sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ LECH LECHÁ 5770

BS"D
TIRANDO AS PEDRAS PRIMEIRO – PARASHÁ LECH LECHÁ 5770 (30 de outubro de 2009)
"Há muitos anos atrás, em um lugar distante, havia um reinado cujo rei era um homem muito sábio. O rei oferecia tudo o que era necessário para os súditos, mas mesmo assim eles estavam sempre reclamando. Uma das reclamações era para que o rei melhorasse as condições das estradas. O rei então decidiu colocou uma pedra enorme bem no meio da principal estrada do reino, e se escondeu para observar o comportamento das pessoas. Se o povo se mobilizasse para tirar a pedra, mostrando que eles realmente queriam estradas melhores, ele estava disposto a reformar todas as estradas. Mas se eles não fizessem nada, era um sinal de que queriam apenas reclamar das coisas. Sentou-se e ficou observando.
Alguns dos maiores comerciantes do reino e vários membros da corte passaram por ali, e ao invés de tentar retirar a pedra que estava no meio da estrada, simplesmente deram a volta nela. Muitos deles esbravejaram contra o rei que não mantinha as estradas limpas, mas nenhum deles tentou sequer mover a pedra grande para fora do caminho.
Então passou um simples camponês com uma carroça carregada de vegetais. Quando chegou à pedra, ele desceu e começou a tentar movê-la para fora da estrada. Depois de muita luta e suor, ele finalmente conseguiu. Notou então que no local onde estava anteriormente a grande pedra havia uma bolsa que continha muitas moedas de ouro e uma carta do rei, indicando que o ouro era para a pessoa que tivesse removido a pedra do caminho. O simples camponês não só havia começado o conserto da estrada, mas havia também garantido o seu futuro e o de sua família"
Assim ocorre em nossas vidas. Antes de consertar a estrada da nossa vida, precisamos retirar as pedras que bloqueiam nosso caminho. E ao invés de reclamar, devemos nos esforçar e fazer a nossa parte.
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A Parashá desta semana, Lech Lechá, descreve alguns dos dez testes de Avraham Avinu, entre eles o de sair da comodidade da sua casa e ir para uma terra estranha, como diz o versículo "D'us disse para Avram: Saia da sua terra, dos seus parentes e da casa do seu pai, e vá para a terra que Eu te mostrarei" (Bereshit 12:1). Deste episódio ficam algumas perguntas. Por que D'us não revelou para Avraham que o destino final era a terra de Israel? Além disso, Lót, o sobrinho de Avraham, o acompanhou neste teste. Se para Avraham o teste de abandonar tudo e ir para uma terra estranha foi difícil, muito mais para Lót, que era uma pessoa muito materialista. Portanto, os méritos de Lót são maiores do que os de Avraham. Porém, sabemos que no final Avraham se tornou um dos pilares espirituais do mundo, enquanto Lót terminou de forma medíocre, indo viver na cidade de Sdom, um lugar de pessoas perversas, apenas porque era um bom lugar para seu rebanho crescer e se desenvolver. Por que esta diferença tão grande, se os méritos de Lót neste teste foram ainda maiores do que os de Avraham?
Existem muitas pessoas que tentam melhorar e não conseguem. Eles se esforçam, mas no final acabam caindo novamente. Por que isso acontece? A resposta está em um dos Salmos do Rei David: "Se afaste do mal e faça o bem". Este versículo nos ensina que, antes mesmo de pensar em crescer, o primeiro passo é se afastar do mal. Muitos tentam crescer sem abandonar suas más inclinações, e por isso não conseguem crescer. É como alguém tentasse escrever sobre algo que já está escrito, fica impossível ler. Mas se começamos o nosso crescimento arrancando desde o princípio nossos maus hábitos e más características, é como se estivéssemos recomeçando a escrever em uma folha em branco.
Este conceito pode ser observado mesmo no mundo material. Quando um agricultor termina uma colheita e quer recomeçar o plantio, antes ele passa um arado em todo campo. A principal função do arado é arrancar as ervas daninhas, que atrapalham o crescimento da plantação, desde a raiz. Se somente arrancamos as ervas daninhas superficialmente, sem tirar sua raiz da terra, em poucos dias ela volta a brotar e a estragar a produção.
Nos ensina o Rav Yehuda Leib Chasman que esta foi a diferença entre Avraham e Lót. Antes de Avraham começar o seu caminho de crescimento espiritual, ele arrancou do coração todas as coisas negativas anteriores. Lót, ao contrário, nunca abandonou em seu coração suas más características, e por mais que ele tentou crescer e seguir os passos de Avraham, sempre foi um crescimento momentâneo, e no primeiro teste que apareceu ele caiu novamente
Todo o momento em que a pessoa não conseguiu arrancar de si suas más inclinações, ela não consegue enxergar o seu potencial espiritual e até onde consegue crescer. Não temos idéia do quanto podemos nos elevar, ficamos presos em nossas próprias limitações e nos acomodamos. D'us não falou para Avraham que ele estava indo para a terra de Israel pois ele não entenderia. Primeiro ele precisou sair da sua casa, isto é, das más influências anteriores, para conseguir enxergar qual era o seu verdadeiro potencial.
Para construir um novo edifício, é necessário derrubar o edifício anterior. As fundações do novo edifício precisam estar apoiadas em um solo que já foi limpo de todas as sujeiras anteriores. Assim é um dos fundamentos do nosso crescimento espiritual, se queremos um dia construir uma grande edificação espiritual, o primeiro trabalho é começar a "limpar o terreno"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NOACH 5770

BS"D
MILAGRES – PARASHÁ NOACH 5770 (23 de outubro de 2009)
"Havia um alpinista que sempre buscava superar seus limites e vencer novos desafios. Depois de muitos anos de preparação, ele decidiu que havia chegado o momento de escalar o monte mais alto do mundo. Como não encontrou pessoas dispostas a encarar tamanho perigo, ele resolveu escalar sozinho, apesar de isso aumentar ainda mais a dificuldade da escalada.
Ele começou a subida, e estava tão obstinado que não sentiu o tempo passar. Foi ficando cada vez mais escuro, mas ele decidiu não parar para acampar. Queria seguir escalando, pois estava decidido a atingir o topo o mais rápido possível.
Como o céu estava completamente encoberto, quando escureceu de vez, a noite caiu como um breu nas alturas da montanha, e não era possível enxergar nem mais um centímetro diante dos olhos, não se via absolutamente nada. Tudo era uma grande escuridão. Mas o alpinista decidiu que continuaria mesmo assim. Quando chegou a um trecho que era uma verdadeira "parede", sua mão escorregou e ele caiu. Caía a uma velocidade vertiginosa, e somente sentia a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade. Ele continuava caindo e, nesses angustiantes momentos, passaram por sua mente todos os momentos que ele já havia vivido em sua vida.
De repente, ele sentiu um puxão forte, que quase o partiu pela metade. Como todo alpinista experimentado, ele havia cravado estacas de segurança com grampos a uma corda comprida, e a corda estava fixa em sua cintura. Nesses momentos de silêncio, com seu corpo ferido suspenso pela corda, em uma completa escuridão, não restou para ele nada além de gritar para D'us e pedir Sua ajuda. De repente uma voz vinda do céu falou:
- Você realmente acredita que Eu posso te salvar?
- Eu tenho certeza, D'us – respondeu o alpinista.
- Então corte a corda que te mantém pendurado.
Houve um momento de silêncio e reflexão. O homem se agarrou mais ainda à corda e refletiu que, se a largasse, morreria. A queda seria fatal, não havia chance de sobreviver. Ele acreditava em D'us, mas não podia largar aquela corda.
Dois dias depois uma equipe de resgate encontrou um alpinista morto, congelado, agarrado com as duas mãos a uma corda, a dois metros do chão!!!"
Vivemos em um mundo onde parece que estamos sujeitos às forças da natureza, que elas têm o controle. Mesmos cientistas conceituados preferem acreditar em acasos, em probabilidades ínfimas. Este bloqueio são como cordas, que nos deixam amarrados, a poucos metros da verdade. Cortem as suas cordas.
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Nesta semana lemos a Parashá Noach, que conta sobre o quanto os homens haviam se corrompido e se desviado dos caminhos corretos, e o consequente dilúvio que apagou a humanidade da face da Terra. Noach (Noé) e sua família foram escolhidos por D'us para recriar a humanidade, justamente pelo fato de Noach, apesar de toda a influência negativa de sua geração, ter se mantido uma pessoa íntegra, como diz o versículo "Noach andava com D'us" (Bereshit 6:9). Explica o Rav Yechezkel Levinshtein que "andar com D'us" significa que Noach era uma pessoa que tinha uma grande Emuná (fé). Como ele expressava isso na prática?
Quando D'us decidiu destruir a humanidade, Ele se revelou para Noach e deu-lhe a tarefa de construir uma gigantesca Arca sobre uma montanha. Ele avisou para Noach que traria ao mundo um grande dilúvio, que destruiria os seres humanos e todos os animais. A Torá descreve as dimensões da arca: "300 amót de comprimento (aproximadamente 150 metros), 50 amót de largura (aproximadamente 25 metros) e 30 amót de altura (aproximadamente 15 metros)" (Bereshit 6:15). A arca tinha 3 níveis, sendo que o superior seria para Noach e sua família, o do meio para os animais e aves e o inferior para o lixo. Porém, se levarmos em consideração que de cada animal foram levados para a Arca um par, e dos animais puros foram levados 7 pares, é impossível que todos tenham cabido dentro desta Arca. E fora os animais, também foi necessário levar comida para todos eles, para um período de um ano. Quando Noach fez as contas, concluiu que mesmo que a Arca fosse dez vezes maior também não comportaria todos os animais e a comida. Apesar disso, por muitos anos Noach trabalhou na construção da Arca sem nunca questionar D'us. As pessoas em sua volta o ridicularizavam, chamando-o de louco, mas ele não desistiu, pois ele manteve sua Emuná. E no final, D'us realmente fez um grande milagre e tudo coube na Arca. Mas fica uma pergunta: se D'us já teria que fazer um milagre, por que a Arca tinha que ser tão grande? Por que Ele não pediu para que Noach construísse apenas um pequeno bote?
D'us justamente criou o mundo material para poder se ocultar, nos dando a oportunidade de exercer o nosso livre-arbítrio e assim meritar por cada escolha correta que fazemos. Por isso, mesmo quando D'us precisa fazer um milagre aberto, Ele tenta fazer de maneira que fique sempre uma brecha para os que não querem enxergar. Se D'us pedisse para Noach fazer uma Arca pequena, o milagre seria aberto demais. Já com uma Arca grande, apesar de tecnicamente ser impossível que todos os animais entrassem nela, mesmo assim ficou a brecha para os que querem errar e se desviar.
Mas afinal, qual é o objetivo de D'us ao fazer milagres abertos? A resposta é que os milagres abertos, nos quais a mão de D'us fica mais evidente, como os que ocorreram no dilúvio ou na saída do Egito , nos despertam para a realidade de que tudo é um grande milagre, e mesmo o que parece ser apenas forças da natureza é, em última instância, o cumprimento da vontade de D'us. Na realidade, a palavra "Milagre", em Lashon Hakodesh (língua com a qual D'us criou o mundo e escreveu a Torá) é "Ness", que vem da mesma raiz da palavra "Nissaion", que significa "Teste", pois no fundo todo milagre que acontece é um teste se vamos conseguir enxergar a mão de D'us.
Este teste está presente em nossas vidas todos os dias. Durante os 40 anos em que o povo judeu passou no deserto, o alimento literalmente caiu do céu. O "Man" (Maná) caía diariamente e alimentava todo o povo, e ninguém tinha dúvidas de que era um grande milagre de D'us. Mas quando nós comemos um pão que veio da terra, enxergamos o milagre de D'us ou pensamos que é apenas natureza? A verdade é que não existe nenhuma diferença no tamanho do milagre entre cair Man do céu e comer um pão que foi tirado da terra, mas como comer o pão é algo comum, algo que já estamos acostumados, perdemos a percepção do grande milagre que ocorre. Provavelmente se caísse Man até hoje em dia, também não enxergaríamos mais o quanto é milagroso.
Ensina o livro "Chovót Halevavót" que é fácil perceber a mão Divina ao refletir sobre a Sua Criação. Uma pequena semente é uma grande prova de D'us. Uma semente de laranja atirada no solo produz uma gigantesca árvore com centenas de laranjas, e cada laranja com dezenas de novas sementes. É algo natural que esta pequena semente, pequena e frágil, possa ter força para produzir tanto? Somente há lugar para equívocos quando não paramos para refletir.
Um dos principais trabalhos que o ser humano tem neste mundo é refletir e enxergar que tudo é um milagre, não existe natureza. A natureza é apenas um instrumento de D'us para nos testar. Por um lado temos que nos esforçar neste mundo, temos a obrigação de fazer a nossa parte para diminuir os milagres, mas precisamos pensar e refletir até que tenhamos conseguido colocar no coração que tudo, sem nenhuma exceção, vem de D'us, e é apenas Nele que nós devemos confiar.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BERESHIT 5770

BS"D

VIVER PELOS OUTROS – PARASHÁ BERESHIT 5770 (16 de outubro de 2009)
"Havia um médico chamado Dr. Williams que dedicou sua vida a ajudar pessoas necessitadas. Ele tinha um pequeno consultório em cima de uma mercearia, na área pobre de uma grande cidade. Na frente da mercearia havia uma pequena placa onde se lia "O Dr. Williams está lá em cima".
Por muitos anos o Dr. Williams trabalhou em várias causas humanitárias. Trabalhava todos os dias até altas horas, nunca havia deixado de atender um paciente que necessitava de ajuda. Muitas vezes recebia chamados de madrugada e nunca havia se recusado a atender uma pessoa doente. A maioria de seus pacientes não tinha condições de pagar a consulta, e ele nunca cobrou daqueles que não podiam pagar.
O Dr. Williams viveu sua vida inteira de maneira muito simples. Quando ele morreu, não havia deixado guardado nem mesmo o dinheiro para o seu enterro. Seus familiares e pacientes se esforçaram para conseguir o dinheiro para que ele fosse enterrado de maneira digna. Porém, o dinheiro conseguido não era suficiente para comprar uma lápide. Todos ficaram tristes com a idéia de que o túmulo do querido Dr. Williams, que havia ajudado tantas pessoas, ficaria sem nenhuma identificação. Até que um dos seus pacientes teve uma brilhante idéia. Saiu apressado e voltou depois de alguns minutos com algo na mão. Ele havia tirado a placa que estava fixada na frente da mercearia, e colocou-a sobre o túmulo. Agora todos os que passavam no cemitério olhavam aquele túmulo sobre o qual se liam as palavras "O DR. WILLIAMS ESTÁ LÁ EM CIMA" "
Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Todo aquele com quem as pessoas estão contentes, D'us também está contente com ele". Quando fazemos o bem ao próximo, D'us faz questão de nos mostrar o quanto Ele está contente conosco.
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Nesta semana recomeçamos o ciclo anual da leitura da Torá com o primeiro livro, Bereshit, que trata desde a Criação do mundo até a ida de Yaacov com seus filhos para o Egito. E a Parashá desta semana, Bereshit, descreve a Criação dos primeiros seres humanos, Adam (Adão) e Chavá (Eva). Eles tiveram dois filhos, um chamado Caim, que se dedicou ao trabalho da terra, e outro chamado Abel, que se dedicou ao pastoreio de animais. Caim decidiu fazer uma oferenda para D'us, e ofereceu frutas do campo. Abel gostou da idéia e também fez uma oferenda para D'us, oferecendo animais. A oferenda de Abel, que escolheu para D'us seus melhores animais, foi aceita, mas Caim errou ao separar para si as melhores frutas e oferecer para D'us o que sobrou, e por isso sua oferenda não foi aceita. E então a Torá nos descreve o primeiro assassinato da história, quando Caim, completamente dominado pela inveja que sentia por seu irmão, matou-o.
Entendemos por que Caim decidiu matar Abel, e daqui enxergamos o quanto a inveja pode literalmente destruir vidas. Porém, fica uma grande pergunta: segundo o judaísmo, nada acontece sem Supervisão Divina, cada pequeno evento neste mundo somente ocorre se D'us permite. Então se Abel morreu, não foi por causa da inveja de Caim, e sim porque nos Mundos Celestiais já havia para ele um decreto de morte. Qual o motivo deste decreto?
Para entender, precisamos olhar com mais atenção o que ocorreu após D'us ter aceitado a oferenda de Abel e ter recusado a oferenda de Caim. Assim diz a Torá: "Falou Caim com seu irmão Abel. E eis que, quando estavam no campo, Caim se levantou contra seu irmão Abel e o matou" (Bereshit 4:8). Mas afinal, o que Caim e Abel conversaram momentos antes do assassinato?
Explicam nossos sábios que Caim encontrou seu irmão Abel no campo. Caim estava desconsolado e deprimido, pois sua oferenda não havia sido aceita por D'us. Então ele desabafou com Abel e disse: "Você viu, meu irmão, nossa oferenda não foi aceita por D'us". Mas ao invés de consolar seu irmão, ajudando-o a consertar o erro cometido, Abel simplesmente respondeu para ele: "Caim, a SUA oferenda não foi aceita, a minha foi. O problema é seu, não meu". E justamente por ter tirado de si a responsabilidade de ajudar ao próximo é que Abel recebeu um decreto de morte celestial. Mas o que Abel fez de tão grave? Ele realmente falou a verdade, sua oferenda havia sido aceita. O problema era de Caim, que não fez uma boa oferenda!
O mundo foi criado apenas pela vontade de D'us de fazer conosco bondade, como está escrito "Olam Chessed Ibane" (Vou Criar um mundo de bondade). E justamente um dos pilares que sustenta o mundo é o Chessed (bondade), como diz o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "o mundo é sustentado por três coisas: pela Torá, pelo Serviço a D'us e pelos atos de Chessed". Se falta o pilar de Chessed, o mundo não pode se sustentar. Com Caim e Abel, D'us estava formando a humanidade, e era incompatível que esta característica de Abel, de não se importar com o sofrimento dos outros, de dizer ao próximo "problema seu", fosse passada adiante. Por isso Abel recebeu imediatamente um decreto de morte celestial.
Existem outros episódios na Torá que ressaltam o quanto D'us se importa com o Chessed que fazemos com os outros e o quanto Ele se incomoda quando deixamos de nos importar com o próximo. Todas as nações do mundo podem se converter ao judaísmo, mesmo as que fizeram o povo judeu sofrer, como os egípcios. Porém, a Torá traz duas exceções: os povos de Amon e Moav. Por que? Pois quando o povo judeu saiu do Egito, sem ter o que comer nem o que beber, eles se recusaram a nos dar pão e água. Povos que têm esta característica tão egoísta não podem fazer parte do povo judeu, um povo que tem a obrigação de ser uma Luz para as nações, ensinando para o mundo inteiro os valores morais contidos na Torá.
Muitas vezes consideramos que somos boas pessoas pois damos 1 real de esmola a um mendigo e fazemos pequenos favores aos nossos amigos mais próximos. Mas será que é só isso que podemos ajudar aos outros? Esse é o nosso potencial? Uma pessoa que poderia dar 100 reais mas dá apenas 1 real está fazendo um ato de bondade ou está sendo egoísta? Todos gostam de fazer bons atos, é parte do ser humano, mas muitas vezes pensamos "Eu quero fazer o bem, mas tem limites. Não às custas do meu sono, do meu tempo livre ou do meu dinheiro. Se está ao meu alcance eu faço, se tiver que me esforçar muito já não é mais minha obrigação". Mas afinal, o que D'us quer realmente de nós? Qual é o nosso verdadeiro potencial?
O profeta Michá responde nossa pergunta: "O que D'us exige de vocês é que façam justiça e tenham Ahavat Chessed" (Michá 6:8).Chessed é fazer bondades, Ahavat Chessed significa ter amor pelas bondades. Qual a diferença entre Chessed e Ahavat Chessed? Chessed é visitar um amigo que necessita de ajuda às 2 da tarde. Ahavat Chessed é visitar um amigo que necessita de ajuda às 2 da manhã. Quando amamos algo, não colocamos limites aos nossos esforços. É isso o que D'us exige de nós. E Ele exige muito pois nos deu um potencial gigantesco de ajudar e de se importar com os outros.
A proximidade que teremos com D'us durante toda a eternidade dependerá de quanto nos conectarmos com Ele durante nossa vida neste mundo. Quanto mais uma pessoa se comporta como D'us, mais ele se conecta com o Criador. Da mesma forma que durante todo o tempo D'us só faz bondades conosco sem receber nada em troca, assim também nós precisamos nos comportar com as outras pessoas, para nos assemelhar e nos conectar com Ele por toda a eternidade.
"Pois isto é o homem: Não para si mesmo foi criado, e sim para ajudar ao próximo, com toda a força que tiver" (Rav Chaim Vologiner).
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - SHMINI ATSERET E SIMCHÁ TORÁ 5770

BS"D
TESOUROS ESCONDIDOS – SHMINI ATSÉRET E SIMCHÁ TORÁ 5770 (09 de outubro de 2009)
"Em uma pequena cidade morava um simpático velhinho que vivia uma vida simples. Certo dia, ao cavar seu jardim para plantar uma árvore, ele encontrou um tesouro enterrado. Eram muitas jóias de valor inestimável. Mas apesar da grande alegria de ter encontrado algo tão valioso, ele teve medo que sua fortuna iria atrair muitos interesseiros, e por isso ele preferiu continuar vivendo modestamente. Para que ninguém desconfiasse, ele decidiu esconder as jóias dentro das paredes da sua casa.
Após algum tempo o velhinho ficou muito doente e morreu de repente, sem tempo de contar para seu único descendente, um parente muito distante, o seu grande segredo. O rapaz, que era muito pobre, ficou contente ao saber que havia herdado a casa do velhinho, e imediatamente mudou-se para lá, sem imaginar os grandes tesouros que aquelas paredes ocultavam.
Certo dia o rapaz perdeu um pequeno objeto. Ao procurá-lo, percebeu que havia uma pequena abertura em uma das paredes da casa. Ao se aproximar mais ele viu que havia lá dentro um brilho estranho. Abriu um pouco mais a abertura na parede e encontrou um colar de diamantes. Ele dançou e pulou de alegria com a sua descoberta. E conforme ele ia abrindo a parede, surgiam as mais maravilhosas jóias que ele já havia visto. Quando terminava uma parede, o rapaz começava a procurar em outra parede, até que todo o tesouro foi encontrado e o rapaz se se tornou um grande milionário"
Explica o Maguid Mi Duvna que assim também é a nossa Torá, D'us ocultou dentro dela vários tesouros do conhecimento humano. Quanto mais a pessoa se esforça para conhecer a Torá, mais vai revelando seus maravilhosos conhecimentos e maior é a alegria que ela vai sentindo.
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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Shmini Atseret, e no Domingo comemoramos a festa de Simchá Torá, quando terminamos o ciclo anual de leitura da Torá com a Parashá Vezot Habrachá e dançamos alegremente segurando o Sefer Torá. Apesar da festa de Shmini Atseret vir imediatamente depois de Sucót, a Torá diz explicitamente que são duas festas distintas. Porém, nossos sábios explicam que estas duas festas estão muito conectadas.
Sucót é a festa que fecha dois ciclos. O primeiro ciclo é o dos Shalosh Regalim (três festas nas quais todos os judeus saiam de suas casas e iam para o Beit Hamikdash, o Templo Sagrado), que começa com Pessach, segue com Shavuot e termina com Sucót. Sucót também fecha o ciclo das festas do começo do novo ano, que começa com Rosh Hashaná, segue com Yom Kipur e termina com Sucót. Shmini Atseret é, portanto, o clímax do ano, e representa o momento em que o amor de D'us pelo povo judeu chega ao seu limite máximo.
Porém, se a festa de Shmini Atseret é como se fosse uma continuação de Sucót, por que não temos mais a Mitzvá de habitar na Sucá?
Em Sucót nós trabalhamos nossa conexão espiritual com D'us, abandonando nossas casas e habitando por sete dias na Sucá. Saímos do nosso mundo para viver no mundo Dele por uma semana. O nome Shmini Atseret significa, literalmente, "O oitavo (dia), dia da parada". Depois de toda esta inspiração e proximidade que construímos em Sucót, D'us nos pede para pararmos e ficarmos com Ele mais um dia, para manter por mais um dia nossa proximidade com Ele. Segundo o judaísmo, o número 7 representa a natureza e as leis do mundo material, enquanto o número 8 representa o sobrenatural, o espiritual. Os 7 dias de Sucót representam a vida neste mundo, e portanto nós precisamos da proteção da Sucá e do lembrete de que este mundo é como a Sucá, algo apenas passageiro e provisório. Porém Shmini Atseret, o oitavo dia, representa a nossa vida no Mundo Vindouro, e portanto não precisa da proteção nem do lembrete da Sucá.
Rashi, famoso comentarista da Torá, explica que o versículo que descreve a festa de Shmini Atseret tem dois significados. Literalmente está escrito "No oitavo dia haverá uma congregação sagrada para vocês... é uma reunião, e você não deve realizar nenhum trabalho construtivo" (Vayikrá 23:36). Porém, a palavra "Atseret", que significa "reunião", também significa "parar". Explica Rashi que é como se D'us estivesse pedindo "parem diante de Mim mais um dia, pois é difícil a partida de vocês". Mas normalmente quando duas pessoas se despedem, o normal é que elas digam "é difícil nossa partida". Por que Rashi explica que é como se D'us dissesse "pois é difícil a partida de vocês"?
Desde Elul começamos a sentir uma proximidade maior com D'us. É um mês de muito trabalho espiritual, e que nos esforçamos para melhorar um pouco mais em cada Mitzvá que praticamos. Então chega Rosh Hashaná e entramos no quintal do Rei. Yom Kipur é o momento em que despertamos a misericórdia de D'us e nos aproximamos mais um pouco Dele ao pedirmos perdão por todos os nossos erros, e Ele nos perdoa. Finalmente vem Sucót, quando saímos das nossas casas e moramos por uma semana na casa Dele. Chega então Shmini Atseret, o momento da despedida, e recebemos um pedido especial de D'us para passarmos mais um dia juntos. D'us, na despedida, nos deixa claro que somos nós que estamos indo embora, pois Ele permanece perto de nós. Somos nós que nos afastamos. Voltamos para nossa vida cotidiana e muitas vezes nos esquecemos Dele. É por isso que está escrito "É difícil a partida de vocês", pois nós partimos, mas não Ele. Então como fazer para não nos afastarmos, para não irmos embora, para guardarmos esta proximidade para todo o ano?
É isso que ensinam os nossos sábios ao comemorar a festa de Simchá Torá junto com Shmini Atseret (fora de Israel, onde temos dois dias de Yom Tov, as festas são separadas, mas em Israel, onde há apenas um dia de Yom Tov, as duas festas são comemoradas no mesmo dia). A Torá é o tesouro que D'us nos entregou, o nosso manual de instruções que nos ensina como viver a vida da melhor maneira possível e como tirar o máximo proveito dela, tanto para este mundo quanto para o Mundo Vindouro. São ensinamentos de sabedoria preciosos, que iluminam nossos caminhos e nos possibilitam crescer em espiritualidade mesmo vivendo em um mundo material. Em Simchá Torá nós dançamos carregando em nossas mãos o Sefer Torá. Nenhum outro povo dança com seus livros como nós fazemos em Simchá Torá. Alguém já viu um professor de matemática dançando com seu livro de Álgebra? Ou um professore de Ciências dançando com seu livro de Biologia? A Torá não é apenas um livro de histórias, é a nossa vida, é o que alonga nossos dias neste mundo e nos ajuda a conquistar a vida eterna. É o que nos mantém conectados com D'us durante todo o ano. Por isso dançamos com tanta alegria, pois reconhecemos o maravilhoso tesouro que recebemos. Mas será que encontramos tempo para estudar e conhecer a Torá cada vez com mais profundidade? Será que nos esforçamos para não nos afastar Dele durante todo o ano?
Encontramos em nossas vidas tempo para tudo o que consideramos importante. Nosso dia tem 24 horas, o suficiente para tudo o que precisamos fazer. Encontramos tempo para o nosso trabalho, para aquele curso importantíssimo, para a ginástica, para assistir ao programa de televisão favorito ou o jogo de futebol do nosso time do coração. Mas para a Torá muitas vezes não sobra tempo. Isso talvez indique que não consideramos a Torá como algo importante, não é algo que faz falta na nossa vida. É porque esquecemos que dela depende nossa eternidade. É porque não entendemos que dela depende a nossa felicidade neste mundo. Se todos nós fixássemos tempos diários de estudo de Torá, mesmo que fosse meia hora por dia, assistindo a uma aula ou lendo um livro, nossas vidas seriam completamente diferentes.
No mesmo dia em que terminamos o ciclo de leitura da Torá já o recomeçamos, em uma demonstração de que sabemos que, apesar de lermos as mesmas Parashiot de novo, não será o mesmo livro. Cada ano em que estudamos as Parashiot novamente, entendemos a Torá de uma maneira mais profunda. Em cada ciclo, mais e mais tesouros vão sendo encontrados dentro da Torá. Tesouros que sempre estiveram lá, mas que nós nem sonhávamos que eles existiam. Tesouros que nos ajudam a nos manter conectados com D'us durante todo o ano, diminuindo cada vez mais a distância entre nós e Ele.
SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - SUCÓT 5770

BS"D

CURTINDO A VIDA – SUCÓT 5770 (02 de outubro de 2009)
"Havia um homem paralítico que ficava muito triste por não poder sair de casa. Ele então conheceu um outro homem que, apesar de ser muito forte e saudável, também quase não saía de casa por ser surdo. O homem paralítico então teve uma grande idéia, que seria vantajoso para os dois: eles poderiam sair de casa juntos, de forma que um poderia cobrir a deficiência do outro, e assim ambos aproveitariam melhor os prazeres da vida. O homem surdo carregaria o paralítico em suas costas, enquanto o paralítico serviria como guia do surdo, alertando-o sobre qualquer perigo iminente. E assim eles fizeram.
Certo dia eles estavam passando por um salão de onde saía uma música muito agradável. Os dois resolveram entrar e perceberam que era uma festa, e viram que as pessoas se divertiam muito dançando ao som da música que a banda tocava. O paralítico, que gostava muito de música, quis ficar um pouco mais aproveitando aquele momento, apesar de não poder dançar. Mas como convencer seu amigo de também ficar um pouco mais? Afinal, ele não escutava a música e não estava contente de estar ali parado, sem fazer nada.
Foi então que o paralítico teve uma idéia brilhante. Pediu para que o surdo fosse até a mesa onde estavam sendo servidas as bebidas alcoólicas e ofereceu para ele uma bebida forte. Quando o surdo esvaziou o copo, o paralítico ofereceu outro, e depois outro, até que viu que o surdo estava levemente tonto. O surdo, em sua embriaguez, começar a dançar e a curtir o momento. E mais ainda curtiu o paralítico, que podia escutar a música e dançar nas costas do seu amigo surdo, que ficava cada vez mais solto e mais animado por causa do efeito da bebida. Desta maneira tanto o surdo ficou contente quanto o paralítico, pois os dois estavam, daquela maneira, aproveitando o momento"
Explica o Maguid Mi Duvno que esta história nos ajuda a entender a interação entre o corpo e a alma. A alma é como se fosse um paralítico, pois sozinha não pode fazer nada, precisa do corpo para se locomover e agir. Já o corpo se assemelha ao surdo, pois não consegue sozinho saber o que fazer, precisa ser guiado e auxiliado pela alma. A alma sabe que a única forma de conseguir ter prazer neste mundo é com a cooperação do corpo. Por isso é necessário de vez em quando agradar o corpo com boa comida e bebida, para que juntos possam ter o máximo de prazer.
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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Sucót. Cada uma das festas tem uma característica que se sobressai. Por exemplo, Shavuot é chamada "Zman Matan Torateinu" (época da entrega da nossa Torá) pois em Shavuót recebemos a Torá. Pessach é chamada de "Zman Cheruteinu" (época da nossa liberdade) pois em Pessach fomos libertados da nossa escravidão. E finalmente Sucót é conhecida como "Zman Simchateinu" (época da nossa alegria). Há uma Mitzvá especial em Sucót de se alegrar durante os 7 dias de festa, conforme nos ensina o versículo "Por sete dias você deve festejar para Hashem, teu D'us... e você deve estar feliz" (Devarim 16:14,15).
Explicam os nossos sábios que a alegria de Sucót vem basicamente de dois componentes. De um lado há o prazer espiritual da nossa proximidade com D'us, que sentimos através do cumprimento das Mitzvót associadas à festa de Sucót, que são os Arba Minim (quatro espécies, Etrog, Lulav, Adáss e Aravá) e de viver por uma semana dentro da Sucá, uma construção temporária, onde podemos voltar a sentir de verdade que nossa única proteção vem de D'us, e não dos alarmes, das trancas e das paredes de tijolo. Porém, por outro lado os nossos sábios nos ensinam a buscar a alegria de Sucót através dos prazeres do mundo material, aproveitando os dias de Sucót com festas, danças, boa comida e bebida. Entendemos que a alegria de Sucót deve vir de prazeres espirituais, através do cumprimento de Mitzvót que preenchem a nossa alma. Mas não parece contraditório a alegria de uma festa religiosa vir através de meros prazeres do mundo material?
Infelizmente muitas pessoas que estão afastadas do judaísmo têm receio de conhecer suas raízes pelo medo de que, caso se tornem mais observantes das Mitzvót, deixarão de curtir os prazeres da vida. De onde vem este medo? Do fato de muitas religiões ensinarem que a única forma de atingir a elevação espiritual é através da anulação do corpo material. A meta é evitar qualquer tipo de prazer, e mais do que isso, muitas religiões pregam o sofrimento auto-induzido ao corpo, utilizando cintas com espinhos que furam a pele ou chicotes. O corpo deve ser desprezado e os prazeres evitados a qualquer custo.
Mas isto é um erro muito grande, e a principal prova disso é que D'us criou um mundo repleto de prazeres ao nosso alcance. Por onde olhamos encontramos uma infinidade de frutas e comidas deliciosas. Todos os dias D'us nos presenteia com um espetacular nascer e pôr do sol. As flores embelezam o ambiente e seu cheiro delicia nosso olfato. Se o propósito fosse evitar a qualquer custo todos os prazeres, por que D'us teria criado um mundo assim tão maravilhoso? O Talmud nos ensina que se deixarmos de experimentar uma fruta que temos a oportunidade de saborear, seremos cobrados pelo fato de termos perdido a oportunidade de sentir aquele prazer. Pois o judaísmo ensina que um corpo faminto não consegue chegar ao prazer verdadeiro. Somente quando o corpo for abastecido com os prazeres do mundo físico é que a alma pode se alegrar com a alegria verdadeira da proximidade de D'us.
Porém, também não podemos chegar ao extremo do excesso de prazeres, como se tornar um glutão ou um bêbado, pois se colocarmos todas as energias apenas em conseguir alcançar os prazeres do corpo, terminaremos nos afastando de D'us, como diz o versículo "E Yeshurun engordou e deu um coice" (Devarim 32:15). Yeshurun é o povo judeu, e toda vez que nos voltamos apenas à busca dos prazeres materiais, acabamos nos afastando e esquecendo de D'us, como se estivéssemos dando um coice justamente em quem nos alimentou. Fora isso, o Talmud nos garante que aquele que se alegrar de verdade em Sucót, sua alegria permanecerá inalterada durante os 7 dias da festa. Se a Torá estivesse se referindo apenas aos prazeres físicos, isso não se cumpriria. Imagine se o prazer fosse apenas sentar-se em uma mesa farta, com as melhores comidas e bebidas. No primeiro dia sairíamos da mesa completamente satisfeitos e felizes. No segundo dia já não aproveitaríamos tanto, pois nosso apetite não seria tão grande. No último dia de Sucót o banquete já não seria um prazer, seria um sofrimento, pois após 7 dias de banquetes ininterruptos, nem as melhores iguarias poderiam nos satisfazer.
Portanto, o ideal, segundo o judaísmo, é o equilíbrio e a moderação. Se utilizarmos os prazeres materiais da forma correta, sem abusos nem excessos, estaremos não apenas aproveitando o mundo material, mas também nos encaminhando para atingir os prazeres do mundo espiritual. Não apenas no primeiro dia, mas nos 7 dias de festa. Podemos comer e beber, mas deve ser em honra da festa de Sucót, isto é, utilizando o material canalizado para atingir o prazer espiritual.
Quando um foguete é lançado para alcançar a lua, são necessários vários estágios. A ignição é dada pelo quinto estágio, que faz o foguete partir. Quando o quarto estágio entra em funcionamento, o foguete atinge a velocidade de 150 km/s. O terceiro estágio finalmente vence a força de atração da Terra e coloca o foguete em órbita. O segundo estágio direciona o foguete para o destino específico, e finalmente o primeiro estágio, quando acionado, faz o foguete e seus astronautas chegarem à lua. Assim são os prazeres materiais e espirituais. A meta é chegar na conexão com o Criador do mundo, mas isso somente é possível passando pelos prazeres do mundo material, que nos colocam "em órbita".
Se bloquearmos completamente nossos prazeres materiais fazendo votos de abstinência, nosso foguete nem mesmo parte de seu ponto inicial. Se, ao contrário, vivermos apenas pelo prazer material, não chegaremos ao prazer espiritual e, no final das contas, não teremos aproveitado nada. Mas quando utilizarmos os prazeres do mundo material como um impulso para chegar mais alto, conseguiremos aproveitar o prazer material e alcançar o prazer verdadeiro, que é o prazer espiritual de se conectar com o Criador do universo.
SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

MENSAGEM YOM KIPUR 5770

BS"D
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Ensinam os nossos sábios que "Não existe um Tzadik (Justo) no mundo que faz o bem e não erra". Isto quer dizer que todos nós, seres humanos, temos a nossa má-inclinação constantemente nos testando, e nenhum de nós está isento de cometer erros.
Explica o Talmud que Yom Kipur serve para limpar os erros que cometemos com D'us, mas todos os erros que cometemos com o próximo não são perdoados por D'us até que sejamos perdoados pela pessoa com quem erramos. Não adianta passar o Yom Kipur inteiro rezando e chorando, é necessário antes pedir perdão para a pessoa que fizemos mal e convencê-la a nos perdoar.
Portanto, gostaria de aproveitar a oportunidade para, de coração aberto, pedir perdão a todos com quem eu possa ter cometido qualquer erro, tanto algum ato que eu tenha feito de errado quanto algo que esperavam de mim e eu não correspondi. Tanto os erros intencionais quanto os erros não intencionais, de todos eles eu me arrependo do fundo do coração e espero que vocês possam me perdoar. Por favor, se alguém tiver algo específico, me escreva para que eu possa pedir perdão diretamente.
Quando passamos por cima das nossas características pessoais e perdoamos os outros, D'us passa por cima de todas as nossas transgressões e nos perdoa. Portanto também perdôo de todo o coração a qualquer um que possa ter me feito algum mal, intencionalmente ou não intencionalmente.
Que todos possamos ter um ano maravilhoso, de muito crescimento espiritual, e que possamos neste ano aprender a conviver com o próximo com muita harmonia e respeito.
GMAR CHATIMÁ TOVÁ (QUE SEJAMOS SELADOS PARA O BEM)
Rav Efraim Birbojm
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SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ HAAZINU E YOM KIPUR 5770

BS"D
O REI, UM DESCONHECIDO? – PARASHÁ HAAZINU E YOM KIPUR 5770 (25 de setembro de 2009)
"O rei de um país muito distante tinha um único filho, e nele colocou todo o seu amor. Tudo o que o rei fazia era pensando no bem estar do príncipe, era um investimento para que ele tivesse um futuro maravilhoso. Mas um dos ministros do rei, uma pessoa muito invejosa, não se conformava com a alegria da família real e bolou um terrível plano: seqüestrou o filho do rei e o levou para um lugar distante. Para que ninguém reconhecesse a criança, trocou suas roupas por farrapos para que parecesse ter vindo de uma família muito pobre. O príncipe foi criado em uma pequena fazendo, com uma vida muito simples, trabalhando como camponês, longe da suntuosidade e do luxo do palácio do rei.
Muitos anos se passaram, mas o amor do rei era tanto que ele não desistia de ter seu filho de volta. Contratou os melhores detetives do reino para que buscassem notícias do paradeiro do seu filho. Até que um dia um dos detetives descobriu que o príncipe vivia como um simples camponês em uma fazenda distante. O rei, com o coração cheio de alegria, mandou emissários para trazerem seu filho de volta.
O rapaz, quando foi convidado a voltar ao palácio, a princípio teve medo de ir. Ele não conhecia o rei, sabia apenas que era alguém que morava longe. Ele nunca havia saído da sua pequena vila, não imaginava o que era um palácio. Mas os emissários insistiram até que ele concordou. Vestiram-no com roupas nobres, apropriadas para o filho do rei, montaram-no em um majestoso cavalo e começaram o caminho de volta ao palácio.
Quando começaram a se aproximar da capital, o príncipe começou a ver casas cada vez mais bonitas e luxuosas, diferentes da sua pequena casinha na fazenda. Começou então a ter flashes de quando era pequeno, de como era a vida dentro do palácio do rei. Mas quando finalmente chegaram ao palácio, o príncipe foi tomado de um terrível pavor. Tudo parecia muito rico e imenso, ele não sabia o que fazer, não sabia como deveria se comportar no palácio real. Na sua cabeça ele não conseguia entender o que o rei queria. Afinal, ele era apenas um estranho.
Os emissário trouxeram-no até uma gigantesca porta e anunciaram que lá dentro estava o rei sentado em seu trono. O rapaz ficava cada vez mais apavorado, imaginando como aquele rei estranho o receberia e o trataria. A porta começou a se abrir lentamente e finalmente o rapaz viu o rei, o homem mais poderoso do reino, a pessoa cujas palavras direcionavam a vida de milhares de pessoas. Ele tremia e mal conseguia se aproximar. Até que, quando chegou mais perto, ele viu que não era o rei, era o seu pai! Eles se abraçaram e choraram muito com a alegria daquele reencontro, depois de tanto tempo que viveram afastados"
Somos os filhos do Criador do mundo, para quem Ele criou o universo inteiro. Ele nos criou para que possamos ficar próximos Dele e receber Suas bondades. Mas o Satan, nossa má inclinação, nos engana e nos faz desviar para longe, para uma vida fora do "palácio". Mesmo assim o Rei não desiste, ele espera todos os dias pela nossa volta. No mês de Elul nós começamos nossa volta para casa. Em Rosh Hashaná nós entramos no palácio, mas nos sentimos apavorados por causa do julgamento. Somente quando chega Yom Kipur é que sentimos a alegria de entender que na verdade nós somos os Seus filhos.
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Nesta semana lemos a Parashá Haazinu, e no Domingo de noite começa Yom Kipur, o Dia do Perdão, um dos dias mais sagrados no judaísmo. Qual a conexão entre os dois? Explica o Rav Guedaliah Shor que a Parashá Haazinu é um cântico entoado por Moshé que mostra a harmonia da criação, juntando passado, presente e futuro. O passado nos ensina sobre o futuro e o futuro nos esclarece sobre os eventos do passado, revelando assim a perfeição do Criador. E justamente esta é a natureza de Yom Kipur, buscar a proximidade com o Criador do mundo e entender a perfeição de Sua criação.
Todos nós estamos familiarizados com o dia de Yom Kipur. Jejuamos, passamos o dia inteiro na sinagoga imersos em rezas e pedidos de perdão por nossos erros, escutamos discursos de Torá do rabino da sinagoga. É um momento solene, é um momento importante no nosso ano, mas para a grande maioria das pessoas não é um momento feliz. Porém, o rabino Israel Salanter nos ensina que não há dia mais feliz para o povo judeu do que Yom Kipur, e que neste dia deveríamos cantar e dançar. Por que devemos sentir assim tanta alegria?
Explicam nossos sábios que durante todo o ano temos um relacionamento distante com D'us. Ele é o Rei do universo, mas sentimos que não temos nenhuma proximidade com Ele. Vivemos nossa vida dentro de uma rotina onde sobra muito pouco tempo para pensarmos em D'us. E talvez o mais difícil é entender exatamente o que significa D'us ser o nosso Rei. Infelizmente não temos bons exemplos de reis no mundo. Durante a história subiram ao poder muitos reis tiranos, que ao invés de buscarem o bem do seu povo, buscaram acumular poder, fortuna e prestígio. A insatisfação era tanta que muitas vezes o povo fazia revoluções para derrubar seus monarcas e implantar novas formas de governo. Na Inglaterra, uma das poucas monarquias que sobreviveram, a família real está sempre envolvida em escândalos e são apenas um enfeite, sem nenhum poder. Com exemplos assim, realmente é difícil entender o conceito de D'us ser o nosso Rei.
Então temos que buscar na Torá o comportamento de um rei verdadeiro. O povo judeu teve diversos reis cuja grandeza, sabedoria e bondade iluminaram e iluminam o mundo inteiro até os nossos dias. Reis como o Rei David, que nos deixou os Salmos, que são recitados por todos os povos do mundo, e o Rei Salomão, que nos deixou sua vasta sabedoria em livros como os Provérbios e o Cântico dos Cânticos. Um rei, segundo o judaísmo, deve ser uma pessoa que tem em suas mãos um imenso poder, honra e tesouros, mas que utiliza tudo isso apenas para o benefício do seu povo. Ele direciona o potencial das pessoas para que possam trabalhar juntas por um objetivo comum. Ele utiliza seu poder para estabelecer uma sociedade onde as pessoas vivam com paz e tranqüilidade, podendo utilizar seus esforços para desenvolver seus potenciais. É isso que significa que D'us é o nosso Rei, pois assim Ele cuida de nós, e todos os Seus atos são apenas para o nosso benefício.
Mas D'us não se limita a apenas ser o nosso Rei, Ele vai além, Ele se comporta como o nosso Pai, Avinu Malkeinu (Nosso Pai, Nosso Rei). Ele nos criou para que possamos estar perto Dele, recebendo os prazeres da Sua proximidade. Então por que não sentimos esta proximidade? Pois perdemos o foco do que queremos de verdade. Quantas vezes nós já lemos um livro ou assistimos um filme e sentimos uma faísca de inspiração para mudarmos nossas vidas, mas depois nossas decisões ficaram simplesmente esquecidas?
A vida é como uma estrada que nos leva à D'us. Existem placas, as Mitzvót, que nos orientam para que possamos saber, a cada instante, se estamos indo na direção correta. Mas durante o ano acabamos muitas vezes pegando a estrada errada e caminhamos na direção contrária ao nosso crescimento. A palavra "transgressão", em hebraico, é "Chet", que vem da mesma raiz da palavra "desviar". Quando fazemos o mal aos outros e a nós mesmos, certamente estamos nos afastando do nosso propósito e ficando cada vez mais longe de casa.
Mas apesar de estarmos tão distantes durante todo o ano, apesar de esquecermos de D'us e tirarmos Ele das nossas vidas, Ele não se esquece de nós e nos dá a chance de voltar. Mesmo se erramos muito, mesmo se nos desviamos, Ele abre todas as portas em Yom Kipur para nos perdoar. A tradução da palavra "Teshuvá" é "retorno", pois quando nos arrependemos dos nossos erros e mostramos para Ele que queremos mudar, Ele nos coloca de volta na estrada correta. Por isso Yom Kipur é uma festa tão alegre, e deveríamos dançar de alegria. Pois é mais do que um presente de um Rei, é um abraço apertado de um Pai.
SHABAT SHALOM e TZOM KAL (Que todos tenhamos um jejum leve em Yom Kipur)
Rav Efraim Birbojm


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SHANÁ TOVÁ 5770


BS"D


Mais um ano está terminando. Mais um ciclo de Parashiot da semana se encerra. Mais um ano em que D'us me ajudou e me deu forças para enviar todas as semanas o Shabat Shalom Mail. Fica a saudade do ano que passou, mas a certeza de que o próximo ano será ainda melhor.

David Hamelech (Rei David) diz nos Salmos: "O que eu poderei dar para D'us em troca de todas as bondades que Ele faz comigo?". É com este sentimento de retribuição que todas as semanas eu escrevo o Shabat Shalom Mail. É uma forma de agradecer a D'us por ter me dado a oportunidade de fazer Teshuvá e voltar aos caminhos da Torá, dos quais eu estive tão distante. Sinto-me na obrigação de dividir com as pessoas o presente que D'us me deu, de poder conhecer a profundidade dos conhecimentos da Torá e entender o quanto eles podem mudar nossas vidas.

Espero estar contribuindo para que cada um de vocês, ao ler os E-mails de Shabat todas as semanas, possam parar para refletir um pouco o quanto podemos ser grandes, o quanto temos de potencial adormecido dentro de nós, quanta bondade podemos fazer para melhorar o mundo. É muito fácil criticar a situação e colocar a culpa nos outros, o difícil é fazer a nossa parte. É isso o que o judaísmo nos ensina, a olhar para nós mesmos e melhorar o que precisa ser melhorado.

Agradeço de coração a todos os que me apóiam e me incentivam, pessoalmente ou por e-mail. O meu maior incentivo é saber que muitos estão, aos poucos, voltando aos caminhos da Torá. Cada um no seu ritmo, cada um respeitando seus limites, estamos todos voltando aos caminhos de onde nunca deveríamos ter saído. Um caminho que nos leva a uma vida mais espiritual, que nos torna pessoas melhores, mais regradas e mais tranqüilas. Que no ano de 5770 possamos ter somente boas notícias. Notícias de vitórias, de curas, de paz. Notícias de reconciliação, de amor, de alegrias. Notícias de nascimentos e de casamentos. E que finalmente seja o ano da vinda do Mashiach.

SHANÁ TOVÁ UMETUKÁ.

Com muito carinho,

Rav Efraim Birbojm