quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NOACH 5769

BS"D

OS ANIMAIS TÊM DIREITOS, E NÓS? - PARASHÁ NOACH 5769 (31 de Outubro de 2008)

No dia 26 de janeiro de 2003, um ônibus israelense sofreu um atentado a bomba árabe. Mas desta vez o meio utilizado não foi um palestino suicída, e sim um burro. Com explosivos atados em seu corpo, o pobre animal foi direcionado ao ônibus israelense e a bomba foi detonada por controle remoto. Milagrosamente todas as pessoas sobreviveram, mas o burro não.

Depois de receber inúmeros protestos de seus membros chocados, a presidente da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals - Pessoas para o Tratamento Ético dos Animais), Ingrid Newkirk, escreveu uma carta para Yasser Arafat com os seguintes dizeres "Se você tiver oportunidade, você poderia transmitir aos seus subordinados meu apelo para que vocês deixem os animais fora deste conflito?"

No conflito Árabe-Israelense, certamente há tragédias muito maiores do que a morte de um burro. Centenas de homens, mulheres e crianças inocentes foram assassinados. Mas a PETA não fez nenhum protesto pela perda de tantas vidas humanas. Quando questionada pelo jornal "The Washington Post", Ingrid Newkirk justificou: "Não é meu negócio me intrometer em guerras humanas". É assustador o descaso pelas vítimas humana, principalmente vindo de alguém que ama tanto os animais...
----------------------
A Parashá desta semana, Noach, nos conta sobre o terrível dilúvio que devastou o mundo. Somente Noach (Noé), sua família e alguns animais foram salvos (7 pares de cada animal Kasher e 1 par de cada animal não-Kasher). O resto de toda a criação, inclusive as plantas, foi completamente apagado da face da Terra. A Torá explica que o dilúvio ocorreu pois o ser humano havia se corrompido e se desviado dos caminhos corretos, cometendo atos como roubo, assassinato e relações proibidas. Mas se foi o ser humano quem pecou, por que os animais e as plantas também sofreram com o dilúvio?

Quando D'us colocou Adam Harishon (Adão) no Gan Éden, ordenou que ele tomasse conta do jardim, como está escrito "E D'us pegou o homem e o colocou no Jardim do Éden, para trabalhá-lo e guardá-lo" (Gênesis 2:15). Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que D'us levou Adam Harishon por todo o Jardim do Éden, mostrou-lhe todas as árvores e disse: "Veja como são belas Minhas criações. Eu criei tudo isso para o seu benefício. Tome cuidado para não destruir nem arruinar Meu mundo". Mas por acaso Adam era jardineiro? D'us estava pedindo para que ele irrigasse as plantas? Obviamente que não, pois D'us mesmo irrigava o Jardim, como está escrito: "E saía um rio do Éden para regar o jardim..." (Gênesis 2:10). Então o que quer dizer que Adam tinha que cuidar do jardim para não destruí-lo?

Segundo o livro Messilat Yesharim (Caminho dos Justos), D'us criou todo o universo para servir o ser humano e ajudá-lo a cumprir seu objetivo. Porém, todo o mundo material também é para o ser humano um grande teste. Se o ser humano utiliza o mundo material como uma ferramenta para se conectar com a espiritualidade, ele se eleva e eleva o mundo inteiro junto com ele. Mas se o ser humano utiliza sua livre escolha para se conectar com o mundo material apenas em busca do preenchimento dos seus desejos e vontades, ele se corrompe e cai espiritualmente, e o mundo inteiro cai junto com ele. D'us estava advertindo Adam Harishon, explicando que se ele pecasse, o reflexo seria sentido em toda a criação.

Foi isso o que aconteceu nos dias de Noach, uma geração voltada apenas à busca de prazeres materiais. Por não colocar limites, eles começaram com prazeres permitidos e chegaram na inveja, no roubo e nos prazeres sexuais ilícitos. E os atos errados do ser humano influenciaram negativamente e corromperam todo o restante da criação, fazendo com que tudo fosse destruído no dilúvio.

Atualmente a ecologia e o direito dos animais estão na moda. É chique fazer manifestos pelas baleias na Antártida ou pelas focas na Oceania. Os animais "conquistaram" definitivamente seus direitos: cachorros frequentam psicólogos, andam com roupas da Daslu e muitos casais optam por ter cachorros ao invés de ter filhos. O que a Torá fala sobre isso?

Há uma proibição da Torá de causar qualquer sofrimento desnecessário aos animais ou destruir e desperdiçar qualquer coisa no mundo. D'us nos deu o mundo para desenvolvê-lo e embelezá-lo, não para destruí-lo. Mas nas leis de D'us, o "direito" de um animal não sofrer é igual ao "direito" de uma árvore ou de uma planta de não sofrerem de forma desnecessária ao serem cortadas. Não podemos tratar mal os animais, mas não pelo "direito" deles, e sim por nós mesmos. Por causa das semelhanças fisiológicas que temos com os animais, tratá-los com crueldade causa um efeito negativo subconscientes na nossa personalidade, diminuindo nossa sensibilidade. Uma pessoa que maltrata animais certamente chegará a maltratar seres humanos, o que é muito grave perante D'us.

Porém, se maltratar os animais é prejudicial ao ser humano, o outro lado também é muito perigoso. Preocupação e amor extremos com os animais e com a natureza podem nos fazer perder o referencial, nos levando a confundir o que é o principal e o que é secundário. Existem milhares de movimentos ecológicos, mas quantos movimentos ajudam crianças africanas subnutridas que morrem, em pleno século 21, de fome? Por que tantas pessoas sentem mais dó de um cachorro abandonado do que de uma criança abandonada? Por que vestimos camisetas "salvem as baleias" e não usamos camisetas "salvem as crianças" ? Um estudo com crianças de 12 anos mostrou que se elas vissem seu cachorro e um estranho se afogando, 35% salvariam sem nenhuma dúvida o cachorro, enquanto 35 % ficariam em dúvida do que seria o correto fazer.

Aqueles que colocam os animais no mesmo nível dos seres humanos correm o risco de tratar os seres humanos como animais e de ignorar o sofrimento humano. Um exemplo marcante foi a Alemanha ter criado a Sociedade Protetora dos Animais pouco anos antes do Holocausto. Provavelmente as mesmas pessoas que criaram a Sociedade também participaram, ou se calaram, na morte e tortura de 6 milhões de seres humanos.

Nada ocorre por acaso, e as grandes tragédias da natureza, como tornados, furacões e Tsunamis, que matam milhares de pessoas, animais e plantas, são cada vez mais frequentes. Todas estas catástrofes são resultado das nossas más ações. D'us criou um mundo maravilhoso, e é óbvio que devemos cuidar dele e ter atitudes ecologicamente corretas, como não jogar lixo na rua, reciclar produtos e não desperdiçar os recursos naturais. Mas aprendemos da geração de Noach que não há maior contribuição ecológica do que andar nos caminhos corretos.

"Nós condenamos totalmente infligir sofrimento sobre nossos irmãos animais, e a diminuição do prazer deles, a não ser que seja necessário para o benefício individual deles. Nós declaramos a nossa crença de que todas as criaturas com sentimentos têm direito à vida, à liberdade e à busca de felicidade" (Declaração assinada por 150 acadêmicos da Universidade de Cambridge, durante o Simpósiso dos Direitos dos Animais).

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, deixe aqui a sua pergunta ou comentário sobre o texto da Parashá da semana. Retornarei o mais rápido possível.