sexta-feira, 3 de outubro de 2008

VIDUI (CONFISSÃO) - YOM KIPUR

BS"D

VIDUI (CONFISSÃO) - YOM KIPUR

1) ASHAMNU - NOS TORNAMOS CULPADOS ("Ashamá"=Culpabilidade; "Shmamá"=aridez, jogamos para cima nossas responsabilidades).

• Transgredimos contra D'us e trouxemos desolação espiritual.
• Transgredimos intencionalmente, para o nosso benefício.

2) BAGADNU - TRAÍMOS.

• Fomos  mal-agradecidos e desleais com D'us e com o próximo.
• Pagamos o bem com o mal.

3) GAZALNU - ROUBAMOS.

• Comemos sem fazer Brachá.
• Usamos bens de outros sem pagar.
• Não cumprimos nossas obrigações com as pessoas.
• Roubamos a privacidade e a dignidade das pessoas.
• Nos aproveitamos da ignorância dos outros.

4) DIBARNU DOFI - FALAMOS HIPOCRISIAS E LASHON HARÁ (Du pi = Duas bocas, isto é, pela frente falar bem, por trás falar mal; Dofi = Parede, isto é, falsidade, hipocrisia).

• Falamos mal de D'us, duvidando da Sua justiça.
• Falamos mal das pessoas e divulgamos seus erros.
• Falamos mal das pessoas por trás.

5) HEEVINU - FIZEMOS OUTROS TRANSGREDIREM ("Avon" = Transgressão).

• Influenciamos as pessoas para o mal com atos ou palavras.
• Pervertemos pessoas boas.

6) VEHIRSHANU - FIZEMOS OS OUTROS COMETEREM TRANSGRESSÕES ("Resha" = Transgressões premeditadas).

• Transformamos pessoas boas em Reshaim (pessoas que fazem o mal com premeditação, e não pela força do Ietzer).

7) ZADNU - TRANSGREDIMOS INTENCIONALMENTE.

• Transgredimos intencionalmente, e inventamos argumentos e filosofias para nos justificarmos, e com isso ficamos mais propensos a errar de novo (pior que "Resha").

8) CHAMASNU - EXTORQUIMOS, PEGAMOS COISAS QUE NÃO FORAM DADAS COM VONTADE ("Chamás" = tipo de roubo, pegar à força, mesmo pagando).

• Cometemos atos errados, mas não puníveis (ex: roubar menos de "Prutá", quantidade mínima para que o ato seja punível por roubo).
• Tiramos vantagem dos pobres e fracos.

9) TAFALNU SHEKER - NOS JUNTAMOS À MENTIRA.

• Não apenas vivemos na mentira, mas construímos mundos.
• Trouxemos falsidade ao nosso cotidiano.
• Acusamos falsamente outras pessoas, e para apoiar nossas mentiras, criamos mais mentiras.

10) IAATZNU RÁ - ACONSELHAMOS PARA O MAL.

• Transgredimos a proibição de "Lifnei Iver" (não colocar um obstáculo na frente de um cego).        
• Demos maus conselhos para o nosso proveito.
• Abusamos da confiança dos outros e os levamos a prejuízos ou transgressões.
• Não demos atenção aos problemas dos outros.

11) KIZAVNU - FOMOS ENGANOSOS (MENTIROSOS).

• "Mentirosos": grupo que não é recebido diante da Presença Divina.
• Fizemos promessas e não nos esforçamos para mantê-las.
• Falamos e não cumprimos, e não nos importamos.

12) LATSNU - ESCARNEAMOS (NÃO TIVEMOS ATITUDES SÉRIAS NA VIDA).

• "Palhaços": grupo que não é recebido diante da Presença Divina.
• Ridicularizamos pessoas honestas e justas.
• Tentamos encontrar  humor em tudo o que fazemos.
• Destruímos repreensões com piadas e fizemos a Teshuvá mais difícil.
• O escarneio leva à imoralidade sexual.

13) MARADNU - NOS REBELAMOS.

• Não tivemos "Emuná" (fé).
• Desafiamos a vontade de D'us.

14) NIATSNU - PROVOCAMOS.

• Desrespeitamos D'us e Suas Mitzvót.
• Fizemos Mitzvót com objetos roubados (por exemplo fazer Brachá sobre uma comida que não era nossa).

15) SARARNU - NOS AFASTAMOS.

• Ficamos indiferentes ao serviço de D'us.
• Deixamos de cumprir Mitzvót.
• Usamos o conforto e a prosperidade para nos afastar de D'us, ao invés de usar para servi-Lo melhor.

16) AVINU - NOS TORNAMOS PERVERTIDOS ("Taavót = Desejos).

• Transgredimos por causa de nossos cabeças pervertidas.
• Justificamos a imoralidade, a corrupção, a desonestidade.
• Nos tornamos, em nossas palavras e atitudes, rudes.

17) PASHANU - AGIMOS DE FORMA INTENCIONAL.

• Negamos a validade das Mitzvót.
• Deixamos de acreditar na Torá (mesmo uma pequena parte).

18) TSARARNU - FIZEMOS OS OUTROS SOFREREM.

• Causamos sofrimentos (perdas financeiras ou psicológicas, como por exemplo chamar o outro com apelidos maldosos).
• Odiamos uns aos outros.
• Não nos importamos com o sofrimento dos outros.

19) KISHINU OREF - FOMOS OBSTINADOS.

• Não mudamos os atos, mesmo depois de receber sofrimentos.
• Atribuímos nossas dificuldades ao acaso, não associamos nossos sofrimentos com nossas transgressões.

20) RASHANU - FOMOS MALVADOS.

• Cometemos atos que nos rotularam como "Reshaim" (malvados), tais como levantar a mão contra o próximo, roubar ou planejar transgressões.

21) SHICHATNU - CORROMPEMOS-NOS.

• Cometemos transgressões que corromperam nosso caráter, como arrogância, raiva, falta de caridade, imoralidade

22) TIAVNU - NOS TORNAMOS ABOMINÁVEIS.

• Transgredimos e nos degradamos a um ponto de nos tornar abomináveis aos olhos de D'us

23) TAINU - NOS AFASTAMOS.

• Por nossos maus atos, nos afastamos de D'us.
• Nos acostumamos com o erro, e tornamos a Teshuvá (retorno) mais difícil (e tudo por nossa culpa).

24) TITANU - VOCÊ NOS DEIXOU DESVIARMOS.

• Abusamos da nossa livre-escolha, nos afastamos e levamos os outros juntos.
• Medida por medida: nos afastamos, e D'us não nos impediu de cair.


SHABAT SHALOM MAIL - YOM KIPUR 5769

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EU NÃO FIZ NADA! – YOM KIPUR 5769 (03 de outubro de 2008)

"Um rico comerciante comprou um maravilhoso candelabro, feito de puro cristal e cravejado de pedras preciosas. O candelabro virou o grande orgulho da família, pois todos os convidados se admiravam com o seu esplendor. Como o candelabro era muito pesado, a única forma encontrada para prendê-lo foi amarrá-lo com uma corda e fazer um furo no forro da casa, para que a corda passasse pelo furo e a outra ponta pudesse ser fixada em uma roldana na parede do sótão.

Certo dia um homem muito pobre bateu na porta do rico comerciante. Suas roupas estavam imundas e completamente rasgadas. O dono da casa teve misericórdia daquele pobre homem, recebeu-o docemente e levou-o para o sótão, onde estavam guardadas muitas roupas em bom estado mas que não estavam sendo mais usadas. Deixou o homem à vontade para escolher o que quisesse, e saiu do sótão.

O pedinte escolheu algumas roupas e colocou-as em uma sacola. A sacola ficou muito cheia e o pobre procurou um pedaço de corda para fechá-la, mas não encontrou em nenhum lugar. Foi quando levantou os olhos e viu a corda que estava presa na roldana. Quis pedir permissão do dono da casa para pegar um pedaço, mas pensou "Que mal pode fazer se eu pegar apenas um pedacinho desta imensa corda?". Tirou do bolso seu canivete e cortou um pedaço da corda.

De repente, ecoou em toda a casa um terrível estrondo, e toda a família correu para o sótão. Quando viram o homem com um pedaço de corda na mão, logo entenderam o que havia acontecido. Ele havia soltado a corda que segurava o candelabro, e este havia se espatifado no chão. O dono da casa, que antes havia sido muito receptivo, gritou com o pedinte:

- Você viu o que você fez, seu ignorante?

- Mas eu não fiz nada! – gritou o pedinte, ofendido – Todo este escândalo só por causa de 10 centímetros de corda? Se for este o problema, eu devolvo!

Vendo que o mendigo realmente era tão ignorante que nem mesmo havia entendido o que aconteceu, o homem se acalmou e explicou:

- Sim, a única coisa que você fez foi pegar um pequeno pedaço de corda. Mas o que você não sabia é que um valiosíssimo candelabro de pedras preciosas, no valor de alguns milhares de dólares, estava justamente sendo sustentado pela corda que você cortou. O problema não são os 10 centímetros de corda, e sim o candelabro que, graças ao seu "pequeno" ato de cortar a corda, está agora espatifado no chão da sala, sem nenhuma chance de ser consertado."

Frequentemente cometemos enganos na vida, e muitas vezes consideramos serem apenas "pequenas" falhas, mas que na verdade podem estar causando catástrofes espirituais. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Uma Mitzvá traz outra Mitzvá, mas uma má ação traz outra má ação", isto é, cada ato que fazemos na vida, por menor que seja, pode causar reações em cadeia. Qualquer ato, por mais insignificante que possa parecer, pode estar criando ou destruindo mundos espirituais.
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Na próxima quarta-feira de noite (08 de outubro) começa Yom Kipur, o Dia do Perdão, dia em que todos os nossos erros podem ser perdoados e apagados. Mas se podemos nos arrepender de nossos erros todos os dias, por que D'us fixou o dia de Yom Kipur como o dia do perdão? Além disso, por ser um dia de rezas e jejum, muitos vêem Yom Kipur como um dia triste. Como mencionamos em Yom Kipur muitos dos nossos erros cometidos durante o ano, sentimos que Yom Kipur tem um caráter negativo. Mas o Talmud diz justamente o contrário, que não há dia tão feliz para o povo judeu como Yom Kipur. Por que?

Em cada uma das festas judaicas não apenas recordamos, mas também revivemos uma certa influência espiritual que existe naquele momento. Para entender o quanto Yom Kipur é um dia feliz, precisamos saber exatamente qual é a fonte deste dia na Torá. Moshé Rabeinu subiu no Monte Sinai para receber a Torá no dia 6 do mês judaico de Sivan, e permaneceu lá por 40 dias. Ele desceu, trazendo as tábuas com os 10 mandamentos, no dia 17 do mês de Tamuz, dia fatídico em que o povo judeu cometeu o terrível pecado do bezerro de ouro. Moshé, ao ver o bezerro de ouro, quebrou as tábuas e imediatamente começou a rezar pelo povo judeu, pois D'us queria destruir todo o povo. Ele subiu novamente no Monte Sinai no dia 18 do mês de Tamuz e passou mais quarenta dias rezando e suplicando por misericórdia, e desceu no dia 29 do mês de Av. No dia primeiro do mês de Elul Moshé subiu pela terceira vez no Monte Sinai, levando as Segundas Tábuas já esculpidas para que D'us escrevesse nelas, e passou mais 40 dias recebendo novamente a Torá. Finalmente no dia 10 de Tishrei D'us perdoou completamente o povo judeu e permitiu que Moshé descesse com a Torá e a entregasse ao povo judeu. E é essa influência espiritual, de termos pecado, nos arrependido e termos sido completamente perdoados, que se repete todos os anos no dia 10 do mês de Tishrei, Yom Kipur.

Explicam nossos sábios que em Rosh Hashaná são abertos 3 livros: Os Tzadikim são imediatamente inscritos para a Vida, os Reshaim (malvados) são imediatamente inscritos para a morte, e os Beinonim (intermediários, cujas boas ações e más ações estão equilibradas) ficam com o julgamento pendente até Yom Kipur. Muitas vezes nos consideramos Tzadikim, afinal, o que fizemos de mal? Não matamos, não roubamos, na medida do possível tentamos ser boas pessoas. Muitos sequer se preocupam com Yom Kipur, imaginam que tem muito pouco para serem perdoados.

Mas se observarmos o texto do Vidui, a confissão que fazemos diante de D'us em todas as rezas de Yom Kipur, começamos a perceber que talvez nossos "pequenos erros" não sejam assim tão inocentes quanto pensávamos. Pois assim diz David Hamelech (Rei David) nos Salmos: "se afaste do mal e faça o bem". Não é suficiente somente não fazer o mal, temos que ativamente fazer o bem para os outros para sermos considerados boas pessoas, e infelizmente em nossas vidas corridas não sobra muito tempo para pensar em mais ninguém fora nós mesmos. Além disso, será que realmente não fazemos mal a ninguém? O Vidui traz alguns exemplos de atitudes negativas que todos nós, com maior ou menor intensidade, cometemos durante o ano inteiro: Fomos mal agradecidos, Influenciamos mal outras pessoas, Não nos preocupamos com os problemas e com os sofrimentos dos outros, Falamos mal do próximo, Causamos sofrimentos, Fomos arrogantes, Explodimos de raiva por motivos banais, etc. Se realmente sentássemos para escrever todas as "pequenas" transgressões que fizemos durante o ano, o tempo terminaria mas a nossa lista não.

Portanto, um das características mais importantes na preparação para Yom Kipur é a conscientização de que nós realmente erramos, que nossos erros têm graves consequências espirituais, e por isso precisamos nos arrepender do que fizemos. Como nos ensina a Torá: "E se acontecer de alguém escutar as palavras desta maldição e ele se abençoar no seu coração dizendo: 'Terei paz, ainda que eu ande conforme o parecer do meu coração', acrescentando água à sede, este D'us não perdoará..." (Devarim 29:18,19). O pecado do bezerro de ouro nos ensinou que, não importa a gravidade dos erros que fizemos durante o ano, todo aquele que se arrepende de verdade é perdoado. Mas aquele que diz "Estou tranquilo, afinal eu não fiz nada", este não tem perdão em Yom Kipur. Pois o pior cego é aquele que não quer ver.

A Teshuvá, isto é, a possibilidade de nós errarmos e, ao nos arrependermos, nosso erro ser apagado como se nunca houvesse existido, é um grande milagre e uma grande bondade. Quando D'us vê que alguém realmente quer fazer Teshuvá e voltar aos caminhos corretos, Ele remove as impurezas do coração da pessoas, dando mais força para o arrependimento dela. Ele limpa nossos corações para que possamos nos aproximar Dele. E por mais que durante todo o ano as portas da Teshuvá nunca se fecham, em Yom Kipur elas estão completamente escancaradas. Portanto, Yom Kipur não é um dia de depressão, é um dia de alegria. É um dia em que podemos dizer para D'us "Sim, erramos, mas queremos e podemos mudar".

Estamos nos "Asseret Iemei Teshuvá", os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, quando cada ato nosso pesa muito mais. Que possamos aproveitar cada instante para nos prepararmos para o presente que é o dia de Yom Kipur, e que possamos ser todos selados para um ano bom e doce.

SHABAT SHALOM e TZOM KAL (Que o jejum de Yom Kipur seja leve para todos nós).

"SHETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM" (QUE SEJAMOS SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

SHANÁ TOVÁ

BS"D

No final da Parashá passada, Ki Tavô, estão escritas as terríveis Klalót (maldições) condicionais, que podem recair sobre o povo judeu. E no meio das Klalót está explícito o motivo: "Porque vocês não serviram D'us com alegria e com bom coração, mesmo quando vocês tinham tudo" (Devarim 28:47).

Por isso, todos temos que dizer com alegria e com toda nossa força "Shehecheianu Vekiimanu Vihiguianu Lazman Hazé" (Obrigado a D'us, que nos deu vida, nos manteve e nos fez chegar até este dia). Estamos terminando mais um ano, e precisamos agradecer muito ao Criador por todas as oportunidades e bons momentos que passamos neste ano. E olhando para trás, vemos que mesmo as dificuldades também nos fizeram mais fortes, revelaram forças que nem mesmo nós conhecíamos.

Em especial, agradeço a D'us pela oportunidade de conseguir completar mais um ciclo anual do Shabat Shalom Mail, já em seu sexto ano, e atualmente com mais de mil leitores. Muitas vezes o trabalho foi até tarde da noite, e D'us me deu forças, para que todos pudessem receber em casa um pouquinho da doçura da Torá. É gratificante saber que, em milhares de lares judaicos, as famílias voltaram a se sentar juntas na mesa de Shabat para iluminar a noite com palavras de Torá.

Agradeço a todos os que durante o ano incentivaram, elogiaram e enviaram suas críticas construtivas e sugestões, mas principalmente a todos os que leram o Shabat Shalom Mail e foram a minha fonte de inspiração, neste trabalho que a cada semana me preenche mais espiritualmente.

Aproveito a oportunidade de pedir perdão para qualquer pessoa que tenha se sentido ofendida por qualquer coisa que eu tenha escrito. Certamente não foi minha intenção. Também peço perdão para aqueles que me escreveram mas que eu não pude responder. Não foi por descaso, e sim por motivo de total falta de tempo. Mas nunca deixo de ler os comentários e as sugestões, e tento adotá-las quando possível. Por isso, peço que continuem sempre me escrevendo.

Desejo a todos um ano de muito crescimento espiritual, que possamos dar cada vez mais valor para os ensinamentos da Torá e, passo a passo, começar a vivenciá-los em cada detalhe, para trazer muita luz para nossas vidas, tanto neste mundo quanto no Mundo Vindouro.

SHANÁ TOVÁ para todos, que seja um ano muito doce, com muitas alegrias e saúde.

Com carinho,

Rav Efraim Birbojm

SHABAT SHALOM MAIL - ROSH HASHANÁ 5769

BS"D
EMPREGO NOVO, VIDA NOVA - PARASHÁ NITZAVIM 5768 E ROSH HASHANÁ 5769

"Após muito tempo procurando uma oportunidade, Carla finalmente foi contratada para um novo emprego, com um bom salário. No primeiro dia de trabalho ela foi muito ansiosa, com uma grande expectativa. Carla chegou cedo na empresa e, para sua surpresa, não havia nenhum gerente para dizer quais seriam suas funções. E o mesmo ocorreu no dia seguinte, e mais um dia, e outro dia, e ninguém aparecia para dizer o que ela deveria fazer.

Após alguns dias de total ociosidade, Carla decidiu que precisava fazer algo. Ela queria se mostrar eficiente, queria mostrar suas habilidades, mas não sabia como aproveitar seu tempo de forma produtiva. Tomou coragem e começou a perguntar para seus colegas de trabalho qual seria a função dela na empresa. A grande maioria não sabia, e deu risada por causa da sua inquietação. Terminou o mês e Carla recebeu seu alto salário, ainda sem saber o que deveria fazer.

Mas ela não desistiu. Começou a olhar em volta, para tentar entender como o trabalho do escritório funcionava, mas percebeu, um pouco chocada, que ninguém sabia exatamente o que fazer, e o mais incrível é que poucos pareciam preocupados com isso. Procurou maneiras de ser útil, dando uma mão aqui e ali. Tentou fazer coisas que, conforme ela sentia, poderiam talvez ajudar a empresa como um todo, mas não tinha certeza se seus esforços estavam realmente valendo a pena.

Depois de passar alguns meses nestas condições, Carla recebeu uma carta informando que em três dias o presidente da empresa viria para avaliar seu trabalho e decidir se seu tempo havia sido bem aproveitado ou não. A continuidade do trabalho dela dependia da avaliação do presidente, e por isso Carla ficou muito nervosa. Estava tentando ajudar, mas como saber se realmente estava fazendo um bom trabalho ou não?"

Todos nós também temos um "emprego": a vida. D'us nos deu um corpo, e tudo o que precisamos para mantê-lo forte e saudável: ar, água, comida, etc. Mas para que? O que devemos fazer com o nosso tempo? Qual é o nosso trabalho? São perguntas que devemos nos fazer, pois em Rosh Hashaná o "Presidente" nos visita, para saber se estamos sendo produtivos, para saber se estamos utilizando nossos esforços para cumprir o nosso trabalho. E desta avaliação depende se continuaremos ou não no nosso trabalho no próximo ano...
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Na próxima segunda-feira de noite (29 de setembro) começa Rosh Hashaná, o ano novo judaico. Muitos pensam que Rosh Hashaná é o dia da criação do mundo, mas na verdade o que comemoramos em Rosh Hashaná é o dia da criação do ser humano. Rosh Hashaná, é portanto, o aniversário do ser humano.

Como em todo o aniversário, esperaríamos receber um grande presente em Rosh Hashaná. Mas que presente nós recebemos? Parece justamente o contrário, pois Rosh Hashaná também é o Dia do Julgamento, dia em que todos os nossos atos passam diante de D'us e é decretado tudo o que acontecerá no próximo ano: dinheiro, saúde, filhos, casamentos, momentos alegres e momentos tristes. Portanto, Rosh Hashaná é um dia que nos causa medo e apreensão. Afinal, durante todo o ano nos desviamos em busca dos nossos desejos, é difícil encontrar quem possa chegar no momento do julgamento tranquilo. E por acaso é um presente D'us nos julgar se estamos cumprindo o nosso propósito na vida ou não?

Acordamos todos os dias, tomamos café, vamos ao trabalho ou à faculdade, almoçamos, mais trabalho, trânsito, televisão, banho, jantar e cama. Todos os dias vivemos nossa vida nessa rotina quase inalterada, e quando chega o final de semana olhamos para trás e sentimos que não vivemos a semana. Os psicólogos explicam que isso causa uma grande ansiedade no ser humano, e é o motivo pelo qual quase 30% da humanidade sofre de uma terrível doença chamada depressão.

Segundo o judaísmo, tudo o que ocorre em um nível material tem um paralelo espiritual. Então qual é a explicação espiritual para a depressão? Ensinam os nossos sábios que o homem é composto por duas partes opostas: um corpo material e uma alma espiritual. O corpo busca os prazeres materiais, e se preenche com eles. Mas a alma busca prazeres espirituais, e não se sacia com prazeres materiais. Portanto, mesmo com todos os esforços de distração, nossa alma busca um propósito. E até que a alma receba este "alimento", o homem não encontrará tranquilidade duradoura na vida.

Infelizmente o ser humano tem a capacidade viver nesta inércia por toda a vida. Em alguns poucos casos isolados as pessoas despertam e passam a buscar algum propósito na vida, principalmente em momentos em que a pessoa sai de sua vida agitada, como em casos de desemprego ou doenças. Mas será que é isso que D'us quer, que a humanidade desperte apenas com "pedradas"? Certamente que não. Como um pai misericordioso, D'us gostaria que voltássemos aos caminhos corretos sem precisar passar por sofrimentos e privações.

Portanto, este é o grande presente que D'us nos dá uma vez por ano, em Rosh Hashaná: um momento em que, sob a pressão do julgamento iminente, paramos para refletir e buscar as áreas em nossa vida em que erramos e precisamos consertar. Se soubermos aproveitar este momento, não apenas garantiremos mais um ano de vida, mas também evitaremos futuros sofrimentos.

A Parashá desta semana, Nitzvim, ressalta o quanto D'us aguarda e deseja a nossa volta: "E vocês vão voltar para D'us, e vão escutar Sua voz... e Ele vai voltar, e vos reunirá dentre todos os povos onde Hashem, vosso D'us, espalhou vocês" (Devarim 30:2, 30:4). Cada passo que damos em direção a Ele, Ele dá um passo em nossa direção.

Em Rosh Hashaná D'us não nos julga pelo passado, e sim pelo presente, isto é, pelas nossas aspirações e decisões para o ano que vai começar. É a oportunidade de apresentar para D'us nossas metas e planos para o próximo ano. Não precisamos chegar de uma só vez ao topo da montanha, mas temos que apresentar o nosso plano de escalada. E a principal parte do plano é mostrar o quanto nós valorizamos a vida e o quanto queremos vivê-la com propósito.

SHABAT SHALOM e SHANÁ TOVÁ

"SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM" (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ KI TAVÔ 5768

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CRIANDO RAÍZES - PARASHÁ KI TAVÔ 5768 (19 de setembro de 2008)

André era vizinho de Eduardo, um médico cujo "hobby" era plantar árvores no enorme quintal de sua casa. Às vezes, André observava da sua janela o esforço de Eduardo para plantar árvores e mais árvores, mas o que mais chamava a atenção de André era que, apesar de todos o trabalho, as árvores estavam demorando muito para crescer. Um certo dia resolveu aproximar-se do médico e perguntar qual era o problema daquelas árvores. O médico, com um ar orgulhoso, explicou sua "teoria":

- As árvores não têm nenhum problema, muito pelo contrário. Se eu regasse as plantas todos os dias, as plantas cresceriam mais rápido, mas as raízes se acomodariam na superfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil. Como eu não rego com tanta freqüência, as árvores demoram mais para crescer, mas suas raízes vão para o fundo, em busca da água e das várias fontes nutrientes encontradas nas camadas mais profundas. Com raízes mais largas e profundas, as árvores ficam mais resistentes às intempéries. Eu estou investindo nas raízes para garantir um futuro melhor para as árvores.

Pouco tempo depois André foi morar em outro país. Passados vários anos, retornou e teve curiosidade de visitar sua antiga residência. Ao aproximar-se, notou um bosque que não havia antes. Era um dia de vento muito forte e gelado, que chegava a dobrar as árvores da rua, e algumas não resistiam ao rigor do inverno. Entretanto, ao aproximar-se do quintal do médico, notou como estavam sólidas suas árvores, praticamente não se moviam, resistindo firmemente àquela ventania toda. Finalmente entendeu que o médico havia realizado seu sonho".

É inevitável que os ventos gelados e fortes nos atinjam na vida. Sempre haverá uma tempestade ocorrendo em algum momento. O que precisamos fazer é nos esforçar para conseguir desenvolver raízes fortes e profundas, de tal modo que, quando as tempestades chegarem e os ventos gelados soprarem, resistiremos bravamente, ao invés de sermos simplesmente varridos para longe.
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A Parashá desta semana, Ki Tavô, traz dois assuntos interessantes: a Mitzvá dos Bikurim, isto é, a oferenda das primícias (primeiros frutos de cada colheita), e as Brachót (bençãos) e Klalót (maldições) que Moshé apresentou ao povo judeu entes deles entrarem em Israel, condicionais ao comportamento deles em sua futura terra. E assim diz o versículo sobre a Mitzvá de Bikurim: "E vocês tomarão das primícias de todos os frutos do solo produzidos pela terra que D'us te dá, e as colocarão em um cesto, e irão ao lugar que D'us escolher" (Devarim 26:2).

Observando outras Mitzvót da Torá, percebemos que várias "primícias" devem ser dedicadas para D'us: a primeira tosa de lã, a primeira parte da massa de farinha, o primogênito dos animais e até mesmo os primogênitos humanos, que precisam ser redimidos. Afinal, por que a Torá ressalta tanto a importância das "primícias", ao invés de nos comandar a oferecer o melhor da nossa produção? E por que a Torá traz os assuntos de Bikurim e as Brachót e Klalót juntos?

Explica o Rav Zeev Leff que a importância das "primícias" é porque elas são as raízes e as fundações do que virá em seguida. As fundações de um edifício devem ser totalmente livre de imperfeições, e mesmo uma pequena trinca nas fundações pode comprometer toda a segurança de um edifício, enquanto a mesma trinca no quarto andar pode ser insignificante. Similarmente, em todas as coisas que possuem alguma santidade, é importante que o começo seja puro e sagrado, para que disto saia também pureza e santidade. Qualquer tipo de imperfeição nas fundações espirituais podem comprometer completamente todo o desenvolvimento futuro. Por isso nós dedicamos todas as nossas "primícias" para D'us, para estabelecer firmemente as fundações e raízes do que se seguirá.

Nossos sábios aprendem deste ensinamento a importância da educação das crianças, pois são nos primeiros anos de vida que elas começam a crias suas raízes e fundações espirituais, e a partir delas construirão todo o seu caráter. E é também por isso que a Torá junta o assunto dos Bikurim com o assunto das Brachót e Klalót, pois o povo judeu estava prestes a entrar na terra de Israel e logo iriam começar a construir as fundações espirituais da terra, então era muito importante que eles tivessem total consciência das suas obrigações, responsabilidades e conseqüências.

Daqui a pouco mais de uma semana será Rosh Hashaná, o marco inicial de um novo ano. A lei judaica nos ensina que nestes dias, principalmente entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, devemos ser um pouco mais rigorosos no cumprimento das Mitzvót, e se possível acrescentar algo ao que já vínhamos fazendo. À primeira vista isso é difícil de entender, pois de que adianta ser mais rigoroso apenas nestes dias e ser leniente durante todo o ano? Não é uma tentativa de enganar a D'us para parecermos mais Tzadikim e garantirmos um julgamento mais favorável?

Um juiz de carne e osso pode ser enganado, mas não D'us, que pode ver não somente os nossos atos, mas também os nossos corações. Então por que nestes dias nos comportamos de forma diferente? Pois os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur não são apenas o começo de um ano novo, são as fundações e as raízes do ano inteiro. Estes dias deve ser tratado com "primícias", e devemos nos comportar com mais santidade e pureza. Portanto nos esforçamos mais, estudamos mais, rezamos com mais Cavaná (intenção) e acrescentamos Mitzvót nas nossas vidas, não para mostrar ou enganar, e sim para construir fundações sagradas para o ano inteiro. E mesmo se durante o ano não pudermos manter a mesma qualidade dos "materiais de construção", boas fundações podem garantir a estabilidade de todo o prédio.

Ninguém ganha uma corrida sem preparo e treino. Ninguém se torna um grande profissional sem esforço e estudo. Não podemos mudar do dia para a noite. Os dias de Elul são dias de preparação, dias de esforço, quando podemos acrescentar pequenas coisas em nossas vidas. Podem aparentemente parecer pouco, mas podem fazer uma grande diferença no nosso novo ano.

"Sheticatev Vetechatem Bessefer Chaim Tovim" (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida).

SHABAT SHALOM

Rav Efraim

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ KI TETZE 5768

BS"D

SE IMPORTANDO COM OS OUTROS - PARASHÁ KI TETZE 5768 (12 de setembro de 2008)

"O Rav Moshe Feinstein, um dos maiores rabinos dos Estados Unidos na geração passada, foi ao Bar-Mitzvá do filho de um antigo aluno da Yeshivá. No final da festa, o aluno, muito lisongeado com a presença do ilustre rabino, insistiu em acompanhá-lo até a porta. Parou um táxi, ajudou o rabino a se acomodar e fechou a porta do táxi.

Quando o táxi já havia andado mais de uma quadra, o Rav Moshe Feinstein pediu para que o taxista parasse o carro e abrisse a porta. O motorista estranhou o pedido, principalmente quando viu pelo espelho que o rabino estava bastante pálido. Quando ele finalmente abriu a porta, viu que a mão do rabino havia ficado presa, e seus dedos estavam bastante roxos. Surpreso, o motorista perguntou ao Rav Moshe Feinstein porque ele não havia gritado imediatamente quando fechou a porta na mão. O rabino explicou:

- Na verdade quem fechou a porta do táxi foi o meu aluno. Se eu tivesse gritado, imagine a vergonha e a tristeza que eu teria causado a ele! Eu preferi aguentar a dor e não causar esse desconforto, principalmente no dia do Bar-Mitzvá do filho dele"

A verdadeira grandeza de uma pessoa pode ser vista na maneira como ela se importa com os outros.
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O judaísmo não é uma religião proselitista, mas aceita a conversão de pessoas motivadas pelo desejo sincero de cumprir a Torá. A conversão não é apenas um ritual, é uma mudança espiritual, e portanto deve ser feita de maneira séria. Apesar de qualquer pessoa ser bem-vinda ao judaísmo, a Parashá desta semana, Ki Tetze, traz duas exceções, dois povos que nunca serão aceitos dentro do povo judeu: os Amonitas (pessoas do povo de Amon) e os Moabitas (pessoas do povo de Moav). Mas o que eles fizeram de tão grave? A Torá nos relata dois motivos: "Um Amonita e um Moabita não devem entrar na congregação de D'us... pelo fato de que eles não te receberam com pão e água no caminho, quando vocês estavam saindo do Egito, e pelo fato deles terem contratado Bilam filho de Beor, de Petor, Aram Naharaim, para amaldiçoar vocês" (Devarim 23:4,5).

Analizando de forma mais profunda os dois motivos, surge uma pergunta. O primeiro motivo foi o egoísmo e a falta de sensibilidade, enquanto o segundo motivo foi a tentativa de exterminar o povo judeu inteiro através da maldição de Bilam. Por que a Torá precisou ensinar os dois motivos? Afinal, o segundo motivo é tão grave que o primeiro motivo não precisaria nem ter sido mencionado!

Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Se não fosse pelo medo das autoridades, um pessoa engoliria seu companheiro vivo". Mas como é possível o ser humano chegar neste nível de crueldade? Como alguém poderia engolir outra pessoa viva, mesmo escutando seus gritos e pedidos de misericórdia? Explica o Rav Ierucham que o ser humano realmente não é assim tão ruim. Mas o ser humano é tão egoísta, tão centrado nos seus desejos e vontades, que muitas vezes não consegue nem mesmo escutar ou ver os outros. Se escutassem os outros, certamente não poderiam engoli-los vivos. O problema é que não escutamos.

É por isso que a Torá traz como primeiro motivo o fato dos Amonitas e Moabitas não terem trazido pão e água, pois quando alguém vê uma pessoa necessitada e não lhe oferece nem ao menos pão e água, é sinal que ele já não consegue mais enxergar o outro. E somente aquele que não enxerga o próximo pode chegar ao nível desumano de querer exterminar um povo inteiro. O primeiro motivo não é apenas grave, ele é a raiz e a causa do segundo motivo.

Este precioso ensinamento vale também para nossas vidas. Será que nós enxergamos o próximo? Será que realmente nos preocupamos com o que os outros realmente necessitam? Quando damos um real de esmola na rua para um pobre, muitas vezes não queremos resolver o problema do pobre, e sim o nosso próprio problema, pois vendo a necessidade do pobre nos sentimos um pouco desconfortáveis, e dando um real nos sentimos muito melhor. Mesmo que talvez aquele dinheiro não era o que ele necessitava, talvez o que o pobre precisava era de um sorriso, de um consolo, de um incentivo. O Talmud nos ensina que alguém que dá uma esmola a um pobre recebe 6 Brachót (bençãos), enquanto que aquele que dá um sorriso e o consola recebe 11 Brachót. Somos descendentes de Avraham, que dedicou a sua vida a se preocupar com o próximo. Nós temos a herança espiritual, nós temos o potencial, mas que precisa ser trabalhado e desenvolvido.

Falta pouco mais de 2 semanas para Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento. D'us nos julga Midá Kenegued Midá (medida por medida). Quanto mais nos importarmos com os outros e sentirmos suas necessidades, mais D'us se importará conosco e terá misericórdia no nosso julgamento.

"Sheticatev Vetechatem Bessefer Chaim Tovim" (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida).

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHOFTIM 5768

BS"D

APRECIE O QUE VOCÊ TEM – PARASHÁ SHOFTIM 5768 (05 de setembro de 2008)

"O dono de um pequeno sítio era muito amigo de um famoso escritor, e certa vez pediu-lhe um favor:

- Estou precisando vender aquele meu sítio, que você conhece tão bem. Sei que você tem o dom de escrever bem, então você poderia redigir um anúncio para eu publicar no jornal?

O escritor, que realmente era muito talentoso, imediatamente apanhou um papel, passou alguns instantes relembrando as imagens do sítio e escreveu: "Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer, no extenso arvoredo cortado por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranqüila das tardes na varanda".

Meses depois, o escritor encontrou com o dono do sítio e perguntou se o anúncio havia funcionado. O homem respondeu que sim. Quando o escritor perguntou se ele conseguido um bom dinheiro, o dono do sítio abriu um sorriso envergonhado e falou:

- Na verdade, o anúncio funcionou para mim mesmo. Eu realmente queria muito vender o sítio porque achava que ele não tinha nada de especial. Quando li o anúncio, percebi a maravilha que eu tinha e não tive mais coragem de vender"

Será que nós conseguimos realmente perceber tudo de bom que temos em nossas vidas?
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A Parashá desta semana, Shoftim, traz um assunto interessante. Quando o povo judeu entrou na terra de Israel, cada uma das tribos recebeu um pedaço de terra, dividido por sorteio. Mas os Cohanim (sacerdotes), que eram da tribo de Levi, não receberam nenhum pedaço de terra, para que pudessem se dedicar exclusivamente às atividades espirituais, entre elas o serviço do Beit-Hamikdash (Templo Sagrado). Mas se os Cohanim não receberam terras, em uma época onde a agricultura e a criação de animais era a principal fonte de renda, do que eles viviam?

A Parashá nos ensina que D'us comandou ao resto do povo dar presentes para os Cohanim, para que eles pudessem ter uma subsistência. Por exemplo, quando uma pessoa trazia um sacrifício, algumas das partes do animal sacrificado eram dadas aos Cohanim. Também os primeiros frutos das plantações de grãos e de uva eram dados de presente aos Cohanim. A Torá nos ensina que no total os Cohanim recebiam 24 tipos diferentes de presentes, e assim conseguiam seu sustento sem prejudicar nem diminuir o serviço espiritual do povo judeu.

Observando as Mitzvót da Torá, vemos algo interessante. Das 613 Mitzvót, nem todas se aplicam a todo o povo judeu. Por exemplo, há diversas Mitzvót que se aplicam somente aos Cohanim. No total, são 24 Mitzvót que somente os Cohanim estão obrigados a cumprir. Será que é uma coincidência, ou há alguma relação entre os 24 presentes que os Cohanim recebiam e as 24 Mitzvót que somente eles estavam obrigados a cumprir?

O judaísmo ensina que na vida não existem coincidências. Explica o livro Chovot Halevavot (Deveres do coração) que o nível que cada pessoa precisa cobrar de si mesma na sua conexão espiritual deve ser de acordo com as bondades que D'us faz com ela, entre elas as bondades gerais, que outras pessoas também recebem, e principalmente as bondades específicas, que somente ela recebe. Os Cohanim realmente tinham mais Mitzvót, e com isso se conectavam espiritualmente em um nível mais alto, por causa dos presentes que somente eles recebiam.

Mas este ensinamento não se aplica apenas aos Cohanim, se aplica a cada um de nós. A obrigação que temos de nos conectar com D'us é proporcional às bondades que recebemos Dele. Tanto as bondades gerais, tais como nossa saúde e a própria vida, quanto as bondades específicas, tais como as pessoas queridas e especiais de nossas famílias, o lar onde nascemos, nosso círculo de amizades, etc. Mas será que realmente nos sentimos "endividados" pelas bondades que recebemos? Infelizmente não, pois recebemos tantas bondades, e de forma tão constante, que não conseguimos reconhecer e agradecer.

Estamos entrando no mês de Elul, o último mês do ano. É um mês de preparação para Rosh Hashaná, dia em que todos os nossos atos serão julgados e todos os acontecimentos do próximo ano serão decididos. Como se preparar para Rosh Hashaná? Aproveitando o momento em que D'us está mais próximo de nós para refletir sobre cada bondade que recebemos Dele. Pois somente refletindo vamos entender que, do momento em que abrimos os olhos até a hora de dormir, tudo o que acontece conosco é uma grande bondade de D'us. E se recebemos tanto Dele, será que não é hora de fazermos algo por Ele?

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ REÊ 5768

BS"D

TURISTAS OU MORADORES? - PARASHÁ REÊ 5768 (29 de agosto de 2008)

"Certa vez um turista que estava de passagem pela cidade de Radin, na Polônia, foi conhecer a casa do famoso rabino Chafetz Chaim. Para sua decepção, descobriu que o rabino vivia em uma casa muito simples, e tudo o que ele tinha era uma cama, uma mesa e um armário. Indignado, o
turista perguntou:

- Onde estão seus móveis??? Isso é tudo o que você tem na vida?

O Chafetz Chaim perguntou:

- Também não estou vendo seus móveis. Onde estão suas coisas?

- Ei, espere aí - gritou o visitante - o motivo pelo qual eu não tenho móveis comigo é porque eu sou apenas um turista!

O Chafetz Chaim sorriu e disse:

- Eu também"

Temos que saber que também somos turistas neste mundo. Da mesma forma que um turista abre mão de um pouco do seu conforto para aproveitar ao máximo a viagem, assim também devemos estar prontos para fazer, se queremos realmente aproveitar esta viagem chamada "vida".
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A Parashá desta semana, Reê, traz diversos assuntos que parecem não ter nenhuma conexão entre si, como os Shalosh Regalim (as 3 festas, Pessach, Shavuot e Sucót, quando todo o povo judeu se reunia no Templo), as leis de Kashrut e as leis de Tzedaká (caridade). Qual a relação entre estes assuntos aparentemente tão diferentes?

Quando uma pessoa está numa excursão, conhecendo um novo país, ela não dorme direito, não come bem, não se importa de abrir mão do conforto e mesmo assim está sempre contente. Por que? Pois ela tem um propósito, ela quer aproveitar a viagem ao máximo. Ela sabe que o tempo é
limitado, e por isso não quer perder nenhum segundo. Nossa vida também é uma excursão, e também temos um tempo limitado. Então por que não abrimos mão das coisas secundárias e nos dedicamos apenas às coisas mais importantes? Por que queremos dormir muito, comer bem e estar sempre rodeados de conforto? Pois vivemos como se a vida fosse eterna, e esquecemos que tudo isso um dia terá fim.

A natureza humana é muito interessante. Apesar de termos muitos bons momentos na vida, nós somente conseguimos perceber quanto algo é importante quando corremos o risco de perdê-lo. Nós precisamos de contrastes para entender as coisas. Somente quando falta a luz percebemos o quanto ela é essencial. Por isso, por incrível que pareça, uma das coisas que mais dá sentido para a vida é a morte.

Na verdade a morte não estava nos planos originais de D'us. A morte surgiu como uma consequência do erro cometido por Adam e Chavá (Adão e Eva), quando não escutaram a ordem de D'us e se distanciaram do Criador. D'us se comportou "Midá Kenegued Midá" (medida por medida), e também se afastou de nós, tornando mais difícil encontrá-Lo no mundo. A morte então tornou-se uma maneira necessária para nos despertar e ajudar a buscar o sentido de tudo isso, e assim encontrar D'us. Em hebraico, a palavra "Tavá", que significa "se afogar", se escreve da mesma maneira que palavra "Téva", que significa "natureza". Sem a morte, afundaríamos cada vez mais no materialismo do mundo, até perder completamente nossa sensibilidade espiritual.

Mas não precisamos necessariamente passar pelo choque da morte para despertarmos. A morte não é a única maneira de nos fazer voltar ao equilíbrio. As Mitzvót, muitas trazidas nesta Parashá, também são "bóias" para nos ajudar a não afundar no mundo material. Elas servem como um lembrete constante do que realmente é o mais importante, e nos dá claridade para podermos checar, a cada instante, se estamos vivendo uma vida verdadeira ou uma vida de ilusões.

Por exemplo, uma parte considerável de nossas vidas é dedicada à comida. Comer pode ser um ato meramente animal, ou pode ser um ato espiritual. Podemos, através da Kashrut, manter o nosso foco espiritual, prestando atenção no que comemos e como comemos. Os Shalosh Regalim nos ensinam a necessidade de, em alguns momentos, quebrar o cotidiano e diminuir o contato com o mundo material, aumentando assim a conexão com o mundo espiritual. E finalmente a Mitzvá de Tzedaká nos ensina que, apesar dos pensamentos serem muito importantes, os atos são ainda mais importantes, pois materializam nossas intenções e pensamentos. A repetição de bons atos molda as nossas características e nos torna pessoas melhores e mais espiritualizadas.

Não precisamos ser lembrados do nosso propósito através de dor e sofrimento. Com as Mitzvót, mesmo os menores atos de nossas vidas passam a ser lembretes constantes de que somos apenas turistas em uma importante jornada, na busca de sentido na vida e de conexão espiritual.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm