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MUITA CALMA NESTE MOMENTO - PARASHÁ TERUMÁ 5771 (04 de fevereiro de 2011)
"Uma mãe e sua pequena filhinha faziam as compras do mês em um supermercado. A criança, já cansada, estava visivelmente irritada e começou a chorar. A mãe falou com a voz tranquila:
- Regina, calma, você consegue. Nós temos apenas que buscar mais algumas coisinhas e depois vamos embora para casa.
Algum tempo passou e a criança ficou ainda mais irritada. A mãe respirou fundo e disse calmamente:
- Tudo bem, Regina. Estamos quase terminando. Mais um pouquinho de paciência.
Quando finalmente estavam na fila do caixa, a criança teve um ataque histérico e se jogou no chão, aos prantos. A mãe, juntando todas as forças, disse sem alterar o tom de voz:
- Regina, calma. Nós vamos conseguir. Estamos quase lá.
No estacionamento, uma mulher parou a mãe e disse:
- Desculpe, mas eu não pude deixar de notar o que aconteceu na loja e queria cumprimentá-la pela paciência que você teve com a pequena Regina.
A mãe deu uma risada gostosa e explicou:
- Muito obrigado, mas a verdade é que eu sou a Regina"
O autocontrole é uma qualidade que não vem facilmente, precisa ser trabalhada e conquistada. Cada vez que controlamos impulsos como frustração, raiva e nervosismo, ganhamos um pouco mais de autocontrole. Ao contrário, brigas de trânsito ou entre torcidas de futebol nos mostram o que acontece quando as pessoas se entregam aos seus sentimentos ao invés de controlar as emoções e impulsos.
Em momentos que sentimos que vamos explodir, atitudes como falar baixo, contar até dez ou respirar fundo podem ser estratégias que nos ajudam a trabalhar nosso autocontrole.
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Nesta semana lemos a Parashá Terumá, que começa a descrever todos os detalhes da construção do Mishkan (Templo Móvel), o lugar onde a presença de D'us residia. O Mishkan acompanhou o povo judeu durante os 40 anos no deserto e, nos dias de Shlomo Hamelech (Rei Salomão), foi substituído pelo Beit Hamikdash (Templo Sagrado). Dentro do Mishkan havia vários utensílios, tais como o Mizbeach (altar de sacrifícios), a Menorá e o Aron Hakodesh (Arca Sagrada).
Em relação a estes utensílios, surge uma pergunta interessante: podemos entender o motivo de alguns dos utensílios fazerem parte deste lugar tão sagrado, como o Mizbeach e o Aron Hakodesh. Mas há um utensílio que aparentemente foge à regra: a Shulchan. A Shulchan era uma mesa de madeira totalmente revestida de ouro, e nela eram colocados 12 pães. Estes pães ficavam a semana inteira na mesa, e no Shabat eram consumidos pelos Cohanim (sacerdotes) e substiuídos por pães novos. O que há de especial em uma mesa com pães para que merecesse estar dentro do Mishkan, um lugar tão sagrado?
A pergunta se torna ainda mais intrigante se observarmos um dos versículos do Tanach (livro dos Profetas e Escrituras) que também descreve os utensílios do Beit Hamikdash: "O Mizbeach, três côvados de altura e dois côvados de comprimento, feito de madeira, e também os cantos; e o seu comprimento e as suas paredes eram de madeira, e ele me disse: 'Esta é a Shulchan que está diante de D'us' " (Yechezkel 41:22). Por que o versículo começa falando do Mizbeach e termina falando da Shulchan? Qual é a conexão entre estes dois utensílios?
Explica o Talmud (Torá Oral) que enquanto o Beit Hamikdash existia, o Mizbeach era o utensílio responsável pela expiação dos nossos pecados. Mas depois da destruição do Beit-Hamikdash, o responsável pela expiação dos nossos pecados é a Shulchan. Não a Shulchan que havia no Beit-Hamikdash, mas a Shulchan que cada um de nós tem em casa. Entende-se que o altar de sacrifícios sirva para expiação dos nossos pecados, mas como a nossa mesa pode ajudar nesta função?
Todos querem ser pessoas mais elevadas e mais espirituais, e imaginamos que para isto são necessários grandes atos. Mas o judaísmo nos ensina que a santidade é atingida através de pequenos atos do cotidiano. Em qualquer ato que fazemos podemos nos comportar como animais ou podemos nos assemelhar aos anjos mais elevados. O ato de comer, por exemplo, pode ser apenas um ato baixo e mundano, ou pode ser uma experiência de elevação espiritual.
Explica o livro Lekach Tov que a palavra em hebraico para pão é "Lechem", que vem da mesma raiz da palavra "Milchamá", que significa guerra. Durante o processo de alimentação, é despertada uma verdadeira guerra dentro de nós. Por um lado nossa parte animal nos incita a comer tudo o que temos vontade. Por outro lado a nossa parte espiritual nos orienta a comer com ponderação, com o intuito de conseguir energia para cumprirmos nossa missão neste mundo. A mesa onde comemos, portanto, é um lugar extremamente sagrado, pois é uma oportunidade gigante para nos conectarmos com a espiritualidade ao controlarmos os nossos instintos animais.
Não existe prova maior de D'us do que a perfeição do nosso corpo humano. Centenas de processos extremamente complexos e, ao mesmo tempo, perfeitamente sincronizados. Cada pequeno detalhe do nosso corpo é perfeito e exato. Um exemplo é o processo digestivo, no qual os alimentos ingeridos pela boca são quebrados para poderem ser distribuídos por todos os órgãos. A maior parte do processo digestivo ocorre na barriga, entre o estômago e os intestinos. Então, se D'us criou nosso corpo com tamanha perfeição, por que Ele nos criou com a boca na cabeça e não na barriga? Para nos ensinar uma importante lição: que o ato de comer não deve ser feito com a barriga, e sim com a cabeça.
Este mesmo ensinamento podemos aprender observando, na natureza, a diferença entre a forma em que o ser humano e os animais se alimentam. A maioria dos animais, ao comer, se curvam e vão com a boca até a comida. Já o ser humano, ao contrário, leva a comida até a boca, sem precisar se curvar. Isto é porque os animais não tem autocontrole, eles comem quando estão com vontade, é a comida que comanda. Já o ser humano tem o poder de se autocontrolar e, por isso, é a cabeça que decide o que, quando e como comer.
Portanto, o ato de comer acaba sendo um grande teste para o ser humano, uma avaliação de sua conexão com os mundos espirituais. Não apenas o que comemos, mas também como comemos. Se comemos apenas os alimentos que D'us nos permitiu ou se comemos tudo o que temos vontade. Se recitamos Brachót (bênçãos) antes de comer, pedindo permissão para D'us, ou se comemos sem pensar em nada. Se comemos com educação, sentados à mesa, ou se comemos de pé. Se quando chegam vários pedaços de bife na mesa deixamos os melhores para os outros ou pensamos primeiro em nós mesmos. Se reconhecemos e agradecemos após estarmos saciados ou se levantamos da mesa e voltamos à nossa rotina sem nenhum sentimento de gratidão. Apesar de comer ser um ato físico, cada escolha correta nos eleva, nos ajuda a expiar os nossos pecados, nos ajuda a nos conectar um pouco mais com o mundo espiritual.
Uma pessoa que tem controle de seus desejos e sentimentos pode chegar ao nível dos anjos. Uma pessoa sem controle dos seus desejos e sentimentos vira um escravo das suas vontades e desce ao nível dos animais. Em um segundo de raiva, pessoas perdem grandes amizades e oportunidades na vida. Por alguns instantes de prazer, pessoas traem seus companheiros e destroem famílias inteiras. Tudo por causa do descontrole de alguns instantes.
D'us nos entregou a Torá com 613 Mitzvót, e cada uma delas tem um propósito específico. Mas há um ponto em comum entre todas as Mitzvót: elas nos ajudam a moldar nosso caráter, auxiliando principalmente no nosso autocontrole. Ao cumprir a Torá e passar por cima de um desejo, nos elevamos. Ao respirar fundo em um momento de raiva, nos tornamos pessoas melhores. Somente com muito esforço poderemos transformar o nosso próprio corpo, material e finito, em um lugar onde a presença de D'us pode residir.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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