sexta-feira, 11 de maio de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ EMOR 5772

BS"D



SANTIFICANDO O NOME DE D'US - PARASHÁ EMOR 5772 (11 de maio de 2012)



"O Sr. Grunenbaum era o chefe de uma família ortodoxa que vivia na cidade de Bnei Brak, em Israel. Além de cumprir com alegria as Mitzvót da Torá, ele tinha uma vontade muito grande de ajudar pessoas afastadas a conhecer um pouco mais dos preciosos ensinamentos da Torá. Mas infelizmente uma das famílias que ele tinha mais dificuldade em ajudar eram justamente seus cunhados, os Weisberg, que não aceitavam seus convites para o Shabat e não estavam abertos para escutar o que ele tinha para ensinar.



Depois de diversas recusas, certa vez os Weisberg aceitaram o convite de passar um Shabat em Bnei Brak. Eles comeram todas as refeições juntos, conversaram bastante, foi um dia muito agradável, mas os Weisberg não queriam nem escutar nada sobre Torá e Mitzvót.



Quando o Shabat terminou, os Grunenbaum acompanharam os Weisberg até o ponto de ônibus, e não sentiram neles nenhuma abertura ou vontade de conhecer mais sobre o judaísmo. De repente, a Sra. Weisberg parou e perguntou para a Sra. Grunenbaum:



- Que ruído é este? - referindo-se a um forte som de vozes que ficava cada vez mais alto.



- Este ruído vem de uma das sinagogas do bairro - respondeu a Sra. Grunenbaum - Tem alguém na cidade muito doente, e centenas de pessoas se juntaram na sinagoga para dizer Tehilim (Salmos) pela recuperação dela. Na verdade, depois de deixar vocês no ponto de ônibus, eu pretendo me juntar a eles também.



- Mas você sabe quem é a pessoa doente? - Perguntou a Sra. Weisberg.



- Não. E a grande maioria das pessoas que estão agora na sinagoga também não a conhecem. Todos sabem apenas que é alguém muito doente que precisa das nossas rezas - respondeu a Sra. Grunenbaum.



- Quer dizer que você vai abrir mão do seu Sábado à noite por alguém que você nem mesmo conhece? - perguntou a Sra. Weisberg, espantada.



- Sim, pois é isto o que a Torá nos ensina que é correto fazer nesta situação – respondeu, com simplicidade, a Sra. Grunenbaum



O contraste era tão grande entre as pessoas de Bnei Brak, tão desprendidas e prontas para ajudar ao próximo, das pessoas egoístas que moravam no bairro da Sra. Weisberg, em Tel Aviv, que isto tocou o coração dela profundamente. E alguns anos depois os Weisberg haviam voltado para suas raízes judaicas"



As pessoas que naquela noite foram à sinagoga de Bnei Brak rezar pela cura física de um doente também ajudaram outra família a encontrar o seu caminho espiritual. Eles fizeram um grande "Kidush Hashem" (Santificaram o nome de D'us).

                       

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Um dos assuntos da Parashá desta semana, Emor, é a santidade com a qual devem ser tratadas as oferendas do Beit-Hamikdash (Templo). Por exemplo, a Torá descreve algumas imperfeições que desqualificavam um animal de ser oferecido como Korban (sacrifício). Depois disso a Torá novamente menciona algumas leis sobre o "Korban Todá", que era oferecido por uma pessoa que havia escapado de algum perigo de vida. E assim está escrito: "Quando vocês oferecerem um Korban Todá para D'us, vocês devem oferecê-lo de forma que seja aceito em favor de vocês... Eu sou D'us. Vocês devem observar Meus mandamentos e cumpri-los, Eu sou D'us. Você não deve denegrir Meu nome sagrado, ao contrário, Eu devo ser santificado diante dos filhos de Israel, Eu sou D'us" (Vayikrá 22:29-32).


Mas destes versículos surgem algumas perguntas interessantes. Em primeiro lugar, quando todos os Korbanót foram descritos na Parashá Vayikrá, para cada um deles está escrito que ele deve ser sacrificado "de forma que seja aceito em favor de vocês". O que há de especial no Korban Todá, já que a Torá precisou enfatizar outra vez que este Korban deveria ser feito "de forma que seja aceito em favor de vocês"? Além disso, por que a frase "Eu sou D'us" é repetida tantas vezes? E finalmente, qual a conexão entre o Korban Todá e o ato de Santificar o nome de D'us?


Explica o Rav Rafael Yom Tov Lipman Hilfrin que devemos nos lembrar em todos os instantes que D'us nos criou a partir do nada, isto é, sem Ele nem mesmo existiríamos. Todas as nossas forças e aptidões, físicas e espirituais, recebemos Dele. Além disso, além Dele ter nos criado, é Ele que nos mantém a cada instante, e não haveria possibilidade de vida na Terra sem que a vitalidade fluísse Dele de maneira constante e ininterrupta.


De acordo com estes princípios, racionalmente não teríamos nenhuma possibilidade de nos levantar contra D'us e fazer algo contra Sua vontade, já que toda a nossa vitalidade e o movimento dos nossos membros dependem Dele. Mas D'us nos fez uma grande bondade. Quando Ele criou o Mundo material, Ele colocou dentro de nós a livre escolha, isto é, a possibilidade de fazer atos contra a Sua vontade. Porém, que tipo de bondade é esta? O que a possibilidade de fazer o que vai contra D'us nos acrescenta?



Se não tivéssemos livre escolha, não teríamos nenhum mérito pelos nossos bons atos. Com o surgimento da possibilidade de nos desviarmos dos caminhos corretos, cada vez que fazemos as escolhas corretas e cumprimos a vontade de D'us, recebemos uma recompensa pela nossa escolha. Assim conseguiremos meritar nossa eternidade no Mundo Vindouro através dos bons atos que escolhermos acumular.


O Korban Todá era trazido por uma pessoa que queria agradecer a D'us por ter se salvado após ter passado por alguma situação em que sua vida esteve em perigo, como em uma doença ou uma viagem perigosa. Mas qual a definição judaica de vida? Será que uma pessoa que anda e fala é chamada de viva? Não, pois segundo o judaísmo, o conceito de vida verdadeira vai muito além dos sinais vitais. Como a passagem neste mundo é algo apenas temporário e nossa vida verdadeira será no Mundo Vindouro, nossa eternidade depende de como nos comportaremos neste mundo.



Por que no Korban Todá está escrito outra vez "de forma que seja aceito em favor de vocês"? A linguagem "Todá" vem da mesma raiz de "Hodaá", que significa admitir. Somente é considerado que alguém admitiu algo quando existe a possibilidade da negação. O Korban é uma declaração de que, apesar da possibilidade de se voltar contra D'us, de negar os caminhos corretos, a pessoa estava escolhendo seguir os caminhos de D'us. É a admissão de que tudo vem Dele, Ele é a causa de todas as causas, o motivo de todos os motivos. Não queremos que apenas nosso Korban seja aceito, mas sim que nossas escolhas de vida sejam aceitas por D'us em nosso favor, em benefício da nossa vida verdadeira, a vida eterna.



É por isso que o termo "Eu sou D'us" se repete tantas vezes. Antes do comando de cumprir as Mitzvót ele aparece duas vezes, uma pelo reconhecimento de que D'us é o Criador, que nos criou a partir do nada, e a outra é pelo reconhecimento de que é Ele quem nos mantém a cada instante. Declaramos que o propósito de nossa vida é seguir as Mitzvót e os ensinamentos Daquele que nos criou e nos mantém a cada instante.



Portanto, quando a pessoa trazia um Korban Todá, não estava apenas agradecendo que D'us a manteve viva. Estava agradecendo a oportunidade de seguir vivendo uma vida verdadeira, uma vida de reconhecimento, uma vida com os princípios éticos e morais da Torá. De nada adiantaria a pessoa escapar de um acidente e continuar, por dezenas de anos, indo contra o que o seu Criador ensinou, sem acumular méritos para sua vida verdadeira.



Quando a pessoa chega neste nível de entendimento, de que toda sua existência depende de D'us, esta pessoa está pronta a santificar o nome de D'us em todas as situações, sendo em vida e, se necessário, morrendo por isso. Pois o versículo termina com "Eu sou D'us" para nos ensinar que Ele, e apenas Ele, é o dono da vida e da morte.



Não precisamos morrer em um ato de heroísmo para santificarmos o nome de D'us. Se for necessário, devemos estar prontos para dar a vida por isso, mas podemos viver de maneira a santificar o nome de D'us a cada instante. Ao cumprirmos as Suas leis, nos transformamos em pessoas melhores a cada dia. Podemos nos tornar exemplos de bondade, de preocupação com o próximo e de respeito, em um mundo cada vez mais egoísta. Assim, além de ajudar a nós mesmos, ajudaremos a tantos outros que ainda não conhecem os caminhos corretos mas que, de maneira subconsciente, estão em busca de respostas.



SHABAT SHALOM



R' Efraim Birbojm

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHIÓT ACHAREI MOT E KEDOSHIM 5772

                                                                                                                                                                                             BS"D

DISTÂNCIA ENTRE A CABEÇA E O CORAÇÃO- PARASHIÓT ACHAREI MÓT E KEDOSHIM 5772 (04 de maio de 2012)

Os Asseret Iemei Teshuvá são os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, quando todos os nossos atos passam diante de D'us e somos julgados se merecemos mais um ano de vida. São dias onde cada pequena Mitzvá e cada arrependimento pelos nossos maus atos pode fazer uma grande diferença. Mas como fazer para sentir, na prática, que este momento é tão decisivo? Há uma história sobre o rabino Israel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que nos ensina como os grandes do nosso povo faziam para despertar seus corações.

Certa vez, durante os Asseret Iemei Teshuvá, um dos alunos do Chafetz Chaim viu que ele subiu sozinho para uma sala no alto da sinagoga, se trancou e começou a falar sozinho em voz alta. Curioso, o aluno aproximou-se da porta da sala para escutar o que ele dizia. O Chafetz Chaim estava descrevendo  o que estaria acontecendo em seu próprio julgamento no Tribunal Celestial naquele momento. Primeiro ele convocou os anjos brancos, os advogados de defesa, criados através de cada Mitzvá e bom ato feito durante o ano, e descreveu a enorme quantidade de anjos que se apresentavam diante do Juiz. Depois ele convocou os anjos negros, os advogados de acusação, criados quando havia feito alguma Mitzvá sem a devida intenção ou quando havia cometido algum erro, e também descreveu a enorme quantidade de anjos que se apresentaram. Finalmente ele descreveu que os anjos subiram na balança, mas que esta não pendeu para nenhum dos dois lados, mostrando que o julgamento estava equilibrado. Então o Chafetz Chaim descreveu uma voz celestial que dizia: "Ser mortal, aproveite que você ainda está vivo para se arrepender e consertar os seus erros". Ao pronunciar estas palavras, o Chafetz Chaim começou a chorar sem parar.

Assim o Chafetz Chaim conseguiu chegar a níveis espirituais tão elevados. Ele trabalhava, com todos os seus sentidos e utilizando a força de sua imaginação, para sentir no coração o que ele entendia racionalmente.
                
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Nesta semana lemos duas Parashiót juntas, Acharei Mót e Kedoshim. A Parashá Acharei Mót descreve os serviços realizados pelo Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) em Yom Kipur, o Dia do Perdão, o único dia em que ele podia entrar na parte mais sagrada do Templo Sagrado, o Kodesh Hakodashim. Era um local de muita santidade, onde ficava o Aron Hakodesh (Arca Sagrada). Já a Parashá Kedoshim lista diversas Mitzvót "Bein Adam Lehaveiró" (entre o homem e seu semelhante).

Assim começa a Parashá Acharei Mót: "E disse D'us para Moshé, depois da morte dos dois filhos de Aharon, quando eles se aproximaram diante de D'us e morreram. E D'us disse para Moshé: Fale com Aharon, seu irmão – ele não deve entrar em todos os momentos no Santuário... para que não morra" (Vayikrá 16:1,2). D'us estava advertindo Aharon, o Cohen Gadol, a nunca entrar no Kodesh Hakodashim sem a Sua permissão, pois caso contrário ele morreria. Mas qual a relação entre esta proibição e a morte de adav e Avihu, os dois filhos mais velhos de Aharon?

Explicam nossos sábios que os filhos de Aharon morreram justamente por terem entrado no Kodesh Hakodashim sem a permissão de D'us. Agora que D'us estava ensinando a Aharon as leis do serviço do Mishkan (Templo Móvel), Ele relembrou a morte dos seus filhos para ressaltar a gravidade e as pesadas consequências deste tipo de erro.

Rashi, comentarista da Torá, compara esta advertência de D'us a um doente que recebe a visita de dois médicos. O primeiro médico examina o doente, identifica a doença e o proíbe de consumir bebidas geladas, pois isto traria perigo à sua vida. Já o segundo médico é mais direto e, ao identificar a doença, relembra ao doente que daquela mesma doença morreu outra pessoa conhecida, justamente por não ter se cuidado em não tomar coisas geladas. Certamente o doente escuta o segundo médico com muito mais atenção, pois consegue sentir de forma mais clara o perigo que corre se não escutar as orientações médicas. Assim também foi com Aharon, D'us quis ressaltar o perigo de entrar no Kodesh Hakodashim sem permissão relembrando da morte de seus filhos.

Mas é um pouco difícil entender a comparação, trazida pelo Rashi, de Aharon com um doente diante do médico. O doente muitas vezes acha que sabe tudo e, por isso, não precisa escutar os conselhos médicos. São comuns casos de doenças que se agravam justamente pelos pacientes não terem seguido à risca as orientações do médico. Portanto, muitas vezes é necessário e justificável que o médico coloque medo no coração de um paciente mais desleixado, para que ele não seja imprudente em seus atos, colocando sua vida em risco. Mas Aharon, que era um gigante espiritual e cumpria com exatidão tudo o que D'us lhe comandava, precisava deste "reforço"? Não era suficiente D'us apenas avisá-lo da proibição?

Ensinam os nossos sábios que daqui aprendemos uma importante lição: há uma enorme distância entre o nosso intelecto e o nosso coração. Muitas vezes pensamos que é suficiente saber o que é correto e o que é incorreto, e automaticamente nossas ações serão de acordo com as nossas convicções. Mas a verdade é que apenas saber algo não é suficiente para que se transforme em atitudes. Vemos isto na prática todos os dias, em exemplos nos quais nosso bem mais importante, a nossa própria vida, é colocada em risco de maneira estúpida. Por exemplo, todos sabem que dirigir em alta velocidade ou embriagado é um grande perigo para a vida do motorista e dos outros em volta, mas os casos de acidentes com motoristas embriagados ou imprudentes aumentam cada vez mais.Todos sabem que o cigarro causa diversas doenças graves, algumas fatais, mas o número de fumantes aumenta a cada dia. Por que, se é tão racional e lógico, as pessoas não conseguem mudar seus maus hábitos? Pois sabemos as coisas racionalmente, mas não conseguimos colocá-las no coração.

Este conceito também se aplica na forma como vivemos nossas vidas cotidianas. Sabemos que vivemos por tempo limitado, que um dia vamos morrer e deixar este mundo, e ninguém sabe quando será este momento, como ensina Shlomo Hamelech: "Nenhum ser humano sabe sua hora, como um peixe que foi pego na rede ou um pássaro que foi preso na armadilha" (Kohelet 9:12). Shlomo Hamelech ressalta a fragilidade da vida humana que, como um peixe apanhado na rede, pode terminar de um momento para o outro. Se isto é tão óbvio, deveríamos aproveitar cada instante da vida. Por que deixamos tantas coisas importantes para depois? Por que dedicamos tanto tempo buscando aquisições materiais quando sabemos que deveríamos estar adquirindo espiritualidade? Pois apesar de sabermos racionalmente que não vamos viver para sempre, nosso coração nos faz sentir como se nunca fossemos morrer.

Em alguns raros momentos despertamos desta "anestesia". Por exemplo, quando vamos ao cemitério acompanhar o enterro de algum conhecido ou escapamos com vida de algum acidente ou doença grave. Por que? Pois nestes casos o conceito da morte não fica apenas no intelectual, ela entra em nosso coração. O choque psicológico faz com que possamos sentir a morte de perto, não como algo hipotético, mas como algo real, como ensina Shlomo Hamelech: "É melhor ir ao cemitério do que ir a uma festa" (Kohelet 7:2). Na festa nós aproveitamos e nos divertimos, mas é no cemitério que despertamos para o fato de que a vida é limitada e, portanto, precisamos aproveitá-la.

Explica o Rav Yaacov Neiman que este é o ensinamento que a Torá nos ressalta nas primeiras palavras da Parashá. Realmente Aharon era um gigante espiritual, certamente entenderia racionalmente que não podia entrar no Kodesh Hakodashim sem permissão. Mas D'us não queria que Aharon soubesse apenas racionalmente, Ele queria deixar marcado em seu coração este ensinamento, de uma maneira mais forte, de forma que nunca seria esquecido. Por isso mencionou a morte de seus filhos, para que ele utilizasse seus sentidos e colocasse em seu coração as terríveis consequências deste erro.

Também temos que trabalhar muito para que as nossas convicções se transformem realmente em atos. É necessário muito esforço e reflexão, pois um ensinamento somente entra em nosso coração quando o repetimos diversas vezes. Esta é a maneira de despertar da sonolência e da anestesia. Esta é a única maneira de crescer espiritualmente. Saber não é suficiente, é necessário sentir em nosso coração cada uma das nossas certezas. Precisamos lembrar, a cada instante, a fragilidade e a limitação da nossa vida, para que possamos aproveitar cada segundo para crescer um pouco mais.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHIÓT TAZRIA E METZORÁ 5772

BS"D

FAZENDO A DIFERENÇA - PARASHIÓT TAZRIA E METZORÁ 5772 (27 de abril de 2012)


"O Rav Shimon Schwab, quando ainda era muito jovem, certa vez visitou o Chafetz Chaim, que na época já era o maior rabino da geração. Este encontro marcou profundamente a vida do Rav Shimon Schwab. No encontro, o Chafetz Chaim, que era Cohen, perguntou ao Rav Schwab se ele era Cohen, Levi ou Israel. O Rav Schwab respondeu que ele era Israel. O Chafetz Chaim então falou:



- Você sabe qual a diferença entre mim e você? Logo o Beit Hamikdash (Templo Sagrado) será reconstruído e todos irão para lá pela primeira vez, lotando as portas que dão acesso ao pátio onde são feitos todos os serviços, entre eles os Korbanót (sacrifícios). Haverá um guarda na porta que perguntará a todos se eles são Cohanim, Leviim ou Israelim. Os Cohanim receberão acesso ao pátio interno e participarão ativamente de todos os serviços, e eu estarei entre eles. Já você, Rav Schwab, junto com todos os outros Israelim, vai ficar do lado de fora. Os Israelim vão querer participar dos serviços, mas a lei judaica não permite. A lei diz claramente que os Cohanim ficam dentro e os Israelim ficam fora. Então os Israelim ficarão bravos, chateados e com inveja.



O Chafetz Chaim, diante do olhar de questionamento do Rav Schwab, continuou:



- Você sabe por que, Rav Schwab, vai ser assim? Por causa de algo que aconteceu há cerca de 3 mil anos atrás, chamado "O pecado do bezerro de ouro". O povo judeu pecou ao construir este bezerro. Apesar de apenas 3 mil pessoas do povo realmente terem participaram ativamente deste hediondo ato de idolatria, quando Moshé Rabeinu convocou o resto do povo para vir apagar o fogo, com as famosas palavras "Quem está com D'us, venha comigo" (Shemot 32:26), você sabe o que aconteceu? Somente a tribo de Levi se apresentou. Meu tataravô foi um dos que se levantou e respondeu à convocação, enquanto seu tataravô ficou ali sentado e não fez nada. Por isso, os Cohanim, que são descendentes da tribo de Levi, vão entrar para realizar os serviços do Beit Hamikdash. Mas vocês, os Israelim, vão ficar do lado de fora, pois ficaram sentados e não responderam ao chamado de Moshé.



O Chafetz Chaim então olhou para o Rav Schwab e disse:



- O que você pensa, que eu quero fazê-lo se sentir mal? Que eu quero esfregar isto na sua cara? D'us me livre. Tudo o que eu quero é te ensinar uma importante lição. Muitas vezes na vida você escutará uma pequena voz em sua cabeça dizendo "Quem está com D'us venha comigo". Vai ocorrer um evento, vai surgir algum problema, algo que todos serão convocados a se levantar para serem contados entre os que estão de verdade com D'us. Em que acampamento você estará nestes momentos? Eu quero deixar claro para você que questões como estas e desafios como estes têm implicações não apenas para você, mas para gerações e gerações que virão depois de você. Pelo fato do seu tataravô não ter respondido "Sim" quando perguntado "Quem está com D'us, venha comigo", você está excluído dos serviços do Beit Hamikdash. Foi um ato que ainda tem consequências, mesmo 3 mil anos depois. E pelo fato do meu bisavô ter dito "Sim", agora eu sou um Cohen e eu farei o serviço do Beit Hamikdash.



- Nunca se esqueça - finalizou o Chafetz Chaim - que todos têm o seu momento de "Quem está com D'us, venha comigo". Quando você escutar esta voz, levante-se e faça parte daqueles que serão contados."

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Nesta semana nós lemos duas Parashiót juntas, Tazria e Metzorá. O ponto em comum entre as duas Parashiót é que elas tratam sobre as impurezas espirituais do ser humano e as formas de purificação para cada uma delas.


A Parashá da semana passada, Shemini, terminou descrevendo a impureza e a pureza dos animais, enquanto as Parashiót desta semana descrevem a impureza e a pureza dos seres humanos. Se refletirmos um pouco sobre a ordem das Parashiót da Torá, percebemos algo estranho. Por que a Torá escreveu primeiro as leis referentes aos animais e somente depois escreveu as leis referentes aos seres humanos? A mesma pergunta surge ao observarmos a ordem da criação do Universo. Em primeiro lugar D'us criou os répteis, os pássaros e os mamíferos, e somente depois criou o ser humano. Se somos o centro da criação, o motivo de D'us ter criado todo o universo, por que fomos criados por último?


Observando também as leis de impureza e pureza dos animais e dos seres humanos, nos chama a atenção as enormes diferenças que há entre elas. Em primeiro lugar, todos os animais têm regras fixas e imutáveis de pureza e impureza. Por exemplo, se um animal é impuro, ele será impuro para sempre, enquanto se ele for puro, será puro para sempre. Já o ser humano pode mudar seu estado de pureza para impureza e vice-versa. Por que esta diferença? Além disso, de acordo com as leis da Torá, a impureza do ser humano é muito mais forte e rigorosa do que a dos animais. Por exemplo, se um réptil morre, ele pode contaminar uma pessoa que tocar nele, enquanto um ser humano morto pode impurificar até mesmo uma pessoa que está sob o mesmo teto do corpo, mesmo que não o tenha tocado. Por que é tão mais forte e rigorosa a impureza dos seres humanos?



Explica o Zohar Hakadosh, o livro de conhecimentos místicos escrito pelo Rav Shimon Bar Yochai, que D'us criou o ser humano por último para que nele estivesse contido todos os atos da criação. De cada uma das criaturas feitas nos 6 primeiros dias, D'us utilizou um pouco de suas características e qualidades particulares para construir o ser humano. Cada ser humano, portanto, concentra dentro de si a qualidade de todas as criaturas existentes no mundo. É isto o que nossos sábios se referem quando ensinam que "o ser humano é um micro-cosmos".


De acordo com o Rav Chaim Vologiner, em seu livro Nefesh HaChaim, em um primeiro momento foi colocado no ser humano apenas as forças de pureza do universo. Depois do pecado do primeiro homem, Adam Harishon, se misturou dentro dele também as forças de impureza e maldade. Portanto, depois de Adam Harishon, todo ser humano deve travar uma luta dentro de si para separar as boas e as más influências, os bons e os maus atos. A mistura é tanta que, mesmo em nossos bons atos sempre há um lado negativo e ruim, e em nossos maus atos sempre há uma ponta de boas intenções.


Explica o Rav Yossef Salant que isto explica por que a pureza e impureza dos animais é constante, enquanto a pureza e a impureza dos seres humanos se altera tanto. Como cada criatura permanece na sua individualidade, elas estão sempre na mesma situação e essência e, portanto, não mudam seu status. Já o ser humano, que é composto por várias forças diferentes, boas e más, puras e impuras, está em constante luta e mudança.


Cada uma das criaturas é composta de apenas uma única força de criação. Por isso, se ela é impura, sua impureza não é tão forte, pois vai de acordo com a parte que lhe foi atribuída e naturalizada em sua formação. Por outro lado, o ser humano, que reúne as forças e características de todas as criaturas, tem em suas mãos a escolha. Ele pode chegar, com a má inclinação dos seus atos, aos piores e mais graves níveis de impureza espiritual, pois pode reunir dentro de si a impureza de todas as criaturas. Mas ao contrário, se o ser humano canalizar suas inclinações para o bem, pode chegar ao mesmo nível de santidade e pureza dos anjos mais elevados, pois pode concentrar dentro de si a pureza de toda a criação, como era Adam Harishon antes de sua transgressão.


Portanto, da ordem das Parashiót e dos conceitos da pureza e impureza, aprendemos uma lição muito importante para nossas vidas. Quando o ser humano merita fazer o que deve, canalizando suas forças para a pureza e completando seu objetivo no mundo, dizem para ele: "Você foi criado antes dos anjos". Mas se a pessoa não merita, perdendo seu foco e afundando-se na impureza, dizem para ela: "Até mesmo a mosca e o mosquito foram criados antes de você". Esta é a nossa escolha, está em nossas mãos.



SHABAT SHALOM



R' Efraim Birbojm

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ SHEMINI 5772

BS"D

AMIGO DE VERDADE - PARASHÁ SHEMINI 5772 (20 de abril de 2012)



"No meio da guerra, após um duro combate contra o exército inimigo, um soldado se aproxima do capitão e faz um pedido dramático:



- Senhor, o meu amigo não regressou do campo de batalha. Peço autorização para ir procurá-lo.



- Autorização negada - respondeu o oficial - Não quero que você arrisque sua vida por um homem que provavelmente está morto. Já perdemos muitos homens hoje.



O soldado, ignorando a proibição, saiu em busca do amigo. Uma hora depois regressou, muito ferido, carregando o corpo do amigo. O oficial, ao ver a gravidade dos ferimentos de seu soldado, ficou furioso:



- Eu avisei que ele estava provavelmente morto! Por que fez esta tolice? Diga-me, valeu a pena quase perder a vida apenas para trazer um corpo?



O soldado ferido conseguiu, juntando todas as suas forças, dar um sorriso e responder:



- Claro que valeu, senhor! Quando o encontrei, ele ainda estava vivo. Ainda houve tempo para que ele olhasse nos meus olhos e dissesse: "Amigo, eu tinha a certeza de que você viria"



Podemos ter na vida muitos colegas. Colegas de trabalho, colegas de classe, a turma do futebol. Mas amigos de verdade temos poucos. Pois amigo de verdade é aquele que chega quando todos já foram embora.



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Um dos assuntos tratados na Parashá desta semana, Shemini, é a Kashrut, as leis alimentares que determinam quais os tipos de alimentos podemos consumir e quais são proibidos. Mas desde o começo do livro de Vayikrá a Torá estava falando sobre os Korbanót (sacrifícios) oferecidos no Templo Sagrado. Por que a Torá trouxe o assunto de Kashrut logo após os Korbanót? Pois da mesma maneira que os Korbanót são parte importante do nosso serviço a D'us e da nossa conexão espiritual, assim também é a Kashrut. A comida não-Kasher impurifica nosso coração e nos desconecta da nossa espiritualidade.



A Torá ensina, para cada tipo de animal, quais são os sinais de Kashrut para que possam ser consumidos. Por exemplo, para os animais domésticos, os sinais são a presença de um casco completamente fendido e a característica fisiológica de serem ruminantes, como a vaca e o carneiro. Nos peixes, os sinais são a presença de escamas e de barbatanas, como o atum e o linguado. Já em relação às aves é diferente, pois a Torá não apresenta sinais de Kashrut para as aves, apenas lista 20 espécies que não são Kasher, como está escrito: "Estes vocês devem considerar uma abominação entre os pássaros, eles não deverão ser comidos – eles são detestáveis: a águia, o abutre, a águia do mar... o corvo e sua espécie, a avestruz..., o falcão e sua espécie... a coruja... a cegonha... (Vaikrá 11:13,19)".



Qual o sentido das leis de Kashrut? Na Torá existem dois tipos de lei, os "Chukim" e os "Mishpatim". Os "Chukim" são as leis que D'us nos comandou, mas que intelectualmente, por causa de nossas limitações, não conseguimos entendemos qual a lógica Divina. Já os "Mishpatim" são as leis que conseguimos intelectualmente entender seu sentido, como as Mitzvót de honrar os pais e não matar. A Kashrut se enquadra nos "Chukim", isto é, trata-se de uma Mitzvá que cumprimos apenas por sabermos que foi o Criador do Universo que nos comandou, para cuidarmos da nossa alma.



Mas nossos sábios explicam que mesmo nos "Chukim" existe um entendimento lógico superficial que conseguimos captar. Por exemplo, o Ramban (Nachmânides) diz que todas as aves listadas entre as proibidas para o consumo têm um ponto em comum: são aves com má índole. A grande maioria são aves de rapina, que atacam com violência outras aves e animais para se alimentar. Segundo o Ramban, se uma pessoa consumisse a carne de alguma destas aves, absorveria também este desejo de violência e o comportamento animalesco, e devemos nos afastar destas terríveis características.



Mas nesta lista de aves há uma que aparentemente foge da explicação oferecida pelo Ramban: a cegonha, cujo nome em Lashon Hakodesh é "Chassida", que também significa "bondosa". O nome de todos os animais foi dado por Adam Harishon (Adão), após D'us ter terminado a criação do mundo. Adam olhou cada animal e, com um entendimento profundo, percebeu qual a característica principal de cada um deles, e de acordo com esta característica os nomeou. Por que a cegonha recebeu o nome de "Chassida"? Segundo o Talmud (Chulin 63a), este nome vem do fato da cegonha fazer bondade com seus companheiros e repartir entre eles a sua comida. Portanto, se ela tem esta característica tão boa, por que está na lista dos pássaros proibidos e abomináveis? Onde encontramos na cegonha a má índole mencionada pelo Ramban?



Explica o Rav Ytschak Meir Rothenberg Alter, mais conhecido como Chidushei Harim, que a cegonha faz bondades apenas com os seus companheiros, mas não com os pássaros das outras espécies. Fazer bondades com os amigos não torna ninguém especial, pois até mesmo os bandidos fazem bondades com as pessoas queridas. O que nos torna diferentes é fazer bondades com todos, sem distinção, de forma irrestrita. Fazer bondades apenas como os amigos não é uma bondade verdadeira, é uma bondade baseada em um sentimento egoísta e, portanto, uma característica indesejável para o povo judeu, o povo descendente de Avraham Avinu, cuja tenda era aberta em todas as direções para que pudesse fazer bondades com todos os que passavam por sua casa, sem nenhum tipo de distinção.



O Rav Yohanan Sweig acrescenta que há um entendimento ainda mais profundo de qual é a má característica da cegonha, que ajuda a entender um ensinamento do Talmud (Torá Oral). Está escrito no Talmud (Kidushin 49b) que cada local do mundo tem propensão a desenvolver certas características de comportamento. Um dos exemplos que o Talmud cita é a Babilônia, onde as pessoas tinham a característica de ser bajuladores, algo muito desprezado pela Torá. Como prova de que os babilônios eram bajuladores, o Talmud traz um versículo que descreve uma visão do profeta Zecharia, na qual duas mulheres com asas de cegonha traziam uma vasilha para a Babilônia. Rashi, comentarista da Torá e do Talmud, explica que aprendemos do versículo que os babilônios eram bajuladores pelo fato das asas das mulheres serem asas de cegonha. Mas por que aprendemos esta característica tão detestável justamente da cegonha?



Responde o Rav Yohanan Sweig com um fundamento muito importante do judaísmo. A palavra "amigo", em Lashon Hakodesh, é "Chaver", da mesma raiz de "Chibur", que significa "conectar-se". Quanto maior a amizade entre duas pessoas, maior a conexão entre elas e, portanto, maior a perda da independência das duas partes, pois o comprometimento em um relacionamento vem acompanhado de obrigações. Em uma amizade verdadeira, a pessoa deve estar sempre disponível para ajudar o amigo nos momentos de necessidade, não por bondade, mas por obrigação. Por isso, quando alguém sente que o que faz por um amigo é uma bondade, isto significa que ele entrou no compromisso com egoísmo, querendo manter sua independência, querendo manter o controle do relacionamento. Quando a Torá diz que a cegonha "faz bondade com seus amigos", significa que ela sente que cada coisa que faz pelos amigos é uma bondade. Portanto, ela não representa uma boa característica, ao contrário, representa o egoísmo, a falsidade e a falta de comprometimento.



Como isto se conecta com a bajulação? Se pararmos para refletir um pouco, a bajulação é nada mais do que uma forma de enganação no relacionamento entre duas pessoas. A bajulação é o ato de dar à outra pessoa uma falsa sensação de realidade. É um ato de manipulação, de egoísmo, uma tentativa de manter o controle do relacionamento para que seja sempre do seu jeito. Esta má característica vem do mesmo egoísmo que leva uma pessoa a não se comprometer em uma amizade. Esta é a característica da cegonha, certamente algo nada positivo e nem um pouco desejável para nós.



Fica para nós estes dois grandes ensinamentos que aprendemos da cegonha. Em primeiro lugar, que a bondade é verdadeira apenas quando nos preocupamos com todos, de forma irrestrita, e não apenas com aqueles que são mais próximos. Precisamos trabalhar para sentir a dor e a necessidade de todos. E em segundo lugar, temos que criar relacionamentos verdadeiros de amizade, nos quais entendemos nossas obrigações e as nossas responsabilidades. Este ensinamento também certamente se aplica ao casamento, onde um relacionamento verdadeiro deve ser baseado na premissa de um comprometimento mútuo, no qual cada ajuda que damos ao outro não é uma bondade, e sim uma obrigação.



O cuidado com a Kashrut é, entre outros motivos, uma maneira de cuidar das nossas boas características. Mas certamente que a alimentação Kasher deve vir acompanhada de um trabalho ativo de refinamento das nossas características. Não adianta apenas comer Kasher e ser grosseiro ou egoísta com os outros. Somente com estes dois elementos juntos, a boa alimentação e o trabalho constante para refinar nosso caráter, poderemos chegar ao mesmo nível de bondade e perfeição que chegaram os nossos patriarcas.



SHABAT SHALOM



R' Efraim Birbojm

quinta-feira, 12 de abril de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PESSACH II 5772

BS"D



EXPULSANDO A ESCURIDÃO - PESSACH II 5772 (13 de abril de 2012)



"Certa vez um rei muito sábio decidiu procurar um bom marido para sua filha preferida. Buscava um jovem que tivesse diversas boas qualidades, mas entre elas a que ele mais desejava era a sabedoria. Para isso, criou um desafio e anunciou que aquele que vencesse poderia casar-se com sua filha. Qual era o desafio? O pretendente deveria encher o salão principal do palácio com alguma substância leve e sem gastar muito tempo.



Vários candidatos se apresentaram para tentar vencer o desafio e conquistar o mérito de casar-se com a princesa. O primeiro trouxe uma enorme quantidade de penas, mas apesar de seu imenso esforço e vontade, o tempo passou e ele não conseguiu encher o salão inteiro. Já o segundo tentou encher o salão com uma seda fina, porém também desistiu após algum tempo. E assim centenas de pessoas tentaram encher o salão com os mais diversos materiais, mas não conseguiram. O rei, ao ver o fracasso de todos, ficou desesperado. Será que ninguém venceria o desafio? Será que não encontraria o marido ideal para sua filha?



Certo dia, um pretendente entrou no palácio. Para a surpresa de todos, ele vinha de mãos vazias. O rei então questionou:



- Meu jovem, se você não traz nada nas mãos, como pretende vencer o desafio? Com o que você vai encher o meu salão?



O jovem rapaz não respondeu, apenas pediu aos ajudantes do rei que apagassem completamente as luzes do salão. Quando o salão ficou completamente tomado pela escuridão, o jovem rapaz tirou uma pequena vela do bolso e a acendeu. A luz preencheu imediatamente todo o salão, expulsando a escuridão. O jovem havia vencido o desafio"



O mundo está repleto de maus atos, que se comparam à escuridão. Chegamos a ficar sem esperanças de ver um mundo melhor, mais justo e mais feliz. Mas temos que saber que cada bom ato que fazemos se compara a uma vela, que mesmo sendo pequena, tem o poder de expulsar a escuridão.



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Na noite desta quinta feira (12 de abril) novamente é Yom Tov, no qual comemoramos o sétimo dia de Pessach. O Yom Tov é um dia com mais Kedushá (Santidade), no qual, como no Shabat, nos abstemos de certas atividades criativas. Entendemos porque D'us determinou que o primeiro dia de Pessach fosse Yom Tov, já que neste dia ocorreu a saída do Egito. Mas o que houve de especial no sétimo dia de Pessach, que justifica outro Yom Tov?



Mesmo depois dos judeus terem saído do Egito, após as 10 pragas devastadoras, a escravidão não havia terminado definitivamente. Eles ainda se sentiam escravos, pois apesar de já terem escapado do local de escravidão, sabiam que os egípcios poderiam persegui-los através do deserto para levá-los de volta. E os judeus estavam certos, pois foi justamente isto que ocorreu. Os judeus ainda não haviam se afastado muito quando o Faraó, sem medo das consequências, juntou 600 charretes de guerra e seus melhores homens e partiu em sua perseguição. Os judeus viram-se completamente cercados: dos lados, o deserto inóspito, cheio de animais perigosos. Diante deles, o Mar Vermelho, instransponível. E atrás deles, o bem treinado exército egípcio, declarando guerra contra eles. Foi então que D'us preparou o grande final, abrindo o mar para que os judeus passassem em terra firme e fechando-o sobre os egípcios, matando todo o exército e libertando definitivamente os judeus.



Mas como podemos entender esta obstinação do Faraó? Será que ele era tão tolo? Depois de ter presenciado as 10 pragas, após ter visto que D'us tem poder infinito e controle sobre toda a natureza, o Faraó não sabia que seu exército seria facilmente esmagado? Após sentir a mão pesada de D'us na morte dos primogênitos, ele foi pessoalmente permitir aos judeus que saíssem do Egito, então por que voltou a perseguir os judeus, alheio às terríveis consequências que certamente viriam?



A Torá explica que mais uma vez D'us endureceu o coração do Faraó, e somente por isso ele O desafiou novamente. Em outras palavras, o grande milagre da abertura do mar precisava acontecer, a para garantir que aconteceria, D'us forçou o Faraó a perseguir os judeus. Mas por que foi necessário mais este milagre? Afinal, se todo o propósito de D'us ter quebrado as leis da natureza nas 10 pragas era libertar o povo judeu do Egito, o propósito já havia sido alcançado. Então por que foi necessário endurecer o coração do Faraó mais uma vez? O que o milagre da abertura do mar acrescentou ao povo judeu?



Outra pergunta que surge é em relação à reação do povo judeu após a morte do exército egípcio. Quando eles viram os egípcios mortos na praia, imediatamente fizeram um cântico de louvor a D'us, chamado "Shirat Haiam" (Cântico do mar). Antes eles estavam encolhidos de medo, mas agora eles comemoravam, cantando de alegria. Porém, há um Midrash (parte da Torá Oral) que parece contraditório com a reação do povo judeu. O Midrash conta que quando os egípcios morreram, os anjos também se alegraram e começaram a cantar. Imediatamente D'us interrompeu a comemoração dos anjos e disse: "Minhas criaturas estão morrendo e vocês querem fazer cânticos de louvor para Mim?". Como podemos entender este Midrash? Se D'us deu uma bronca nos anjos por causa da falta de sensibilidade deles, por que a Torá não criticou o povo judeu pelo mesmo motivo? Além disso, o "Shirat Haiam" foi inserido no texto de Shacharit (reza da manhã). Se este cântico é algo indesejável para D'us, por que o repetimos todos os dias?



Para responder estas perguntas, precisamos antes entender o que são os anjos. Em Lashon Hakodesh (língua com a qual D'us criou o mundo e escreveu a Torá), a palavra "anjo" é "Malach", que também significa "mensageiro". Um anjo é uma criatura cuja única função é cumprir a missão designada por D'us. O nome da cada anjo representa a sua essência, isto é, a missão para a qual ele foi criado. Por exemplo, o anjo Rafael é o anjo da cura ("Refua" é "cura" em Lashon Hakodesh). Os anjos, portanto, não tem livre escolha. Um entregador do correio que está a caminho de entregar um pacote não precisa decidir se a pessoa merece ou não receber a encomenda, ele deve apenas cumprir a sua função. Assim também os anjos devem cumprir exatamente o que D'us comandou, nem a mais nem a menos. Eles não precisam desenvolver um senso de justiça, de certo e errado, de bom e mal. Por isso era desnecessário, e até mesmo inapropriado, que eles cantassem de alegria diante da morte das criaturas de D'us.



Os seres humanos, ao contrário, foram criados com livre escolha. Nossas escolhas entre o bem e o mal fazem muita diferença. Nós precisamos trabalhar para desenvolver o senso de justiça e a vontade de lutar para que o bem vença o mal, como diz David Hamelech: "Aqueles que amam D'us odeiam o mal" (Salmos 97:10). Por isso para o povo judeu era apropriado, necessário e até mesmo digno de louvor expressar a alegria quando a justiça foi feita e eles viram o bem derrotando o mal.



Mas o que havia de diferente entre o milagre da abertura do mar e os milagres das 10 pragas no Egito? Nas 10 pragas, o povo judeu era apenas um espectador, completamente passivo, não estava em guerra contra o mal. Já na abertura do mar houve uma declaração de guerra entre os egípcios e o povo judeu. D'us queria, com a abertura do mar e a morte dos egípcios diante dos olhos de todo o povo, colocar no coração de cada judeu a noção de justiça, da necessidade de lutar pelo bem. E nossos sábios fixaram este cântico na Tefilá diária justamente para que possamos sempre refletir sobre a necessidade de fazer o bem e lutar contra o mal.



Vivemos sonhando com um mundo onde o mal não existe, onde todos fazem o bem e a paz reina. Não é uma utopia, pois este é o propósito do mundo, é a realidade na qual um dia certamente chegaremos. Mas não podemos viver sonhando, precisamos viver na realidade de que o mal ainda existe e precisamos lutar contra ele. Martin Luther King, um grande líder negro dos Estados Unidos, eternizou uma frase interessante: "Pior do que a maldade dos perversos é o silêncio dos justos". Não podemos nos acomodar, não podemos enxergar a maldade como algo normal e aceitável. Não podemos nos trancar em nossas casas e viver como se o mal não existisse lá fora.



Mas como se luta contra o mal? Praticando ativamente o bem. Através de atos de Chessed (bondades), do cumprimento das Mitzvót e do refinamento das nossas características pessoais, como a paciência e a humildade. Dizia o Rav Noach Weinberg zt"l, que dedicou a vida para trazer judeus de volta ao judaísmo, que uma de suas maiores motivações era lembrar que os nazistas, a serviço do mal, mataram 6 milhões de judeus. Eles se esforçavam, pensavam o tempo inteiro em como ser mais eficientes, em como matar mais judeus de uma só vez. O Rav Noach Weinberg dizia que se o mal conseguiu destruir a vida de 6 milhões de judeus, precisamos nos esforçar com toda a nossa energia para que, através do bem, possamos trazer muito mais do que 6 milhões de judeus de volta aos caminhos da bondade e do conhecimento da Torá e das Mitzvót. Não é suficiente apenas boas intenções, precisamos de esforço e determinação.



Fomos ensinados que não somos especiais, que somos apenas "mais um tijolo na parede". Mas a verdade é que o futuro do mundo está nas mãos de cada um de nós. Cada alma é uma vela na escuridão. Cada alma pode iluminar a vida de muitas pessoas à sua volta. Pois toda a escuridão do mundo não pode extinguir a luz de uma pequena vela acesa. Por isso, cada pequeno bom ato vale muito.



Que em Pessach cada um de nós possa sair de sua própria escravidão, e que possamos acender a nossa própria vela para iluminar, inicialmente as pessoas à nossa volta, e aos poucos o mundo inteiro.



CHAG SAMEACH E SHABAT SHALOM



R' Efraim Birbojm

quinta-feira, 5 de abril de 2012

SHABAT SHALOM MAIL - PESSACH 5772

BS"D



PENSANDO NOS OUTROS - PESSACH 5772 (06 de abril de 2012)



"O pai do Rav Paysach Krohn procurava cumprir com perfeição a Mitzvá de "Achnassat Orchim" (receber convidados). Ele preparou no sótão de sua casa um local especial para receber hóspedes, com tudo o que era necessário para que o convidado tivesse tranquilidade e se sentisse à vontade. Muitas personalidades de Torá passaram pela sua casa e desfrutaram de sua recepção calorosa. E ele fazia questão de não cobrar nada dos seus convidados pela estadia.



Porém, com o Rav Shalom Shwadron, mais conhecido como "O Maguid de Yerushalaim", foi diferente. Assim que ele chegou aos Estados Unidos, foi convidado para ficar na casa do pai do Rav Paysach Krohn, mas ele se recusou a ficar sem pagar pela estadia. Após muita insistência, o dono da casa concordou em cobrar. Fez as contas e, para a surpresa do Rav Shalom Shwadron, pediu um valor extremamente alto. Mas como ele sabia que não encontraria nenhum outro lugar onde ficaria tão confortavelmente instalado, aceitou.



Com o tempo, uma grande amizade se criou entre o Rav Shalom Shwadron e a família do Rav Paysach Krohn. Passados cinco meses, o Rav Shalom Shwadron decidiu que era hora de voltar para Israel. No dia da partida, toda a família acompanhou o ilustre hóspede até o navio que o levaria de volta para casa. Na privacidade da cabine do Rav Shalom Shwadron, o pai do Rav Paysach Krohn estendeu para ele um envelope cheio de dinheiro. Diante da expressão de dúvida do Rav Shalom Shwadron, ele explicou:



- Este é o dinheiro dos últimos cinco meses de aluguel que você me pagou. Eu nunca tive intenção de receber um único centavo deste dinheiro, ao contrário, nós é que deveríamos ter pago por tudo o que recebemos de você durante este período. Todo o dinheiro que eu recebi foi diretamente colocado neste envelope.



O Rav Shalom Shwadron foi pego tão de surpresa que sua única reação foi rir e perguntar:



- Se você nunca teve intenção de receber o dinheiro, então por que cobrou um valor tão alto?



O pai do Rav Paysach Krohn respondeu com um largo sorriso no rosto:



- Eu quis te deixar à vontade para que utilizasse tudo o que havia em casa. Se eu tivesse pedido um valor baixo, você acharia que pagou pouco e ficaria receoso em utilizar o telefone, a eletricidade e a comida. Mas ao pedir um valor alto, eu tive a certeza de que você usaria tudo o que precisava sem nenhum tipo de constrangimento.



Então, com lágrimas nos olhos, os dois se abraçaram e se despediram"  



Este é um exemplo do que a Torá exige em relação à forma como devemos fazer bondades, procurando entender realmente o que o outro necessita. Quando convidamos alguém em nossa casa, naturalmente a pessoa se sente inibida. Devemos fazer de tudo para que nossos convidados se sintam à vontade.



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O próximo Shabat coincide com a festa de Pessach, a época do ano em que revivemos a libertação da escravidão egípcia, depois de mais de dois séculos de sofrimentos, humilhações e trabalhos pesados. Na primeira noite (e fora de Israel também na segunda noite) reunimos nossas famílias e amigos e, com muita alegria, fazemos o Seder de Pessach, seguindo os 15 passos da Hagadá. Um dos passos centrais é o "Maguid", no qual lemos em voz alta os textos que recontam todos os detalhes da escravidão e a posterior salvação do povo judeu.



Começamos o "Maguid" com o texto "Ha Lachmá Aniá" (Este é o pão da pobreza). Neste texto nós convidamos todo aquele que tem fome, que venha e coma conosco, e todo aquele que necessita de um lugar para comer o Korban Pessach (sacrifício de Pessach), que venha e participe conosco. Em outras palavras, começamos o Seder de Pessach com um gesto muito bonito, convidando todos os pobres e necessitados a participarem das comemorações conosco.



Mas este convite traz consigo uma série de questionamentos. Em primeiro lugar, este convite é feito no local errado, pois quando o fazemos, já estamos na privacidade de nossas casas, onde nenhum pobre pode escutar. Por que não fazemos o convite em voz alta na sinagoga, anunciando a todos que nossa casa está aberta a qualquer um que queira participar? Além disso, o convite é feito no momento errado, apenas depois do Kidush, e aquele que não escutou o Kidush não pode participar da refeição. Se o intuito é receber convidados no momento do "Há Lachmá Aniá", por que o convite não é feito antes do Kidush? E finalmente, o Korban Pessach não precisava ser oferecido individualmente, ele podia ser oferecido por um grupo de pessoas. Durante o Seder, o Korban que havia sido oferecido era dividido entre todos os participantes do grupo, de forma que todos recebiam uma parte para comer. Mas a Halachá (lei judaica) ensina que se uma pessoa quisesse comer do Korban Pessach oferecido por certo grupo, ela já deveria fazer parte do grupo no momento em que o animal era sacrificado. Então por que convidar para comer do nosso Korban Pessach uma pessoa estranha, que não fazia parte do grupo no momento do sacrifício, já que ela não poderia, de acordo com a Halachá, comer deste Korban?



A explicação mais simples é que, na verdade, o convite é apenas simbólico. Existe uma Mitzvá chamada "Kimcha d'Pischa", que consiste em levantar fundos para que todo judeu possa ter um Seder de Pessach honrado, mesmo os mais carentes. Muitas pessoas e instituições participam desta importante Mitzvá, ajudando a recolher fundos e distribuí-los entres os necessitados. Todo judeu tem a obrigação de se preocupar com os outros judeus e participar desta importante Mitzvá. Quando finalmente chegamos ao Seder de Pessach, simbolicamente convidamos todos os necessitados, pois por termos ajudado os pobres a terem um Seder honrado, é considerado como se estivéssemos convidando-os para nossa própria mesa.



Mas segundo o Rav Yohanan Sweig, há uma explicação mais profunda. Ensina o Talmud (Baba Batra 98b) que não é correto um convidado trazer outro convidado. Este ensinamento é uma grande lição de "bons modos". Quando uma pessoa recebe um convite para comer em algum lugar, não pode trazer consigo um amigo sem a permissão do dono da casa. A única exceção a esta regra é se o convidado for alguém importante e honrado, e neste caso ele pode trazer outro convidado mesmo sem pedir permissão ao dono da casa.



Mas como este conceito se conecta com o "Ha Lachmá Aniá" da Hagadá? Explica o Rav Yohanan Zweig que o Seder de Pessach é a celebração da salvação do povo judeu e, por isso, esta noite deve ser muito especial para todos os judeus. Mas em geral, quem está passando o Seder como convidado em outra casa se sente um pouco inibido, não consegue se sentir totalmente à vontade. Para evitar este sentimento e incentivar que todos participem bastante nesta noite, começamos o Seder permitindo que os nossos convidados convidem outras pessoas. Assim, fazemos com que todos se sintam pessoas honradas, para que possam participar de maneira mais espontânea. Nesta noite cada judeu deve se sentir como se tivesse saído pessoalmente do Egito, e por isso é imprescindível que os convidados se sintam confortáveis, para que falem livremente e possam cumprir a Mitzvá de recontar a saída do Egito, como diz o versículo "E contarás ao seu filho neste dia" (Shemot 13:8). Portanto, o convite do "Ha Lachmá Aniá" é feito para os convidados já presentes, para que se sintam completamente à vontade, e não para os convidados que estão ausentes.



Daqui vemos a importância de deixar nossos convidados à vontade e fazer de tudo para evitar qualquer tipo de constrangimento. Nossos sábios levaram este ensinamento muito a sério e constantemente o aplicaram na prática. Por exemplo, o Rav Yom Tov Heller, mais conhecido como Tossafot Yom Tov, costumava derramar vinho na toalha limpa durante o Seder de Pessach, para que seus convidados, caso acidentalmente derramassem vinho, não se sentissem envergonhados.



A verdade é que não devemos utilizar este ensinamento apenas para o Seder de Pessach, devemos praticá-lo em todas as áreas de nossas vidas. Devemos desenvolver nossa sensibilidade em relação aos outros, sentir a necessidade do próximo, buscar fazer as bondades de forma completa, não apenas com os nossos convidados, mas com todos à nossa volta. Somente quando cada judeu realmente se preocupar com o próximo teremos o mérito de ver o cumprimento das últimas palavras da Hagadá: "No próximo ano em Jerusalém reconstruída". Que elas se cumpram, com a ajuda de D'us e a nossa contribuição, ainda este ano.



SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VE SAMEACH



R' Efraim Birbojm