sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BO 5771

BS"D
QUEM RI POR ÚLTIMO RI MELHOR - PARASHÁ BO 5771 (07 de janeiro de 2011)
"Um rei muito poderoso certa vez pediu a um de seus ministros que fosse até o mercado e escolhesse um belo peixe para um jantar especial que ele ofereceria para pessoas importantes do reinado. O ministro, que era um rebelde, não se importava com a honra do rei. Ao contrário, ele quis aproveitar a oportunidade para se divertir às custas do rei e pregar-lhe uma peça, comprando um peixe que já estava estragado. O ministro imaginou que o peixe iria direto para a cozinha do palácio e o rei só perceberia a brincadeira no meio do jantar, quando ficaria completamente envergonhado por servir para convidados importantes um peixe podre.
Porém, para desespero do ministro, o rei estava esperando na porta da cozinha para pessoalmente verificar o que ele havia comprado. Quando viu aquele peixe podre, o rei ficou enfurecido pela ousadia do ministro e ameaçou matá-lo. O ministro implorou por misericórdia e o rei lhe deu três opções para escapar da pena de morte: comer todo o peixe podre sozinho, receber 100 chicotadas ou pagar 100 moedas de ouro para os cofres reais.
O ministro riu por dentro, achando que o rei era um grande tolo, pois comeria o peixe e tudo terminaria bem para ele. Mas quando começou a comer, sentiu em sua boca um gosto horrível, enquanto o cheiro do peixe podre enchia o ar com um odor insuportável. Conseguiu comer algumas garfadas, mas logo o peixe se tornou intragável. Implorou ao rei que o deixasse receber as chicotadas ao invés de comer aquele peixe podre. O rei concordou e o ministro foi levado para o local das chicotadas. Mas após 60 chicotadas, o ministro percebeu que suas forças terminavam e ele não aguentaria mais nenhuma. Implorou então ao rei que o dispensasse das chicotadas em troca de pagar as 100 moedas de ouro, e o rei aceitou.
No momento do pagamento, o ministro percebeu que todos gargalhavam. Irritado, perguntou o que era tão engraçado. O rei, não contendo o riso, explicou:
- Você é um tolo. Para escapar da pena de morte você poderia escolher uma das três punições. No final das contas, você recebeu as três. Você comeu o peixe podre, tomou as chicotadas e finalmente teve que pagar. Você tentou me enganar para dar risadas, mas no final, você mesmo se tornou a piada"  
Enquanto nós buscamos formas de "enganar" a D'us, Ele nos observa lá de cima e dá risada. Pois todas vezes em que nós achamos que conseguimos enganá-Lo, não percebemos que, no final das contas, fomos nós mesmos que perdemos.
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Na Parashá desta semana, Bo, D'us continuou mandando as pragas sobre o Egito para que o faraó libertasse o povo judeu. Finalmente, após a décima praga, a morte dos primogênitos, o faraó não aguentou mais os sofrimentos e deixou os judeus saírem. Todos os anos nós recontamos os detalhes da saída do Egito aos nossos filhos e netos, principalmente durante o Seder de Pessach, conforme está escrito na Torá: "E para que você conte aos ouvidos do seu filho e do filho do seu filho tudo o que Eu fiz no Egito, e Meus sinais que Eu coloquei sobre eles, para que eles saibam que Eu sou D'us" (Shemot 10:2). Explica Rashi, comentarista da Torá, que a linguagem "Hitalalti", traduzida como "fiz", também significa "dei risada". O que significa que D'us deu risada dos egípcios?
Os egípcios nos fizeram sofrer muito durante os anos de escravidão. Não apenas com sofrimentos físicos, mas principalmente com sofrimentos psicológicos. Por exemplo, os judeus foram ordenados a construir as cidades de Pitom e Ramsés, mas as construções eram feitas em locais de areia movediça. Após um longo e exaustivo trabalho, tudo o que os judeus construíram caia, frágil como um castelo de areia, para o divertimento dos egípcios, que os faziam recomeçar o mesmo trabalho diversas vezes. Além disso, os egípcios davam trabalhos de homens para que as mulheres fizessem e trabalhos de mulher para que os homens fizessem, quebrando a auto-estima do povo e humilhando-os. Quanto mais os judeus sofriam, mais os egípcios se divertiam.
D'us está acima de qualquer limitação humana. Ele não tem nenhuma forma limitada nem é guiado por emoções. Portanto, todas as vezes que a Torá descreve emoções de D'us ou partes de Seu corpo, é apenas uma metáfora para nos ensinar algum tipo de característica de D'us, de maneira que possamos entendê-Lo dentro das nossas limitações. Por exemplo, quando a Torá descreve que D'us nos tirou do Egito "com mão forte e braço estendido", é para nos transmitir a idéia de que D'us nos tirou do Egito com bravura e com força, mesmo indo contra a vontade dos egípcios de nos manter escravizados. Da mesma maneira, quando a Torá nos descreve que D'us "deu risada", não quer dizer que D'us se divertiu. Ao contrário, quando mencionamos as dez pragas na noite do Seder de Pessach, tiramos uma gota de vinho para cada praga, em um sinal de respeito pelos egípcios que morreram nas pragas. A idéia que a Torá está nos ensinando é que quando D'us se vingou dos egípcios, foi "Midá Kenegued Midá" (medida por medida). Da mesma forma que os egípcios se divertiam com os sofrimentos dos judeus, assim também D'us "se divertiu" com os sofrimentos que mandou aos egípcios.
Isto pode ser observado em várias pragas. Por exemplo, D'us mandou o granizo, que destruiu todas as árvores rígidas do Egito. Os egípcios se alegraram, pois as espigas de trigo e cevada, que são flexíveis, não foram destruídas. Mas a alegria durou pouco, pois logo em seguida D'us mandou a praga dos gafanhotos, que devoraram tudo o que havia restado no campo. Mesmo assim os egípcios não estavam totalmente tristes, pois no Egito o gafanhoto era um animal comestível. Os egípcios caçaram os gafanhotos e prepararam milhares de barris de conserva, alimento suficiente para muito tempo. Mas no fim da praga está escrito "E D'us mandou um vento ocidental muito forte, que carregou os gafanhotos e os atirou no Mar Vermelho; não sobrou nem mesmo um gafanhoto em todas as fronteiras do Egito" (Shemot 10:19). O que significa que não sobrou nem mesmo um gafanhoto? D'us fez um milagre dentro de outro milagre, e mesmo os gafanhotos em conserva também desapareceram, para o desespero dos egípcios.
Além disso, quando morreram os primogênitos, o faraó saiu desesperado de sua casa para mandar os judeus embora, pois ele também era um primogênito e temia morrer imediatamente. Ele foi pessoalmente até as casas onde viviam os judeus, ainda de pijama, para procurar onde Moshé morava. Imagine a vergonha para o faraó, aquele que se autodenominava como um deus vivo, sair de pijama de sua casa para implorar, em público e aos berros, aos seus próprios escravos que fossem embora.
Mas houve um momento em especial que D'us realmente "se divertiu" com os egípcios. D'us queria que os judeus fossem libertados, mas o faraó se recusou. Após as pragas, o faraó finalmente cedeu e deixou os judeus saírem. Porém os judeus não saíram de mãos vazias, eles levaram consigo as riquezas do Egito, como pagamentos pelos anos de trabalho escravo. Então o faraó se arrependeu por ter libertado os judeus, como está escrito "O que foi isto que nós fizemos, que enviamos Israel de nos servir?" (Shemot 14:5). Qual foi o grande motivo do arrependimento? O faraó entendeu como ele havia sido tolo. Ele poderia ter libertado os judeus logo no início e teria ficado sem seus escravos, mas também não teria "apanhado" de D'us e manteria seu dinheiro. Também poderia ter apenas recebido as pragas e libertado os escravos, mas teria pelo menos mantido seu dinheiro. Mas no final das contas ele perdeu tudo, pois sua obstinação o fez receber as 10 pragas, perder seus escravos e ainda ficar sem dinheiro.
Assim acontece todas as vezes que somos obstinados e tentamos ir contra a vontade de D'us. Queremos fazer a nossa vontade "à força", com a esperança de que conseguiremos enganar a D'us. Nestes momentos é como se D'us estivesse dando risada, pois apesar de nosso esforço, é a vontade Dele que sempre se cumpre. Por exemplo, quando alguém rouba ou engana, pensa que ganhou algo com isso. Mas a verdade é que, não apenas D'us tira de outra maneira este dinheiro recebido de maneira ilícita, mas também pune a pessoa pelo roubo. O ladrão, no final das contas, termina sem o dinheiro e ainda recebe um castigo.
A justiça Divina sempre se cumpre. Nenhuma das maldades dos egípcios passou sem a devida punição. Nem mesmo o menor dos detalhes foi esquecido por D'us. No final vemos que a punição sempre chega, medida por medida. Pois segundo o judaísmo, vale o ditado "quem ri por último ri melhor".
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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