quinta-feira, 10 de julho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BALAK 5768

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ESCUTANDO O QUE INTERESSA - PARASHÁ BALAK 5768 (11 de julho de 2008)

Rav Ilish havia sido preso pelos babilônios e estava na prisão junto com outro prisioneiro, um homem que conhecia a linguagem dos pássaros. De repente um corvo pousou na janela e começou a piar. O rav Ilish perguntou ao outro prisioneiro o que o corvo estava falando, e ele lhe contou que o corvo dizia "Fuja, Ilish, fuja". Mas o rav Ilish não quis acreditar no corvo, pois sabia que o corvo é um animal traiçoeiro e mentiroso.

Algum tempo depois uma pomba pousou na janela e começou a piar. Rav Ilish novamente perguntou ao outro prisioneiro o que a pomba estava dizendo, e o homem lhe contou que a pomba falava "Fuja, Ilish, fuja". Desta vez ele acreditou que era realmente um aviso Divino, de que ele teria sucesso se fugisse. Arriscando a vida, ele fugiu e conseguiu se salvar. Quando contou toda a história para seus alunos, um deles perguntou:

- Rav, você não fugiu ao escutar o corvo pois não acreditou nele. Mas então por que você acreditou no outro prisioneiro? Ele poderia ser um mentiroso!

O rav Ilish abriu um sorriso envergonhado e confessou:

- Na verdade eu também sei a língua dos pássaros, e sabia que realmente a pomba havia me dito para fugir.

- Mas rav - perguntou o aluno - se você também sabe a língua dos pássaros, então por que perguntou para o outro prisioneiro o que os
pássaros estavam falando?

O rabino então ensinou uma grande lição para os seus alunos:

- A minha vontade de fugir era tão grande que, quando eu escutei a pomba dizendo "fuja", eu tive medo de ter entendido errado, de ter
escutado o que eu gostaria de ter escutado. E só fiquei tranqüilo quando confirmei com o outro prisioneiro e vi que havia escutado
corretamente. (História retirada do Talmud)
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A Parashá desta semana, Balak, conta sobre o terrível medo que recaiu sobre todos os povos após as esmagadoras vitórias do povo judeu contra os reis Og e Sichon, pois ficou evidente que as batalhas do povo judeu eram vencidas de forma milagrosa. O rei de Moav, Balak, entendeu que para vencer o povo judeu era necessário mais do que um poderoso exército, era necessário forças espirituais. Por isso Balak decidiu contratar Bilam, um grande profeta, para que ele amaldiçoasse o povo judeu e diminuísse seu mérito espiritual. Balak tinha sentido na pele a enorme força de Bilam, pois seu povo havia sido derrotado pelos Emorim após ter sido amaldiçoado por ele. Balak estava confiante de utilizar a mesma arma contra os judeus.

Bilam realmente tinha um grande poder espiritual. A prova de sua grandeza é que ele conseguia consultar-se com D'us sempre que
desejava. Por exemplo, quando os emissários de Balak vieram buscá-lo para amaldiçoar o povo judeu, ele antes quis consultar D'us. Bilam esperava uma resposta positiva de D'us, mas ocorreu justamente o contrário, pois ele recebeu uma proibição, como está escrito "E D'us falou para Bilam: Não vá com eles. Não amaldiçoe este povo, pois ele é abençoado" (Bamidbar 23:12). O mais estranho é que quando Bilam deu a resposta aos emissários, simplesmente falou "...D'us se recusou a me deixar ir com vocês" (Bamidbar 23:13), omitindo a proibição de amaldiçoar aos judeus e deixando a entender que com aqueles emissários ele não poderia ir, mas se Balak enviasse uma delegação com pessoas mais importante, a resposta de D'us seria diferente. Como é possível que Bilam, um profeta que falava e escutava diretamente as coisas de D'us, possa ter mudado as palavras Dele, dando a entender que o que O preocupava era a sua honra?

Explica o Rav Chaim Shmulevitz que de Bilam aprendemos algo muito importante, que também se aplica a cada um de nós: o ser humano escuta o que quer escutar. Quando uma pessoa tem interesses envolvidos, ela perde a objetividade e passa a ser seletiva com as informações que circulam ao seu redor, escutando e entendendo somente o que lhe interessa. Os psicólogos chamam este fenômeno de "Dissionância Cognitiva", que atua de forma subconsciente de forma a bloquear informações que vão contra nossas idéias ou vontades. Quanto maior o interesse envolvido, maior a dissonância.

E foi exatamente o que ocorreu com Bilam. Ele era uma pessoa que vivia de aparências, tentando a todo custo receber das pessoas honras e prestígio. Quando os emissários de Balak vieram chamá-lo e D'us o proibiu de ir, o choque foi grande. Como dizer para os emissários de Balak que ele, o grande Bilam, não havia recebido permissão de ir? Neste momento entrou a Dissionância Cognitiva, e o resultado foi que Bilam não transmitiu aos emissários de Balak o que D'us havia dito para ele. Ele quis contradizer as palavras que havia escutado diretamente de D'us? Certamente que não. Então, por que ele as mudou? Pois ele tinha tantos interesses envolvidos que realmente acreditou que era isso o que D'us havia dito.

Fica a preciosa lição da Torá, que não foi ensinada apenas para a geração do deserto, mas para cada um de nós: temos que tomar cuidado e verificar sempre nossos interesses envolvidos, para termos certeza de que não estamos constantemente escutando apenas o que gostaríamos de escutar.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 4 de julho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ CHUKAT 5768


BS"D

QUEM ESCOLHE O CAMINHO - PARASHÁ CHUKAT 5768 (04 de julho de 2008)

"Antônio, um bem sucedido mercador, contratou Daniel, um carroceiro, para ajudá-lo a transportar algumas mercadorias até a cidade vizinha. Antônio, que tinha medo de viagens, instruiu Daniel a controlar o cavalo durante todo o caminho, para que o animal não se desviasse e não acontecesse nada ruim. Apesar dos pedidos de Antônio, Daniel aproveitou antes da viagem para comer bem e beber além da conta. Já na mesa Daniel começou a sentir muito sono, e logo o começo da viagem o balanço da carroça fez com que ele dormisse profundamente e soltasse as rédeas.

Por um tempo o cavalo seguiu seu caminho na estrada, mas logo ele percebeu que as rédeas estavam frouxas, e portanto poderia ir para onde desejasse. O cavalo olhou para os lados e viu lindos pastos verdes e lagos com água cristalina, e não pensou duas vezes: saiu da estrada e foi tranquilamente pastar. O campo era todo esburacado, e quando a roda passou em um buraco mais fundo, a carroça capotou, ferindo o mercador e atirando toda a sua mercadoria longe. O mercador levantou muito irritado. Aos berros, pegou o carroceiro pela camisa e gritou:

- Seu tonto, eu não te avisei para prestar atenção no cavalo, para que nada de mal acontecesse? Por que você não me escutou?

O carroceiro, meio sem jeito, ainda tentou se justificar:

- Sabe o que acontece, é que por alguns quilômetros eu supervisionei o cavalo, e verifiquei que ele se mantinha sempre no centro da estrada. Eu sei que meu cavalo é muito inteligente e conhece o caminho. Nunca imaginei que ele se desviaria de repente.

O mercador explodiu em gargalhadas, e falou:

- Meu amigo, você diz que seu cavalo é "inteligente"? Você pode dizer que ele é um bom animal, que é bem treinado, mas não é nada mais do que um animal, pois é movido apenas pelos seus instintos, não pela sua inteligência. Portanto, quando um cavalo vê coisas que despertam seu desejo, se não houver alguém controlando-o, certamente ele se desvia do caminho. Era o seu trabalho ficar todo o tempo com as rédeas na mão, direcionando o cavalo para que ele não saísse do caminho"

Explica o Chafetz Chaim que assim acontece conosco. Se nossa parte racional solta as rédeas e deixa a parte dos desejos controlar, nos desviamos do caminho correto, e as consequências podem ser, muitas vezes, desastrosas.
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Na Parashá desta semana, Chukat, o povo judeu se aproxima da terra de Israel e trava batalhas com os povos que viviam na fronteira. Uma das batalhas foi contra os Emorim, cujo rei era Sichon. O povo judeu pediu a Sichon permissão apenas para passar pelas terras dos Emorim, garantindo que não passaria pelas colheitas nem beberia da água deles, mas Sichon não apenas negou a passagem do povo judeu como também juntou seu exército e declarou guerra. O povo judeu saiu vitorioso da batalha, e tomaram todas as cidades dos Emorim, inclusive uma cidade chamada "Cheshbon", a capital.

Os comentaristas explicam que a cidade de Cheshbon era uma cidade que anteriormente pertencia ao povo de Amon, e que os Emorim haviam passado muitos anos tentando conquistar sem sucesso, até que contrataram Bilaam e seu pai Beor que, através de um "poema", amaldiçoaram a cidade e permitiram finalmente sua conquista, como está escrito "E em relação a isso disseram os "Moshlim" (poetas): Vamos a "Cheshbon", que ela seja construída e estabelecida como a cidade de Sichon..." (Bamidbar 21:27).

Explica o Chafetz Chaim que cada palavra descrita na Torá tem vários níveis de significado, desde a explicação mais simples até entendimentos mais profundos. Um exemplo é este "poema" de Bilaam, que também pode ser entendido de uma maneira mais profunda. A palavra "Moshlim" também significa "aqueles que têm controle", e "Cheshbon" significa "fazer um balanço". Segundo este entendimento, qual é o ensinamento que o versículo nos transmite?

No início da Criação D'us fez os anjos, seres que seguem apenas o lado lógico verdadeiro e não têm nenhum desejo ou vontade que os desvie. Depois disso D'us criou os animais, criaturas que não tem nenhuma sabedoria nem lógica, e vão atrás apenas de suas vontades. E no sexto dia D'us criou o ser humano, composto por estas duas forças contraditórias, isto é, uma Neshamá (parte mais elevada da alma) que está repleta de sabedoria e conhecimento, como um anjo; e uma Nefesh (parte menos elevada da alma), que é atraída pelos desejos do corpo, como um animal. Se o homem faz com que prepondere a sua Neshamá, isto é, as decisões racionais, ele é chamado de Tzadik (justo) e se compara aos anjos. Mas se a parte animal prepondera sobre sua parte espiritual, isto é, ele toma suas decisões a partir das vontades e desejos, ele se afunda e cai ao nível de um animal, e é chamado de Rashá (malvado). Qual é a maneira de conseguir sempre tomar as decisões de maneira racional, sem que os desejos nos desviem?

O sonho da maioria das pessoas é viver sem um chefe, isto é, abrir seu próprio negócio. Mas estatísticas mostram que 75% dos novos negócios não duram mais do que poucos anos. Por que isso acontece? Pois o mundo dos negócios é muito enganador, e se o investidor não sabe as regras do jogo e não faz um balanço constante da sua empresa, ele quebra. A pessoa inexperiente vê o dinheiro entrando e pensa que está tendo sucesso, e muitas vezes não percebe que as saídas são maiores que a entrada. E assim a bola de neve vai crescendo até que chega o inevitável: a falência.

A solução é o comerciante fazer constantemente o balanço de sua empresa. Saber quanto está entrando mas também quanto está saindo. Saber onde investir mais e onde não está tendo muita lucratividade. Saber que estoques precisam ser renovados todos os dias e quais os que praticamente não são consumidos. E se para um comerciante ter sucesso é necessário um balanço constante de suas atividades, muito mais para os seres humanos, que precisam de um balanço para verificar, em todos os seus atos, quais os aproximam dos anjos e quais os aproximam dos animais.

Por isso, é uma obrigação do ser humano sempre verificar seus atos e não deixar que a sua parte animal o desvie. E é esse o entendimento mais profundo do versículo. Os "Moshlim" são aqueles que conseguem chegar a controlar o seu instinto, e ensinam que a única maneira é através do "Cheshbon", isto é, de fazer um balanço dos nossos atos.

São os nossos instintos que nos levam a cometer transgressões, e o balanço constante nos ajuda a evitá-las, pois se pensarmos o pouco de prazer que ganhamos com cada transgressão, comparado com o prazer eterno que perderemos, certamente não transgrediremos. O balanço constante dos nossos atos pode mudar nossas vidas, pois se em uma empresa o que está em jogo é apenas o salário do fim do mês, na vida o que está em jogo é a eternidade.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

quinta-feira, 26 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ KORACH 5768


BS"D

VERDADE, MAS SE FOR DO MEU JEITO - PARASHÁ KORACH 5768 (27 de junho de 2008)

"Pedrinho era uma criança com muita energia. Às vezes, energia demais. Na escola ele era impossível, e sua mãe vivia sendo chamada pela diretoria. Ele não era um bom aluno, e normalmente suas notas deixavam o pai de cabelo em pé.

Uma noite, a mãe de Pedrinho entrou no quarto dele para dar boa noite, e viu uma cena que a deixou boquiaberta: pedrinho, ajoelhado ao lado da cama, com a cabeça baixa, falava sozinho. Será que ele estava rezando? Será que finalmente Pedrinho tinha tomado jeito? A mãe, curiosa, chegou perto para escutar o que ele pedia. Escutou ele falando várias vezes baixinho:

- D'us, por favor, faça com que o rio Amazonas passe pela Bahia.

A mãe de Pedrinho ficou curiosa. Por que ele pedia para D'us algo tão estranho? Quando terminou de rezar, ele explicou:

- Sabe, mãe, hoje tivemos prova de Geografia, e foi isso o que eu escrevi na prova"

Muitas vezes preferimos encontrar justificativas para continuar na mentira ao invés de aceitar que estamos errados e começar a procurar a verdade.
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Alguém inteligente andaria no escuro, sabendo que há chance de cair em um grande abismo? Alguém em sã consciência comeria algo que existe probabilidade de ser venenoso? À primeira vista, parece que não. Porém, a Parashá desta semana, Korach, nos mostra que não é tão simples assim. Korach, primo de Moshé, movido pela inveja, tentou derrubar Moshé e Aharon de seus postos de líder e Cohen Gadol (Sumo Sacerdote), e para isso começou a incitar o povo com mentiras e calúnias. Um dos argumentos foi que Moshé havia escolhido Aharon, seu irmão, como Cohen Gadol, e havia enganado o povo dizendo que a escolha foi Divina. Korach, acompanhado de 250 pessoas que se deixaram convencer por ele, foram desafiar Moshé.

Em um primeiro momento, Moshé tentou dissuadir Korach e os outros rebeldes, tratando-os com respeito e falando em tom cordial. Mas vendo que nada funcionava, propôs uma prova para que D'us mesmo mostrasse quem era o escolhido. Todos os que se achavam no direito de ser Cohen Gadol deveriam trazer, no dia seguinte, uma oferenda de incenso para D'us. Moshé ressaltou que era proibido para uma pessoa trazer uma oferenda que D'us não havia ordenado, e o transgressor era punido com a morte. Somente a oferenda daquele que realmente havia sido escolhido por D'us seria aceita, e os outros morreriam. Todos os 250 homens aceitaram o desafio, trouxeram no dia seguinte suas oferendas de incenso, e todos morreram, consumidos por um fogo Divino. Mesmo assim o povo não ficou completamente convencido, e D'us teve que dar uma prova definitiva de que Aharon era o escolhido. Ele ordenou que o líder de cada tribo trouxesse um cajado, com o seu nome inscrito nele, e colocasse dentro do Mishkan (Templo Móvel), inclusive Aharon, que deveria trazer o cajado da tribo de Levi. No dia seguinte, o cajado de Aharon amanheceu com flores e frutas, mostrando para todo o povo que a escolha de Aharon era realmente Divina.

Mas destes acontecimentos surgem duas perguntas: os rebeldes sabiam que, no melhor dos casos, apenas um deles seria o escolhido, e os outros 249 morreriam imediatamente. É como brincar de roleta russa, mas com um revólver contendo 249 balas! Quem, em sã consciência, participaria deste tipo de "jogo"? Era praticamente um suicídio. Mas a Torá descreve que mesmo assim os 250 participaram e morreram. Além disso, por que D'us não fez a prova do cajado de Aharon antes da prova da oferenda, para quem sabe assim poupar a vida dos 250 rebeldes?

A pergunta que temos que sempre nos fazer é se vivemos nossas vidas de maneira racional, ou se constantemente tomamos decisões ilógicas. Por exemplo, todos conhecem os terríveis males do cigarro, tais como câncer no pulmão e enfisema pulmonar, mas mesmo assim vemos que o número de fumantes aumenta cada vez mais. Todos sabem que dirigir embriagado aumenta muito os riscos de graves acidentes, e mesmo assim 90% dos pacientes que chegam aos hospitais no sábado à noite, jovens que estão entre a vida e a morte, estavam completamente embriagados, saindo de uma festa ou uma danceteria. Todos sabem que a exposição constante à violência dos filmes e jogos aumenta a violência na vida real, mas mesmo assim vemos que a procura por filmes e jogos violentos continua cada vez maior. Como explicar tudo isso? Se não é lógico, por que tantas pessoas fazem coisas que colocam em risco o nosso bem mais precioso: a vida?

Ensinam os nossos sábios que o ser humano pode ignorar as verdades mais óbvias por causa dos seus desejos. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos patriarcas): "Três coisas tiram o homem do mundo: a inveja, o desejo e a honra". "Tirar do mundo" significa tirar a pessoa do seu racional, das decisões lógicas e pensadas. Por um pouco mais de prazer e de orgulho arriscamos nossas vidas dirigindo de forma arriscada, comendo alimentos que fazem mal à saúde e nos comportando como se não houvesse amanhã.

A pior catástrofe que pode acontecer ao ser humano é perder o controle de sua mente. E foi justamente o que aconteceu com Korach e seus 250 seguidores. Mesmo quando a lógica e a verdade estavam claras diante deles, eles escolheram o ilógico. Por inveja, por um pouco mais de honra, eles trocaram a vida pela morte certa. E eles estavam tão obstinados e obcecados que mesmo a prova do cajado não seria suficiente para despertá-los.

O pior não é apenas viver de maneira ilógica. É aceitar, ou pior, tentar justificar este tipo de atitude. Temos mecanismos de auto-justificação, muitas vezes inconscientes, que enganam a nós mesmos. Como ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "Todo o caminho da pessoa é reto aos seus olhos". Moldamos tudo para que estejamos sempre certos.

Será que escolhemos nossos caminhos de forma racional, ou deixamos a vida nos levar? Será que nos questionamos, ou vamos vivendo cada dia e tentando curtir ao máximo, sem pensar no futuro? Muitas pessoas preferem não se questionar, com medo de perder os prazeres da vida. Muitas vezes prazeres ilógicos, passageiros, que aproveitamos hoje sem saber se estaremos aqui amanhã.

"O pior cego é o que não quer ver"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 20 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ SHELACH 5768


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APRENDENDO COM OS ERROS - PARASHÁ SHELACH 5768 (20 de junho 2008)

Certa vez duas moscas caíram num copo de leite. A primeira era forte e valente, e logo ao cair nadou até a borda do copo para tentar sair, mas como a superfície era muito lisa e suas asas estavam molhadas, seu esforço foi vão. Tentou por várias vezes subir com todas as suas forças, mas não conseguiu. Acreditando que não havia saída, a mosca desistiu e afundou.

Sua companheira, apesar de não ser tão forte, era persistente e observadora. Aprendeu que não adiantava tentar escalar as paredes do copo, e decidiu tentar algo diferente. Juntando todas as suas forças, começou a se debater, e assim ficou por tanto tempo que, aos poucos, o leite ao seu redor foi se transformando em manteiga. A mosca subiu em um pequeno nódulo e conseguiu levantar vôo para um lugar seguro.

Tempos depois, a mesma mosca se descuidou e novamente caiu em um copo. Imediatamente começou a se debater, na esperança de que, no devido tempo, se salvaria, mas o tempo passava e nada acontecia. Outra mosca, passando por ali e vendo a aflição da companheira, pousou na beira do copo e gritou:

"Tem um canudo ali, nade até lá e suba pelo canudo".

A mosca não lhe deu ouvidos, e baseando-se na sua experiência anterior de sucesso, continuou a se debater e a se debater até que, exausta, afundou no copo. Desta vez o copo estava cheio de água.

"Podemos e devemos aprender com os nossos erros. Porém, o aprendizado não precisa ser apenas através dos nossos próprios erros. Podemos aprender muito observando os erros que os outros à nossa volta cometem"
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A Parashá da semana passada, Behalotechá, terminou com o Lashon Hará (malediscência) que Miriam fez de seu irmão Moshé, e o duro castigo que ela recebeu por isso. E a Parashá desta semana, Shelach, começa a contar sobre os 12 homens enviados para espionar a terra de Israel. O que deveria ser apenas uma missão de reconhecimento se transformou em uma tragédia: os espiões falaram mal sobre a terra, e o povo judeu, desesperançoso, chorou. D'us decretou que aquela geração não tinha méritos para entrar na terra de Israel, e por isso o povo passou mais 40 anos no deserto, até que toda aquela geração morresse e a nova geração pudesse entrar em Israel.

Ensinam os nossos sábios que não apenas as palavras da Torá foram meticulosamente escolhidas, mas também a ordem com a qual os eventos foram descritos foi meticulosamente definido por D'us. Portanto, sempre que dois assunto são escritos próximos um do outro é porque há alguma conexão entre eles e podemos aprender algum ensinamento importante. Qual é a conexão entre o castigo de Miriam e o erro dos espiões, e o que aprendemos desses dois assuntos para nossa vida?

Uma das características de D'us é nos castigar "Midá Keneged Midá" (medida por medida) por um erro cometido, isto é, D'us se comporta conosco da mesma forma que nós nos comportamos com os outros. Se gritamos com alguém, outra pessoa gritará conosco. Se roubamos algo, terminaremos sendo roubados. Isso é uma grande bondade de D'us, pois muitas vezes cometemos erros sem nem mesmo perceber, e se não fosse o castigo, não teríamos chance de nos arrepender. Quantas vezes ofendemos uma pessoa com uma brincadeira de mau gosto sem nem mesmo perceber que a estavamos magoando? Quantas vezes deixamos de dar atenção a pessoas que precisavam, e nem nos demos conta? A maneira que D'us tem para nos despertar é se comportar exatamente da mesma maneira conosco, para refletirmos e entendermos que fizemos com alguém o mesmo erro que outros estão fazendo conosco.

Porém, o ser humano tem uma incrível capacidade de ser subjetivo quando o que está em jogo é o seu ego. É muito difícil para o ser humano reconhecer que cometeu um erro, e o mais comum é que as pessoas tentem, a todo custo, justificar suas atitudes. Se pegamos troco a mais no banco não é roubo, é acerto de contas pelos juros cobrados indevidamente. Se pegamos os talheres do avião é porque já estava incluído no preço da passagem. Então, como os castigos podem funcionar para ensinar algo ao ser humano?

Ensina o Rav Chaim Shmulevitz que aquele que pára e presta atenção ao que lhe acontece no dia-a-dia certamente chegará a entender qual é a mensagem que D'us está transmitindo, pois os sofrimentos têm como uma de suas principais funções nos ensinar algo para a vida. Mas como somos subjetivos quando se trata de nossos erros, há uma outra maneira de aprendermos: observando o castigo recebido pelos outros.

Explica Rashi, comentarista da Torá, que este é o motivo da junção dos dois assuntos aparentemente tão desconectados. Quando Miriam fez Lashon Hará e foi punida, os espiões deveriam ter visto o castigo de Miriam e aprendido a lição de quanto pode ser dolorosa a consequência de denegrir e de ver as coisas de forma negativa. Mas a Torá mostra que os espiões não aprenderam a lição de Miriam, pois logo em seguida eles falaram mal da terra de Israel, causando não apenas para eles mesmos uma terrível punição, mas para o povo inteiro.

Portanto, a Parashá nos ensina duas lições práticas para melhorarmos um pouco mais a cada dia. A primeira é prestar atenção aos nossos próprios sofrimentos, tentando associar o que nos aconteceu de ruim a atos que tenhamos feito de mal a outras pessoas. E a segunda lição é aprendermos com o erro e o castigo que os outros recebem. Aprendendo com o que acontece aos outros, evitamos que futuramente aconteça conosco.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

quinta-feira, 12 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5768


BS"D

INJEÇÃO COM CARINHO - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5768 (13 de junho de 2008)

"Juju ficou doente, estava com febre alta e não podia ir para a escola, e por isso os pais acharam melhor consultar um médico. Ele examinou a menina, diagnosticou a doença e indicou uma injeção, a única forma de curá-la. Os pais de Juju ficaram preocupados, pois sabiam que a injeção iria doer. Como convencer a filha a tomar a injeção sem fazer um grande escândalo na farmácia e sem dificultar a vida do aplicador?

Durante todo o caminho, os pais explicaram o que era uma injeção e para que servia. Contaram que a injeção era a única coisa que poderia curar a doença que ela tinha e explicaram que depois da injeção Juju ficaria boa e poderia brincar com os amiguinhos na escola. Confessaram que doeria um pouco, mas garantiram que logo a dor passaria e ficariam somente as coisas boas.

Antes de chegar na farmácia, pararam em uma loja de doces e a mãe de Juju comprou um grande pacote de chocolates. Deu para ela o pacote e falou:

- Se você não chorar nem fizer escândalos, o pacote será todo seu.

Chegando na farmácia, Juju já estava preparada para a injeção. Mesmo vendo a agulha, ela não teve medo, pois entendeu que seria bom para ela. O aplicador foi muito carinhoso, passou um pouquinho de algodão com álcool antes, fez algumas brincadeiras, e somente quando ela estava bem tranqüila ele aplicou a injeção. A picada doeu, mas vendo o pacote de chocolates e pensando que logo voltaria para a escola, ela se controlou e não chorou. Apesar de ficar um pouquinho dolorido, ela voltou feliz para casa, sabendo que logo ficaria boa. A picada havia passado, agora ficavam os deliciosos chocolates"

As críticas e repreensões que fazemos aos outros se assemelham a uma injeção. Mesmo que é para salvar, a injeção é aplicada com cuidado, com carinho, para não machucar. Assim deve ser feita uma crítica ou uma bronca.
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A Parashá desta semana, Behalotechá, termina com um ensinamento importante. Miriam e Aaron, irmãos de Moshé, não entenderam que ele estava em um nível profético muito mais elevado do que as outras pessoas e falaram mal de um ato que ele havia feito, que na verdade estava correto e havia sido aprovado por D'us. Miriam e Aaron foram informados por D'us que eles haviam feito uma grave transgressão: o Lashon Hará (maledicência). Mesmo que o comentário foi feito por amor, e mesmo que Moshé não se irritou com o comentário da irmã, ao contrário, ele ainda rezou por ela, foi considerado Lashon Hará. Isso nos ensina a gravidade do Lashon Hará, e muito mais se denegrimos alguém por raiva e deixamos a pessoa sobre quem falamos irritada ou triste.

A conseqüência do Lashon Hará foi que Miriam imediatamente ficou com Tzaráat (doença espiritual que acometia as pessoas que falavam Lashon Hará), cuja cura era, além do arrependimento, o isolamento por uma semana fora do acampamento. Porém, ficar fora do acampamento durante os 40 anos no deserto poderia significar ficar para trás, caso o povo judeu estivesse no meio de uma viagem, fazendo com que o castigo fosse ainda mais duro.

A Torá descreve que com Miriam foi diferente. Apesar do povo estar pronto para levantar o acampamento e seguir viagem no momento do castigo de Miriam, D'us avisou para que eles não viajassem até que Miriam terminasse seu período de isolamento. Por que? Pois Miriam estava recebendo a recompensa de um bom ato que ela havia feito há mais de 80 anos. Quando Moshé nasceu, Miriam era uma menina de apenas 5 anos. Para salvar a vida de Moshé, sua mãe colocou-o em uma cesta e jogou-o no rio, na esperança que D'us guiaria a cesta até alguém que tivesse misericórdia e salvasse seu filho. E assim aconteceu, a cesta chegou até onde Batia, a filha do faraó, estava se banhando, e ela teve misericórdia do bebê e salvou sua vida. Durante todo o tempo em que a cesta estava no rio, Miriam foi seguindo seu irmão, para ter certeza de que estava tudo bem, mesmo arriscando sua vida, pois se fosse descoberta protegendo um bebê judeu, contra as ordens do faraó, seria morta. Como recompensa por Miriam ter acompanhado Moshé, D'us fez com que o povo inteiro a acompanhasse, esperando a sua cura e viajando somente depois de sua volta. Mas surge uma pergunta: por mais de 80 anos D'us guardou a recompensa de Miriam por seu bom ato. Por que justamente agora, que ela estava recebendo um duro castigo, ela recebeu o pagamento de seu bom ato?

Daqui vemos que todos os castigos que D'us aplica aos seres humanos são por amor, não por raiva. Quando a Torá descreve que D'us está bravo, não é com raiva, e sim como um pai que quer apenas o melhor para o seu filho, e para isso algumas vezes precisa agir de forma um pouco mais enérgica. D'us guardou a recompensa de Miriam por 80 anos para dar a ela no momento do castigo, e assim minimizar a sua dor. Como um pai que, sabendo que o filho precisa tomar um remédio amargo, lhe dá uma bala para tirar o gosto ruim.

Muitas vezes vemos pessoas à nossa volta que fazem coisas erradas e nos incomodam. Nosso primeiro impulso é gritar, advertir, dar uma grande bronca e jogar na cara da pessoa seu erro. Mas não é assim que D'us se comporta conosco. Aprendemos de D'us que quando criticamos ou damos uma bronca em alguém, deve ser por amor ao próximo, para o bem do próximo, para que o próximo melhore em algo que está errando, e não por motivos egoístas. Quando a crítica é feita com carinho e de coração, a outra pessoa recebe e a crítica torna-se uma Mitzvá. Mas se a crítica é feita de forma ríspida e por egoísmo, isto é, para o nosso próprio bem e não para o bem do outro, a crítica machuca e deixa rancor, se tornando uma transgressão.

A crítica se compara a uma injeção. Por mais que aplicamos uma injeção para salvar a vida de outra pessoa, fazemos com cuidado, para doer o mínimo possível. A injeção não é simplesmente atirada como se fosse um dardo. É feito uma preparação psicológica antes, é feito um consolo depois da aplicação. Assim deve ser feita uma crítica ou uma bronca.

Quando sairmos deste mundo, todos vamos querer estar próximos de D'us. Mas o que significa estar próximo de D'us, se no mundo espiritual não há tempo nem espaço? No mundo material, a proximidade se mede através de distância física. Já no mundo espiritual a distância se mede pela semelhança. Quando duas coisas são iguais, elas se conectam espiritualmente, mas quando são diferentes, elas se afastam e se desconectam. Se queremos realmente nos tornar pessoas melhores e nos conectar com D'us por toda a eternidade, devemos aprender com Seus atos e nos comportar como Ele. Da mesma forma que Ele apenas dá broncas por amor e visando o nosso bem e não o bem Dele, assim devemos sempre criticar os outros por amor, e não por raiva ou egoísmo.

"Palavras que saem do coração entram no coração"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm