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DE ONDE VEM O DINHEIRO? - PARASHÁ VAYAKEL 5771 (25 de fevereiro de 2011)
"O grande rabino Israel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, estava certa vez de passagem pela cidade russa de Tchernikov, onde moravam muitos judeus. Ele escutou que havia lá um senhor judeu, dono de muitas fábricas, que trabalhava durante o Shabat. Para piorar, ele tinha muitos empregados judeus, que necessitavam muito do emprego, e obrigava todos a também trabalharem no Shabat, para manter as atividades normais das fábricas.
O Chafetz Chaim ficou muito triste ao ver como aquele judeu desprezava a santidade do Shabat e foi imediatamente conversar com ele. Explicou a importância da espiritualidade do Shabat e pediu que ele fechasse a fábrica, liberando também os funcionários para que pudessem observar o Shabat. O homem, ao escutar o pedido do Chafetz Chaim, deu risada e falou:
- Você está ficando louco? Você sabe quanto eu lucro por dia nestas fábricas? Mais de 4 mil rublos! Você quer que eu perca todo este dinheiro fechando minhas fábricas um dia inteiro?
O Chafetz Chaim balançou a cabeça negativamente e explicou ao dono da fábrica:
- O senhor está muito enganado. Na verdade o senhor não ganha nada no Shabat. Ao contrário, se o senhor continuar desprezando o Shabat desta maneira, tenho certeza de que um dia ainda perderá toda as suas fábricas!
O homem não deu ouvidos às palavras do Chafetz Chaim e desprezou em seu coração tudo o que ele disse. Dando risada, ele falou:
- E você realmente acha que há alguma chance de perder todas as minhas fábricas, com tanto dinheiro que eu tenho? Mesmo que uma deixe de produzir ou tenha qualquer problema, eu tenho outras para me manter.
Poucos meses depois desta conversa, os Bolcheviques invadiram a Rússia. Uma das primeiras coisas que os Bolcheviques fizeram foi tomar daquele judeu todas as suas fábricas e confiscar todos os seus bens, deixando-o sem um tostão. E mesmo a sua própria vida somente foi salva por um grande milagre. Então, completamente pobre e humilhado, ele se lembrou das palavras do Chafetz Chaim e enxergou o quanto estava equivocado. Cada centavo era decretado por D'us e, da mesma forma que era Ele quem havia dado toda aquela fortuna, era Ele também que havia tirado"
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Nas Parashiot Terumá e Tetzavê, a Torá descreveu todas as instruções de D'us para a construção do Mishkan (Templo Móvel) e seus utensílios. E na Parashá desta semana,Vayakel, o Mishkan começou a ser efetivamente construído, sob a liderança de Betzalel. Como esperaríamos que a Parashá começasse? Com Moshé pedindo ao povo as doações de materiais necessários para a construção do Mishkan. Mas antes do pedido das doações, a Parashá começa com um assunto aparentemente fora de contexto: "Em seis dias se fará o trabalho, mas o sétimo dia será santificado para você, um descanso completo para D'us. Todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá" (Shemot 35:2). Além de estar fora de contexto, este versículo é repetitivo, já que na Parashá da semana passada, Ki Tissá, a Torá já havia descrito com muitos detalhes as leis do Shabat. Por que a necessidade de repetir o ensinamento do Shabat justamente antes de Moshé pedir as doações dos materiais para o Mishkan?
Além disso, a própria linguagem do versículo desperta alguns questionamentos. Se a Torá quer nos ensinar que no dia do Shabat é proibido trabalhar, por que tem que mencionar antes os seis dias de trabalho? E finalmente, a linguagem "se fará o trabalho" está escrita de uma forma passiva, nos dando a impressão de que nos seis dias da semana o trabalho se faz sozinho. O que isto significa?
Durante toda a semana trabalhamos e nos esforçamos muito para conseguir nosso sustento. Dinheiro para o condomínio, manutenção do carro, escola e faculdade dos filhos, alimentação, entre tantos outros gastos que parecem não ter fim. O que a nossa lógica nos faz pensar? Que de acordo com o nosso esforço será o resultado, isto é, quanto mais horas de trabalho, maior o salário no final do mês. Porém, o versículo está nos ensinando exatamente o contrário. A expressão "se fará o trabalho" nos ensina que o sucesso é única e exclusivamente dependente de D'us, e não do nosso esforço. Portanto, na prática, é como se o trabalho se fizesse sozinho, pois o resultado final não depende de nós.
Temos a obrigação de nos esforçar para ganhar o nosso sustento e pagar todas as nossas contas. Não é uma atitude positiva, segundo o judaísmo, a pessoa entrar em dívidas sem fim, por isso ela precisa fazer a sua parte para conseguir cobrir seus gastos. Porém, quem define quanto cada um vai receber é D'us. Vemos pessoas que trabalham de maneira exaustiva, mas nunca recebem quanto gostariam. Outros ganham muito, mas perdem enormes quantias em gastos imprevistos ou maus investimentos. Por outro lado, vemos pessoas que se esforçam de maneira equilibrada e enxergamos as Brachót (bençãos) de D'us em todos os seus atos, pois conseguem ganhar mais dinheiro do que pessoas que trabalham muito mais duro.
Este erro conceitual afasta muito judeus do cumprimento do Shabat. O cálculo é simples: se eu trabalhar 7 dias por semana, ganharei cerca de 15 % a mais do que ganharia trabalhando 6 vezes por semana e descansando no Shabat, certo? Errado. Se a Torá nos comandou a trabalhar apenas 6 dias, é porque toda a Brachá virá nestes 6 dias. Aquele que trabalha no Shabat não recebe absolutamente nada. Mesmo que o dinheiro entra por um lado, sai pelo outro. O carro quebra, o filho fica gripado e precisa de um antibiótico muito caro, a geladeira estraga e o conserto sai uma fortuna. Se é D'us que manda a Brachá, Ele pode mandar todo o sustento de 7 dias de trabalho em apenas 6 dias. A loja fica mais cheia durante a semana, o dono descobre um fornecedor mais barato, os clientes não pedem desconto. São detalhes sutis mas que, no final do mês, fazem uma grande diferença.
Porém, qual a relação entre este conceito e a doação dos materiais? Para o ser humano, o ato de doar algo é um ato difícil. Antes de pensar nos outros, pensamos sempre em nós mesmos, e por isso se torna difícil dar aos outros o que nos pertence. Ainda mais no caso do Mishkan, que necessitava da doação de materiais muito caros, como ouro e prata. Por isso D'us antecipou o ensinamento do Shabat ao pedido de doação para o Mishkan, pois da mesma forma que D'us pode mandar o sustento de 7 dias em apenas 6 dias, também D'us pode nos dar Brachót pra que todo o dinheiro que doamos aos outros possa voltar às nossas mãos, como nos ensina o Rambam (Maimônides): "Ninguém fica pobre ao fazer caridade".
O Shabat é, portanto, um grande reforço da nossa Emuná (fé) de que há Alguém que cuida de nós em todos os instantes com Hashgachá Pratit (Supervisão particular). Aquele que guarda o Shabat e cumpre assim a vontade de D'us não perde nada com isso, ao contrário, o Shabat é considerado a fonte de toda a Brachá que temos na semana. Ao contrário, aquele que desrespeita o Shabat pode não apenas deixar de ganhar, mas também perder o que já tem.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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