quinta-feira, 21 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BAMIDBAR 5769

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O VERDADEIRO VENCEDOR - PARASHÁ BAMIDBAR 5769 (22 de maio de 2009)

Quando chegam as Olimpíadas, o mundo inteiro pára, por quase um mês, para acompanhar as emocionantes competições. Mas talvez um dos espetáculos mais bonitos do planeta passa despercebido da grande maioria das pessoas. Depois das Olimpíadas são realizadas as Paraolimpíadas, isto é, Olimpíadas especiais para pessoas portadoras de deficiências físicas, estes sim verdadeiros vencedores, que conseguiram superar suas limitações e dar a volta por cima.

E algo incrível aconteceu há alguns anos, nas Paraolimpíadas de Seattle, quando nove participantes, todos com algum tipo de deficiência, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não em disparada por causa de suas limitações, mas com vontade de dar o melhor de si e terminar a corrida em primeiro lugar.

Todos corriam e se esforçavam até que, de repente, um rapaz tropeçou, caiu e começou a chorar. Em qualquer corrida, os outros competidores ficariam felizes, afinal, era um concorrente a menos. Mas não naquela corrida. Quando os outros oito competidores ouviram o choro daquele rapaz, diminuíram o passo e olharam para trás. Então algo incrível aconteceu: todos eles pararam e voltaram para ajudar o garoto. Uma das moças, com Síndrome de Dawn, ajoelhou-se, deu um beijo no rapaz e disse: "Pronto, agora vai sarar". E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou, e os aplausos duraram muitos minutos.

Durante as Olimpíadas, muitos competidores alcançam a glória com suas vitórias fantásticas, mas após algum tempo ninguém se lembra mais quem foi o campeão, muito menos quem foi o segundo colocado. Mas incrivelmente as pessoas que estavam ali em Seattle, naquele dia, nunca mais se esqueceram daquela corrida. Por que? Pois, lá no fundo, nós sabemos que o que importa na vida não é ganhar sozinho. O que importa de verdade é ajudar os outros, para que possamos vencer todos juntos. Naquela corrida não houve apenas um vencedor, todos foram vencedores. Não venceram apenas uma corrida, venceram um dos maiores desafios do ser humano: superar seu egoísmo e sua inveja.
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Nesta semana começamos o quarto livro da Torá, Bamidbar, que descreve muitos detalhes das viagens do povo judeu durante os 40 anos no deserto. E a Parashá Bamidbar trata, entre outros assuntos, da posição de cada uma das tribos durante as viagens. A Torá nos descreve algo interessante sobre o posicionamento do povo judeu: "Cada homem, sob sua bandeira, de acordo com a insígnia da casa de seus pais" (Bamidbar 2,2). A idéia de bandeiras nos faz lembrar das torcidas de futebol ou do desfile dos países na abertura das Olimpíadas. Mas certamente não foi esta a motivação com a qual os judeus carregavam bandeiras, pois ninguém no deserto estava torcendo para nenhuma equipe. Afinal, qual o motivo de cada tribo ter uma bandeira?

Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que no momento em que D'us se revelou ao povo judeu no Monte Sinai, 220 mil anjos desceram para presenciar a entrega da Torá, todos organizados em grupos, e cada grupo identificado por uma bandeira. Os judeus, que neste momento haviam chegado a elevados níveis de profecia, puderam ver esta cena espiritual maravilhosa e imediatamente desejaram também que, durante as viagens pelo deserto, suas tribos estivessem identificadas por bandeiras. D'us escutou os pedidos e viu que o povo judeu realmente desejava viajar com bandeiras, e por isso atendeu ao pedido deles. Imediatamente ordenou a Moshé que atribuísse para cada tribo uma bandeira. Moshé escutou as ordens de D'us, mas por dentro ele sofreu e teve medo.

Deste Midrash ficam algumas perguntas. O que significa que os anjos se dividiam em grupos sob bandeiras? O que há de tão especial nisso, que fez com que o povo judeu também desejasse viajar com bandeiras? E finalmente, se viajar com bandeiras era algo positivo, e D'us pessoalmente havia concordado, por que Moshé teve medo e até mesmo sofreu por causa disso?

Explica o livro "Lekach Tov" que existe uma grande diferença entre os anjos e os seres humanos. Os anjos são seres espirituais, e por isso entre eles não existe inveja, ódio nem competição. Quando um anjo vê uma qualidade em outro anjo, ele não o inveja, ao contrário, ele o elogia e louva sua boa qualidade. É por isso que os anjos conseguem viver em uma grande união e trabalhar em grupo, afinados como uma sinfonia, como dizemos todos os dias durante a reza da manhã: "... todos (os anjos) recebem sobre si o jugo dos Céus um do outro, e dão permissão um ao outro...". Esta união verdadeira e completa dos anjos é representada por grupos que andam unidos sob uma mesma bandeira, sem competição nem desavenças. E foi essa união que o povo judeu viu e desejou atingir.

Então por que Moshé teve tanto medo? Pois para os seres humanos, que são essencialmente materiais, inveja e competição são sentimentos normais, tornando a união entre as pessoas uma meta difícil de ser atingida. Moshé achou que a divisão das tribos sob bandeiras seria mais um motivo de divisão e disputas dentro do povo judeu.

Mas a Parashá nos mostra que aconteceu exatamente o oposto do que Moshé esperava. Ninguém reclamou do posicionamento das tribos. Os que viajavam atrás não invejaram os que viajavam na frente. Os judeus da tribo de Reuven, que eram descendentes do filho primogênito de Yaacov, não reclamaram quando D'us escolheu a tribo de Yehudá para liderar o povo judeu. Todos caminhavam juntos, unidos pelo mesmo propósito. Como isso foi possível?

Quando o povo judeu teve a visão celestial de todos os anjos unidos sob bandeiras, sem competição e sem ódio, desejaram do fundo do coração chegar naquele nível. Daqui ensinam nossos sábios um grande fundamento para nossas vidas: D'us leva a pessoa pelo caminho que ela deseja seguir. Quando queremos algo de verdade, ao ponto de estarmos dispostos a abrir mão das nossas comodidades para conseguir algo, D'us nos ajuda, e mesmo o que parecia impossível se torna realidade.

Imagine uma pessoa que está cortando uma maça com a mão direita e, por acidente, faz um corte na sua mão esquerda. Se víssemos esta pessoa, tomada de fúria, pegando a faca com a mão esquerda e fazendo um corte na mão direita como vingança, o que pensaríamos dele? Que é um maluco completo! Explica o Rav Moshe Cordovero, um grande cabalista que viveu há cerca de 450 anos, que quando nos vingamos dos outros estamos fazendo exatamente a mesma coisa. Ele explica que o grande motivo de haver no mundo tanto ódio, inveja e concorrência é por que fomos enganados desde crianças na nossa forma de ver o mundo. Fomos ensinados na escola que cada um está no mundo por si só e, portanto, temos que nos esforçar para crescer, mesmo que seja necessário derrubar quem está em volta. E com esta cabeça crescemos e entramos em um mercado de trabalho onde imperam as leis da selva, de matar ou morrer. Capitalismo selvagem, o vale tudo para se dar bem na vida. Mas o Rav Moshe Cordovero ensina que isto é um grande erro, pois na verdade dentro de cada um está contida a alma das outras pessoas. Ninguém está sozinho, um pouco de cada um está dentro de nós, e um pouco de nós está em cada pessoa do mundo. Quando fazemos mal a alguém, no fundo estamos fazendo mal a nós mesmos, estamos prejudicando a nossa parte que está dentro da outra pessoa. Quando deixamos de ajudar alguém necessitado, somos nós mesmos que estamos sofrendo. Quando maltratamos alguém, é como se tivéssemos ferindo nossa própria mão.

Por isso, a única maneira de vencer a inveja e a competição é mudando o nosso foco, enxergando que não estamos neste mundo correndo sozinhos, e somente seremos vencedores quando chegarmos ao nosso objetivo todos juntos. Pois vencer uma competição é bom, mas vencer na vida é muito melhor.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 15 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT BEHAR E BECHUKOTAI 5769

BS"D

REFINADO COMO A PRATA - PARASHIOT BEHAR E BECHUKOTAI 5769 (15 de maio de 2009)

"Na Inglaterra, um grupo de mulheres judias participava de estudos bíblicos. Quando chegaram a um determinado versículo, não conseguiram entender o que ele significava. Era um versículo do profeta Malachi, que dizia: "Ele (D'us) vai se sentar como um refinador e purificador de prata" (Malachi 3:3). As mulheres ficaram intrigadas, pois o versículo se referia a como D'us se comporta conosco, e elas não conseguiam entender a analogia de D'us com um ourives que purifica a prata. Uma das mulheres se voluntariou para observar o processo de refinamento da prata e tentar entender o que o versículo ensinava. Na mesma semana a mulher ligou para um ourives e marcou um horário para vê-lo trabalhando, sem mencionar nada sobre o motivo de seu interesse sobre o processo de refinamento da prata.

No dia marcado, ela foi e sentou-se em silêncio ao lado do ourives. Ele pegou um pedaço de prata e colocou sobre o fogo, deixando-o aquecer. Ele explicou que no processo de refinação da prata, a prata deve ser mantida sempre no meio do fogo, onde as chamas são mais quentes, para conseguir assim queimar todas as impurezas. A mulher imediatamente pensou em D'us nos segurando em um local quente daqueles, e novamente pensou no versículo: "Ele se senta como um refinador e purificador de prata".

Então ela perguntou ao ourives porque ele ficava o tempo todo sentado ali, na frente do fogo, enquanto a prata estava sendo refinada, e não apenas deixava a prata ali queimando e voltava mais tarde. O homem respondeu que ele precisava manter seus olhos na prata durante todo o tempo em que estivesse no fogo, pois se a prata fosse deixada nas chamas por um tempo mais longo do que o necessário para a purificação, ela queimava e ficava destruída. A mulher ficou em silêncio por alguns momentos, meditando. Então ela fez uma pergunta final ao ourives:

- Se é tão perigoso assim passar do ponto correto, então como saber quando a prata está completamente refinada?

Ele sorriu para ela e respondeu:

- Ah, isso é fácil. Quando a prata está pronta e totalmente purificada, eu consigo ver minha imagem refletida nela"

D'us nos manda muitas dificuldades e desafios na vida, para que possamos crescer com eles. Quando Ele sabe que estamos prontos? Quando Ele olha nossos atos e se vê refletido neles.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Behar e Bechukotai. A Parashá Behar começa com uma das Mitzvót mais interessantes da Torá: a Mitzvá de Shmitá (Ano Sabático). Por seis anos o povo judeu pode trabalhar a terra de Israel, plantando e colhendo seus frutos. Porém, no sétimo ano, a Torá nos ordena não fazer nenhum uso da terra, não colhendo nem plantando nada. Mas uma das coisas mais intrigantes é a introdução que a Torá faz para esta Mitzvá: "E disse D'us para Moshé no Monte Sinai: 'fale com o povo judeu e diga para eles... por seis anos vocês semearão seus campos e por seis anos vocês cortarão seus vinhedos, e vocês juntarão suas colheitas. Mas no sétimo ano vocês devem dar um descanso completo para a terra..." (Vayikrá 25:1-4). Por que está escrito que a Mitzvá de Shemitá foi entregue por D'us para Moshé no Monte Sinai? Não foram todas as Mitzvót entregues no Monte Sinai?

Explica Rashi, comentarista da Torá, que da mesma forma que a Mitzvá de Shmitá foi entregue com todos os seus detalhes no Monte Sinai, o mesmo ocorreu com todas as outras Mitzvót, que também foram entregues por D'us, com todos os seus detalhes, no Monte Sinai. Em outras palavras, Rashi está explicando que a Mitzvá de Shmitá é um exemplo para todas as outras Mitzvót das Torá. Mas por que justamente a Mitzvá de Shmitá? E qual a conexão desta Mitzvá com as outras Mitzvót da Torá?

Para entender, antes é preciso entender o porquê das Mitzvót. Um dos sábios da Guemará (Torá Oral) certa vez fez uma pergunta interessante: "Será que D'us se importa se a Shechitá (abate Kasher) é feito pela frente ou por trás do pescoço?" O que ele quis dizer é que as Mitzvót têm muitos detalhes, será que D'us, que precisa cuidar de todo o universo, se preocupa com este tipo de coisa? A Guemará então nos responde que as Mitzvót não foram criadas para D'us, Ele não ganha nada com elas. As Mitzvót foram dadas para "Letzaref" o povo judeu. A palavra "Letzaref" significa "unir, conectar". Se existe uma Mitzvá, isto é, um mandamento, existe um "Metzavê", isto é, alguém que comandou. Toda vez que cumprimos uma Mitzvá exatamente da maneira como D'us nos ensinou, isso nos conecta com ele. D'us não precisa das Mitzvót, nós precisamos, pois esta é a forma de nos conectarmos com Ele. E mais do que isso, a palavra "Letzaref" também significa "purificar e moldar". É uma palavra utilizada, por exemplo, no processo de fabricação de peças de prata. Mas como ocorre este processo de conexão com D'us, e mais, de purificação e moldagem?

Existem no universo várias formas de energia. Nas últimas décadas se desenvolveu uma maneira de produzir muita energia através da quebra do átomo, mais conhecido como fissão nuclear. Explodir o átomo e liberar energia é a parte mais fácil do processo. A grande dificuldade está em canalizar esta energia para utilizá-la de uma maneira construtiva. Quando a energia é a canalizada, se converte em usinas nucleares, que podem abastecer várias cidades. Mas quando a energia nuclear não é canalizada, ela transforma-se na terrível e mortal bomba atômica.

Segundo o judaísmo, temos várias forças internas, provenientes da nossa alma e do nosso corpo. Quando temos controle, podemos utilizar todas as nossas forças de forma positiva e construtiva. Mas uma pessoa sem autocontrole torna-se um animal e, em alguns segundos, pode destruir sua vida e a de outras pessoas à sua volta. E o que nos ajuda a canalizar todas as nossas energias e o nosso potencial? As Mitzvót.

Vemos isso de forma muito ressaltada na Mitzvá de Shmitá. Imagine o dono das terras passando um ano inteiro olhando suas terras cultiváveis, a sua única fonte de sustento, e não podendo cultivá-la. A cada dia ele desenvolve mais um pouco o seu autocontrole, ele consegue canalizar a sua energia. Nos primeiros dias ele luta consigo mesmo, mas depois de um tempo ele aprende a dominar seus impulsos e instintos. A Mitzvá de Shmita o transforma, de um animal movido apenas pelos instintos, em um ser humano verdadeiro. E apesar de cada Mitzvá ter, por si só, motivações espirituais específicas, o ponto em comum de todas elas é o autocontrole, a disciplina a que elas nos levam. Podemos comer e ter prazer, mas a Brachá (benção) nos faz pensar por alguns segundo no que estamos fazendo, dando um sentido especial para o nosso ato. Podemos ter proveito dos alimentos, mas a Kashrut nos ensina a não comer tudo o que temos vontade ou o que vemos na frente. Aprender a impor limites na vida é a única forma de moldar um ser humano. As Mitzvót ajudam a pessoa, desde pequena, a saber que quem controla é a alma, não o corpo.

E como isso nos conecta a D'us? Nos momentos de desejo, podemos lembrar, através das Mitzvót, quem somos nós de verdade. Nos momentos em que surgem dificuldades, as Mitzvót nos ajudam a lembrar qual é o nosso propósito na vida. E além de tudo, aquele que tem autocontrole aproveita muito mais os prazeres. Não ficar com raiva, não sentir inveja e não sentir orgulho, por exemplo, são coisas que nos levarão ao Mundo Vindouro e, ao mesmo tempo, já transformam nossa vida neste mundo em algo muito melhor.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ EMOR 5769

BS"D

APAGANDO UMA ALMA DE OURO - PARASHÁ EMOR 5769 (08 de maio de 2009)

"O Rav Shlomo Zalman Oierbach morava em Israel. Quando tinha 15 anos, seus pais compraram uma casa que pertencia a um velhinho não religioso. Como a reforma da nova casa do velhinho ainda não estava pronta, ele pediu para passar o final de semana com eles. Disse que ficaria só no seu quarto e não atrapalharia nada. A mãe do Rav Shlomo Zalman aceitou, mas com a condição de que o velhinho não desrespeitasse o Shabat. Ele prontamente aceitou.

Chegando o Shabat, eles viram que o velhinho realmente ficava o tempo todo no quarto, tentando não atrapalhar, mas diversas vezes ele fez coisas que quebravam o Shabat. Desapontado, o Rav Shlomo Zalman foi conversar com ele. Quando explicou que tudo aquilo que ele estava fazendo era proibido no Shabat, o velhinho pediu desculpas e explicou que não sabia nada sobre as Mitzvót, por isso tinha errado. Então, olhando nos olhos do rapaz, o velhinho falou:

- Você deve estar pensando que eu nunca tive um momento de grande espiritualidade. Mas eu vou te contar uma história. Antes de vir para Israel, eu vivi muitos anos na Rússia. Quando eu ainda era muito jovem, estava no meio de um curso de agronomia quando o exército Russo me enviou para a frente de batalha. Eu passava o dia inteiro enfiado em um buraco na terra, atirando contra os inimigos e vendo muitos amigos morrendo. Os únicos momentos de tranqüilidade eram quando se declarava um cessar-fogo temporário para recolher os corpos dos soldados mortos no campo de batalha. Nestes momentos eu via alguns judeus religiosos lendo Salmos e percebia que aquilo trazia para eles um grande alívio, uma luz no meio de toda aquela escuridão. E cada vez eu ficava mais angustiado, pois nunca tivera oportunidade de estudar Torá, não sabia nem mesmo rezar. Durante um cessar-fogo, vendo tanta morte e destruição, eu entrei em desespero. Gritei para D'us e pedi para que Ele tivesse misericórdia de mim. Pedi para que Ele me tirasse daquele inferno, que me mandasse de volta para casa, e prometi que, se isso acontecesse, iria para uma Yeshivá estudar Torá.

- Alguns segundo se passaram – continuou o velhinho – e no meio daquele silêncio eu escutei o barulho de um tiro. Uma bala certeira, vinda de não sei onde, arrancou o meu dedo. Desmaiei de tanta dor e acordei já no hospital. Depois de alguns dias já estava recuperado e quiseram me enviar novamente para a frente de batalha, mas então eles perceberam que a bala havia arrancado o dedo usado para apertar o gatilho e me mandaram de volta para casa. Eu entendi o tamanho do milagre que D'us havia feito, eu podia sentir o amor Dele por mim naquele momento.

- Porém – o velhinho abaixou a voz, envergonhado, e continuou – quando eu voltei para casa, não sabia mais o que fazer. Por um lado havia a promessa que eu havia feito para D'us, mas por outro lado faltava apenas um semestre para terminar o curso de agronomia. Após longos dias de reflexão decidi que primeiro terminaria o curso e depois iria para a Yeshivá, afinal, a Yeshivá já havia me esperado por tantos anos, poderia me esperar um pouco mais. E assim eu fiz, após seis meses fui para lá, mas já sem o entusiasmo inicial. Tentei acompanhar os estudos, mas tive muitas dificuldades de adaptação. A força daquele milagre aberto já havia terminado, e após dois meses eu desisti. Depois disso, nunca mais tive nenhum contato com as Mitzvót e com D'us.

Os olhos do Rav Shlomo Zalman se enchiam de lágrimas quando ele contava esta história. Ele terminava dizendo que uma alma de ouro havia se apagado para sempre apenas por não ter aproveitado o momento correto. (História real)
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Nesta semana lemos na Parashá Emor muitas leis relacionadas com os Cohanim (sacerdotes), os responsáveis por todos os serviços do Templo Sagrado. Justamente por estarem sempre envolvidos com a santidade do Templo, a Torá exige dos Cohahim um comportamento exemplar, como está escrito: "Sejam sagrados para D'us e não profanem o nome de D'us" (Vayikrá 21:6). Mas o final deste versículo parece ter sido escrito desnecessariamente, pois se já está escrito "Sejam sagrados", não é óbvio que os Cohanim não devem profanar o nome de D'us?

Explica o livro "Lekach Tov" que a Torá está nos ensinando neste versículo um dos fundamentos mais importantes do nosso trabalho espiritual neste mundo. Se estivesse escrito apenas "Sejam sagrados", poderíamos pensar que se um Cohen não conseguisse ser uma pessoa sagrada, ele poderia pelo menos viver como uma pessoa mediana. Então a Torá nos revela algo impressionante: se o Cohen não se santifica, ele automaticamente estará profanando o nome de D'us. Isto porque no nosso trabalho espiritual não existe ser mediano. Em cada instante, ou estamos santificando o nome de D'us, ou estamos denegrindo-o

E esta não é uma lei espiritual que se aplica somente aos Cohanim, se aplica a cada um de nós. Aprendemos isso do Shemá Israel, que recitamos todos os dias de manhã e de noite: "E se você escutar as Minhas Mitzvót que Eu os comando hoje... e comerás e te saciarás. Mas se cuide para que seu coração não o corrompa, e você se desviará e servirá outros deuses e se curvará diante deles". Por que não há nenhuma transição intermediária entre o início, que trata de quando estamos seguindo o caminho de D'us, e o final, que fala de servir outros deuses?

Explicam os nossos sábios que o mundo espiritual é como uma escada rolante que desce. Ou nós estamos nos esforçando e subindo, ou automaticamente estamos descendo. Não existe ficar parado. Podemos aprender isso observando a própria natureza. Tudo no mundo tem um propósito, nada é por acaso. Por que D'us criou a força da gravidade? Se quisesse, Ele poderia nos manter flutuando sobre o chão. A força da gravidade nos ensina que matéria atrai matéria, e para afastar é necessário colocar energia constantemente. Por exemplo, para um foguete sair da atração gravitacional da Terra, precisa ter um motor potente que o impulsione para cima. Mas se por acaso o motor deixar de funcionar por alguns instantes, imediatamente o foguete começa a cair, atraído pelo material. O mesmo ocorre com a nossa espiritualidade. Temos uma parte material, o corpo, que constantemente está sendo puxado e atraído pelo materialismo, pelos prazeres imediatos. Mas também temos uma parte espiritual, nossa alma, o "motor" do nosso foguete. Quando "desligamos o motor", isto é, quando deixamos o corpo controlar e decidir nossas vidas, entramos em queda livre espiritual. Para crescer é preciso esforço, deixar a alma comandar, deixar ela impulsionar. Isso só é possível vivendo uma vida com valores espirituais.

Outra "marca" desta dualidade entre o material e o espiritual é a própria Terra de Israel. O ponto mais elevado espiritualmente do mundo, o Kodesh Hakodashim (Santo dos santos) fica em Jerusalém, Israel. O ponto geográfico mais baixo do planeta também se localiza em Israel, no Mar Morto, a 400 metros abaixo do nível do mar. Coincidência? Certamente que não. Israel representa um grande potencial de espiritualidade. Se a pessoa procura em Israel a espiritualidade, não há lugar mais propício para o crescimento. Mas se a pessoa procura em Israel o materialismo, encontra muitos problemas e dificuldades. Apesar de Israel ser uma potência mundial, com grandes avanços tecnológicos, sofre com vários problemas sociais. Em locais não religiosos há muito uso de drogas e um elevadíssimo nível de violência juvenil, um dos piores do mundo. Já nas cidades onde as pessoas estão conectadas com os ensinamentos da Torá, a situação é exatamente o contrário. A cidade de Bnei-Brak, por exemplo, não tem delegacia de polícia. As frutas são vendidas na rua, isto é, o vendedor deixa na rua as frutas com o preço marcado e uma caixinha onde o comprador coloca o dinheiro.

Portanto, a Torá nos ensina que nosso objetivo é sempre estar vivendo com santidade, aproveitando as oportunidades, não deixando o crescimento espiritual para depois. A promoção na empresa pode esperar, o carro novo pode esperar, a casa nova pode esperar. Mas a espiritualidade não espera. E se a deixarmos ir embora, talvez ela não volte nunca mais.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 1 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT ACHAREI MÓT E KEDOSHIM 5769

BS"D

APROVEITANDO DE VERDADE - PARASHIOT ACHAREI MÓT E KEDOSHIM 5769 (01 de maio de 2009)

"Apesar de nunca ter terminado nem mesmo o primeiro grau, Roberto havia vencido na vida e se tornado uma pessoa muito rica. Como os negócios começaram a se expandir, ele precisou, pela primeira vez na vida, viajar de avião. Sua secretária comprou a passagem e fez o Check-in pela internet, e tudo o que ele precisou fazer foi embarcar.

Quando ele entrou no avião, viu a Primeira Classe e ficou deslumbrado com tanto luxo e comodidade. Poltronas largas e espaçosas, com bancos reclináveis e com apoio para os pés. Mas como viu que todas as pessoas passavam reto e seguiam até a outra parte do avião, ele decidiu seguir também. E olhando mais uma vez para aquelas poltronas maravilhosas, pensou: quem seriam os felizardos que viajariam com tanto luxo e conforto?

Quando chegou à Classe Econômica, viu as poltronas pequenas e apertadas. Como o avião não estava muito cheio, ele escolheu um lugar, encolheu as pernas e sentou. Quando quis ir ao banheiro, ficou meia hora na fila, enquanto os passageiros da Primeira Classe tinham um banheiro exclusivo só para eles. Na hora do jantar, recebeu uma comida sem graça, servida em descartáveis, enquanto viu que os passageiros da Primeira Classe comiam uma comida saborosa, em pratos de porcelana e com talheres de metal. Finalmente ele tentou dormir, mas não conseguia encontrar uma posição naquela poltrona apertada que mal deitava. Deu uma olhada na Primeira Classe e invejou aqueles felizardos que, com suas poltronas largas e completamente deitadas, dormiam como bebês.

Na manhã seguinte, quando o avião já se aproximava do destino, Roberto teve curiosidade de saber como era viajar de Primeira Classe. Pediu então para uma das aeromoças:

- Por favor, eu poderia aproveitar 5 minutinhos da Primeira Classe? Eu estou quebrado, não consegui dormir nada a noite inteira!

- Perdão – desculpou-se a aeromoça – mas a Companhia Aérea é muito rigorosa com estas regras, e apenas os passageiros que possuem o cartão de embarque vermelho podem usufruir da Primeira Classe.

Roberto voltou triste para sua poltrona. Quando o avião já estava pousando, retirou a carteira para pegar os documentos, viu de relance seu cartão de embarque e notou que era vermelho. Olhando mais atentamente, percebeu que estavam escritas as palavras "Primeira Classe". Ele ficou mal, que tamanho desperdício! Ele havia comprado um bilhete da Primeira Classe e, por total desconhecimento, havia viajado na Classe Econômica! Passou o dia inteiro se lamentando por ter perdido todos os prazeres e comodidades da viagem apenas por não ter sabido das regras antes"

Assim é a vida. D'us nos dá muitos prazeres, que nos ajudam na nossa "viagem" até nosso destino final. Mas muitos, por total desconhecimento, deixam de aproveitar os verdadeiros prazeres da vida...
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Acharei Mót e Kedoshim, e as duas tratam do mesmo assunto: o que fazer para chegar a um nível espiritual de Kedushá (santidade). A Parashá Acharei Mót começa nos ensinando as principais leis do dia mais sagrado do calendário judaico, Yom Kipur, e os principais detalhes de todo o serviço realizado pelo Cohen Gadol (Sumo sacerdote). Um dos principais momentos de Yom Kipur era quando o Cohed Gadol entrava no Kodesh Hakodashim (Santo dos Santos), o lugar mais sagrado do mundo, e pronunciava um dos nomes de D'us que continha 72 letras. Este nome evocava uma força espiritual tão grande que só podia ser pronunciado pelo Cohen Gadol, neste local e neste momento do ano. Depois de falar sobre Yom Kipur a Parashá então começa a descrever vários tipos de relações íntimas proibidas pela Torá, como por exemplo a relação entre parentes próximos. Mas por que a mesma Parashá que fala justamente do dia mais sagrado do ano também fala sobre relações ilícitas?

Um dos conceitos mais mal entendidos pela humanidade é o relacionamento íntimo entre o homem e a mulher. Segundo muitas religiões, qualquer contato íntimo é visto como algo sujo e pecaminoso e, portanto, proibido. Entende-se que chegar a elevados níveis de santidade só é possível através da total abstinência de prazeres mundanos, e um dos principais pontos é o voto de castidade, isto é, a total anulação do desejo humano pelo contato íntimo. Algumas religiões vão além e ensinam que o desejo deve ser controlado através de autopunição e sofrimentos auto-infligidos. De onde vieram estes conceitos? Será que esta é a visão judaica?

Muito apontam a fonte deste conceito na própria Torá. No início da criação, Adam e Chavá (Adão e Eva) foram criados no Gan Éden (Paraíso), mas por seu pecado de não escutarem o comando de D'us, caíram espiritualmente e foram expulsos. Somente depois da expulsão a Torá descreve o primeiro contato íntimo entre Adam e Chavá, que gerou Cain. Como aparentemente este primeiro contato íntimo ocorreu apenas fora do Gan Éden, muitas religiões deduziram que este era um ato pecaminoso e mundano, algo que era proibido no Gan Éden. Portanto o ideal do ser humano passou a ser voltar a este nível espiritual de antes do pecado, isto é, através do total afastamento dos prazeres materiais. Historiadores defendem a tese de que este "mito" ganhou mais força ainda na Idade Média, época em que o Clero, formado pelos sacerdotes da Igreja, possuía quase 2/3 das terras da Europa. O voto de celibato tornou-se então obrigatório para todos os sacerdotes, justamente para que os participantes do Clero deixassem, ao morrer, suas fortunas para a Igreja.

Infelizmente muitos judeus, por desconhecimento, acreditam que esta também é a visão judaica. Mas a Torá, nosso "Manual de instruções", nos ensina justamente o contrário. Rashi, famoso comentarista da Torá, diz que a forma como o versículo de Adam e Chavá foi escrito nos ensina que o relacionamento íntimo entre Adam e Chavá aconteceu dentro do Gan Éden, com o total consentimento de D'us. O judaísmo vai além e afirma que não existe nenhum prazer que a Torá proíbe, pois D'us criou o mundo de forma a podermos ter muitos prazeres na vida. O Talmud nos ensina que se uma pessoa perde a oportunidade de provar uma fruta que nunca experimentou, ela será cobrada por isso. D'us poderia nos alimentar com "cápsulas nutritivas" sem cheiro, sem gosto e sem cor, mas Ele nos deu uma grande variedade de frutas, legumes e comidas para que possamos saborear. Ele criou um mundo maravilhoso, apenas para mostrar Seu amor por nós.

Então de onde vem a idéia incorreta de que a Torá nos tira prazeres? Do preconceito com o qual olhamos o judaísmo. Olhamos as Mitzvót como algo negativo, que aparentemente nos limitam. Não podemos comer o que queremos, não podemos fazer tudo o que temos vontade nem da maneira que desejamos. Mas isso não é uma desvantagem, é um presente que D'us nos deu. Um dos principais benefícios que a Torá traz para nossas vidas, ao regrá-la com as Mitzvót, é nos dar autocontrole. Assim a pessoa pode canalizar os prazeres, para que possam ser utilizados de maneira mais completa e duradoura.

Um dos melhores exemplos para mostrar a diferença da visão judaica é justamente na área do contato íntimo entre o homem e a mulher. Em Lashon Hakodesh (língua sagrada com o qual D'us criou o mundo), a palavra "Kedushá" significa "santidade". Estranhamente, as mesmas letras, mudando apenas os pontos que representam as vogais, também formam a palavra "Kadeshá", que significa uma pessoa que vende seu corpo por dinheiro. Qual a relação entre santidade e vender corpo, que parecem coisas tão opostas? Segundo o judaísmo, quando um homem e sua mulher estão intimamente conectados, da maneira correta e com as motivações corretas, a presença de D'us paira sobre eles, pois o ato íntimo é algo muito sagrado e elevado. Porém, se a pessoa utiliza o ato íntimo apenas pensando nos seus prazeres, sem nenhuma motivação de conexão espiritual, ele se comporta como um animal, e é como se estivesse apenas vendendo seu corpo por um pouco de prazer imediato. O ato íntimo voltado ao espiritual preenche o ser humano, enquanto o ato animal somente causa ainda mais desejo e insatisfação.

Prazeres sem controle são limitados, muitas vezes nos tiram prazeres ainda maiores e podem arruinar nossas vidas. Quantas famílias não se despedaçam quando um dos cônjuges sente uma atração por outra pessoa e, por alguns instantes de prazer, joga tudo para cima? O autocontrole nos ajuda a manter um casamento feliz e estável por toda a vida. Segundo o judaísmo, o marido e a esposa precisam se separar por alguns dias todos os meses, renovando o relacionamento íntimo como se fossem recém casados. Em um mundo cada vez mais egoísta, as pessoas se preocupam apenas com o seu próprio prazer, sem se importar com o outro. O judaísmo nos ensina a pensar no prazer do outro antes do nosso próprio prazer. É por isso que a Torá traz, junto com o conceito de Yom Kipur, que representa a santidade, o conceito das relações ilícitas, que representa a imoralidade e a decadência, para nos ensinar que neste mundo, o mesmo ato pode ser feito com as motivações mais elevadas e sagradas, ou com as motivações mais baixas e animalescas.

Se prestarmos atenção na natureza, percebemos que muitos dos nossos atos cotidianos, tais como comer, beber e ter relações íntimas, também são feitos pelos animais. Isso nos ensina que, se fizermos nossos atos com as intenções corretas, podemos nos igualar aos anjos. Mas se fizermos com as intenções incorretas, estaremos nos comportando apenas como animais.

"Você come para viver ou vive para comer?"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5769

BS"D

BRONCA QUE VALE OURO – PARASHIOT TAZRIA E METZORÁ 5769 (24 de abril de 2009)

"Um grande sábio conhecido como Chidushei Harim viveu, quando era jovem, na casa do Rebe de Kojnitz. Mas após algum tempo ele decidiu sair de lá e foi morar na casa de outro grande rabino chamado Rebe de Pshischa. Esta mudança, sem nenhum motivo aparente, causou um grande sofrimento para o Rebe de Kojnitz.

Após algum tempo muitas coisas ruins começaram a acontecer com o Chidushei Harim, e ninguém entendia, pois ele era um Tzadik, um homem correto e íntegro, por que tinha que passar por tantos sofrimentos? Mas foi o próprio Chidushei Harim que, após alguns momentos de reflexão, chegou a uma possível explicação. Como ele havia saído da casa do Rebe de Kojnitz sem dar maiores explicações, havia certamente deixado-o muito triste, e por isso estava passando por tantas dificuldades. Então as pessoas quiseram saber qual o motivo o havia feito mudar de casa e perguntaram se ele não havia se arrependido, e ele explicou:

- Não estou arrependido de maneira nenhuma, e recebo com alegria todos estes sofrimentos. Quando eu estava em Kojnitz, recebia apenas elogios e louvores, mas em Pshischa eu recebo muitas broncas e críticas. Para o meu crescimento espiritual eu não preciso de um rabino que fique me elogiando e ressaltando meus pontos fortes. Eu preciso é de um rabino que saiba apontar os meus defeitos e onde eu preciso me aperfeiçoar"

Com elogios inflamos o nosso ego, mas são com as críticas que melhoramos e crescemos espiritualmente. Os sábios da Torá souberam sempre aproveitar a oportunidade de buscar críticas para saber onde precisavam melhorar, ao invés de ficar procurando elogios e louvores.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Tazria e Metzorá, e as ambas falam basicamente sobre uma doença espiritual chamada Tzaraat, causada por algumas transgressões específicas, entre elas o Lashon Hará (falar mal dos outros) e o orgulho. E esta doença espiritual é muito confundida com a lepra, pois sua manifestação física se dava através do surgimento de várias manchas que se espalham por todo o corpo. Uma das provas que era uma doença espiritual e não física é que apenas o Cohen (sacerdote) podia diagnosticar a doença, como está escrito: "Quando estiver uma pessoa com manchas de Tzaraat, ele deve ser trazido para um Cohen (sacerdote)" (Vayikrá 13:9).

Deste ensinamento surgem dois questionamentos: se a Tzaraat era algo tão evidente, que deixava manchas na pele da pessoa, por que ela tinha que procurar um Cohen para receber o diagnóstico? E, além disso, o que acontecia se um Cohen se contaminasse com a Tzaraat, ele podia se auto-diagnosticar ou precisava procurar outro Cohen?

Explica o livro "Lekach Tov" que não existe nenhum ser humano que, em suas decisões cotidianas, não está "subornado" por seus interesses particulares. Achamos que somos racionais e corretos em todas as nossas decisões, mas se prestarmos atenção, perceberemos o quanto somos influenciados por nossas vontades, a ponto de vermos a situação de maneira exatamente oposta de como ela é de verdade. Em geral nosso ego não quer se ferir e não queremos admitir que erramos, e muitas vezes, mesmo que de forma inconsciente, negamos o que é óbvio e procuramos desculpas por nossos atos. Mas o Criador do mundo conhece suas criaturas, e por isso nos ensinou uma forma para chegarmos à verdade, independente dos nossos interesses. Essa forma é através do aconselhamento com outra pessoa, que está fora do problema e pode ver as coisas com claridade e sem nenhum interesse.

Ensinam nossos sábios que existiam dois tipos de Tzaraat. Um dos tipos causava manchas que tornavam a pessoa impura espiritualmente e obrigavam-na a passar por um processo de purificação, que incluía o total isolamento por pelo menos uma semana. Esse tempo era importante para que a pessoa pudesse refletir e entender a gravidade de suas transgressões. E havia outro tipo, cujas manchas não tornavam a pessoa impura e não era necessário o processo de isolamento e purificação espiritual. O grande problema é que ninguém gostaria de assumir que a Tzaraat veio como consequência de um erro grave, então a tendência do ser humano seria sempre olhar para si mesmo e se auto-diagnosticar como estando puro, mesmo que os sinais indicassem exatamente o contrário. É por isso que a Torá nos obrigou a procurar um Cohen, para que ele, uma pessoa completamente neutra, desse um diagnóstico livre de qualquer interesse pessoal. E é por esse motivo que mesmo um Cohen quando contraia Tzaraat precisava procurar outro Cohen para ser diagnosticado.

Este ensinamento não se limita apenas ao caso da Tzaraat, é algo que podemos utilizar no nosso cotidiano. A natureza do ser humano é saber enxergar os defeitos dos outros, mesmo que seja uma transgressão quase insignificante, e ao mesmo tempo ele tem a capacidade de ignorar completamente seus próprios erros e faltas, mesmo que sejam gigantescos. É por isso que nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Adquira para você um amigo". Que tipo de ensinamento é este, precisamos ir a uma loja de liquidações para comprar um amigo? Alguém já viu amigos em exposição na vitrine, ou um anúncio no jornal dizendo "Quero ser seu amigo, cobro barato"? Ensinam os comentaristas que "Compre um amigo" significa que é tão importante ter um amigo que valeria a pena pagar por isso, mesmo que fosse um valor alto. Mas para entender por que valeria a pena pagar para ter um amigo, antes precisamos entender o que a Torá chama de amigo. Será que amigo é aquela pessoa que vai conosco nas festas e viagens? Certamente não é deste amigo que a Torá está se referindo. Segundo a Torá, amigo não é aquele que sempre te faz elogios, que sempre te passa a mão na cabeça, mesmo quando você está errado, para mostrar fidelidade e "amizade". O amigo de verdade é aquele que se importa com você, e justamente por se importar, quando você erra, ele te chama a atenção, ele mostra onde você errou, ele te dá uma sacudida para te despertar. Para ter por perto uma pessoa destas, que nos coloca sempre nos caminhos corretos, valeria a pena até mesmo pagar por isso.

O ensinamento que fica para as nossas vidas é que sim podemos ver os erros dos outros, mas sem utilizar uma lente de aumento e com o único intuito de ajudá-los a melhorar. Podemos utilizar a lente de aumento apenas para buscar os nossos próprios defeitos. E mais do que tudo, devemos nos aconselhar com os nossos rabinos e verdadeiros amigos, que são aqueles que querem sempre o nosso bem e o nosso crescimento espiritual, mesmo que isso tenha quer vir através de uma bronca ou de uma crítica.

"Faça uma crítica a um sábio e ele te amará. Faça uma crítica a um tolo e ele te odiará" (Mishlei)

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 17 de abril de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHEMINI 5769

BS"D

A TIGELA DE MADEIRA – PARASHÁ SHEMINI 5769 (17 de abril de 2009)

"Um senhor de idade foi morar com o filho, a nora e o neto de quatro anos. Por causa da idade avançada, as mãos do velhinho eram trêmulas e a sua visão já estava embaçada, e isso o atrapalhava muito na hora de comer. A comida muitas vezes caía no chão e a bebida sempre acabava derramada na toalha. Além disso, muitas vezes ele deixava o prato de vidro cair no chão, espatifando-o. O filho e a nora começaram a ficar profundamente irritados com a sujeira, até que um dia a nora comentou com o marido:

- Precisamos tomar alguma providência a respeito do seu pai. Isto não pode continuar. Já tivemos suficiente bebida derramada, pratos quebrados e comida espalhada pelo chão!

O marido concordou, e decidiram então tomar uma providência: daquele dia em diante o velhinho comeria em um canto da cozinha, numa pequena mesa isolada, enquanto o restante da família continuaria fazendo as refeições na mesa principal. Além disso, sua comida passaria a ser servida numa tigela de madeira. E assim fizeram, isolaram o pobre velhinho, que comia sempre sozinho e humilhado. E por estarem tão distantes do velhinho na hora da comida, ninguém podia perceber as lágrimas em seus olhos. As únicas palavras que lhe diziam eram broncas e gritos quando ele deixava um talher ou a comida cair no chão. O menino de quatro anos de idade assistia a tudo em silêncio.

Certa noite, antes do jantar, o pai percebeu que o garoto estava no chão, manuseando um pedaço de madeira. O pai foi até ele e lhe perguntou o que estava fazendo com aquela madeira. O menino respondeu:

- Eu estou fazendo uma tigela para você e para a mamãe comerem quando vocês também ficarem velhos.

O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho. Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos, e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Naquela mesma noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família. Daquele dia em diante ele voltou a comer todas as refeições com a família. E o marido e a esposa já não se importavam mais quando um garfo caía, o leite derramava ou a toalha da mesa ficava suja"

Temos que tomar cuidado de como cuidamos dos nossos velhos, pois um dia também seremos velhos...
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A Parashá desta semana, Shemini, nos ensina sobre a inauguração do Mishkan (Templo Móvel). Por sete dias Moshé fez os serviços do Mishkan, mas no oitavo dia ele consagrou Aaron e seus filhos como Cohanim (sacerdotes), e a partir deste dia eles e seus descendentes foram para sempre os responsáveis pelo serviço do Templo. E assim começa a Parashá: "E foi no oitavo dia, Moshé convocou Aaron, seus filhos e os anciãos de Israel" (Vayikrá 9:1). Entendemos porque Aron e seus filhos foram chamados, já que seriam consagrados como Cohanim. Mas por que a Torá relata que os anciãos também foram chamados?

Vivemos em uma sociedade onde os mais velhos são desprezados e deixados de lado. As empresas costumam "aposentar" seus funcionários após os 60 anos pois querem "renovar" seu quadro de funcionários, e a pessoa praticamente perde seu valor na vida. Existe um problema que atualmente atinge o mundo inteiro, desde países pobres até os mais ricos: com as melhorias no campo da medicina e o baixo nível de natalidade, a população mundial tem envelhecido nos últimos anos, e com isso a população economicamente ativa vem diminuindo muito, causando problemas para a previdência social. Francis Crick, ganhador do prêmio Nobel de química pela descoberta do DNA, foi certa vez entrevistado pela revista "Nature" e questionado sobre como este problema poderia ser resolvido. Francis Crick sugeriu que pessoas com mais de 80 anos que ficassem doentes e não tivessem condições de pagar seu próprio tratamento médico não deveriam mais ser atendidas nos hospitais públicos, deveriam ser deixadas em uma maca, em um canto do hospital, para não atrapalharem os outros doentes. O que Francis Crick quis dizer é que a sociedade moderna rotula as pessoas de acordo com o quanto contribuem financeiramente. Em resumo, os velhos não servem para nada e devem ser ignorados. Será que esta é a visão judaica?

A palavra "ancião" em Lashon Hakodesh (língua sagrada na qual foi escrita a Torá) é "Zaken". Ensinam nossos sábios que a palavra "Zaken" vem das palavras "Zé she KaNá chochmá" (aquele que adquiriu sabedoria). Mas será que todo ancião tem sabedoria? A mesma pergunta surge quando observamos uma das 613 Mitzvót da Torá: "Na presença de uma pessoa idosa você deve levantar-se e você deve honrar a presença de um sábio" (Vayikrá 19:32). Por que a Torá traz junto a Mitzvá de honrar um idoso com a Mitzvá de honrar um sábio? Explicam os nossos sábios que existem diversos tipos de sabedoria. Por exemplo, "Chochma" é a capacidade de formação de idéias, "Biná" é a capacidade de análise dedutiva, "Daat" é a capacidade compreender as coisas de forma mais profunda. E além destes três tipos de sabedoria existe uma quarta, que é a "Zikná", a experiência de vida. As primeiras três sabedorias podem ser obtidas através do estudo e do esforço, mesmo por pessoas jovens. Mas a "Zikná" é a sabedoria que apenas os anciãos têm.

É por isso que a Torá ressalta que, na inauguração do Mishkan, Moshé também chamou os anciãos, para mostrar que segundo o judaísmo devemos honrar e respeitar os mais velhos por sua sabedoria de vida. E assim dizia o Rabi Akiva, um dos maiores rabinos de todas as gerações: "O povo judeu se assemelha a um pássaro. Da mesma forma que um pássaro não pode voar sem suas asas, o povo judeu também não poderia fazer nada se não fossem seus anciãos". Segundo o judaísmo, uma sociedade que não valoriza seus anciãos não sobrevive. Talvez isso ajude a explicar por que a sociedade moderna, com pouco mais de 200 anos, já está tão decadente, enquanto o judaísmo continua com seu brilho e vigor há mais de 3.000 anos.

A Torá nos ensina a recompensa de poucas Mitzvót. Uma das exceções é a Mitzvá de "Honrarás teu pai e tua mãe", na qual a Torá descreve que a pessoa recebe "Arichut Iamim" (alongamento dos seus dias). Mas a linguagem utilizada é estranha, pois ao invés de "alongamento dos dias" deveria estar escrito "multiplicação dos dias"! Uma das explicações é que os pais, por já terem passado por muitas experiências, já adquiriram muita sabedoria de vida. Portanto, aquele que honra seus pais e sabe escutar seus conselhos "alonga seu dia", isto é, aprende com a experiência de vida dos pais e perde menos tempo cometendo erros. Por isso sobra mais tempo para fazer o que realmente precisam fazer na vida.

É verdade que jovens recém saídos da universidade podem ter mais conhecimentos tecnológicos, mas para tomar decisões corretas na vida é necessário mais do que conhecimento técnico, é necessário experiência de vida, e isso nenhum jovem tem. Portanto, respeite e valorize os mais velhos.

"Não teremos tempo de cometer todos os erros. Que possamos então aprender com os erros e acertos dos outros"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 3 de abril de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PESSACH 5769

BS"D


O CERTIFICADO - PESSACH 5769 (03 de abril de 2009)

Certa vez, quando o Rav Israel Salanter voltava de uma de suas viagens, parou para dormir em um pequeno hotel cujo dono era judeu. Mas para sua surpresa, descobriu que o dono do hotel, antes um judeu temente a D'us, agora havia abandonado completamente o cumprimento das Mitzvót da Torá. O Rav Salanter perguntou o motivo e o homem explicou:

- Há alguns dias se hospedou aqui um judeu ateu. Começamos a discutir sobre a idéia de castigo e recompensa de D'us, e ele afirmava que tudo isso era uma grande tolice. Como a discussão não chegava a lugar nenhum, ele saiu e voltou com um pedaço de carne de porco. Ele desafiou D'us, dizendo que engoliria aquela carne de porco, e se realmente existisse supervisão Divina no mundo ele imediatamente morreria engasgado, mas se nada acontecesse seria uma prova de que não existe castigo e recompensa. Após desafiar D'us com tanto desrespeito, ele engoliu o pedaço de porco e nada aconteceu. Depois disso fiquei confuso e resolvi abandonar tudo.

O Rav Salanter escutou tudo em silêncio. Quando homem terminou, ele foi para o seu quarto sem falar nada. Algumas horas depois a filha do dono do hotel voltou da escola e contou, muito contente, que havia recebido um importante certificado de música. O rav Salanter chamou-a e pediu que ela cantasse para ele, para provar que ela realmente sabia cantar. A menina se irritou com o pedido e se recusou a cantar. O Rav Salanter chamou o pai e disse que a filha era uma mal educada, pois ele havia pedido para ela cantar e ela havia se recusado. O pai questionou o comportamento da filha e ela explicou:

- Não tem sentido eu cantar para as pessoas para mostrar que eu canto bem sem que seja o momento e o lugar adequados. Fora isso, o que ele pensa, que para todo mundo que duvidar do meu talento eu vou começar a cantar para provar? Foi justamente por isso que eu recebi um certificado, para mostrar para aqueles que duvidarem da minha capacidade!

O pai achou a resposta da filha satisfatória e deu razão para ela. O Rav Salanter virou-se para o dono do hotel e disse:

- Interessante, você acha que com este certificado de papel é suficiente para que ninguém duvide da habilidade de sua filha. Mas você tem dúvidas de D'us, que já nos provou, diante dos olhos dos outros povos, a Sua supervisão particular, inclusive através de milagres abertos, como aconteceu na Saída do Egito. Além disso, Ele nos deu um certificado que comprova isso, a Torá. E não foi uma única vez, mas muitas vezes na história D'us revelou Seu poder: nos dias de Mordechai e Ester (Purim), nos dias dos Chashmonaim (Chánuka), com o profeta Eliahu e os falsos profetas de Baal (que foram todos consumidos por um fogo celestial diante dos olhos de todo o povo). Você acha que agora, para qualquer tolo que vier e disser "não acredito", D'us mudará a ordem da Criação e as leis da natureza para provar algo para ele? Quem quer de verdade conhecer D'us pode buscar as provas dentro do "certificado" eterno que Ele nos entregou, e não há necessidade de nenhuma outra prova.
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Na próxima quarta-feira de noite (08 de abril) começa a festa de Pessach, um dos pilares centrais do judaísmo, quando revivemos a saída do povo judeu do Egito. Para entender a importância deste evento basta observar que em todas as festas, inclusive no Shabat, dizemos "Zecher Lietziat Mitzraim" (em recordação à Saída do Egito). Mas por a saída do Egito é tão marcante para o povo judeu até hoje em dia? Por que relembrar com tanta frequência algo que já ocorreu há mais de 3.300 anos?

No livro "Hakuzari", o Rav Yehuda Halevi faz uma pergunta fantástica: no primeiro mandamento da Torá está escrito "Eu sou teu D'us, Quem te tirou da terra do Egito, da casa da escravidão" (Shemot 20:2). Apesar de D'us realmente ter feito muitos milagres abertos durante a saída do Egito, desde as 10 pragas até a abertura do Mar Vermelho, todos os milagres foram feitos com elementos que já existiam na natureza. Porém, na criação do mundo, o milagre e a demonstração do poder de D'us foram muito maiores, pois Ele criou o universo inteiro a partir do nada. Se na saída do Egito D'us quebrou as leis da natureza, na criação do mundo Ele as criou. Portanto, já que os atos da criação revelam ainda mais o poder de D'us, então por que no primeiro mandamento da Torá não está escrito "Eu sou teu D'us, Quem criou o mundo"?

A resposta é muito interessante. A criação do mundo foi justamente com o propósito de dar ao ser humano a livre escolha, tanto para o bem quanto para o mal. Mas para nos auxiliar em nosso trabalho espiritual e nos ajudar a fazer as escolhas corretas, D'us não queria que as pessoas vivessem baseadas apenas em fé cega, Ele nos deu um intelecto para que possamos utilizá-lo e chegar à verdade. Foi justamente por esse motivo que D'us ressaltou no primeiro Mandamento da Torá "Quem te tirou do Egito", pois a saída do Egito foi um evento com milhões de testemunhas, enquanto na criação do mundo não havia nenhuma testemunha. Se o judaísmo fosse embasado apenas no fato de nosso D'us ter sido o Criador o mundo, seria fé cega, pois não haveria nenhuma prova. Mas quando D'us nos tirou do Egito, isso provou que Ele participa do mundo e supervisiona tudo o que ocorre, e todos os milagres foram vistos por três milhões de pessoas. Para que Ele não tenha que se revelar com milagres e sinais em cada geração, Ele decretou aos nossos antepassados, que presenciaram a saída do Egito, que fizessem para sempre um lembrete e um sinal de tudo o que os olhos deles viram, para que pudessem transmitir aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos, até a última geração. Este lembrete é Pessach.

Por isso, toda vez que nos sentamos durante o Seder de Pessach e recontamos todos os detalhes da saída do Egito, não estamos apenas relembrando uma história que aconteceu aos nossos antepassados. Estamos participando, de forma ativa, de uma corrente de transmissão ininterrupta de mais de 3.300 anos, de pai para filho, da base racional do judaísmo.

Todas as vezes que D'us faz milagres abertos e quebra as leis da natureza é para nos ressaltar que a natureza também é um milagre e é Ele quem a controla. E assim diz o Ramban (Nachmanides): "A pessoa não tem parte na Torá de Moshé Rabeinu até que acredite que, em todas as coisas e acontecimentos, tudo é milagre e não existe natureza". A palavra natureza, em hebraico, é "Téva", a mesma raiz da palavra "Matbea", que significa "cunha da moeda", para nos ensinar que, através da observação da natureza e sua perfeição podemos encontrar "encunhado na moeda" o seu autor.

Dizem nossos sábios que, na criação do mundo, o versículo "E disse D'us: 'Façamos o homem' " (Bereishit 1:26) está escrito no plural "façamos" para nos ensinar que D'us, dando um exemplo de humildade, se aconselhou com os anjos para saber se criava o ser humano ou não. Os anjos foram contra, pois diziam que o ser humano terminaria se esquecendo de suas obrigações e se voltando contra o Criador. E durante todo o ano os anjos vêem nossos maus atos e relembram D'us de que não valeu a pena criar o ser humano. Mas na noite de Pessach D'us junta todos os anjos do Céu e pede para que eles desçam na Terra e vejam o que os judeus estão fazendo. Então os anjos escutam, em cada casa judia, as famílias reunidas no Seder de Pessach, louvando a D'us e recordando todos os milagres da saída do Egito, num belo gesto de "Akarat Hatov" (gratidão). Então os anjos voltam e relatam para D'us o que viram, concordando que realmente a criação do ser humano valeu a pena.

Que possamos neste ano estarmos todos reunidos com nossas famílias no Seder de Pessach, revivendo a saída do Egito e todos os seus milagres, dando nossa contribuição para que a criação do ser humano tenha mais sentido e fazendo nossa parte nesta corrente, que vai desde os nossos dias até a saída do Egito.

Shabat Shalom e Chag Sameach

Rav Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Refua Shlema (pronta recuperação) de: Frade (Fanny) bat Chava, Chana bat Rachel, Léa bat Chana; Pessach ben Sima, Eliashiv ben Tzivia; Chedva Rina bat Brenda; Israel Itzchak ben Sima; Eliahu ben Sara Hava; Moshe Leib ben Tzipa; Avraham David ben Reizel; Yechezkel ben Sarit Sara Chaya; Sara Beila bat Tzvia; Estela bat Arlete; Ester bat Feige; Sofia bat Carol; Moshe Yehuda ben Sheva Ruchel; Esther Damaris bat Sara Maria; Yair Chaim ben Chana; Dalia bat Ester; Ghita Leia Bat Miriam; Chaim David ben Messodi; David ben Beila; Léia bat Shandla; Dobe Elke bat Rivka Lie; Avraham ben Linda.
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) do meu querido e saudoso avô, Ben Tzion (Benjamin) ben Shie Z"L, que lutou toda sua vida para manter acesa a luz do judaísmo, principalmente na comunidade judaica de Santos. Que possa ter um merecido descanso eterno.

Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de: Avraham ben Ytzchak, Joyce bat Ivonne, Feiga bat Guedalia, Chana bat Dov, Kalo (Korin) bat Sinyoru (Eugeni), Leica bat Rivka, Guershon Yossef ben Pinchas; Dovid ben Eliezer, Reizel bat Beile Zelde, Yossef ben Levi, Eliezer ben Mendel, Menachem Mendel ben Myriam, Ytzhak ben Avraham, Mordechai ben Schmuel, Feigue bat Ida, Sara bat Rachel, Perla bat Chana, Moshé (Maurício) ben Leon, Reizel bat Chaya Sarah Breindl; Hylel ben Shmuel; David ben Bentzion Dov, Yacov ben Dvora; Moussa ben Eliahou Cohen, Naum ben Tube (Tereza); Naum ben Usher Zelig; Laia bat Morkdka Nuchym; Rachel bat Lulu; Yaacov ben Zequie; Moshe Chaim ben Linda; Mordechai ben Avraham; Chaim ben Rachel; Beila bat Yacov; Itzchak ben Abe; Eliezer ben Arieh; Yaacov ben Sara.
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sexta-feira, 27 de março de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAYIKRÁ 5769

BS"D

O BURACO É BEM MAIS FUNDO - PARASHÁ VAYIKRÁ 5769 (27 de março de 2009)

"Rogério fazia o primeiro passeio de navio da sua vida. Estava adorando a viagem, pois a vista das praias era maravilhosa e os outros passageiros eram muito divertidos. A única exceção era Jeferson, um rapaz muito esquisito que estava sempre sozinho e muito calado. Havia algo de errado com ele, mas ninguém sabia o que.

Certa noite Rogério voltava para sua cabine, depois de uma grande festa. Passando pela cabine de Jeferson, escutou ruídos estranhos, como se alguém estivesse fazendo furos. Curioso, abriu um pouquinho a porta e viu, para o seu espanto, que Jeferson abria um buraco no chão da sua cabine. O buraco já estava grande, provavelmente ele vinha trabalhando nisso fazia muitos dias.

Desesperado, Rogério foi buscar ajuda. Voltou com mais três amigos, entraram na cabine e, após alguns instantes de luta, dominaram Jeferson e o levaram até o capitão. Jeferson estava enfurecido e gritou:

- Por que vocês não me deixam em paz? Eu estou cansado desta viagem e quero abrir um buraco na minha cabine. O que importa para vocês?

- Claro que importa - explicou Rogério - pois todos nós estamos no mesmo barco, não há como afundar apenas a sua cabine. Se você abre um buraco, você afunda o barco inteiro. Por isso, a partir de agora, pense melhor antes de fazer qualquer besteira".

Assim funciona a vida. Podemos pensar que quando fazemos uma bobagem apenas nós perdemos com isso. Mas temos que saber que, na verdade, cada ato que fazemos influencia todo o mundo, não apenas a nós mesmos.
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Nesta semana começamos o terceiro livro da Torá, Vayikrá. E a Parashá Vayikrá trata principalmente do tema dos Korbanot (sacrifícios) que eram oferecidos no Mishkan (Templo Móvel) e posteriormente no Beit Hamikdash (Templo Sagrado). E assim a Torá introduz as leis dos Korbanot: "O Adam (ser humano), quando oferecer um Korban para D'us..." (Vayikrá 1:2). Mas há algo diferente neste versículo, pois normalmente quando a Torá se refere às pessoas utiliza a linguagem "Ish" e não "Adam". Então por que quando a Torá se refere aos Korbanot utiliza a linguagem "Adam"?

O Midrash (parte da Torá Oral) nos conta que a linguagem "Adam" é um lembrete do erro cometido por Adam Harishon (Adão), e foi utilizada para nos ensinar que toda vez que o ser humano transgredir, como fez Adam Harishon, deve trazer um Korban para que seu erro seja expiado. Mas por que a Torá precisa fazer esta comparação com Adam Harishon? Não seria suficiente apenas ordenar que aquele que transgrediu traga um Korban?

Quando uma pessoa trazia um Korban por um pecado cometido, não era suficiente apenas o ato externo e sem Cavaná (intenção) de trazer um animal para sacrificá-lo no Beit Hamikdash. Dentre as principais partes da Mitzvá estavam a Charatá (arrependimento pelo mau ato cometido) e a Teshuvá (decisão de retornar aos caminhos corretos). E dentro da Charatá a parte mais importante era entender o quanto o seu ato havia sido prejudicial. Quanto mais a pessoa refletisse e entendesse o quanto seu ato foi errado, maior seria a sua força para evitar esta mesma transgressão no futuro.

Muitas vezes o desejo nos faz cometer erros, apesar de sabermos que terão consequências negativas. Mas será que sabemos até onde vai o efeito dos nossos erros? Em relação a Adam Harishon, poderíamos pensar que a consequência do seu erro, ao não escutar um mandamento de D'us, foi apenas para ele mesmo, com a sua imediata expulsão do Gan Éden (Paraíso). Mas nossos sábios ensinam que as consequências são sentidas até os nossos dias. A morte, que originalmente não estava nos planos Divinos, foi decretada sobre Adam e sobre todos os seus descendentes. Também a terra, que produzia frutos em abundância e sem esforço, foi amaldiçoada por causa do erro de Adam, dificultando o sustento dele e de todos os seus descendentes. Em resumo, os dois maiores sofrimentos que afligem a humanidade - o medo da morte e a difícil luta pelo sustento - são consequências diretas do erro de Adam Harishon e nos afligem mesmo passados mais de cinco mil anos. Este é o motivo da linguagem "Adam" em relação aos Korbanot, pois cada um que trazia um Korban deveria colocar no coração as consequências do erro de Adam, para assim conseguir internalizar que o mau ato que havia cometido também era muito mais prejudicial para o mundo todo do que ele havia imaginado.

E isso não se aplica apenas para as épocas em que havia Korbanot. Da mesma forma que as consequências negativas do erro de Adam Harishon recaíram sobre ele e seus descendentes, o mesmo ocorre conosco, cada erro que cometemos tem consequências terríveis, muito além do que podemos enxergar, e devemos levar isso em conta nas nossas considerações, como nos ensinam nossos sábios: "Leve em consideração o que você ganha com uma transgressão e o que você perde" (Pirkei Avót 2:1). Com uma transgressão ganhamos prazeres materiais de pouca duração e intensidade, mas perdemos prazeres espirituais eternos e ainda influenciamos o mundo inteiro para o mau, como diz o livro Messilat Yesharim (Caminho dos Justos) que aquele que faz uma Mitzvá se eleva e eleva junto com ele todo o mundo, mas aquele que faz uma Aveirá (transgressão) se afunda e afunda com ele todo o mundo.

Precisamos também prestar atenção no lado positivo deste ensinamento, pois podemos enxergar o potencial que cada ser humano tem de influenciar todo o mundo com seus atos. Muitas pessoas se sentem deprimidas por acharem que não são importantes, que sua existência não muda nada no mundo. O judaísmo ensina que não tem sentido este sentimento de inferioridade, pois cada pequeno ato de cada ser humano pode influenciar toda a humanidade. Não sabemos onde pode chegar um bom ato, mas sabemos, por exemplo, que os méritos de nossos antepassados nos ajudam e nos protegem até hoje, mais de três mil anos depois. Por isso, ao invés de depressão, é hora de levantar as mangas e começar a construir, com cada pequeno ato, um mundo melhor.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm