rodrigues não estavam assim tão sorridentes. Eles invejavam toda a fortuna acumulada pelo amigo e se arrependeram profundamente por não terem aceitado o convite. Um pouco mais de esforço, um pouco mais de dedicação, e poderiam ter evitado o sofrimento que durou por toda vida"
Explica o Chafetz Chaim que tudo o que juntarmos de valores espirituais nesta vida, como Mitzvót e bons atos, as nossas verdadeiras "jóias", nos alimentarão e nos trarão prazer por toda a eternidade. Mas se desperdiçarmos a oportunidade, o que ficará para sempre será o arrependimento.
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Na Parashá desta semana, Pinchás, Moshé Rabeinu recebeu o aviso de D'us para que se preparasse para morrer, pois se aproximava o momento do povo judeu entrar na Terra de Israel. Moshé então pediu para que D'us nomeasse um novo líder, que cuidasse do povo judeu e o guiasse nesta nova jornada. D'us indicou Yoshua bin Nun, que constantemente servia Moshé e o acompanhava no estudo da Torá. E assim D'us comandou a Moshé: "E dê da sua majestade para ele, para que escute todo o povo judeu" (Bamidbar 27:20). D'us queria que fosse transmitida a majestade para que o povo honrasse e escutasse Yoshua como escutava Moshé.
Nos ensina o Talmud (Torá Oral - Baba Batra 75a) algo muito interessante. Da linguagem do versículo "Dê da sua majestade" aprendemos que Moshé passou para Yoshua apenas parte da sua majestade, não tudo, resultando que a face de Moshé era como a face do sol e a face de Yoshua era como a face da lua. O Talmud continua e nos ensina que os anciãos daquela época, ao verem que Yoshua havia sido escolhido para substituir Moshé, disseram "Pobre de nós pela "Bushá" (vergonha), pobre de nós pela "Klimá" (humilhação)". O que o Talmud está nos ensinando?
Poderíamos pensar que a vergonha dos anciãos era que Yoshua, o novo líder, tivesse um nível muito mais baixo do que o de Moshé. Mas a Torá diz explicitamente que Yoshua tinha um nível muito elevado, como está escrito "E disse D'us para Moshé: Pegue para você Yoshua Bin Nun, um homem que está repleto de espírito (de sabedoria)" (Bamidbar 27:18). Então de que vergonha os anciãos estão falando? E por que utilizaram duas linguagens diferentes, "vergonha" e "humilhação"?
Explica o Rabino Israel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que quando os anciãos daquele geração viram que Yoshua, uma pessoa do mesmo nível deles, foi o escolhido para suceder Moshé, sentiram inveja e um grande arrependimento. Eles entenderam que Yoshua recebeu toda aquela grandeza pelo fato de ter passado o tempo inteiro próximo de Moshé, escutando a sua Torá e recolhendo "pedras preciosas". O sofrimento deles foi de ter entendido que eles também poderiam ter aproveitado a proximidade de Moshé para juntar uma enorme riqueza espiritual. Poderiam, com um pouco mais de esforço e dedicação, ter atingido altos níveis de profecia e sabedoria, como Yoshua atingiu.
O Chafetz Chaim também explica que existe uma grande diferença entre o termo "Bushá" (vergonha) e o termo "Klimá" (humilhação). O termo "Bushá" não está conectado com nenhum ato errado. É o que sentimos naturalmente quando, por exemplo, estamos diante de alguém que tem um nível espiritual muito mais alto que o nosso. Já o termo "Klimá" é utilizado para explicar o sentimento que é consequência de um ato errado que a pessoa cometeu, isto é, ter feito um ato proibido ou ter deixado de fazer um ato positivo.
Portanto, este é o entendimento das palavras do Talmud. Diante da grandeza de Moshé os anciãos sentiam "Bushá", tamanha era a diferença de nível espiritual entre eles. Porém, quando os anciãos viram Yoshua, alguém que inicialmente estava no mesmo nível que eles, mas que havia meritado que seu rosto brilhasse como a lua, refletindo o brilho de Moshé, perceberam que toda aquela grandeza e honra havia sido adquirida através de esforço, e o mesmo nível poderia ter sido atingido por qualquer um deles. Foi por isso que eles também sentiram "Klimá", pois entenderam que, por causa de sua preguiça, haviam perdido para sempre aquela oportunidade.
Explica o livro Messilat Yesharim que muitas pessoas pensam: "Para que se esforçar neste mundo? Para mim é suficiente não ser um malvado. Para que viver sob pressão apenas para chegar a níveis mais elevados do Mundo Vindouro? Ficarei satisfeito com uma porção pequena lá. Não vale a pena por isso aumentar meu esforço neste mundo". Mas será que este argumento é realmente verdadeiro e consciente?
Quando vemos um amigo que, mesmo neste mundo passageiro e limitado, se sobressaiu e teve mais sucesso que nós, nosso sangue ferve de inveja. Ficamos nos imaginando tendo o mesmo sucesso e nos lamentamos pelo outro ter conseguido o que sonhávamos. Se isto já ocorre aqui no mundo material, onde a vergonha é um sentimento passageiro, como nos sentiremos no Mundo Vindouro ao ver uma pessoa com o mesmo potencial que o nosso mas que, por ter se esforçado mais, chegou a níveis mais elevados? Não será um remorso e uma vergonha eterna? Certamente não estaremos contentes tendo uma pequena porção se soubermos que poderíamos ter recebido muito mais.
Este ensinamento do Messilat Yesharim parece algo muito simples e lógico. Por que não aplicamos para nossas vidas, para vencer o cansaço e a preguiça? Pois infelizmente vivemos de maneira cômoda, raramente paramos para pensar e refletir, mesmo sobre as coisas mais importantes da vida. Acordamos, passamos o dia inteiro ocupados com estudos ou trabalho e vamos dormir sem ter pensado ou questionado nossos atos. Vivemos sem verificar se estamos caminhando na direção correta.
Ensinam os nossos sábios que, de acordo com fontes místicas da Torá, quando a pessoa sai deste mundo ela assiste a um filme que contém todos os atos que ela fez em sua vida, em câmera rápida, mas com todos os detalhes. Alguns acrescentam que na verdade não é apenas um filme que assistimos, são dois filmes: um filme mostra a vida que vivemos, enquanto o outro mostra a vida que poderíamos ter vivido se tivéssemos nos esforçado e aproveitado nosso potencial. Assistir o potencial que poderíamos ter atingido mas perdemos por descaso ou falta de reflexão certamente será um grande sofrimento.
A Parashá desta semana vem para nos despertar, ao internalizarmos o sofrimento vivido pelos anciãos. Ver o sucesso do outro sabendo que, se nos esforçássemos um pouco mais, poderíamos chegar ao mesmo nível nos traz um terrível sentimento de inveja e arrependimento. Se isto vale para a vida limitada neste mundo, muito maior será a vergonha eterna no Mundo Vindouro, onde viveremos para sempre, se descobrirmos que, se tivéssemos nos esforçado um pouco mais, poderíamos ter chegado a níveis muito maiores.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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