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PARA CIMA E PARA BAIXO AO MESMO TEMPO - PARASHÁ TZAV 5772 (30 de março de 2012)
"Um grupo de garotos estava reunido sob uma imensa árvore, admirando sua altura. Entre eles estava Shmuel, um garoto muito bonzinho e de coração puro. Um dos garotos teve a idéia de fazer uma competição para ver quem conseguia subir mais alto na árvore, e todos concordaram.
A competição começou e, um a um, os garotos tentavam subir, mas passada certa altura, eles caíam. Apenas Shmuel não desistiu. Com coragem e persistência ele foi subindo, pouco a pouco, até chegar ao topo da árvore, vencendo a competição.
A mãe de Shmuel, que estava acompanhando tudo sentada em um banco próximo à árvore, perguntou:
- Shmuel, por que todos os meninos caíram no meio, mas você conseguiu ir até o final?
Shmuel respondeu com um sorriso no rosto:
- Quando os outros meninos estavam tentando chegar ao topo, percebi que todos cometiam o mesmo erro. Quando eles estavam bem alto, olhavam para baixo e, vendo a altura que estavam, se apavoravam e caíam.
- Mas eu fiz diferente - continuou Shmuel - Eu olhei o tempo inteiro para cima. E como meus olhos estavam voltados sempre para cima, por mais alto que eu subisse, eu sentia que ainda estava baixo. Assim eu consegui reunir forças e tranquilidade para chegar até o topo da árvore"
Precisamos viver com a coragem de olhar sempre para cima, investindo no nosso crescimento. Aquele que olha só para baixo fica preso no chão e não consegue atingir o seu potencial. Mas aquele que olha para cima consegue chegar no topo.
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A Parashá desta semana, Tzav, começa com uma Mitzvá pouco convencional, chamada "Trumat HaDeshen". Em que consistia esta Mitzvá? Antes de começar os serviços matinais no Templo, o Cohen (sacerdote) precisava remover todas as cinzas que haviam sobrado das oferendas do dia anterior. Em outras palavras, o Cohen, que era alguém espiritualmente muito elevado, precisava fazer uma faxina, algo aparentemente degradante para sua posição de líder espiritual. Por que uma Mitzva tão "baixa" para alguém tão elevado?
Explica o Kli Yakar, comentarista da Torá, que as cinzas serviam para recordar o Cohen de Avraham Avinu, que reconheceu que o ser humano veio do pó e das cinzas, como ele falou para D'us: "Sou apenas pó e cinzas" (Bereshit 18:27). Isto significa que, justamente pelo Cohen ser alguém tão elevado, era importante que ele colocasse humildade em seu coração, refletindo que o ser humano, no fim das contas, não é nada.
Além deste ensinamento da nossa Parashá, existem na Torá diversas fontes que ressaltam a natureza baixa do ser humano. Por exemplo, o Pirkei Avót diz: "Saiba de onde você veio e para onde você vai... De onde você veio? De uma gota pútrida. E para onde você vai? Para um lugar de pó, vermes e larvas" (Avót 3:1). Há outro Pirkei Avót que ressalta a mesma idéia: "Seja muito, muito baixo de espírito, porque a esperança do ser humano são as larvas" (Avót 4:4).
Vemos, através destas diversas fontes, que o ser humano precisa constantemente se rebaixar e se sentir como se fosse um nada, o pó da terra. Mas há neste conceito uma aparente contradição, pois há diversos ensinamentos que, ao contrário, ressaltam justamente a grandeza inerente do ser humano, como diz o Talmud: "Aquele que salva uma vida, a Torá considera como se tivesse salvado o mundo inteiro" (Sanhedrin 37a). O próprio Pirkei Avót, que ressaltou o lado baixo do ser humano, também ensina o seu lado de grandeza: "O ser humano é precioso, pois ele foi criado à imagem de D'us" (Avót 3:18). O que significa esta contradição? Afinal, o ser humano é uma criatura elevada e preciosa ou uma criação de natureza baixa e desprezível?
Explica o Rav Yehonatan Gefen que não há nenhuma contradição. Os diferentes ensinamentos dos nossos sábios são, na realidade, dois enfoques diferentes sobre o ser humano. Um tipo de ensinamento enfoca a parte material, enquanto o outro enfoca a parte espiritual. Quando nossos sábios ressaltam a natureza baixa do ser humano, se referem ao corpo, aos desejos materiais, que são passageiros. Quando ressaltam a grandeza do ser humano, se referem à nossa alma, de grandeza infinita, uma parte de D'us que temos dentro de cada um de nós.
Mas por nossos sábios escreveram estes ensinamentos de maneira a nos dar a impressão de que existe uma contradição? Pois devemos constantemente utilizar estes dois enfoques juntos no nosso trabalho espiritual. Como fazer isso? Lembrando-se sempre que temos, por um lado, um gigantesco potencial espiritual, mas que por outro lado nossa passagem pelo mundo material é limitada, pois do pó viemos e ao pó voltaremos, e toda nossa oportunidade de crescimento deve ser atingida durante nossa vida limitada. Portanto, devemos aproveitar cada segundo para preencher nosso potencial enquanto ainda temos tempo.
Outro motivo pelo qual nossos sábios trazem os dois lados do ser humano é para nos ensinar que precisamos viver com equilíbrio, pois se focarmos em apenas um deles, é muito fácil desviar do caminho correto. Por exemplo, sem a lembrança de que somos apenas pó e cinzas, podemos nos tornar arrogantes. Mas o outro lado é ainda mais perigoso. Sem a consciência de que somos seres elevados, criados à imagem e semelhança de D'us, uma pessoa pode tornar-se depressiva e deixar de dar valor à sua própria essência. É um dos motivos pelo qual vemos cada vez mais pessoas tristes e sem motivação na vida.
Outro efeito negativo de esquecer nosso lado espiritual elevado é a pessoa se conectar aos desejos materiais com tanta intensidade que passa a se comportar como um animal, completamente controlada por suas vontades.
Portanto, podemos perceber que estes dois enfoques, de que temos um lado baixo e um lado elevado, devem ser usados juntos em várias áreas da vida. Mas infelizmente na área de educação das crianças, uma das mais importantes na formação de pessoas equilibradas e felizes, acabamos negligenciando este conceito e focando muito mais no lado negativo do que no lado positivo. Por exemplo, quando os pais e educadores veem uma criança fazendo algo errado, dão uma enorme bronca, focando apenas no erro e questionando as qualidades da criança, destruindo assim seus pilares de auto-estima. A criança se sente um verdadeiro Rashá (malvado) após ter cometido uma pequena transgressão, e pode levar este trauma para toda sua vida, destruindo seu potencial.
Como é a forma correta de repreender uma criança que fez algo errada? Conta o Rav Avraham Twersky que seu pai era um grande modelo de educador. Quando o Rav Twersky era pequeno e fazia algo errado, seu pai o repreendia, mas com um tom calmo e utilizando as seguintes palavras em Yidish: "Ess Past Nisht" (isto não lhe fica bem). O que ele transmitia ao filho com estas palavras? Que aquela transgressão, algo baixo, não combinava com o seu caráter elevado. A sua alma era simplesmente muito preciosa para ser exposta ao risco de se sujar ou se estragar. Isto transmitia para o filho o quanto seu erro, motivado pelos desejos do corpo, era feio. Mas ao mesmo tempo não o deixava esquecer de sua grandeza espiritual.
Portanto, o equilíbrio ideal é o que descreve o Talmud: "Sempre a mão esquerda deve afastar e a mão direita deve aproximar" (Sotá 47a). A mão esquerda representa o julgamento estrito, enquanto a mão direita representa a bondade. Mesmo quando tivermos que dar uma bronca em alguém, a parcela negativa da bronca deve ser sempre menor do que a parcela positiva. Muitos utilizam na prática este ensinamento através da "crítica sanduíche", isto é, sempre uma bronca deve ser precedida por um elogio e deve ser terminada com outro elogio. Assim, a pessoa sente que a bronca foi dada por amor e não sente seu ego ferido. Alcançamos assim nosso objetivo de ajudar a corrigir o erro do próximo e contribuir para construir uma pessoa melhor, sem precisar demolir tudo antes.
R' Efraim Birbojm