sexta-feira, 28 de maio de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5770

BS"D

A JANELA DO VIZINHO É MAIS BRILHANTE - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5770 (28 de maio de 2010)

"Renato vivia com seus pais em uma linda casa na montanha. Ele tinha tudo o que precisava, mas mesmo assim ele não era feliz. Qual era o motivo de sua infelicidade? Todas as manhãs ele abria a janela de seu quarto e via que do outro lado do vale havia uma casa muito grande. Mas não era o tamanho da casa que chamava sua atenção, o que era especial nela eram as janelas, que tinham um brilho dourado como o ouro. Como ele podia ser feliz tendo apenas janelas de vidro enquanto alguém tinha em sua casa janelas de ouro? Todos os dias ele sonhava em ir até aquela casa para pegar ao menos um daqueles vidros de ouro. Seus pais tentavam tirar de sua cabeça aquela idéia tola, mas a vontade o atormentava. Uma manhã ele levantou cedo, decidido que não poderia esperar mais. Se preparou para a caminhada e saiu.


A viagem foi extremamente difícil. O caminho para o vale estava bloqueado por enormes pedras e muitas árvores caídas. Na metade do dia ele chegou a um rio muito fundo que corria no meio do vale e quase se afogou. Do outro lado do vale a floresta era muito fechada e, na tentativa de atravessá-la, ele rasgou suas roupas e raspou a sua pele, causando feridas por todo o seu corpo.

O caminho até a casa do outro lado do vale era íngreme. Exausto, ele estava quase entregando os pontos quando finalmente chegou a uma clareira, onde de longe avistou a casa das janelas de ouro. Havia finalmente conseguido encontrá-la, aquele seria um momento muito especial. Reunindo suas últimas forças, ele correu em direção à casa. Ele queria ver as janelas douradas, queria tocá-las. Mas para a sua decepção, ele descobriu que elas eram feitas de vidro comum. Ele não se conformava com o que havia acontecido. Onde estavam as janelas de ouro? Será que ele havia se enganado por tanto tempo?


Abatido e amargurado pela terrível decepção, ele começou a sua lenta volta para casa. Ao levantar os olhos, ele viu sua própria casa do outro lado do vale. O sol iluminava a casa e, para sua surpresa, as janelas estavam brilhando, como se fossem feitas de ouro..."

Quanto tempo e saúde gastamos para conseguir mais do que precisamos, apenas porque vemos que os outros tem algo que nós não temos, ou por não conseguirmos estar felizes com o que já temos?

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Na Parashá desta semana, Behalotechá, a Torá nos ensina que o povo judeu não passou os 40 anos no deserto acampado em um único local, ao contrário, foram muitos locais de acampamento durante este período, algumas vezes em lugares mais convidativos, outras em lugares mais inóspitos. Segundo a nossa lógica, a permanência em cada um deles deveria ter sido de acordo com a comodidade do local, isto é, em locais mais cômodos eles deveriam ter permanecido por mais tempo, enquanto em lugares piores eles deveriam ter acampado por pouco tempo e logo ter seguido viagem. Mas não é isso o que a Torá nos ensina, pois assim está escrito por três vezes seguidas na Parashá: "De acordo com a palavra de D'us o povo judeu viajava e de acordo com a palavra de D'us o povo judeu acampava" (Bamidbar 9:18). O que estas palavras significam e por que tantas repetições?


Durante todo o tempo no deserto, o momento de viajar e o momento de acampar eram definidos por uma nuvem que representava a presença de D'us. Quando a nuvem repousava sobre o Mishkan (Templo Móvel) o povo judeu acampava, e quando a nuvem se levantava o povo judeu levantava o acampamento e seguia viagem. Mas a vontade de D'us nem sempre coincidia com a vontade do povo judeu. Muitas vezes os judeus chegaram a lugares bons e quiseram ficar bastante tempo por ali, mas logo em seguida D'us os fez continuar a viagem. Outras vezes os judeus chegaram a locais desagradáveis e queriam logo ir embora, mas tinham que permanecer ali por muito tempo. Algumas vezes eles estavam cansados e queriam descansar por alguns dias, mas logo após eles acamparem a nuvem se movia e eles precisavam recomeçar a viagem. Foi o primeiro teste com o qual D'us testou o povo judeu após a entrega da Torá. E apesar da dificuldade deste teste, em um ambiente de stress e perigos, apesar de nem sempre eles entenderem o comando de D'us, o povo nunca se rebelou e nunca viajou ou acampou sem o consentimento Divino. É por isso que a Torá louva o povo judeu, repetindo várias vezes que eles viajaram de acordo com a palavra de D'us, e não de acordo com a sua própria vontade.

Ensina o Rav Yechezkel Levinshtein que a geração do deserto não meritou apenas passar por aquele teste. A geração do deserto meritou nos ensinar uma das lições mais importantes da nossa vida: tudo o que é a vontade de D'us é bom de verdade para nós, mas o que não é a vontade de D'us não é bom para nós. Mesmo que algumas vezes o acampamento em um certo lugar parecia ser algo ruim de acordo com a lógica humana, se esta era a vontade de D'us, então é porque era realmente algo bom. Este conceito pronunciamos todos os dias, nas três rezas diárias. Na primeira Brachá da Amidá (reza silenciosa) louvamos a D'us com as seguintes palavras: "Gomel Chassadim Tovim" (Aquele Quem nos faz bondades boas). O que é uma bondade boa? Existe alguma bondade não boa?


Quando uma pessoa de carne e osso quer fazer algo de bom para outra pessoa, ele nunca sabe as consequências futuras do seu ato. Por exemplo, se um pai dá para seu filho uma bala, é um ato de bondade. Mas se a bala causar uma cárie na criança depois de 2 meses então o ato de ter dado a bala não foi algo bom. Como o ser humano não conhece o futuro, suas bondades nem sempre são realmente boas. Apenas o Criador do mundo, que tem o controle do tempo e do espaço, pode nos fazer "bondades boas", isto é, bondades que são boas levando em consideração também todas as consequências futuras.


Se conseguíssemos aplicar a lição do deserto no nosso cotidiano, teríamos certamente uma vida muito melhor. Se colocássemos no coração a idéia de que somente a vontade de D'us é realmente boa, conseguiríamos vencer nossas más inclinações e apagar de dentro de nós características negativas como a inveja e a busca descontrolada por prazeres. Pois de onde vem a inveja e a busca pelos prazeres? Da nossa ilusão de que sempre nos falta algo, de que D'us não nos deu o que precisamos. Nunca estamos satisfeitos com o que temos, nossos olhos estão sempre voltados para o que os outros têm a mais do que nós. Nos convencemos de que precisamos de coisas que, na verdade, não precisamos. Nunca conseguimos aceitar que uma situação difícil no momento pode ser a preparação para algo muito melhor no futuro.


Nos ensinou David Hamelech (Rei David): "Não tenha para você um deus estranho e não se curve para um deus estrangeiro" (Salmos 81:10). Explica o Talmud que isto não se refere a uma pessoa que se curva diante de uma estátua e sim àquele que se curva diante do deus estranho que está dentro de cada um de nós – as nossas próprias vontades que vão contra a vontade de D'us. Se nós não controlamos as nossas vontades, então são elas que nos controlam e nos levam para onde querem.


A nossa vida se assemelha à viagem do povo judeu no deserto, em direção à Terra Prometida. Há acampamentos mais incômodos onde precisamos permanecer mais tempo, há outros que são muito agradáveis mas passam rápido demais. O nosso trabalho neste mundo é entender que tudo isto está dentro de um plano maior, dentro das "bondades boas" que D'us faz conosco. Somente quando entendermos que a vontade de D'us é sempre algo bom para nós então aproveitaremos muito melhor a viagem.


SHABAT SHALOM


Rav Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
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sexta-feira, 21 de maio de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NASSÓ 5770

BS"D
CUIDANDO DOS SENTIMENTOS DOS OUTROS – PARASHÁ NASSÓ 5770 (21 de maio de 2010)
"O Rav Isser Zalman Meltzer era muito conhecido pelo seu extremo cuidado com os sentimentos dos outros. Fazia de tudo para nunca magoar outra pessoa. Sua sensibilidade era tanta que ele vivia os problemas dos outros como se fossem seus próprios problemas. Era frequentemente visto chorando por causa de problemas que pessoas que ele nem mesmo conhecia vinham lhe contar.
Certo dia o Rav Aharon Kotler, que era seu genro, e seu neto foram visitá-lo. Eles queriam se despedir do Rav Isser Zalman, pois estavam indo para Israel, onde participariam de um casamento. Após uma longa e agradável conversa, o Rav Aharon Kotler e seu filho se levantaram para sair e foram acompanhados pelo Rav Isser Zalman. O Rav Aharon Kotler achou que o Rav Isser Zalman os acompanharia até a rua, onde daria um abraço em seu neto. Mas isso não aconteceu, o Rav Isser Zalman não acompanhou os dois até a rua. Ele parou no meio das escadas, acenou com as mãos e desejou uma boa viagem.
Quando eles voltaram de viagem, o Rav Aharon Kotler questionou o comportamento do seu sogro. Ele era sempre tão carinhoso com seu neto, estava sendo lhe dando muitos abraços, por que na véspera da viagem ele havia se despedido apenas com um aceno de mão? O Rav Isser Zalman então explicou:
- Você sabe que minha vontade era dar um grande abraço no meu querido neto. Mas eu me lembrei que neste bairro moram muitas pessoas cujos netos foram assassinados pelos nazistas. Como eu poderia ir para a rua demonstrar publicamente a alegria de abraçar meu querido neto sabendo que há outras pessoas não podem fazer o mesmo?"
Este é o nível de sensibilidade que os nossos grandes líderes chegaram. Eles sentiam as dores dos outros. Eles se preocupavam com a honra de cada pessoa como se fosse a sua própria honra. Este é o nível que nós também podemos e devemos chegar.
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Nesta semana lemos a Parashá Nassó que, entre outros assuntos, descreve as oferendas trazidas pelos líderes das tribos do povo judeu. A partir do primeiro dia do mês de Nissan, quando finalmente o Mishkan (Templo Móvel) foi inaugurado, cada um dos líderes das 12 tribos trouxe uma oferenda pessoal em comemoração ao grandioso evento. Cada dia um dos líderes trazia suas oferendas, que incluíam utensílios de ouro e prata, animais, incenso e farinha. Porém, algo nos chama a atenção nas oferendas: apesar de serem oferendas pessoais e não-obrigatórias, todos os líderes trouxeram exatamente a mesma oferenda. Por que?
Além disso, uma das regras mais conhecidas da Torá é que ela é completamente concisa, isto é, nenhuma palavra está escrita sem motivo. O Talmud (Torá Oral) muitas vezes nos traz ensinamentos baseados em uma única letra que está escrita a mais na Torá. Então por que nesta Parashá a Torá se alonga tanto, repetindo as oferendas dos líderes por doze vezes seguidas, ao invés de escrever apenas as oferendas do primeiro líder e depois "e assim também trouxeram os outros líderes"?
Explica o Chafetz Chaim que nossa meta neste mundo é chegarmos a ser completos, e a única maneira é nos comportando como D'us. Ao estudarmos a Torá observamos como D'us se comporta conosco e aprendemos como nos comportar com as pessoas. Por exemplo, a Torá começa com um grande ato de Chessed (bondade), quando D'us fez para Adam e Chavá (Adão e Eva) roupas, de onde aprendemos que devemos nos assegurar que todas as pessoas tenham pelo menos o que vestir. A Torá também termina com um ato de Chessed, quando D'us pessoalmente cuidou do enterro de Moshé Rabeinu, de onde aprendemos a importância da Mitzvá de se ocupar com todos os detalhes do enterro de um morto.
Desta Parashá podemos aprender um conceito muito importante. A repetição das oferendas nos ensina o cuidado que devemos ter com a honra dos outros. Quando os líderes decidiram fazer doações ao Mishkan, eles se reuniram e decidiram entre si que todos trariam exatamente a mesma oferenda, evitando que surgisse a inveja e a competição dentro do povo judeu, sendo muito louvados por isso. Apesar de todas as oferendas serem iguais, se D'us tivesse escrito as oferendas apenas para o primeiro líder, como se sentiriam os outros? Certamente que, em algum nível, eles ficariam desapontados e tristes. Por isso a Torá fez questão de repetir cada uma das oferendas, para que nenhum dos líderes se sentisse menosprezado. D'us "gastou" muitos versículos em respeito à honra de cada líder. E se a sagrada Torá "gasta" versículos para não diminuir a honra de uma pessoa, quanto mais nós temos a obrigação de nos cuidarmos para nunca desprezar ninguém.
Infelizmente, em nossa sociedade ocidental, diferentemente dos ensinamentos da Torá, as pessoas estão longe de se preocupar com a honra dos outros. Muitas vezes, sem nem mesmo perceber, acabamos magoando, ofendendo e humilhando as pessoas. Por exemplo, colocamos apelidos depreciativos em nossos próprios amigos, em geral envolvendo características físicas que as pessoas preferiam esquecer. Também quando estamos em grupo nossas "brincadeiras" giram em torno de humilhar outras pessoas em público. E em geral nossas conversas estão sempre centradas em denegrir a imagem e a reputação de outras pessoas. Não porque somos pessoas malvadas, mas de acordo com os valores da sociedade onde vivemos, o mais importante é sempre o nosso próprio bem estar e não o dos outros. Muitos pensam inclusive "que mal há, é apenas uma brincadeira!".
O que parece coisas simples e sem importância para nós, aos olhos de D'us não são desprezadas. Ensinam os nossos sábios que aquele que envergonha o próximo em público é como se tivesse derramando sangue. Por que tanto? Pois palavras podem marcar, podem causar depressão e falta de auto-estima, podem fazer uma pessoa perder a alegria de viver. Nos preocupamos com marcas físicas, mas esquecemos que as marcas psicológicas são muito mais profundas e duradouras.
Temos que nos esforçar para cuidar da honra dos outros. Precisamos desenvolver a nossa sensibilidade, sentir que às vezes podemos ferir os outros com brincadeiras de mau gosto ou com palavras não medidas. A Torá nos ordena cuidar da honra dos outros da mesma forma que cuidamos da nossa própria. O grande sábio Hilel nos ensinou uma forma de aplicarmos isso na prática: "Não faça aos outros o que não gosta que te façam". Gostaríamos de receber apelidos que ressaltam nossas características físicas indesejadas? Gostaríamos de saber que as pessoas falam mal de nós? Certamente que não. Então, se é tão ruim para nós, por que continuamos fazendo isso aos outros?
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BAMIDBAR E SHAVUÓT 5770

BS"D
TENHO TUDO O QUE EU NECESSITO – PARASHÁ BAMIDBAR E SHAVUÓT 5770 (14 de maio de 2010)
Certa vez um homem veio a um grande sábio conhecido como Maguid de Mezeritch com uma grande questão. Ele queria entender por que o Talmud diz que uma pessoa deve abençoar a D'us por algo ruim que aconteceu da mesma forma que ele O abençoa quando acontece algo bom. É entendível agradecer por uma bondade, mas agradecer por um sofrimento?
O Maguid escutou atentamente a pergunta e sabia a resposta. Mas ele achou que seu aluno, um grande Tzadik (Justo) chamado Rebe Zuchia, poderia responder de uma maneira ainda melhor. Ele então pediu que aquele senhor se encaminhasse ao seu aluno e fizesse a mesma perguntasse a ele. O homem fez exatamente o que o rabino o havia instruído.
Quando ele chegou na casa do Rebe Zuchia, foi recebido pelo Tzadik com muita alegria e foi convidado a entrar. Lá dentro, o homem percebeu o quão pobre era família do Rebe Zuchia. A casa era muito simples, praticamente não havia móveis. As prateleiras estavam vazias, não tinha quase nada para comer. Percebeu também que o próprio Rebe Zuchia tinha uma saúde frágil e era um homem sofrido. No entanto o Rebe Zushia estava sempre feliz e com um sorriso no rosto. O homem, surpreso com as condições nas quais o rabino vivia, comentou:
- Eu fui ao Maguid de Mezeritch para lhe perguntar como é possível que D'us tenha nos ordenado a abençoá-Lo quando ocorre algo ruim da mesma forma que abençoamos quando ocorre algo bom. Ele me disse que só você pode me ajudar neste assunto.
O Rebe Zushia escutou atentamente e disse:
- Fico triste por você ter perdido seu tempo, pois acho que houve aqui uma grande confusão. A sua questão é realmente muito interessante, mas não entendo por que o Maguid de Mezerich enviou você para mim. Certamente eu nunca poderia dar a resposta, pois eu nunca tive nenhum sofrimento na vida"
Algumas pessoas conseguem chegar ao nível de enxergar que todas as coisas que ocorrem na nossa vida são para o nosso bem. São as pessoas verdadeiramente ricas, que sabem aproveitar tudo o que já conseguiram, ao invés de viver sonhando com o que ainda não conquistaram.
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Na próxima terça-feira (18/05), após o pôr-do-sol, começamos a comemorar a festa de Shavuót, finalizando a contagem de 7 semanas completas a partir do segundo dia de Pessach. Shavuót também é conhecida com Zman Matan Torateinu (o Tempo da entrega da nossa Torá), pois no dia 6 de Sivan, 50 dias depois de Pessach, o povo judeu recebeu a Torá no Monte Sinai. A cada ano a mesma influência espiritual se repete, isto é, novamente recebemos a Torá em Shavuót. Em geral, a Parashá da semana que precede a festa de Shavuót é a Parashá desta semana, Bamidbar. Qual a relação entre esta Parashá e a entrega da Torá no Monte Sinai?
Ensinam os nossos sábios que existem três elementos que estão associados com o recebimento e o estudo da Torá. O primeiro elemento é a água, e diversas vezes a Torá é comparada com a água. Por exemplo, da mesma forma que a água desce dos lugares mais altos para os lugares mais baixos, assim também a Torá escapa dos orgulhosos, que estão no "alto", e se acumula nas pessoas humildes. Como nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Quem é o sábio? Aquele que aprende com todas as pessoas". Se a pessoa é humilde, sabe que de todos pode aprender algo e assim cresce espiritualmente. Mas se a pessoa é orgulhosa, acha que sabe mais do que todos e que ninguém tem nada para lhe oferecer, então perde oportunidades valiosas de aprender e crescer espiritualmente.
O segundo elemento com o qual a Torá está associada é o fogo. Quando estamos na escuridão, sem saber para onde ir, o fogo ilumina e nos mostra o caminho pelo qual devemos seguir. Assim também é a Torá, o nosso "Manual de Instruções", que clareia nossa vida neste mundo cheio de incertezas e nos ensina por que caminhos andar. Além disso, quando o fogo é utilizado da maneira correta, ele ilumina e aquece, mas se utilizado da forma incorreta, ele queima e destrói. Da mesma maneira, o estudo da Torá deve ser voltado para que a pessoa se torne alguém melhor, para que se torne um exemplo de boa conduta para os outros. Mas se a pessoa se dedica ao estudo da Torá e seus atos são feios, o nome de D'us é denegrido e isso causa destruição, pois incentiva as pessoas a se afastarem da espiritualidade.
Finalmente o terceiro elemento nossos sábios aprendem do primeiro versículo desta Parashá: "E falou D'us com Moshé no deserto do Sinai" (Bamidbar 1:1). O terceiro elemento que se associa com a Torá é o deserto. Por que D'us escolheu justamente o deserto para a entrega da Torá?
O deserto é um local inóspito. A falta de água e de alimentos torna a vida ali completamente impossível. Mas foi justamente neste local que D'us escolheu levar o povo judeu quando os tirou do Egito, pois no deserto o povo judeu recebeu uma grande lição de Emuná (fé). Eles recebiam seu sustento através do Man (Maná), uma porção de comida que caia diariamente do céu, exatamente na quantidade que cada família necessitava. Durante os 40 anos no deserto nunca faltou Man, sempre as pessoas tinham a quantidade de alimento necessário. O Man, além de possuir o gosto que a pessoa desejasse, continha todos os elementos necessários para manter a saúde das pessoas. O Man caía diretamente na porta de cada família, sem que houvesse a necessidade de investir horas de trabalho por dia para trazer o alimento para casa.
A grande lição do Man no deserto foi de que as pessoas aprenderam que não precisam mais do que aquilo que elas recebem de D'us e que qualquer esforço a mais é tolice. As pessoas conseguiram entender que o que elas tinham era todo o necessário para que pudessem cumprir o seu trabalho espiritual neste mundo. Por isso, quem quer adquirir os conhecimentos de Torá deve viver como se comesse Man, isto é, deve se esforçar para conseguir seu sustento, mas sabendo que esforços a mais no mundo material não trazem mais sucesso, pois o sucesso depende de D'us e não do nosso esforço. Devemos ter nosso trabalho, devemos buscar o nosso sustento, mas se isto toma todo o nosso tempo e não sobra nada para dedicar ao estudo da Torá, é um sinal de que estamos nos esforçando mais do que precisamos. Isso é o que ocorre principalmente quando não estamos contentes com o que temos, e por isso precisamos sempre de mais e mais, mesmo às custas do nosso tempo de crescimento espiritual.
Ensinam os nossos sábios que quando a alma de uma pessoa que falece sai deste mundo e chega nos mundos espirituais, são feitas para ela 3 perguntas: Se ela trabalhou com honestidade, se ela esperou em cada instante pela salvação e se ela fixou tempos de estudo de Torá. D'us não vai nos questionar quantas horas por dia estudamos Torá, pois muito precisam trabalhar para conseguir o seu sustento e não podem dedicar todo o dia ao estudo. Porém, D'us quer saber se fizemos da nossa Torá a preocupação principal de nossas vidas ou se era apenas algo secundário. D'us vai querer saber se, quando chega o final do dia, continuamos na nossa loja para ganhar um pouco mais de dinheiro ou se fomos para a nossa aula de Torá na sinagoga.
Que possamos nos preparar como a água, o fogo e o deserto para podermos novamente neste ano receber a Torá em nossas vidas.
SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT BEHAR E BECHUKOTAI 5770

BS"D

PALAVRAS PODEM DESTRUIR - PARASHIOT BEHAR E BECHUKOTAI 5770 (07 de maio de 2010)

"A pequena Débora havia sido criada em uma família judia pouco observante da Torá e das Mitzvót. Seus pais repetidamente falavam mal sobre os judeus ortodoxos, o que criou nela um sentimento muito negativo. Porém, quando Débora cresceu, teve curiosidade de saber como eram realmente os judeus religiosos, com quem nunca tivera contato. Durante Rosh Hashaná e Yom Kipur ela foi rezar na Yeshivá de Ponovich, na cidade israelense de Bnei Brack. Ela ficou tão impressionada com a devoção das centenas de pessoas que rezavam ali que decidiu voltar para a festa de Simchá Torá.

Tudo estava indo perfeitamente bem. Débora se sentia bem entre aquelas pessoas que a haviam recebido tão carinhosamente. Uma das mulheres a havia ajudado durante toda a reza a encontrar as páginas do Sidur (Livro de rezas), outra havia se preocupado se ela tinha lugar para comer as refeições. Mas Débora, que não conhecia muito as leis judaicas, principalmente as que se referiam à Tzniut (recato), vestia roupas que não condiziam com a lei judaica. Então uma das meninas presentes disse, em voz alta, na frente de centenas de mulheres:

- Ei, garota. Como você tem coragem de vir rezar vestindo roupas tão sem recato?

Imediatamente o castelo encantado de Débora desmoronou. Assim se comportavam as meninas religiosas? Era isso o que a Torá ensinava? Se este era o comportamento dos religiosos, então ela não estava nem um pouco interessada. Saiu correndo, completamente envergonhada, sem saber para onde ir.

Foi então que ela passou por uma multidão que se aglomeravam diante de uma porta. Era a sala do Rav Eliezer Mann Shach, o Rosh Yeshivá (Diretor espiritual) de Ponovich. Ela teve curiosidade de conversar com ele, desabafar e contar tudo o que havia acontecido. Decidiu esperar, mesmo que levasse horas. Mas quando a porta se abriu e algumas pessoas que estavam lá dentro saíram, ela foi imediatamente chamada para entrar, apesar da enorme fila de pessoas que haviam chegado antes dela. O ajudante do Rav Shach então explicou que as mulheres tinham prioridade para entrar. Agradavelmente surpresa, ela entrou e contou toda a história para o Rav Shach, que na época já era um dos maiores rabinos da geração.

O Rav Shach escutou atentamente o desabafo de Débora e chorou. Ele explicou para Débora que aquela moça havia cometido uma grande transgressão. Conversaram por muito tempo e ele a ensinou o quanto devemos ser cuidadosos com os outros e o quanto devemos trabalhar a nossa sensibilidade para não ferir ninguém com as nossas palavras. Débora saiu muito impressionada da conversa. A calma, a doçura e a sensibilidade do Rav Shach a haviam conquistado. Decidiu que queria aprender mais sobre o judaísmo e se tornar uma pessoa mais praticante.

Hoje em dia Débora é casada com um Rosh Yeshivá. Seus filhos e netos são grandes estudiosos de Torá"

Esta história nos ensina a força das palavras. Uma declaração feita de maneira incorreta pode causar muita dor e raiva, e pode atrapalhar para sempre o crescimento espiritual de outra pessoa. Ao contrário, palavras carinhosas e doces podem construir mundos espirituais. (História Real, retirada do livro "Major Impact", do rabino Dovid Kaplan)

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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Behar e Bechukotai. A Parashá Behar traz algumas Mitzvót Bein Adam Lamakom (entre o homem e D'us) como, por exemplo, a Mitzvá de Shemitá (descansar todos os campos da Terra de Israel a cada 7 anos) e a Mitzvá de Yovel (Jubileu), quando se completavam 7 ciclos de Shemitá, e traz também algumas Mitzvót Bein Adam Lehaveiró (entre o homem e o seu companheiro), entre elas a proibição de causar sofrimentos aos outros, como está escrito: "Quando você vender um objeto a seu companheiro ou comprar algo de seu companheiro, um homem não deve afligir seu irmão" (Vayikrá 25:14). Porém, três versículos depois a Torá novamente repete a proibição de causar sofrimentos, como está escrito: "E que uma pessoa não aflija seu companheiro e que tema a D'us, pois Eu sou Hashem, teu D'us" (Vayikrá 25:17). Por que a Torá precisa repetir duas vezes a mesma advertência?

Explica Rashi, comentarista da Torá, que na verdade os versículos se referem a dois tipos diferentes de "Onaá" (aflição). O primeiro versículo se refere a "Onaát Mamom", isto é, causar sofrimentos em assuntos relacionados com dinheiro. Por exemplo, é proibido se aproveitar da ignorância de outra pessoa para cobrar dela um valor injusto por uma mercadoria. O segundo versículo se refere a "Onaát Devarim", isto é, ferir alguém através de palavras. Qual das duas formas é a mais grave? Poderíamos pensar que a Onaát Mamon é muito mais grave do que a Onaát Devarim, pois quando uma pessoa é ferida verbalmente, ela não perde nenhum objeto de valor, mas quando ela passa por uma enganação monetária ela sofre uma perda real. É o que diz um famoso adesivo de carros nos Estados Unidos: "Paus e pedras podem me ferir, mas palavras nunca vão me machucar".

Porém, o Talmud (Torá Oral) diz justamente o contrário e nos ensina que a Onaát Devarim é mais grave do que a Onaát Mamon por três razões diferentes. Em primeiro lugar, é fácil notar quando alguém está tentando ser desonesto com o dinheiro dos outros, mas é difícil perceber as reais intenções de quem quer prejudicar outra pessoa verbalmente. Portanto quem é desonesto está ciente de que as pessoas provavelmente irão perceber que ele está fazendo algo errado. Se mesmo assim a pessoa faz o erro, demonstra que não tem temor de D'us, mas que também não tem nenhum medo do que as pessoas pensarão de suas ações. Porém uma pessoa que prejudica outras com a sua fala em geral o faz de forma escondida, demonstrando que teme mais as outras pessoas do que D'us. É por isso que no versículo sobre Onaát Devarim está escrito "tema a D'us", enquanto na Onaát Mamon isto não é mencionado.

Em segundo lugar, o Talmud diz que a Onaát Mamon prejudica apenas os bens materiais das pessoas, enquanto a Onaát Devarim é muito pior, pois prejudica a própria pessoa. Isto se refere especialmente a pessoas emocionalmente instáveis, cujos danos causados por um descuido de palavras pode penetrar em sua essência e causar danos irreversíveis.

O Talmud conclui com um terceiro aspecto em que Onaát Devarim é pior do que Onaát Mamon. Se uma pessoa tira dinheiro de outra pessoa de maneira enganosa, para que ele possa reparar o dano basta devolver o que ele pegou injustamente. Entretanto, quando se prejudica alguém com palavras, nenhuma quantidade de desculpas pode mudar o passado, pois as palavras não podem ser pegas de volta. É uma ocorrência comum nos relacionamentos humanos, especialmente no casamento, que algumas poucas palavras sem sensibilidade, pronunciadas em um breve momento de raiva, podem ecoar por muito tempo e causar feridas que nunca mais serão cicatrizadas. E pior do que isso, poucas palavras utilizadas de maneira prejudicial podem se tornar uma "bola de neve", aumentando ainda mais as consequências negativas, até o ponto de ser impossível desfazer o dano causado.

Estamos constantemente envolvidos em conversas com outras pessoas e, portanto, é muito fácil ferir sentimentos através de uma declaração impensada. Até mesmo uma brincadeira que fazemos sem nenhuma má intenção pode estragar uma amizade. Pelo fato de falarmos tanto, acabamos esquecendo o quão sério é a transgressão de ferir os sentimentos das outras pessoas. O Rabino Yonathan Guefen ensina uma técnica que nos ajuda a estarmos mais atentos com esta Mitzvá. Precisamos desenvolver a atitude de sermos tão cuidadosos com nossa fala como somos em outras Mitzvót. Por exemplo, em relação à Kashrut, nunca comemos algo sem verificar se a comida é realmente Kasher e, portanto, permitida para o consumo. Ninguém come impulsivamente e somente depois percebe que não era Kasher. Assim também precisamos estar sempre atentos se o que estamos prestes a lançar de nossas bocas é permitido ou não, se é construtivo ou destrutivo.

A fala é o que diferencia o ser humano de todo o restante da criação. É um presente que D'us nos deu. Facilita nossa comunicação, nos ajuda a transmitir o que queremos com objetividade. D'us criou o nosso mundo com palavras. Por que? Para nos ensinar que as palavras podem construir mundos. Em hebraico, falar é "Ledaber", que vem da mesma raiz da palavra "objeto", que é Davar". A fala, quando bem utilizada, constrói. Ao estudar Torá, ao incentivar, elogiar ou consolar alguém que precisa, ao criticar da maneira correta alguém que se desviou do caminho, estamos nos comportando como D'us e criando mundos espirituais. Mas ao mesmo tempo a fala mal utilizada destrói. Destrói boas amizades, acaba com bons casamentos, pode destruir vidas e mundos espirituais. O nosso Beit Hamikdash foi destruído pelo Lashon Hará, o mal uso da fala.

Ensinam nossos sábios que se as palavras valem prata, o silêncio vale ouro. Por isso, em muitos casos, se não vamos dizer algo construtivo, vale a pena ficar em silêncio.

"Três coisas não voltam atrás: a flecha atirada, a oportunidade perdida e a palavra pronunciada"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 30 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ EMOR 5770

BS"D
CONSULTORIA DE VIDA - PARASHÁ EMOR 5770 (30 de abril de 2010)
"Uma das maiores causas de acidentes aéreos é o choque dos aviões com pássaros durante o vôo. O perigo torna-se ainda maior nos momentos de pouso e decolagem, quando muitas vezes pássaros se chocam contra as turbinas e causam a queda da aeronave.
Pensando neste problema, cientistas do Canadá desenvolveram um canhão projetado especificamente para lançar frangos mortos contra aviões, simulando assim as colisões que podem ocorrer em velocidade de cruzeiro. Os testes possibilitam reconhecer quais são os pontos mais vulneráveis que necessitam algum tipo de reforço, gerando uma consequente melhoria da segurança nos vôos.
Engenheiros americanos ouviram falar do canhão e ficaram ansiosos para testá-lo no pára-brisas do ônibus espacial, que havia sido desenvolvido para resistir ao choque com os pássaros durante o lançamento do foguete. Os arranjos foram feitos e o canhão foi enviada para que os engenheiros americanos pudessem fazer os testes.
Porém, o resultado foi desastroso. Quando o canhão foi disparado e o pássaro colidiu com a nave, o pára-brisas se rompeu em centenas de pedaços, o painel de controle foi seriamente danificado, o banco do piloto rachou no meio e o pássaro se alojou na parede do fundo da cabine. O estrago foi tamanho que eles mal podiam acreditar nos resultados. Horrorizados e irritados, os cientistas imediatamente colocaram a culpa na invenção canadense. Enviaram ao Canadá os resultados desastrosos do experimento, juntamente com as fotos, e pediram aos cientistas explicações. Os engenheiros canadenses analisaram o teste e responderam com uma nota de apenas uma linha:
- Da próxima vez que vocês fizerem o teste, antes de acionar o canhão, descongelem o frango"
A Torá nos ensina o quanto é importante estarmos abertos às críticas. Muitas vezes alguém de fora consegue perceber falhas que nós não percebemos e, com simples idéias, podem ajudar a melhorar nossa vida.
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Nesta semana lemos a Parashá Emor que traz, entre outros assuntos, uma das Mitzvót que estamos cumprindo nestes dias: a Contagem do Omer. Assim diz o versículo: "E contem para vocês, desde o dia após o descanso, desde o dia em que vocês trouxerem o Omer (oferenda de cereais) que é erguido, sete semanas completas serão; até o final da sétima semana vocês devem contar, 50 dias...." (Vayikrá 23:15,16). A Torá nos comandou, a partir do segundo dia de Pessach, quando o sacrifício do Omer era oferecido no Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), a contarmos 49 dias de forma progressiva, até chegarmos ao 50º dia, que é a festa de Shavuot. Porém, se prestarmos atenção na linguagem do versículo, surge uma pergunta: por que a Torá diz "E contem para vocês" e não apenas "E contem"?
Quando o povo judeu saiu do Egito, as pessoas estavam em um nível muito baixo, no nível 49 de impureza espiritual. Os judeus, influenciados por uma sociedade completamente corrompida e imoral, também acabaram corrompendo seu caráter e não podiam receber a Torá neste nível tão baixo. Então D'us nos deu 49 dias até a entrega da Torá para que pudéssemos crescer um nível a cada dia. O povo judeu conseguiu, com um trabalho árduo, se purificar e estar apto a receber a Torá em um evento que mudou o curso da humanidade. Mas se estes 49 dias foram para o crescimento do povo judeu após a saída do Egito, por que a Torá nos deu uma Mitzvá de todos os anos também contar os 49 dias?
Quando comemoramos a Independência do Brasil no dia 7 de setembro, estamos apenas relembrando um evento histórico que aconteceu há centenas de anos, mas que em nada está relacionado com a nossa vida atualmente. Poderíamos pensar que as festas judaicas também são apenas recordações de eventos que ocorreram ao povo judeu durante nossa história. Mas explicam os nossos sábios que segundo o judaísmo nossa vida é um ciclo e, por isso, em cada uma das festas judaicas não estamos apenas relembrando, mas sim revivendo alguma influência espiritual que se repete nesta época do ano.
Explica o livro "Lekach Tov" que a expressão "para vocês" nos ensina que a Mitzvá da Contagem do Omer é algo que nos traz um benefício direto em nossas vidas. Mas qual o benefício há em contar os dias? Na realidade a Contagem do Omer não é simplesmente uma contagem de caráter quantitativo e sim uma contagem de caráter qualitativo, em relação a cada um dos atos que fazemos na vida. É uma oportunidade de se purificar e se elevar neste período de 7 semanas, adquirindo controle sobre os desejos e sobre os pensamentos mais voltados ao materialismo. Quando uma pessoa vende algo e recebe notas de alto valor, ele conta cada nota com muita atenção. Não apenas ele verifica a quantidade de dinheiro, mas ele examina cada uma delas para saber se são verdadeiras ou não. Assim deve ser a Contagem do Omer, não apenas devemos contar numericamente cada dia, mas devemos verificamos em cada dia da Contagem do Omer se os nossos atos são corretos ou não e quais são os pontos onde podemos melhorar.
Em Shavuot recebemos a Torá no Monte Sinai. E em cada ano a Torá é novamente entregue ao povo judeu, como uma chuva que está programada para o fim da época de cultivo do campo. Se o agricultor arou a terra e semeou neste período, a chuva vem para irrigar e trazer vida para este campo. Mas se o agricultor não tiver feito nada, a chuva vem de qualquer maneira, mas nenhum benefício dela pode ser sentido. O mesmo ocorre nestes 49 dias de preparação, pois se nos prepararmos, poderemos receber novamente a Torá em Shavuot, mas se ficarmos parados, certamente não estaremos melhorando em nada e a Torá não terá sobre nossa alma o efeito desejado.
Mas os dias da Contagem do Omer não são todos dias felizes para o povo judeu. Até o dia 33 da Contagem é um período de tristeza pela morte de 24 mil alunos do Rabi Akiva em uma terrível praga que ocorreu na época do Segundo Beit-Hamikdash. Qual foi a causa espiritual desta praga? Explica o Talmud que eles não respeitavam um ao outro como deveriam. Obviamente que o "não respeitar" dos alunos do Rabi Akiva não era falar grosserias um ao outro, era um erro muito sutil. Apesar de serem pessoas muito elevadas e o erro ter sido algo muito pequeno, como aqueles alunos seriam os transmissores da Torá para as futuras gerações, eles não estavam aptos a continuar a transmissão com esta característica não trabalhada. Mas o que houve de especial em Lag BaOmer, o dia 33 da contagem, dia em que os alunos pararam de morrer?
Nestes 49 dias de crescimento espiritual muitos judeus costumam seguir um "manual de crescimento" que está contido no Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas). Este livro traz, no último capítulo, 48 formas de crescer espiritualmente para adquirir a Torá. Em cada dia da Contagem do Omer as pessoas se esforçam para adquirir um dos níveis espirituais mencionados no Pirkei Avót e, no último dia, repassam todas as características. No dia 33 o trabalho de crescimento espiritual é "Ame as críticas". Foi neste dia, quando os alunos do Rabi Akiva trabalharam este nível espiritual de amar as críticas, que eles perceberam que não estavam se respeitando como deveriam e corrigiram seu erro.
O primeiro passo para melhorarmos em qualquer coisa em nossa vida é, antes de tudo, reconhecer onde há falhas. Mas a tendência natural do ser humano é achar que somos perfeitos, que sempre o erro está com os outros. Assumir que erramos causa uma baixa auto-estima. Para proteger nosso ego temos a capacidade de sempre justificar nossas atitudes, muitas vezes de maneira subconsciente. Sempre estamos certos e os outros estão sempre equivocados. Por isso as críticas são tão importantes, pois abrem nossos olhos e nosso coração, nos ajudam a enxergar os nossos defeitos. Saber receber críticas é um sinal de grandeza, é uma demonstração de vontade de crescer.
Este conceito pode ser observado mesmo nas empresas. Qual o papel de um consultor? Criticar o que está errado, identificar o que está deficiente e pode ser melhorado. Por que o dono da empresa paga, e caro, para escutar críticas? Pois ele sabe que quem está dentro da empresa perde a sensibilidade em muitas áreas e não enxerga mais os problemas. É necessário alguém de fora para perceber erros até mesmo infantis que são cometidos na empresa.
É isso o que nos ensina a Torá. Quem quer crescer de verdade deveria estar disposto a até mesmo pagar para escutar críticas. Todos cometem erros e isto não significa que não somos boas pessoas. Mas se queremos chegar ao nosso máximo potencial precisamos estar dispostos a colocar o nosso ego de lado e assumir para nós mesmos que ainda temos um longo caminho de crescimento pela frente.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 23 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT ACHAREI MÓT E KEDOSHIM 5770

BS"D

BONDADE SOB MEDIDA – PARASHIOT ACHAREI MÓT E KEDOSHIM 5770 (23 de abril de 2010)

"Um homem que viajava pela estrada viu dois pássaros brigando em um galho. Um deles então caiu no chão e não mais se moveu. O primeiro pássaro tentou empurrar e animar o pássaro caído, mas ele não se mexia, estava morto. Então o primeiro pássaro voou e voltou algum tempo depois com uma erva em seu bico. Ele colocou a erva sobre o corpo do pássaro morto e algo espantoso aconteceu: o pássaro morto voltou à vida e os dois levantaram vôo, deixando no chão aquela erva milagrosa.

- Isto é incrível! - exclamou o homem enquanto corria para pegar a erva. Ele pensava em quanta bondade poderia fazer ressuscitando os mortos.

O homem colocou a preciosa erva na sua mochila e continuou seu caminho. Pouco depois avistou uma raposa morta num campo. Colocou a erva sobre a raposa para testar se realmente funcionava. A raposa abriu os olhos e saiu andando. O homem ficou maravilhado. Logo passou por um leão morto à beira da floresta e pensou:

- Se a erva puder trazer um leão de volta à vida, saberei que é realmente poderosa.

Colocou então a erva sobre o leão. Este levantou-se com um estrondoso rugido. Quando o leão viu o homem, abriu a boca e imediatamente devorou-o."

Muitas vezes precisamos tomar cuidado com as nossas características. Mesmo boas características, se utilizadas da forma incorreta, podem ser muito prejudiciais para nosso crescimento espiritual.

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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Acharei Mót e Kedoshim. Um dos pontos em comum entre as duas Parashiot é que elas nos ensinam sobre os relacionamentos íntimos proibidos pela Torá. Enquanto a Parashá Acharei Mót menciona quais são os casos proibidos, a Parashá Kedoshim traz as punições previstas para cada um deles. E um dos casos, na Parashá Kedoshim, nos chama a atenção: "O homem que tomar sua irmã, a filha do seu pai ou a filha da sua mãe, e ele vir a nudez dela e ela vir a nudez dele, é um Chessed e eles devem ser espiritualmente desligados diante dos filhos do seu povo..." (Vayikrá 20:17). Em geral a palavra Chessed denota bondade, doação, mas neste versículo a Torá a utiliza para se referir a uma abominação. Qual a relação entre a característica de Chessed e as relações ilícitas?

Para responder esta pergunta precisamos antes de tudo entender exatamente o que significa o conceito de Chessed. O Chessed é mais do que apenas fazer bondades. Representa um transbordamento, derrubar os limites e as divisões. Um lado positivo da característica de Chessed é a vontade de dividir o que temos com os outros, quebrando as barreiras do egoísmo. O direcionamento positivo do Chessed deve levar a pessoa ao cumprimento da Mitzvá de "Veahavta Lereecha Kamocha" (Ame ao teu próximo como a ti mesmo), pois quando conseguimos derrubar todas as barreiras do egoísmo, conseguimos entender que somos todos parte de uma mesma alma, e cada vez que estamos ajudando ao próximo na verdade estamos ajudando a nós mesmos.

A palavra "característica" em hebraico é "Midá", que também significa "medida". Quando utilizamos o sal na medida correta ele tempera e melhora o gosto da comida, mas em excesso ele estraga os alimentos. Assim também são as nossas características: mesmo aquelas que aparentemente são boas, somente nos trazem benefícios quando são bem dosadas, mas se forem mal dosadas podem nos levar para um péssimo caminho.

Isto podemos observar em Lot, o sobrinho de Avraham, que vivia na cidade de Sdom, onde era proibido receber pobres em casa. Quando os anjos disfarçados de beduínos foram visitá-lo, após saíres da casa de Avraham, ele os recebeu e ofereceu casa e comida. Mas quando os moradores de Sdom souberam, exigiram que Lot os entregassem para que fossem castigados. Lot, querendo proteger seus convidados, ofereceu à população enfurecida as suas próprias filhas para que eles deixassem os beduínos em paz. Este é certamente um exemplo de Chessed negativo, pois ultrapassou os limites racionais e saudáveis. Qual foi a fonte do erro de Lot? Ele nunca se esforçou para adquirir a característica de Chessed. Ele aprendeu assistindo como Avraham recebia seus convidados com total dedicação, mas Lot nunca aprendeu a dosar. Seu Chessed desmedido o fez avançar os limites além do ideal.

E é isso o que a Torá ressaltou utilizando a palavra "Chessed" nas relações ilícitas, pois quando os limites são derrubados mas a pessoa não tem nenhum tipo de "freio", ela pode chegar a extremos completamente negativos. É o que chamamos de "efeitos colaterais" das nossas boas características quando não são bem direcionadas.

Avraham representa o Chessed, Yitzchak representa a justiça estrita e Yaacov representa a Torá, o equilíbrio. Avraham teve um filho Tzadik e um filho Rashá, para nos ensinar que o extremo de Chessed pode ser prejudicial. Yitzchak teve um filho Tzadik e um filho Rashá, para nos ensinar que o extremo de justiça estrita também pode ser prejudicial. Yaacov teve doze filhos Tzadikim, que deram origem às doze tribos do povo judeu, para nos ensinar a importância do equilíbrio nos nossos atos.

A Torá nos foi entregue justamente para nos ensinar a medida ideal em nossos atos, nos ajudando a definir quando é o momento e a situação para cada tipo de comportamento. Todas as nossas características podem ser utilizadas para o bem, pois todas elas D'us nos deu como ferramentas para cumprirmos nosso trabalho espiritual neste mundo. Apenas precisamos aprender a usar cada uma destas ferramentas com equilíbrio, para que elas possam realmente nos ajudar e não venham a nos atrapalhar.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5770

BS"D

COM O QUE VAMOS MORRER? – PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5770 (16 de abril de 2010)

"Alexandre Shechter (nome fictício) era um jovem que, apesar de ser judeu, havia sido criado em uma casa não-religiosa e por isso tinha poucos conhecimentos sobre o judaísmo. Aos 20 anos, após alguns meses frequentando aulas sobre judaísmo, ele começou a se interessar um pouco mais e decidiu que era hora de ir para uma Yeshivá (Centro de estudos judaicos). Como ele estava no meio da faculdade, teria que trancar a matrícula. Conversou com os pais e combinou que estudaria por 6 meses em uma grande Yeshivá que ficava em outra cidade e depois retornaria para terminar seus estudos na faculdade. Os pais, apesar de receosos, concordaram.

Aquele tempo na Yeshivá foi fantástico. Alexandre dedicava boa parte do seu dia a conhecer as leis da Torá e a se aprofundar nos estudos do Talmud, coisas que nunca tivera oportunidade na vida. Ele sentia que se tornava, a cada dia, uma pessoa melhor. Quando os 6 meses terminaram, Alexandre achou que ainda não estava pronto para voltar para casa. Precisava de um pouco mais de tempo para estudar e conhecer o judaísmo que ele havia desconhecido sua vida inteira. Ligou para os pais, explicou como estava contente com seus estudos e os novos conhecimentos e pediu mais 6 meses de prorrogação. Os pais aceitaram.

Porém, passados mais 6 meses, Alexandre ainda não estava satisfeito. A Yeshivá tinha aberto seus olhos, ele via o mundo de outra maneira e queria continuar crescendo espiritualmente. Queria terminar a faculdade, mas somente depois de construir uma sólida base espiritual. Porém, desta vez, quando pediu ao pai mais 6 meses de estudo, o pai negou veementemente. Por mais que o rapaz insistisse, o pai estava decidido que era hora dele voltar. Chegou ao ponto de viajar para a Yeshivá pessoalmente para colocar as coisas do filho na mala e trazê-lo de volta para casa. Quando estavam saindo da Yeshivá, o pai quis agradecer pessoalmente ao Rosh Yeshivá (Diretor espiritual) por toda a atenção e o cuidado que seu filho havia recebido durante aquele ano. Conversaram bastante e o pai se mostrou muito contente com todas as mudanças positivas de atitude que havia percebido no filho. Quando estavam saindo, o Rosh Yeshivá perguntou:

- Desculpe-me, mas se o senhor acha que seu filho está tão bem, por que vai levá-lo de volta para casa? Por que não o deixa seguir seus estudos judaicos aqui na Yeshivá por mais algum tempo?

- Escute aqui, rabino – falou duramente o pai – nós estamos na América, um lugar difícil de viver. A concorrência no mercado de trabalho é terrível. Se meu filho não tiver um bom preparo nos estudo, se ele não cursar uma boa faculdade, se não tiver um bom diploma, com o que ele vai viver? Com o que ele vai viver?

O Rosh Yeshivá, olhando nos olhos do pai do rapaz, respondeu.

- E se seu filho não tiver uma boa educação judaica, se ele não souber como cumprir Mitzvót e fazer bons atos, com o que ele vai morrer? Com o que ele vai morrer?"

Nos preocupamos demais com nossos estudos e o nosso sustento nesta vida, que não dura mais do que 120 anos. Será que também nos preocupamos com o sustento que levaremos para a nossa vida eterna no Mundo Vindouro? (História Real)

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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Tazria e Metzorá, e ambas tratam de uma doença espiritual chamada Tzaráat, que causava manchas na pele da pessoa contaminada. Ela deveria então passar por um processo de isolamento fora do acampamento do povo judeu até os sinais da doença terminarem e precisava completar sua "cura espiritual" oferecendo um Korban (sacrifício), como está escrito: "E sairá o Cohen (sacerdote) do acampamento, e verá o Cohen, e eis que foi curada a praga da Tzaráat daquele que tinha Tzaráat. E ordenará o Cohen, e tomará para aquele que vai ser purificado dois pássaros vivos e puros, madeira de cedro, carmesim e hissopo" (Vayikrá 14:3,4). Cada um dos elementos do Korban representa algo sobre as causas da Tzaráat. O que representam os pássaros?

Ensinam os nossos sábios que a Tzaráat vinha por 3 diferentes motivos: por Lashon Hará (falar mal de outra pessoa), por causa do orgulho e por causa do desejo descontrolado por dinheiro e bens materiais. Portanto, os pássaros vinham dar uma "dica" do porque a pessoa tinha sido contagiada pela Tzaráat. Os filhotes de pássaro ficam o tempo todo abrindo a boca e piando. Assim também são aqueles que falam demais, muitas vezes sem pensar o que vão dizer, e acabam falando Lashon Hará. Outra característica dos pássaros é que eles estão sempre sobre os outros animais. Assim também se comportam as pessoas orgulhosas, que se consideram sempre acima das outras pessoas. E finalmente os pássaros, apesar de passarem alguns momentos caminhando sobre o chão, podem a qualquer momento levantar vôo e ir embora. Assim é aquele que deseja muito o dinheiro e os bens materiais. Ele se esquece que nossas propriedades podem "voar", que em um momento temos tudo em nossas mãos, mas podemos perder tudo em um instante. Mas afinal, qual a relação entre as 3 causas do Tzaráat, que aparentemente parecem motivos tão diferentes?

Quando D'us criou o ser humano, o fez por bondade. Nossa alma foi colocada dentro de um corpo para que, durante os anos de vida neste mundo, possamos utilizar nosso livre-arbítrio para fazer o bem e assim acumular méritos com os nossos bons atos. Apesar de termos muitos prazeres neste mundo, o propósito da criação não são estes prazeres, que são na verdade de pequena intensidade. Os verdadeiros prazeres, os prazeres espirituais, estão guardados para o Olam Habá (Mundo Vindouro). Então para que D'us criou os prazeres do mundo material? Por um lado para servirem como um teste e nos darem méritos quando conseguimos tomar as decisões corretas mesmo quando vão contra as nossas vontades, e por outro lado para serem utilizadas como ferramentas para que nosso trabalho espiritual neste mundo possa ser realizado. Por exemplo, é uma Mitzvá comermos refeições gostosas no Shabat, pois assim estamos utilizando o mundo material como um meio para nos elevarmos espiritualmente.

Portanto, a pessoa que tem um desejo incontrolável por dinheiro demonstra que não entendeu o propósito da vida, não entendeu que esta vida é passageira e que o mais importante é o que estamos acumulando para a eternidade através dos nossos bons atos. Quando a pessoa não entende que o espiritual é mais importante que o material, ela começa a sentir que suas posses a transformam em uma pessoa melhor que os outros e começa a sentir orgulho. E finalmente, por se sentir melhor do que os outros, se acha no direito de menosprezá-los, chegando ao Lashon Hará. Por isso, quando perdemos o foco de que a vida material é apenas passageira, acabamos nos tornando pessoas orgulhosas, que falam Lashon Hará dos outros e se tornam obstinadas em conquistar seus desejos materiais.

Um dos principais efeitos psicológicos de se trazer um Korban era o momento em que o animal oferecido era morto. Isso causava no transgressor um mal-estar, pois sentia que na verdade era ele mesmo quem deveria estar morrendo pelos seus pecados. O pensamento da morte fazia com que a pessoa se arrependesse e despertasse. Muitas vezes negligenciamos nossa vida espiritual ao investir demais na nossa vida material pois nos esquecemos que ela é finita, que um dia tudo isso terminará. Muitas vezes nos sentimos melhores do que os outros porque nos esquecemos que, no final, todos voltaremos ao mesmo pó, tanto o rico quanto o pobre, tanto o sábio quanto o tolo, tanto o belo quanto o feio. É o que nos ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "É melhor ir ao cemitério do que ir a uma festa" (Kohelet 7:2). Quando vamos ao cemitério, despertamos para a vida. Lembramos que um dia tudo isso vai chegar ao fim. Tudo o que juntamos de bens materiais, todos os esforços materiais que fizemos nesta vida ficarão aqui, nada levaremos para a eternidade. A única coisa que levaremos são as nossas Mitzvót e os nossos bons atos.

Se quisermos nos tornar pessoas melhores e, ao mesmo tempo, acumular "bens" espirituais para o Mundo Vindouro, a única maneira é estudando, conhecendo e cumprindo a nossa Torá. Se sempre encontramos tempo para investimentos limitados de 120 anos, não encontraremos tempo para investimentos eternos?

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

quinta-feira, 8 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHEMINI 5770

BS"D

A CULPA É DOS OUTROS – PARASHÁ SHEMINI 5770 (09 de abril de 2010)

"Um poderoso rei vivia sendo cobrado por seus súditos, que eram muito exigentes e queriam uma cidade perfeita. O rei então quis testar seus súditos para saber se eles eram tão exigentes consigo mesmos como eram com os outros. Colocou uma grande pedra no meio da rua principal e ficou escondido, observando se as pessoas se preocupariam em desobstruir a rua ou passariam como se não tivessem visto a pedra.

Durante todo o dia as pessoas que passavam pela rua viram a grande pedra ali, obstruindo o caminho, mas não fizeram absolutamente nada. Elas sentiam que não era obrigação delas fazer nenhum esforço, pois entendiam que a culpa era do rei. Elas preferiam apenas desviar da pedra e continuar seus caminhos. Muitas pessoas olhavam a pedra e, além de não fazer absolutamente nada, ainda praguejavam o rei, pois achavam que ele não estava se esforçando para manter as ruas limpas. Outros pensavam que havia muitos moradores naquele reinado e, portanto, outra pessoa certamente se esforçaria para retirar a pedra. O resultado foi que, quase no final do dia, a pedra ainda estava ali, no meio do caminho, sem que nenhum morador tivesse se preocupado em retirá-la.

Chegou então um homem que carregava um enorme pacote de vegetais nas costas. Ele viu aquela enorme pedra no meio do caminho, que obrigava todos a se desviarem do caminho. Ele tinha todos os motivos para deixar para que os outros fizessem o serviço, afinal, ele carregava algo realmente pesado nas costas. Ele tinha todas as razões para falar mal do rei e reclamar da sua má administração. Mas ele não fez nada disso, pois ele sentia que se a pedra estava ali, no meio da rua pública, então também era sua obrigação tirá-la dali. Ele calmamente colocou seu pesado fardo no chão e empurrou a pedra com toda a sua força. Após muito esforço ele finalmente conseguiu mover a pedra.

Quando estava colocando de volta seu fardo nas costas, ele viu que havia algo no meio da rua, exatamente no lugar onde anteriormente estava a pedra. Parecia uma sacola, e estava cheia. Abriu a sacola e viu que ela continha centenas de moedas de ouro e um envelope. Era um bilhete escrito e selado pelo próprio rei. O bilhete dizia:

- Todo este ouro pertence ao cidadão que encontrá-lo. Pois é o cidadão que entendeu que, para que nosso reinado seja um lugar realmente melhor, cada um deve receber sobre si a responsabilidade de melhorá-lo, ao invés de colocar a culpa dos problemas nos outros"

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Nesta semana lemos a Parashá Shemini, que descreve um momento único do povo judeu: a inauguração do Mishkan (Templo Móvel). Em cada um dos sete dias iniciais de inauguração Moshé montou o Mishkan inteiro, fez sozinho todo o serviço sagrado e no final desmontou o Mishkan. No oitavo dia (Shemini, em hebraico) Aharon e seus filhos foram consagrados como Cohanim (sacerdotes). Daquele dia em diante apenas os Cohanim estavam aptos a fazer os serviços do Templo. Moshé então comandou Aharon, o Cohen Gadol (Sumo-sacerdote) a fazer todos os serviços, como está escrito: "E Moshé disse: 'É isso que D'us ordenou a vocês. Façam e então a presença de D'us aparecerá para vocês" (Vayikrá 9:6).

A Parashá então descreve todo o serviço realizado por Aharon, entre eles o oferecimento de alguns Korbanót (sacrifícios). E assim a Torá descreve o final do serviço no dia da inauguração: "E então ele (Aharon) desceu após ter realizado as oferendas de pecado, as oferendas de elevação e as oferendas de paz. Moshé e Aharon vieram para a Tenda da Assinação, e eles saíram e eles abençoaram as pessoas. E a presença de D'us apareceu para todo o povo" (Vayikrá 9:22,23). Este versículo é difícil de ser entendido por dois motivos. Primeiro, se os Cohanim já haviam sido consagrados para os serviços do Templo, por que Moshé precisou entrar junto com Aharon? E segundo, por que quando Aharon terminou o serviço do Mishkan a presença de D'us não apareceu imediatamente, conforme Moshé havia dito, tendo aparecido somente depois que Moshé e Aharon entraram juntos no Mishkan, algum tempo após a finalização do serviço?

Uma das características mais comuns do ser humano é se esquivar da culpa. Talvez para proteger nosso ego, constantemente jogamos a culpa dos nossos erros nos outros. Mesmo quando chegam sobre nós sofrimentos, o primeiro impulso é questionar a bondade de D'us, ao invés de questionar os nossos próprios atos e procurar algum motivo para o sofrimento ter recaído sobre nós. E isso é tão frequente que chegamos a pensar que este é o normal e o desejável ao ser humano.

Na Parashá desta semana aprendemos que um dos maiores sinais de grandeza de um ser humano é saber assumir a culpa pelos seus erros e aceitar as consequências. Isso demonstra maturidade e, principalmente, humildade. Foi exatamente o que aconteceu com Aharon HaCohen. Explica Rashi, comentarista da Torá, que quando Aharon terminou o serviço do Mishkan, a presença de D'us realmente deveria ter aparecido imediatamente, mas nada aconteceu. O que qualquer um de nós faria? O natural seria colocar a culpa nos outros, até mesmo em D'us, que não havia cumprido Sua "promessa". Mas não foi o que Aharon fez. Imediatamente ele procurou Moshé e disse: "Moshé, eu sei que D'us está bravo comigo por causa da minha participação na construção do bezerro de ouro. É por minha culpa que a presença de D'us não apareceu no Mishkan". Moshé então entrou no Mishkan junto com Aharon, rezou pela misericórdia de D'us e somente depois disso a presença de D'us apareceu.

Mas Aharon, um grande Tzadik (Justo), realmente havia participado da construção do bezerro de ouro? Explicam nossos sábios que Hur, cunhado de Moshé, tentou impedir os judeus quando eles começaram a construir o bezerro e foi imediatamente assassinado. Aharon entendeu que se ele tentasse impedir, também seria assassinado, aumentando ainda mais a culpa do povo e o conseqüente castigo. Então ele teve a idéia de fingir que estava interessado na construção e tomou sobre si o comando do "projeto". Ele queria ganhar tempo até a volta de Moshé e por isso pediu para o povo trazer suas jóias de ouro, na esperança de que as pessoas se negariam a trazer as suas próprias jóias e o processo demoraria muito tempo. Infelizmente o povo estava tão obstinado na construção do bezerro de ouro que todos trouxeram rapidamente o seu ouro e o bezerro acabou realmente sendo construído, o que foi considerado, em certo nível, responsabilidade de Aharon, apesar de suas boas intenções.

Porém, já que a participação de Aharon na construção do bezerro de ouro foi algo tão secundário, ao contrário da maioria do povo, que realmente doou seu ouro e construiu o bezerro com alegria e entusiasmo, por que ele recebeu sobre si a culpa da presença de D'us não ter vindo para o Mishkan? Por que ele não atribuiu o insucesso ao resto do povo, ficando com sua consciência limpa e tranquila?

Isso nos ensina quem são os grandes do nosso povo, que devem ser os nossos modelos de conduta em todos os tempos. Eles nos ensinam o que D'us realmente quer de nós e nos mostram que temos um grande potencial adormecido dentro de nós que, com muito esforço e dedicação, pode ser alcançado. Aharon nos ensinou que quando chega sobre nós algum tipo de sofrimento ou dificuldade, ao invés de procurar o que o outro está fazendo de errado, tempos que antes de tudo procurar o que nós mesmos estamos fazendo de errado. E este conceito não deve ser aplicado somente nos pequenos acontecimentos. Mesmo em grandes tragédias cada um de nós deve se sentir culpado pelas coisas que estão acontecendo no mundo. Explica o livro Messilat Yesharim (Caminho dos Justos) que quando o homem se eleva espiritualmente, o mundo inteiro se eleva junto com ele, mas quando o homem se corrompe, o mundo também se corrompe. D'us criou uma natureza perfeita e harmônica, mas quando o ser humano não se comporta dentro dos limites que D'us impôs, então a natureza também avança sobre seus limites e as catástrofes acontecem.

Estamos em um momento óbvio de "descontentamento" de D'us. Nos últimos meses o número de catástrofes "naturais" que ocorreram no mundo foi impressionante. Terremotos devastaram o Haiti e castigaram duramente o Chile. Chuvas em intensidades nunca antes registradas alagaram São Paulo e Rio de Janeiro, causando centenas de vítimas e muita destruição. Tempestades de neve e ondas de calor castigaram diferentes lugares do globo. Tsunamis, que até poucos anos atrás eram palavras encontradas somente nos dicionários, se tornaram constantes. Será tudo coincidência? Especialistas sempre trazem explicações naturais para estes fenômenos. Por que tanto interesse em procurar respostas naturais? Pois é mais fácil procurar culpados na natureza ou limpar a consciência culpando o aquecimento global do que procurar a culpa em cada um de nós. As pessoas grandes não fazem isso, elas não procuram culpados fora. Elas param para refletir quando escutam sobre alguma tragédia e procuram as causas nos seus próprios atos.

Esta é a decisão que temos que tomar em nossas vidas: viver uma vida de ilusão, onde só os outros são culpados de todos os problemas e nós somos sempre os injustiçados, ou viver na realidade de que nós também cometemos erros e muitos dos sofrimentos que chegam até nós são consequências diretas dos nossos próprios erros.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm