sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIESHEV 5771

BS"D

           

A HONRA DOS OUTROS - PARASHÁ VAIESHEV 5771 (26 de novembro de 2010)

 

"Jaques era um jovem impulsivo, explodia de raiva diante da menor provocação. Porém, como não era um garoto de má índole, sempre se sentia envergonhado e se esforçava para se desculpar e consolar aqueles a quem tinha magoado.

 

Um dia, seu professor viu-o pedindo desculpas a um colega depois de uma explosão de raiva. Aproximou-se dele, entregou uma folha de papel e disse:

 

- Por favor, amasse esta folha.

 

Curioso com aquele pedido estranho, Jaques obedeceu e transformou a folha em uma bolinha, devolvendo ao professor.

 

- Agora - o professor voltou a dizer - deixe-a como estava antes.

 

Por mais que Jaques tentasse, não conseguia deixá-la como antes. O papel continuava amassado e cheio de pregas. Então, o professor ensinou-lhe algo para toda a vida:

 

- O coração das pessoas é como este papel. As marcas que neles deixamos são tão difíceis de apagar quanto estes amassados que foram deixados aqui"

 

Aprenda a ter cuidado com os sentimentos dos outros. Antes de ofender alguém, lembre-se do papel amassado, que nunca mais volta à forma anterior.

 

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Nesta semana lemos a Parashá Vaieshev que, entre outros assuntos, nos conta a história pessoal de Yehuda, filho de Yaacov. Yehuda teve três filhos: Er, Onan e Shela. Er casou-se com uma mulher chamada Tamar, mas por causa de pecados graves que ele cometia, morreu sem deixar descendentes. Yehuda, para cumprir a Mitzvá de "Ibum" (Levirato, que se cumpre quando uma mulher sem filhos fica viúva e casa-se com o irmão do falecido), casou Tamar com seu segundo filho, Onan. Também por causa de graves pecados que cometia, Onan morreu sem descendentes. Yehuda deveria casar seu terceiro filho, Shela, com Tamar, mas teve medo. Sem saber dos pecados cometidos por seus dois primeiros filhos, Yehuda achou que o problema era com Tamar e pensou que talvez ela tivesse algum decreto espiritual que causava com que seus maridos morressem, por isso teve medo de permitir que Shela se casasse com ela. Pediu para que Tamar voltasse para a casa dos pais e aguardasse até que Shela crescesse um pouco mais.

 

Tamar era uma mulher muito Tzadiká (Justa) e tinha um nível espiritual muito elevado. Por profecia, ela sabia que do seu relacionamento com um dos descendentes de Yaacov viria, no futuro, o Rei David e o próprio Mashiach. Quando ela percebeu que Yaacov estava apenas deixando o tempo passar e não pretendia casá-la com Shela, colocando em risco todo o futuro do povo judeu, ela bolou um plano: tirou suas roupas de viúva, cobriu seu rosto com um véu, ficou sentada à beira estrada por onde Yehuda passava e seduziu-o, como se fosse uma meretriz. Yehuda caiu nos encantos dela sem perceber que era sua própria nora, e deste relacionamento Tamar engravidou. Como ele não tinha dinheiro para pagar, deixou com Tamar seu cajado, seu manto e seu anel como garantia de que no dia seguinte pagaria a ela. Porém, quando voltaram no dia seguinte com o pagamento, não encontraram mais a mulher, e descobriram que ninguém nunca havia ouvido falar sobre ela. Passados 3 meses, Yehuda escutou que Tamar estava grávida e, como achou que a gravidez era fruto de um ato promíscuo, condenou-a à pena de morte. Quando vieram buscá-la para aplicar a pena, Tamar pegou os objetos de Yehuda e disse: "Do homem a quem pertence isto eu concebi" (Bereshit 38:25). Quando Yehuda viu os objetos, imediatamente reconheceu-os, entendeu o que havia acontecido e deu razão à Tamar, pois ele estava errado ao negar a ela seu filho Shela. Assim, a vida de Tamar foi salva.

 

Porém, deste episódio ficam algumas perguntas: por que Tamar não contou imediatamente que o pai da criança era Yehuda? Por que ela arriscou sua própria vida para guardar este segredo? E qual o ensinamento que podemos tirar deste episódio para nossas vidas?

 

Muitas vezes, mesmo que seja por brincadeira, humilhamos pessoas em público, com piadas ou apelidos maldosos, principalmente os que envolvem características físicas. Nas rodinhas de amigos não nos importamos de ficar "tirando sarro" de alguém da turma, mesmo deixando-o envergonhado na frente de todos. Mais ainda quando estamos bravos e não medimos as conseqüências das nossas palavras de ofensa. Resumindo, estamos acostumados a não nos preocupar com a honra dos outros. Será que isto é grave?

 

Ensina a Torá que aquele que humilha outra pessoa em público é como se estivesse derramando o sangue do próximo, isto é, assemelha-se a um assassino. Por que é tão grave? Pois muitas vezes uma humilhação dói muito mais do que um soco. Uma ofensa deixa marcas mais profundas e por mais tempo do que uma pancada. Pessoas envergonhadas na sua juventude levam traumas para o resto de suas vidas. Os nossos sábios vão além e dizem que aquele que humilha o próximo em público não meritará o Olam Habá (Mundo Vindouro). Mas parece incoerente, pois se humilhar ao próximo se compara a um assassinato, e sabemos que um assassino não perde seu Olam Habá, por que humilhar é ainda mais grave?

 

A resposta é surpreendente: quando uma pessoa chega ao extremo de cometer um crime de assassinato, em geral o faz em um momento de desequilíbrio, por ter perdido completamente a cabeça. E imediatamente a pessoa se arrepende e guarda remorsos para o resto da vida. Porém, humilhamos os outros em público sem nenhuma motivação especial, sem nenhuma influência de sentimentos extremos, às vezes até mesmo por brincadeira. E o pior de tudo é que achamos que tudo isto é tão comum que não nos arrependemos e não mudamos nosso comportamento. Por isso, envergonhar o próximo em público acaba sendo, no final das contas, ainda mais grave do que um assassinato.

 

Portanto, Tamar nos deixou um precioso ensinamento para nossas vidas: o quanto um ser humano precisa se esforçar para não desonrar outra pessoa. Tamar poderia simplesmente ter salvado sua vida dizendo que o pai da criança era Yehuda, mas esta revelação iria humilhá-lo em público. Portanto, ela apenas mandou os objetos para que ele reconhecesse. Se ele quisesse assumir diante de todos, ela seria salva. Mas se ele sentisse vergonha de assumir e preferisse não dizer nada, ela estava disposta a entregar a própria vida para não humilhar alguém em público. É este o modelo que devemos seguir. É este o nível que devemos aspirar chegar em nossas vidas. Aprender a cuidar da nossa boca nos momentos de raiva e explosão, e mais ainda nos momentos de brincadeiras. Pois uma vez que uma pessoa é envergonhada, mesmo que ela nos perdoe, dificilmente as marcas serão totalmente apagadas do seu coração.

 

SHABAT SHALOM

 

Rav Efraim Birbojm

 

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