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MENTIRINHAS INOCENTES - PARASHÁ TOLDOT 5771 (05 de novembro de 2010)
"O rabino Shmuelson (nome fictício) estava com a casa cheia de convidados no Shabat, e por isso seus filhos estavam um pouco agitados, principalmente Moshé, o caçula. O garoto não parava quieto, ficava de pé na cadeira e colocava toda hora o pé na mesa. Apesar disso, seu pai continuava tranqüilo, dando pequenas broncas para o filho acalmar.
No meio da janta, quando o clima já estava bem mais tranqüilo, o pequeno Moshé falou para o pai uma mentira. Desta vez o pai se levantou, deu uma grande bronca em Moshé e mandou-o para o quarto de castigo sem sobremesa. Os convidados estranharam. Quando o menino estava bagunçando, colocando até o pé na mesa, o pai não havia feito quase nada, mas agora que o menino tinha contado apenas uma mentirinha inocente, por que um castigo tão duro? O pai explicou:
- Vocês já perceberam que não existem adultos que colocam o pé na mesa. Por que? Pois é parte natural do amadurecimento, a criança um dia entende que isso é feio e naturalmente deixa de fazer. Mas ao contrário, vocês sabem que existem muitos adultos que falam mentira a vida inteira. Por que? Pois nunca foram educados sobre a gravidade da mentira, cresceram achando que não há nada de mal em uma mentirinha "inocente" e nunca amadureceram neste ponto. Eu quero, desde já, que meu filho entenda o peso verdadeiro das coisas. Com certeza ele crescerá com muito mais consciência e disciplina"
Enquanto não entendermos a gravidade do ato de falar uma única mentira "inocente", certamente nunca conseguiremos parar. Este ensinamento precisa entrar na educação dos nossos filhos desde os primeiros momentos para que eles possam levar isto para a vida.
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Passadas as eleições presidenciais, ficaram em nossas cabeças algumas imagens e atitudes que marcaram a disputa eleitoral. Promessas que sabemos que certamente nunca serão cumpridas, erros do passado veementemente negados, acusações falsas em busca de mais alguns votos. Fica a sensação de que mentir é algo normal e aceitável. Quem mente mais, e melhor, ganha. Afinal, quem nunca falou uma mentirinha?
Aparentemente ninguém consegue sobreviver no mundo sem mentir. Se refletirmos sinceramente, perceberemos que dizemos mentiras o dia inteiro. Quando telefonam e, por não querermos atender, pedimos para a empregada dizer que não estamos. Quando um mendigo nos pede um trocado e dizemos que não temos. Quando o chefe pergunta quem é o responsável pelo erro e colocamos a culpa na pessoa da mesa ao lado. São dezenas de vezes por dia, algumas mentiras mais graves, mas a grande maioria apenas mentirinhas aparentemente inocentes.
Porém, apesar da aparente "inocência" por trás de uma mentira, o judaísmo ensina que mentir é algo muito grave. Além da proibição explícita da Torá, onde está escrito "Não roubarás, não negarás falsamente, não mentirás um ao outro" (Vayikrá 19:11), a Torá ainda ressalta a gravidade da mentira através do seguinte versículo: "Se afaste da mentira" (Shemot 23:7). Esta é a única Mitzvá da Torá na qual está escrita a linguagem "se afaste", isto é, não apenas a mentira é proibida, mas tudo o que pode levar à mentira e à enganação. A Torá nos ensina ainda que os mentirosos estão incluídos no grupo daqueles que nunca estarão diretamente diante da presença do Criador do mundo, mesmo quando estiverem no Olam Habá.
Aprendemos muito também com a própria história do mundo. O primeiro erro da humanidade começou com uma grande mentira. A cobra, para convencer Chavá (Eva) a comer do fruto proibido, disse a ela que D'us havia proibido todos os frutos do Gan Éden (paraíso), para que Chavá sentisse que cumprir as ordens de D'us era algo muito pesado, impossível de alcançar. Qual foi a consequência desta mentira? O ser humano passou a ser mortal, Adam e Chavá foram expulsos do paraíso e sofremos uma enorme queda espiritual que é sentida até os dias de hoje. Tudo por causa de uma mentira. Portanto, a mentira é o oposto do judaísmo.
Porém, na Parashá desta semana, Toldot, encontramos um pequeno problema com este conceito. Yitzchak tinha dois filhos, Essav e Yaacov. Essav era um Rashá (malvado), dedicava sua vida a enganar as pessoas, principalmente seu pai. Essav fazia na frente do pai atos que pareciam de uma boa pessoa, e por isso Yitzchak achava que seu filho Essav também era Tzadik. Já Yaacov era realmente Tzadik, havia herdado de seu pai e seu avô as características de bondade e honestidade. Como Essav era o filho mais velho, ele tinha direito a uma Brachá (benção) especial de primogenitura. Mas a Torá então nos conta que Yaacov mentiu para o seu pai. Yitzchak já estava cego quando decidiu dar a Brachá para Essav e pediu para que ele lhe trouxesse algo para comer. Quando Essav saiu para caçar, Yaacov entrou fingindo ser seu irmão. Quando Yitzchak perguntou quem estava entrando, Yaacov respondeu: "Sou eu, Essav, seu primogênito" (Bereshit 27:19). Yitzchak acabou danda a Brachá para Yaacov ao invés de dá-la para Essav.
Como podemos entender este acontecimento da Parashá? Os patriarcas são os nossos modelos de comportamento. Nossos sábios nos ensinam que todos os dias devemos nos cobrar para que nossos atos sejam como os atos dos nossos patriarcas Avraham, Yitzchak e Yaacov. Então como pode ser que Yaacov mentiu para o pai e enganou seu irmão, se a Torá abomina a mentira e a enganação?
Explica o Rav Dessler que temos um conceito equivocado sobre o que é verdade e mentira. Achamos que verdade é dizer exatamente como a coisa aconteceu e mentira é mudar qualquer detalhe do que aconteceu. Um exemplo de que isto é um equívoco é a proibição de Lashon Hará (maledicência), que nos proíbe de contar algo que vimos e que possa denegrir outra pessoa ou causar para ele qualquer dano, mesmo que seja verdade. Segundo o judaísmo, verdade é tudo o contribui para que no mundo aconteçam coisas boas e a vontade de D'us seja cumprida, enquanto a mentira é tudo o que afasta o mundo do seu propósito.
Um exemplo é se estamos em uma festa e um amigo pergunta se sua roupa está bonita. Ao observarmos que a combinação de cores é horrível e a pessoa está extremamente mal vestida, o que é verdade, dizer tudo o que pensamos, mesmo que isso vai magoá-lo? Com certeza não. Portanto, segundo o judaísmo, existem situações onde a pessoa está até mesmo obrigada a mentir. Ou pelo menos a omitir. Não é necessário fazer um discurso sobre o excelente gosto do amigo, isto já seria bajulação e enganação. Mas dizer um curto "está legal" é o que D'us esperaria de nós nesta situação. Isto seria dizer verdade.
Existem alguns exemplos trazidos pela Torá de que é isso o que D'us quer de nós. Aharon, o irmão de Moshé, era conhecido por ser um amante da paz. Por que? Pois quando ele via que duas pessoas haviam brigado, ele ia para cada uma delas separadamente e dizia que o outro estava arrependido e queria pedir desculpas pela briga. Quando os dois brigões se encontravam, se abraçavam e faziam as pazes. Aharon não mentia, pois ele trazia com suas palavras paz para o mundo. Ele fazia o que era correto.
Este comportamento vemos até mesmo nos atos de D'us. Quando Ele revelou para Sara que ela teria um filho aos 90 anos de idade, ela riu e pensou "como eu terei um filho, se eu já estou velha e meu marido está velho". Porém, quando D'us comunicou a Avraham a falta de Emuná (fé) de Sara, disse apenas que ela argumentou que estava muito velha, omitindo que ela também havia dito que ele estava velho. Por que? Pois isto ajudou no Shalom Bait (paz familiar) do casal. Avraham não teria ficado contente de saber que Sara o considerava velho. Neste caso, ter dito a Avraham tudo o que Sara pensou teria sido uma mentira.
Neste contexto é possível então entender a atitude de Yaacov. A Torá nos ensinou no começo da Parashá que Yaacov havia comprado de Essav o direito à primogenitura por um prato de lentilhas, e por isso não havia roubado nada de Essav. Por que então ele não falou a verdade para seu pai? Pois ele imaginou a decepção de seu pai ao descobrir que seu filho, supostamente Tzadik, havia vendido a primogenitura por um prato de comida. Por isso, pensando apenas na honra do irmão e nos sentimentos do pai, ele fez de uma maneira que ninguém sairia prejudicado. Por isso, na verdade Yaacov não mentiu. Além disso, Yaacov pensou em cada palavra que pronunciou para que não saísse uma mentira de sua boa. Quando seu pai perguntou quem era, ele respondeu "Sou eu. Essav, seu primogênito", quebrando a frase em duas, como se estivesse dizendo "sou eu quem está aqui, e Essav é seu primogênito".
Há uma enorme diferença entre não mentir e dizer tudo o que pensamos. Ser honesto não significa revelar tudo o que sabemos quando isso pode prejudicar outras pessoas. Temos que ter bom senso em cada caso, por isso é importante se aconselhar com um rabino sobre o que é correto fazer em cada situação. Pois o perigo é querer aplicar este conceito para benefício próprio e não pensando no propósito do mundo. E mentir para si mesmo é sempre a pior mentira.
"Muitos amam a mentira, poucos amam a verdade. Pois a mentira dá para amar de verdade. Mas a verdade não dá para amar de mentira"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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