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A FORÇA DOS NOSSOS PEDIDOS – YOM KIPUR 5771 (17 de setembro de 2010)
"Chana (nome fictício) é uma moça judia para quem eu (Rav Efraim Birbojm) dava aulas. Ela não conhecia muito as Mitzvót, mas se interessava e não perdia uma aula. Certo dia ela me ligou com a voz tensa, se esforçando para não chorar. O pai dela estava na UTI, após um enfarto repentino. Os médicos haviam dito que era um grande milagre ele estar vivo. Eu a tranqüilizei e convidei-a para conversar pessoalmente mais tarde.
Já era de noite quando conseguimos conversar. A moça estava angustiada, pois apesar do pai estar se recuperando aos poucos, ele permanecia na UTI. Era terça-feira e, segundo os médicos, ele teria que permanecer na UTI até a segunda-feira seguinte, dia em que faria uma pequena cirurgia cardíaca. Como os horários de visita na UTI eram muito curtos, o pai estava deprimido por estar longe da família, e isto deixava Chana inconformada. Ela queria muito estar neste momento difícil ao lado do pai.
Expliquei para Chana que tudo está nas mãos de D'us e, por isso, o que ela poderia fazer era Tefilá (reza), pedindo para que D'us tivesse misericórdia. Ensinei a ela como rezar e emprestei um livro de Tehilim (Salmos) para que ela recitasse, em especial os Salmos dedicados à recuperação de um doente. Chana agradeceu muito e voltou para casa.
No dia seguinte de manhã telefonei para Chana para saber como ela estava. Para minha surpresa, a voz dela estava tranqüila. Ela explicou que havia passado a noite inteira fazendo Tefilá e lendo os Salmos e por isso estava realmente muito mais tranqüila e confiante na recuperação do pai. Ela agora tinha esperanças verdadeiras de que ele melhoraria.
Era pouco depois do meio dia quando meu telefone tocou. Era Chana, que não cabia em si de alegria. Muito emocionada, ela me falou:
- Rabino, você não vai acreditar. Transferiram meu pai para o quarto. Como ele está estável, os médicos decidiram que ele poderia esperar pela cirurgia junto com a família. D'us escutou minha Tefilá!
A operação foi um grande sucesso e, em uma semana, o pai de Chana estava em casa, recomeçando a vida nova que ele tinha recebido de D'us"
Quando rezamos com todo o nosso coração, D'us escuta nossas súplicas. Por isso, a reza não pode ser apenas um ato de pronunciar palavras sem sentido. A reza precisa vir do coração, principalmente quando estamos pedindo para D'us vida.
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Este Shabat coincide com a festa de Yom Kipur, o dia do perdão, oportunidade que temos de nos conectar com o Criador do mundo e nos purificar espiritualmente. Cada vez que cometemos uma transgressão manchamos nossa alma, mas se nos arrependemos com sinceridade, Yom Kipur limpa todas as manchas que causamos durante o ano inteiro. Se olharmos para trás e fizermos uma reflexão sincera, veremos que cometemos erros demais, e muitos deles graves. Desrespeitamos nossos pais, fizemos Lashon Hará (maledicência), brigamos, ofendemos outras pessoas, não cumprimos as Mitzvót como deveríamos. Se fizéssemos uma lista, o papel acabaria mas os nossos erros não. Será que realmente Yom Kipur consegue limpar tudo o que fizemos de errado? Depois de tantos erros, há alguma maneira de tentarmos garantir que seremos selados para a vida?
A resposta está no final da Parashá que lemos na semana passada, Haazinu. O povo judeu estava na fronteira com a terra de Israel e Moshé foi comandado por D'us a subir em uma montanha para ver a terra, abençoá-la e depois disso morrer. E assim está escrito: "E disse D'us a Moshé, em pleno dia, e falou: 'Suba neste monte Avarim... e veja a terra de Knaan, que Eu darei aos filhos de Israel como possessão. E você morrerá no Monte que você subir e será reunido ao seu povo...' " (Devarim 32:48-50). Mas por que a Torá acrescenta a expressão "em pleno dia"?
Rashi, comentarista da Torá, nos ensina que esta expressão "em pleno dia" aparece em 3 lugares diferentes na Torá. A primeira vez aparece quando Noach (Noé) estava prestes a entrar na arca, no momento em que as primeiras chuvas do dilúvio começaram a cair, como está escrito: "E em pleno dia veio Noach, e Shem, Cham e Iafet, os filhos de Noach, e a esposa de Noach, e as três esposas de seus filhos vieram com eles à arca... E houve o dilúvio 40 dias sobre a terra" (Bereshit 7:13,17). A segunda vez aparece quando o povo judeu saiu do Egito, como está escrito "E os filhos de Israel permaneceram no Egito por 430 anos. E foi ao fim dos 430 anos, em pleno dia, saíram todos os exércitos de D'us da terra do Egito" (Shemot 12:40,41). E a terceira vez é na Parashá Haazinu, em relação à morte de Moshé. O que há em comum entre estes 3 eventos?
Por muitos anos Noach advertiu as pessoas sobre a vinda do dilúvio e a necessidade do arrependimento, mas ele foi zombado por todos. Quando a data anunciada do dilúvio começou a se aproximar, as pessoas começaram a se preocupar. E se o dilúvio realmente viesse? Somente Noach se salvaria? As pessoas então planejaram vir armadas com machados para destruir a arca e impedir a entrada de Noach e sua família. Mas os planos de D'us eram outros e, em pleno dia, isto é, diante dos olhos de todos, Noach e sua família entraram na arca e ninguém conseguiu impedir. O mesmo ocorreu na saída do Egito, quando diversas vezes Moshé pediu para que os egípcios se arrependessem de terem escravizado e maltratado o povo judeu e o libertasse, mas apenas depois do Egito ter sido devastado pelas pragas é que a saída do povo judeu foi permitida. Porém, o arrependimento egípcio não foi sincero, pois muitos deles planejavam atacar os judeus quando eles estivessem saindo, desprevenidos. Por isso está escrito que os judeus saíram do Egito em pleno dia, isto é, diante dos olhos de todos os egípcios, e ninguém conseguiu fazer nada contra.
Rashi explica, portanto, que a expressão "em pleno dia" é uma demonstração da força de D'us, pois sempre a Sua vontade se cumpre, mesmo quando as pessoas querem ir contra. Noach não entrou na arca no meio da noite, escondido, e sim em pleno dia. O povo judeu não saiu do Egito na calada da noite, como ladrões, e sim em pleno dia. Mas fica uma grande pergunta: nos dois primeiros eventos é possível entender este conceito. Porém, quando chegamos ao terceiro evento, esta regra fica difícil de ser aplicada. Se D'us havia decretado que Moshé iria morrer e está escrito na Torá que foi "em pleno dia", isto é, diante dos olhos de todo o povo judeu, isso quer dizer que D'us sabia que de alguma forma o povo tentaria impedir a morte de Moshé. Como o povo faria isto? É possível revogar um decreto de morte Divino?
A resposta é incrível: sim, o povo poderia tentar evitar a morte de Moshé. Como? Através da Tefilá (reza). Como Moshé era muito querido por ter liderado o povo judeu durante os 40 anos e por todas as bondades que ele havia feito, as pessoas rezaram e choraram com fervor. Mas D'us mostrou que estava decidido a cumprir a Sua vontade e fez Moshé subir na montanha em pleno dia, diante de todo o povo, e não escondido no meio da noite. Por que a Tefilá do povo não funcionou? Pois neste caso em particular D'us tinha planos mais profundos. Ele sabia que a hora do povo judeu entrar na terra de Israel havia chegado e Moshé não podia entrar, pelo bem do próprio povo. Se não fosse por este motivo, a Tefilá do povo teria sido aceita.
Aprendemos então desta Parashá um incrível fundamento: a reza sincera e o choro podem mudar até mesmo um decreto de morte Celestial. E assim dizemos durante a Tefilá de Rosh Hashaná e Yom Kipur: "3 coisas podem mudar um mau decreto: Teshuvá (Arrependimento), Tefilá (Reza) e Tzedaká (Caridade)". Apesar destas 3 coisas terem força durante todo o ano, elas funcionam ainda mais em Yom Kipur, o dia do ano em que D'us está mais próximo de nós.
Fazer Teshuvá não significa mudar completamente do dia para a noite. A tradução literal da palavra "Teshuvá" é "Retorno". Para que serve o retorno em uma estrada? Para uma pessoa que, ao perceber que está indo na direção errada, possa voltar para o outro lado e recomeçar a viagem na direção correta. É isso o que D'us espera de nós em Yom Kipur. Primeiro, que possamos sinceramente perceber que estamos errados. Depois, que tenhamos a vontade de mudar e melhorar. E terceiro, que possamos decidir, com comprometimento, a dar pequenos passos na direção do nosso crescimento espiritual. Assim aproveitaremos o dia em que os portões Celestiais estão abertos para que a nossa Tefilá consiga atingir os mundos espirituais mais elevados e possamos ser selados no Livro da Vida.
SHABAT SHALOM, TSOM KAL (Que todos tenham um jejum leve) e GMAR CHATIMÁ TOVÁ (Que sejamos selados para o bem).
Rav Efraim Birbojm
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