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PERDENDO O VÔO - PARASHÁ SHELACH 5771 (17 de junho de 2011)
Há pouco mais de 2 anos um grave acidente deixou o Brasil em choque. O Airbus A330 da companhia aérea Air France, durante o fatídico vôo AF 447 que ia do Rio de Janeiro para Paris, simplesmente desapareceu sobre o Oceano Atlântico durante a madrugada do dia 31 de maio. Na manhã seguinte foram encontrados os primeiros destroços do avião, cujas causas da queda ainda não foram completamente esclarecidas. Parentes e amigos choraram a morte dos 228 passageiros que estavam a bordo da aeronave.
Porém, no meio de toda a comoção nacional que o acidente causou, uma notícia acabou passando despercebida pela grande maioria das pessoas. A italiana Johanna Ganthaler, uma pensionista da província de Bolzano-Bozen, perdeu o vôo. Ela estava de férias no Brasil e não conseguiu embarcar no avião por ter chegado atrasada ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro.
Até aí não há nada demais, já que em muitas tragédias aéreas escutamos histórias de pessoas que, por motivos diversos, não chegaram a embarcar e salvaram assim suas vidas. Mas nesta história, o mais impressionante ainda estava para acontecer. Johanna Ganthaler embarcou de volta para a Europa no dia seguinte, em um avião de outra companhia aérea. Desembarcou na Alemanha, onde alugou um carro com o qual pretendia voltar para casa. No caminho, em uma situação ainda não completamente esclarecida pela polícia, o carro em que ela estava entrou na pista contrária de uma rodovia em Kufstein, na Áustria, e bateu de frente em um caminhão. Johanna Ganthaler morreu no acidente de carro. E assim foram as manchetes nos principais jornais do país: "Mulher que perdeu vôo AF 447 morre em acidente na Áustria".
Quando há um decreto espiritual, a única maneira de mudar é através de atos espirituais. Apenas perder o vôo não salva a vida de ninguém...
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Se nos perguntassem qual é um dos dias mais felizes do ano, certamente responderíamos Purim ou Simchá Torá. Mas para nossa surpresa, o Talmud ensina que um dos dias mais festivos do povo judeu é Tu Be Av, o dia 15 do mês de Av. Av é um mês associado a tristezas, pois em Tishá Be Av (dia 9 do mês de Av) várias tragédias se abateram sobre o povo judeu. O que ocorreu em Tu Be Av que tornou este dia tão especial?
Para entendermos, precisamos nos aprofundar na Parashá desta semana, Shelach. O povo judeu havia saído do Egito e, após receber a Torá no Monte Sinai, estava prestes a entrar na Terra de Israel, a terra que D'us havia jurado dar para os descendentes de Avraham, Yitzchak e Yaacov. Apesar de D'us ter garantido que a Israel era uma terra fértil, a "terra onde flui leite e mel", mesmo assim o povo não confiou e decidiu enviar espiões. O que deveria ter sido apenas uma missão de reconhecimento da terra terminou em uma grande tragédia. Dos 12 espiões enviados, 10 voltaram falando mal da terra. O povo preferiu escutar os 10 caluniadores e, desesperados, choraram sem motivo. D'us jurou que aquele dia seria um dia de choro por todas as gerações. Este dia era Tishá Be Av, dia em que até hoje nós choramos pela destruição dos nossos dois Templos e outras tragédias que aconteceram, ao longo da nossa história, exatamente neste dia.
Mas não apenas as gerações futuras sofreram com aquele choro sem motivo. A geração do deserto também foi duramente castigada. Pela falta de Emuná (fé), D'us decretou que eles não entrariam na Terra de Israel. Por 40 anos eles tiveram que vagar pelo deserto, até que morresse toda aquela geração, aproximadamente 600 mil homens. Como D'us queria ressaltar que as mortes eram resultado do choro sem motivo, eles morriam somente em Tishá Be Av. Durante os 40 anos, quando Tishá Be Av se aproximava, cada judeu tinha que cavar sua própria cova e dormir dentro dela. De manhã, alguns acordavam e voltavam para suas vidas normais, enquanto outros não acordavam mais e eram enterrados ali mesmo.
Porém, no último ano, algo estranho aconteceu. O último grupo que faltava morrer cavou a sua cova e entrou para dormir, com a certeza de que todos morreriam naquela noite. Mas quando amanheceu o dia, estavam todos vivos. Como o cálculo dos dias era feito através da observação da lua, ele acharam que provavelmente haviam errado as contas e que Tishá Be Av seria no dia seguinte. Então na noite seguinte novamente eles entraram na cova, mas de novo todos acordaram de manhã. E assim foi, noite após noite, até chegar no dia 15 do mês, quando eles viram a lua cheia e tiveram a certeza de que certamente Tishá Be Av já havia passado, não havia sido um erro de contas. Por algum motivo D'us havia cancelado o decreto. Aquele dia foi um dia de muita alegria e comemoração, pois eles entenderam que haviam sido perdoados. E a alegria deste dia se repetiu em muitos outros bons eventos durante a história do povo judeu.
Mas afinal, se D'us tinha decretado que toda aquela geração morreria no deserto, e realmente mais de 585 mil homens já tinham morrido, por que no último ano foi diferente? Por que os últimos 15 mil homens foram poupados da morte? Que tipo de ato conseguiu cancelar um decreto tão forte?
Nas nossas rezas de Rosh Hashaná e Yom Kipur dizemos algo muito profundo: "Três coisas podem cancelar um mau decreto: Teshuvá (arrependimento pelos nossos maus atos e o comprometimento em melhorar), Tefilá (reza) e Tzedaká (caridade)". O que isto quer dizer? Que apenas atos que chegam aos mundos espirituais mais elevados podem cancelar decretos que foram feitos nos mundos espirituais.
Explicam nossos sábios algo impressionante. Durante todos os anos no deserto, as pessoas sabiam que poderiam morrer naquele ano, mas sempre contavam com a possibilidade de que eles não seriam os escolhidos daquela vez. Portanto, apesar deles rezarem por suas vidas, rezavam sem muita Cavaná (intenção). Por exemplo, no primeiro ano havia 600 mil homens, dos quais apenas 15 mil morreriam, então todos estavam tranquilos. E mesmo no penúltimo ano, quando haviam sobrado apenas 30 mil homens e a metade morreria, as pessoas se apoiavam na possibilidade de que os outros morreriam e não eles, e por isso não depositavam toda a sua Emuná (fé) em D'us.
Porém, o que aconteceu no último ano no deserto? Apenas 15 mil tinham sobrado e certamente todos eles morreriam, não havia outra possibilidade. Por isso, quando fizeram Tefilá, rezaram com todo o coração para D'us, pois não tinham mais em que se apoiar fora a salvação Dele. Quando nos apoiamos em outras possibilidades, é como se D'us dissesse "Já que você coloca forças em outras coisas e não apenas em Mim, deixe que as outras coisas te ajudem, não Me sinto na obrigação". Mas quando fazemos uma Tefilá com nosso coração completamente voltado para D'us, com a certeza de que tudo depende Dele e apenas Dele, esta Tefilá pode mudar até mesmo decretos espirituais de uma geração inteira. Se desde o primeiro ano o povo tivesse feito uma Tefilá neste nível, certamente ela também teria sido escutada.
Parece algo fácil, mas por vivermos no mundo material, este tipo de Tefilá é muito difícil de ser alcançada. Quando estamos doentes, colocamos nossa confiança nos médicos e nos remédios. Quando estamos sem dinheiro, colocamos nossa confiança na melhoria das vendas ou na sonhada promoção. E mesmo quando estamos procurando uma pessoa para casar, colocamos nossa confiança nas pessoas que podem nos apresentar alguém especial. No mundo material é muito fácil esquecer que tudo depende de D'us. Se o médico vai acertar ou se o remédio vai funcionar, se mais clientes entrarão na loja ou se o chefe lembrará da promoção, se a pessoa certa aparecerá no momento certo, tudo depende Dele.
Quanto mais colocarmos no coração a certeza de que tudo depende apenas de D'us, maior será a conexão espiritual que criaremos. Assim, nossas rezas poderão chegar aos mundos espirituais mais elevados e, quem sabe, mudar o destino de toda a humanidade.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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