sexta-feira, 16 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BERESHIT 5770

BS"D

VIVER PELOS OUTROS – PARASHÁ BERESHIT 5770 (16 de outubro de 2009)
"Havia um médico chamado Dr. Williams que dedicou sua vida a ajudar pessoas necessitadas. Ele tinha um pequeno consultório em cima de uma mercearia, na área pobre de uma grande cidade. Na frente da mercearia havia uma pequena placa onde se lia "O Dr. Williams está lá em cima".
Por muitos anos o Dr. Williams trabalhou em várias causas humanitárias. Trabalhava todos os dias até altas horas, nunca havia deixado de atender um paciente que necessitava de ajuda. Muitas vezes recebia chamados de madrugada e nunca havia se recusado a atender uma pessoa doente. A maioria de seus pacientes não tinha condições de pagar a consulta, e ele nunca cobrou daqueles que não podiam pagar.
O Dr. Williams viveu sua vida inteira de maneira muito simples. Quando ele morreu, não havia deixado guardado nem mesmo o dinheiro para o seu enterro. Seus familiares e pacientes se esforçaram para conseguir o dinheiro para que ele fosse enterrado de maneira digna. Porém, o dinheiro conseguido não era suficiente para comprar uma lápide. Todos ficaram tristes com a idéia de que o túmulo do querido Dr. Williams, que havia ajudado tantas pessoas, ficaria sem nenhuma identificação. Até que um dos seus pacientes teve uma brilhante idéia. Saiu apressado e voltou depois de alguns minutos com algo na mão. Ele havia tirado a placa que estava fixada na frente da mercearia, e colocou-a sobre o túmulo. Agora todos os que passavam no cemitério olhavam aquele túmulo sobre o qual se liam as palavras "O DR. WILLIAMS ESTÁ LÁ EM CIMA" "
Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Todo aquele com quem as pessoas estão contentes, D'us também está contente com ele". Quando fazemos o bem ao próximo, D'us faz questão de nos mostrar o quanto Ele está contente conosco.
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Nesta semana recomeçamos o ciclo anual da leitura da Torá com o primeiro livro, Bereshit, que trata desde a Criação do mundo até a ida de Yaacov com seus filhos para o Egito. E a Parashá desta semana, Bereshit, descreve a Criação dos primeiros seres humanos, Adam (Adão) e Chavá (Eva). Eles tiveram dois filhos, um chamado Caim, que se dedicou ao trabalho da terra, e outro chamado Abel, que se dedicou ao pastoreio de animais. Caim decidiu fazer uma oferenda para D'us, e ofereceu frutas do campo. Abel gostou da idéia e também fez uma oferenda para D'us, oferecendo animais. A oferenda de Abel, que escolheu para D'us seus melhores animais, foi aceita, mas Caim errou ao separar para si as melhores frutas e oferecer para D'us o que sobrou, e por isso sua oferenda não foi aceita. E então a Torá nos descreve o primeiro assassinato da história, quando Caim, completamente dominado pela inveja que sentia por seu irmão, matou-o.
Entendemos por que Caim decidiu matar Abel, e daqui enxergamos o quanto a inveja pode literalmente destruir vidas. Porém, fica uma grande pergunta: segundo o judaísmo, nada acontece sem Supervisão Divina, cada pequeno evento neste mundo somente ocorre se D'us permite. Então se Abel morreu, não foi por causa da inveja de Caim, e sim porque nos Mundos Celestiais já havia para ele um decreto de morte. Qual o motivo deste decreto?
Para entender, precisamos olhar com mais atenção o que ocorreu após D'us ter aceitado a oferenda de Abel e ter recusado a oferenda de Caim. Assim diz a Torá: "Falou Caim com seu irmão Abel. E eis que, quando estavam no campo, Caim se levantou contra seu irmão Abel e o matou" (Bereshit 4:8). Mas afinal, o que Caim e Abel conversaram momentos antes do assassinato?
Explicam nossos sábios que Caim encontrou seu irmão Abel no campo. Caim estava desconsolado e deprimido, pois sua oferenda não havia sido aceita por D'us. Então ele desabafou com Abel e disse: "Você viu, meu irmão, nossa oferenda não foi aceita por D'us". Mas ao invés de consolar seu irmão, ajudando-o a consertar o erro cometido, Abel simplesmente respondeu para ele: "Caim, a SUA oferenda não foi aceita, a minha foi. O problema é seu, não meu". E justamente por ter tirado de si a responsabilidade de ajudar ao próximo é que Abel recebeu um decreto de morte celestial. Mas o que Abel fez de tão grave? Ele realmente falou a verdade, sua oferenda havia sido aceita. O problema era de Caim, que não fez uma boa oferenda!
O mundo foi criado apenas pela vontade de D'us de fazer conosco bondade, como está escrito "Olam Chessed Ibane" (Vou Criar um mundo de bondade). E justamente um dos pilares que sustenta o mundo é o Chessed (bondade), como diz o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "o mundo é sustentado por três coisas: pela Torá, pelo Serviço a D'us e pelos atos de Chessed". Se falta o pilar de Chessed, o mundo não pode se sustentar. Com Caim e Abel, D'us estava formando a humanidade, e era incompatível que esta característica de Abel, de não se importar com o sofrimento dos outros, de dizer ao próximo "problema seu", fosse passada adiante. Por isso Abel recebeu imediatamente um decreto de morte celestial.
Existem outros episódios na Torá que ressaltam o quanto D'us se importa com o Chessed que fazemos com os outros e o quanto Ele se incomoda quando deixamos de nos importar com o próximo. Todas as nações do mundo podem se converter ao judaísmo, mesmo as que fizeram o povo judeu sofrer, como os egípcios. Porém, a Torá traz duas exceções: os povos de Amon e Moav. Por que? Pois quando o povo judeu saiu do Egito, sem ter o que comer nem o que beber, eles se recusaram a nos dar pão e água. Povos que têm esta característica tão egoísta não podem fazer parte do povo judeu, um povo que tem a obrigação de ser uma Luz para as nações, ensinando para o mundo inteiro os valores morais contidos na Torá.
Muitas vezes consideramos que somos boas pessoas pois damos 1 real de esmola a um mendigo e fazemos pequenos favores aos nossos amigos mais próximos. Mas será que é só isso que podemos ajudar aos outros? Esse é o nosso potencial? Uma pessoa que poderia dar 100 reais mas dá apenas 1 real está fazendo um ato de bondade ou está sendo egoísta? Todos gostam de fazer bons atos, é parte do ser humano, mas muitas vezes pensamos "Eu quero fazer o bem, mas tem limites. Não às custas do meu sono, do meu tempo livre ou do meu dinheiro. Se está ao meu alcance eu faço, se tiver que me esforçar muito já não é mais minha obrigação". Mas afinal, o que D'us quer realmente de nós? Qual é o nosso verdadeiro potencial?
O profeta Michá responde nossa pergunta: "O que D'us exige de vocês é que façam justiça e tenham Ahavat Chessed" (Michá 6:8).Chessed é fazer bondades, Ahavat Chessed significa ter amor pelas bondades. Qual a diferença entre Chessed e Ahavat Chessed? Chessed é visitar um amigo que necessita de ajuda às 2 da tarde. Ahavat Chessed é visitar um amigo que necessita de ajuda às 2 da manhã. Quando amamos algo, não colocamos limites aos nossos esforços. É isso o que D'us exige de nós. E Ele exige muito pois nos deu um potencial gigantesco de ajudar e de se importar com os outros.
A proximidade que teremos com D'us durante toda a eternidade dependerá de quanto nos conectarmos com Ele durante nossa vida neste mundo. Quanto mais uma pessoa se comporta como D'us, mais ele se conecta com o Criador. Da mesma forma que durante todo o tempo D'us só faz bondades conosco sem receber nada em troca, assim também nós precisamos nos comportar com as outras pessoas, para nos assemelhar e nos conectar com Ele por toda a eternidade.
"Pois isto é o homem: Não para si mesmo foi criado, e sim para ajudar ao próximo, com toda a força que tiver" (Rav Chaim Vologiner).
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

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