sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ LECH LECHÁ 5772

BS"D

 

VENCENDO O COMODISMO - PARASHÁ LECH LECHÁ 5772 (04 de novembro de 2011)

 

"Certa vez foi realizada uma expedição de cientistas com a missão de capturar uma espécie rara de macacos nas selvas africanas, para que estes macacos pudessem contribuir em um importante estudo biológico. Seria uma missão difícil, pois os macacos deveriam ser capturados vivos e ilesos, sem nenhum tipo de ferimento. Por isso a utilização de dardos tranquilizantes foi completamente descartada.

 

Para liderar a missão foi contratado um grupo de cientistas que conheciam todos os hábitos desta espécie de macaco. Após algum tempo de estudos e testes eles conseguiram desenvolver uma armadilha muito engenhosa e, ao mesmo tempo, extremamente simples. Foram fabricados frascos de vidro com um gargalo longo e estreito, suficiente apenas para que passasse a mão aberta de um macaco. Dentro do frasco foram colocadas nozes, a comida preferida desta espécie. Vários destes frascos foram fixados na terra, enquanto uma pequena quantidade de nozes também foi espalhada em volta dos frascos como forma de atrair os macacos para a armadilha. Depois disso os cientistas continuaram acompanhando, à distância, o comportamento dos macacos.

 

Como a armadilha funcionava? Quando o macaco sentia o cheiro das nozes dentro do frasco, ele enfiava a mão através da estreita abertura e pegava um punhado de nozes. Mas quando tentava tirar a braço com a mão fechada, ficava preso, pois a mão aberta passava pelo gargalo estreito, mas a mão fechada não.

 

Mas por que os macacos ficavam presos? Era só abrir a mão e eles estariam livres! O mais incrível foi perceber que os macacos desejavam tanto as nozes que, mesmo vendo os cientistas se aproximando para capturá-los, não conseguiam abrir a mão e deixar as sonhadas nozes para trás. Assim os macacos foram facilmente capturados, sem a necessidade de causar nenhum tipo de ferimento neles"

 

Podemos rir dos macacos, pensando que são muito tolos. Mas em alguns aspectos nos comportamos como eles. Nos apegamos tanto a algumas coisas materiais que, mesmo sabendo que elas nos prendem e não nos deixam crescer espiritualmente, não conseguimos nos soltar.

 

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Na Parashá que lemos nesta semana, Lech Lechá, a Torá nos descreve alguns dos grandes testes aos quais Avraham foi submetido durante sua vida. No total foram 10 testes, e Avraham conseguiu passar com sucesso por todos. Ele demonstrou ao mundo sua gigantesca força espiritual e seus méritos nos ajudam, até hoje, a vencer nossos testes cotidianos.

 

A Parashá começa justamente com um dos testes, conforme está escrito: "E D'us disse para Avram: saia para você da sua terra, dos seus parentes, da casa do teu pai, e vá para a terra que Eu te mostrarei" (Bereshit 12:1). Aparentemente abandonar a casa e ir para outro lugar parece um teste fácil, já que muitos fazem isso. Muitas pessoas mudam de cidade ou até mesmo de país em busca de oportunidades de trabalho e melhores condições de vida. Mas refletindo um pouco, percebemos que para Avraham foi um grande teste de Emuná (fé). Ele não saiu de sua casa e da sua terra para buscar melhores condições. Ele já tinha seu sustento garantido e estava próximo da família. Ele saiu apenas porque D'us pediu para que ele abandonasse tudo.

 

Além disso, uma pessoa que sai por vontade de sua terra sabe aonde quer chegar, mas D'us não revelou para Avraham nem mesmo para onde ele iria. D'us o levaria para perto ou para longe? Quem seriam os habitantes deste novo lugar? De onde ele conseguiria seu sustento? Seria recebido de forma amigável ou teria problemas com os moradores? Eram muitas perguntas sem resposta. E apesar das dificuldades, Avraham venceu o teste e seguiu o comando de D'us sem questionamentos, como está escrito "E Avram pegou sua esposa Sarai e Lót, filho de seu irmão... e saíram para ir à terra de Knaan, e chegaram à terra de Knaan" (Bereshit 12:5).

 

Observando atentamente este último versículo, surge uma grande pergunta: a Torá foi escrita de uma maneira muito concisa, de forma que mesmo uma letra "sobrando" carrega consigo ensinamentos profundos. Mas este versículo parece fugir da regra, pois se Avraham saiu de Charan para ir a Knaan, por que a Torá precisou escrever que ele chegou a Knaan? Não é óbvio?

 

A resposta está no final da Parashá da semana passada, Noach. A Parashá terminou falando sobre o pai de Avraham, Terach, que era um grande idólatra. Terach, por algum motivo não revelado pela Torá, também quis sair de sua casa para ir à terra de Knaan, mas nunca chegou ao seu objetivo, como está escrito: "E pegou Terach seu filho Avram, e Lót, filho de Haran, filho do seu filho, e sua nora Sarai, esposa de seu filho Avram, e saiu com eles de Ur Kasdim para ir até a terra de Knaan. E chegaram até Charan e se estabeleceram lá" (Bereshit 11:31). Se Terach queria ir para a terra de Knaan, por que ele parou no meio do caminho, em Charan, e ficou? Além disso, este detalhe sobre a vida de Terach é aparentemente desnecessário. Que mensagem a Torá está nos transmitindo?

 

Fomos criados com um potencial espiritual. Nosso trabalho neste mundo, durante o tempo limitado que nos foi dado, é preencher este potencial e meritar a vida eterna no Mundo Vindouro. D'us criou o mundo material para nos dar, através do livre arbítrio, méritos por cada escolha correta. E para nos dar um livre arbítrio verdadeiro, D'us criou o ser humano composto por duas partes: uma alma, que busca a espiritualidade, e um corpo, que se conecta com o material. Nosso trabalho é fazer com que a alma tenha controle sobre o corpo, para que os dois juntos cheguem ao objetivo final: utilizar o mundo material como um meio para atingir o espiritual. A maneira de fazer isto é através das Mitsvót, que conectam o mundo material com o mundo espiritual. A maioria das Mitsvót envolve objetos físicos que, quando utilizados da maneira correta, criam espiritualidade.

 

Mas o que acontece quando deixamos o corpo comandar as escolhas? O corpo se desvia do caminho e começa a se afundar na busca incessante pelos desejos materiais, como um cavalo que sai da estrada em busca de comida e sombra quando percebe que seu condutor adormeceu. A pessoa se acomoda com os prazeres materiais e perde a vontade de realizar seu trabalho espiritual. Ela perde o foco de qual é o seu trabalho neste mundo temporário.

 

A Terra de Knaan, que futuramente foi chamada de Terra de Israel, representa o nosso máximo potencial espiritual, a nossa meta. Tanto Terach quanto Avraham saíram de suas casas, isto é, iniciaram sua jornada espiritual em direção ao seu objetivo. Mas a diferença entre Avraham e Terach estava na perseverança. Terach queria ir até o final, mas chegou a Charan e se acomodou. Avraham manteve o foco, ele saiu em direção à terra de Knaan e não parou até chegar lá.

 

Todos nós também passamos por este teste na vida, o teste de vencer o comodismo, de procurar a verdade, de cumprir nosso papel espiritual no mundo. Mas por que vemos tantos que não conseguem chegar? Por que vemos tantas pessoas vivendo vidas completamente sem sentido? Pois muitos pensam que para atingir o propósito é necessário abrir mão de todo o conforto e prazer. Imaginam que viver uma vida espiritual é algo pesado e, por isso, desistem antes de começar. Mas isto é um grande erro. As palavras com as quais D'us ordenou a Avraham sair de sua casa nos ensinam que nós temos apenas a ganhar seguindo os caminhos espirituais. D'us não falou para Avraham apenas "Lech" (saia), Ele disse "Lech Lechá" (saia para você), isto é, para o seu benefício, para que você cresça, para que você descubra seu potencial e aumente seus méritos. Tudo o que D'us nos pede é para o nosso próprio bem.

 

Terach, que parou no meio do caminho, morreu como mais um idólatra, equivocado nas suas crenças infundadas, enquanto Avraham foi até o final e se transformou em um dos pilares do mundo. Se hoje em dia mais de 75% do mundo é monoteísta, isto é consequência da perseverança de Avraham, que não se acomodou, não viveu em busca de conforto nem se enfraqueceu com as dificuldades que surgiram. E se o teste se repete, as escolhas também. Podemos nos esforçar e, como Avraham, dar nossa contribuição para o mundo, ou nos comportar como os macacos que, presos pelos seus desejos, já não conseguem mais ser livres de verdade.

 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

 

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