sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIEHI 5770

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BILHETE PREMIADO - PARASHÁ VAIEHI 5770 (01 de janeiro de 2010)

"Entre as retrospectivas do ano de 2009, uma notícia interessante chamou a atenção do mundo. Em maio, uma estudante da Austrália, preocupada com a difícil situação financeira dos seus pai, revirou suas gavetas até encontrar um antigo bilhete de loteria que ela tinha guardado havia 10 meses mas ainda não tinha conferido o resultado. Na esperança de talvez receber algum dinheiro que pudesse ajudar os pais, ela levou o bilhete à casa lotérica e quase teve um ataque. O funcionário da casa lotérica informou que ela havia acertado sozinha uma loteria acumulada e receberia um prêmio de 13 milhões de dólares australianos (cerca de 20 milhões de reais).

A casa lotérica vinha há vários meses fazendo uma campanha para encontrar o dono do bilhete premiado. As pessoas estavam intrigadas com o misterioso vencedor que não aparecia para receber seu prêmio. Será que a pessoa não sabia que havia se tornado milionária do dia para a noite?

O mais interessante é que a estudante encontrou o bilhete depois de 10 meses, e segundo as regras da loteria australiana Lotterywest, os contemplado tem o prazo máximo de 12 meses para retirar o prêmio, e depois disso o bilhete expirara e o prêmio volta a ser sorteado. Mais 2 meses e ela teria perdido seus 20 milhões de reais.

A estudante mora na cidade costeira de Perth. Ela havia recebido o bilhete em 22 de julho de 2008, como um presente de seu pai. Ela conta que no dia em que levou o bilhete à casa lotérica, havia acordado preocupada com as finanças da família. Disse ainda que alguma coisa a levou a procurar e checar o bilhete, com a intuição de que poderia talvez ajudar seus pais. Ela esperava um prêmio secundário, algumas centenas de dólares, mas nunca um prêmio de milhões. A estudante, de pouco mais de 20 anos, pediu para que seu nome não fosse divulgado.

- Eu vou me lembrar e cuidar das pessoas próximas, e devo dar alguma coisa para pesquisas e para a caridade - disse a estudante - É legal ter essa quantia para realizar meus sonhos e os sonhos das pessoas ao meu redor"

A estudante australiana foi, por 10 meses, uma milionária sem saber. Assim somos todos nós, milionários que não nos damos conta. E não apenas por 10 meses, mas por uma vida inteira.

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A Parashá desta semana, Vaiehi, encerra o primeiro livro da Torá, Bereshit, que vai desde a criação do universo até as fundações espirituais do povo judeu, através dos nossos patriarcas Avraham, Ytzchak e Yaacov, pilares do nosso povo. E a Parashá termina justamente com a morte de Yaacov, o patriarca que representa a luta contra o nosso mal instinto em um mundo material cheio de dificuldades.

Antes de morrer, Yaacov queria dar uma Brachá (Benção) a todos os seus filhos, mas em especial a Yossef, cujos filhos, Efraim e Menashé, foram elevados ao nível de filhos de Yaacov e se tornaram parte das 12 tribos de Israel. A primogenitura e o direito a uma porção dupla foi passada de Reuven para Yossef. Quando Yaacov adoeceu e sentiu que a morte se aproximava, Yossef foi avisado e imediatamente veio ao seu encontro, acompanhado dos seus dois filhos. Yaacov primeiro conversou com Yossef e, ao ver Efraim e Menashé, fez uma pergunta aparentemente estranha, como está escrito "E então Israel (Yaacov) viu os dois filhos de Yossef e disse: 'Quem são eles?' " (Bereshit 48:8). Por que Yaacov perguntou "quem são eles?" se havia passado seus últimos 17 anos no Egito estudando Torá com seus netos Efraim e Menashé todos os dias?

A explicação mais simples é que Yaacov já estava quase completamente cego, mas conseguia ainda enxergar a silhueta das pessoas. Quando Yossef chegou e foi anunciado, Yaacov percebeu que havia duas pessoas que o acompanhavam, e por isso perguntou quem eram eles.

Mas existe uma explicação mais profunda. Durante os 22 anos que Yossef estava no Egito, Yaacov ficou enlutado, inconsolável com a suposta morte do seu filho preferido. E durante estes 22 anos a Torá nos ensina que Yaacov perdeu completamente a sua profecia. Por que? Pois D'us está presente onde a alegria está presente, mas onde há tristeza a presença de D'us se afasta.

Explica o famoso comentarista Or HaChaim que Yaacov certamente sabia que eram os seus netos que estavam entrando junto com seu filho Yossef. Então por que ele perguntou quem eram eles? Pois Yaacov estava prestes a dar uma Brachá especial para seu filho e seus netos, e neste momento quis aumentar sua alegria para que a força da presença de D'us aumentasse. Quando ele perguntou quem eram eles, Yaacov queria justamente escutar o que Yossef respondeu: "Estes são meus filhos, que D'us me deu aqui". Efraim e Menashé eram dois jovens com grandes virtudes morais, um grande presente de D'us para Yossef. E Yaacov sabia que não há maior alegria do que quando conseguimos enxergar os presentes que nós recebemos de D'us. Era isso o que Yaacov queria, despertar dentro de si mesmo e dentro de Yossef a alegria de reconhecer o que D'us havia dado de bom para eles.

Será que nós conseguimos sentir esta alegria de reconhecer o que temos de bom? No último dia do ano não-judaico foi feito um sorteio especial da loteria com um prêmio de mais de 140 milhões de reais. Muitas pessoas passaram a semana sonhando acordadas, imaginando o que fariam com um prêmio destes. Um apartamento novo, o carro do ano, um iate, uma casa de campo, quem sabe até mesmo um helicóptero. Em resumo, uma vida nova, cercada de luxo. Mas vamos imaginar que o ganhador tivesse sido um cego. Talvez ele não aproveitaria tanto o prêmio, pois não veria a casa nova nem o carro novo. Certamente ele estaria disposto a dar metade do prêmio, 70 milhões, para ter sua visão de volta. Talvez até mais. Ficaria contente em ficar com 10 milhões se pudesse enxergar. Se o ganhador estivesse preso a uma cadeira de rodas também certamente daria grande parte do seu prêmio milionário para voltar a andar. Por que? Pois a visão, a audição, os movimentos do nosso corpo valem mais do que um grande prêmio de loteria.

Todos os dias nós acordamos, abrimos os nossos olhos, nos levantamos sem a ajuda de ninguém e caminhamos. Nos sentimos como ganhadores da loteria? Não, pois estamos acostumados a tudo isso, não damos mais valor. Explica o Rav Noach Waiberg ZT"L que cada ser humano que pode enxergar, que pode andar, que desperta para mais um dia de vida, é como se estivesse recebendo um enorme prêmio de loteria. A felicidade que sentiríamos seria imensa se cada um de nós conseguisse reconhecer e internalizar tudo o que temos de bom. Pois assim nos ensina o Pirkei Avót: "Quem é o rico? Aquele que está contente com o que tem". Somos milionários, talvez bilionários. Quanto pagaríamos por nosso corpo que funciona perfeitamente? Quanto pagaríamos por nossos filhos? Quanto pagaríamos por nossa família? Não há dinheiro que pague nenhuma destas coisas.

Por isso, ao invés de reclamar tanto, ao invés de olhar as coisas ruins, temos que focar em todas as coisas boas que temos, em todas as oportunidades que D'us nos dá. Perdeu o emprego? Agradeça que tem saúde para procurar outro trabalho. Perdeu a saúde? Agradeça que tem uma família para cuidar de você. Não encontra a outra metade? Agradeça os amigos que te apóiam e estão ao teu lado. Olhe o lado positivo, veja quantas coisas maravilhosas cada um de nós tem na vida. Alegria não é um estado de espírito passageiro. Alegria é quando mudamos o foco, quando aprendemos a perceber o quanto são pequenos os problemas comparados com tudo o que temos de bom na vida.

Que possamos enxergar o prêmio de loteria que recebemos todos os dias, para que possamos nos sentir milionários e felizes de verdade.

"Não diga para D'us que você tem um grande problema. Diga para seu problema que você tem um grande D'us"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIGASH 5770

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A HONRA DOS OUTROS - PARASHÁ VAIGASH 5770 (25 de dezembro de 2009)

"Em uma pequena comunidade judaica da Europa, o rabino da cidade se enganou ao responder uma simples questão de Halachá (lei judaica). Embora a falha grosseira não tivesse sido percebida pela grande maioria dos judeus locais, ela não passou despercebida por duas pessoas maliciosas da cidade. Querendo envergonhar publicamente o rabino, os dois malvados bolaram um terrível plano: escreveram uma carta para o famoso Rabino Ytzchak Elchanan Spektor, rabino da cidade de Kovno, na Lituânia, fazendo a mesma pergunta. Eles sabiam que o grande rabino Spektor, um dos maiores da geração, responderia a simples pergunta de maneira correta. Eles planejavam então mostrar a carta para toda a cidade, envergonhando o rabino publicamente e tirando toda a sua credibilidade.

Quando o rabino Ytchak Elchanan recebeu a carta, ficou surpreso. Embora muitas pessoas daquela cidade enviassem perguntas para ele, aqueles dois homens nunca haviam lhe perguntado nada. Além disso, a pergunta era muito simples, qualquer rabino local poderia responder. Ele ficou intrigado com aquela carta e decidiu investigar. Confirmando suas suspeitas, ele descobriu que aqueles dois homens eram grandes encrenqueiros, com um histórico de causar confusões na comunidade onde viviam. Entendeu que eles estavam tramando um plano para humilhar o rabino da cidade. Então o rabino Ytchak Elchanan teve uma idéia genial: enviou uma carta endereçada aos dois homens com a resposta errada à questão enviada, que era exatamente como o rabino da cidade havia respondido. Então, no dia seguinte, ele mandou um telegrama, que certamente chegaria antes da carta, com a resposta correta. No telegrama ele também pedia para que a carta que ele havia mandado, que chegaria em alguns dias, fosse descartada, pois a resposta escrita nela estava equivocada.

Por que a idéia era genial? Desta maneira os dois homens mal-intencionados não poderiam usar nem a carta nem o telegrama para humilhar o rabino da cidade, pois a carta trazia a mesma resposta dada pelo rabino e o telegrama mostrava que mesmo o grande e famoso rabino Ytzchak Elchanan Spektor havia se equivocado, não sendo, portanto, uma vergonha para o rabino local".

Além do rabino Ytzchak Elchanan Spektor ter sido um grande conhecedor das leis judaicas, uma de suas maiores virtudes foi o amor e a preocupação com o próximo. Para evitar que uma pessoa que ele nem mesmo conhecia fosse humilhada, ele estava disposto a passar por cima do seu orgulho e colocar em risco a sua própria credibilidade (História Real).

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Na Parashá da semana passada Yossef havia tramado um plano para testar se seus irmãos haviam se arrependido do que haviam feito com ele. Ele suspeitava que se os irmãos também tivessem a oportunidade de se livrar de seu irmão mais novo, Biniamin, eles o fariam. Por que justamente Biniamim? Pois como Yossef, Biniamin também era filho de Rachel, a esposa preferida de Yaacov, e provavelmente também despertava inveja nos irmãos. Então Yossef escondeu na sacola de Biniamin um cálice de prata, acusou-o de roubo e condenou-o a ser escravo no Egito. Assim, caso os irmãos realmente sentissem inveja, deixariam Biniamin se tornar escravo e não o defenderiam.

Mas na Parashá desta semana, Vaigash, a Torá nos mostra que os irmãos de Yossef estavam realmente arrependidos de tudo o que haviam feito. Quando viu seu irmão Biniamim ameaçado, Yehuda se aproximou de Yossef e, acreditando que estava diante de um total estranho, tentou convencê-lo a libertar Biniamim, se oferecendo inclusive para ser escravo no lugar dele. Yehuda enfatizou os sofrimentos do seu velho pai, que certamente morreria se aquele filho não voltasse para casa. Quando Yossef viu o arrependimento dos irmãos e escutou sobre todo o sofrimento de seu pai Yaacov, ele não agüentou mais continuar com aquela encenação, como está escrito: "E não podia Yossef se conter diante de todos os que estavam à sua volta, e então ele ordenou: "Retirem todas as pessoas diante de mim". E não permaneceu ninguém quando Yossef se revelou para os seus irmãos" (Bereshit 45:1).

Mas há uma aparente contradição neste versículo. Primeiro está escrito que Yossef já não podia mais se conter, mas depois está escrito que primeiro ele mandou todos os egípcios saírem e somente depois se revelou. Se ele não podia mais se conter, por que não se revelou imediatamente? Além disso, o Midrash (Torá Oral) ressalta que este foi um ato aparentemente impensado de Yossef, pois ele pediu para que todos os egípcios saíssem, inclusive seus guardas pessoais, ficando sozinho com seus irmão. Os irmãos o viam como um egípcio inimigo e, sob intensa pressão, poderiam tê-lo matado facilmente, antes mesmo dele conseguir se explicar. Por que Yossef se colocou em uma situação tão perigosa?

Explica o Rav Yehuda Leib Chassman que o ato de Yossef não foi impensado, ele sabia muito bem que estava correndo um enorme risco de vida. Então por que ele decidiu correr este risco? Simplesmente para não envergonhar seus irmãos em público. Ele não podia aguentar a idéia de que os egípcios presenciariam o momento de sua revelação e a conseqüente vergonha dos seus irmãos, e para evitar isso estava disposto a dar sua própria vida.

Além disso, quando Yossef decidiu se revelar aos seus irmãos, levou em consideração que, quanto mais rápido o fizesse, mais rápido poderia se reencontrar com seu querido pai Yaacov. Ele já estava pronto para se revelar, suas emoções transbordavam. Porém, apesar das saudades, apesar da vontade de abraçar seus irmãos, ele teve autocontrole, e somente se revelou quando todos egípcios haviam saído. Isso mostra o quanto Yossef valorizava a honra dos outros, o quanto estava disposto a abrir mão para evitar humilhar alguém em público.

A Torá ensina que envergonhar uma pessoa em público é comparado com um assassinato. Quando uma pessoa é envergonhada, ela fica com o resto vermelho. Ensina o livro Derech Hashem (O caminho de D'us) que parte da nossa alma se encontra no sangue. Por que a pessoa fica com o rsoto vermelho quando é envergonhada? Pois o sangue sobe de uma vez, como se a alma estivesse tentando sair do corpo para não passar por aquela vergonha. E como a morte é definida como o desligamento entre a alma e o corpo, envergonhar alguém em público é como se fosse um assassinato, é como se estivéssemos, em algum nível, matando a outra pessoa.

Mas apesar da Torá mostrar que envergonhar alguém em público é muito grave, atualmente isto é visto como algo comum, e não damos muita importância. Quantas vezes envergonhamos uma pessoa em público apenas para fazer uma piada e nos destacar no grupo? Quantas vezes perdemos a cabeça e, em discussões fúteis, humilhamos o outro em público? Quantas vezes chamamos as pessoas por apelidos pejorativos, principalmente aqueles que se referem às características físicas da pessoa, sem pensar no quanto a pessoa fica machucada e magoada?

Um dos maiores problemas é que não conhecemos as Mitzvót, e graves transgressões são, aos nossos olhos, coisas normais e inocentes, e por isso não nos arrependemos. Então temos duas soluções para este problema. A primeira é estudar e conhecer os ensinamentos da Torá, que nos ajudam a ser pessoas melhores a cada dia. A segunda é usar sempre o bom senso, parar para refletir sobre as conseqüências dos nossos atos, como nos ensinou o sábio Hilel: "Não faça aos outros o que não gosta que te façam". Sempre que quisermos fazer uma piada ou colocar um apelido em alguém, temos antes que pensar se gostaríamos se fosse conosco. Com estas duas dicas podemos nos afastar de atitudes que Yossef daria a vida para não cometer, mas que nós fazemos para não perder a piada ou simplesmente porque não temos autocontrole.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MIKETZ E CHÁNUKA II 5770

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CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS - PARASHÁ MIKETZ E CHÁNUKA II 5770 (18 de dezembro de 2009)

"Antônio, que era um homem simples do campo, foi pela primeira vez na vida conhecer a estação de trem. Ficou deslumbrado, nunca havia visto tanta gente junta, era uma grande multidão que se reunia na plataforma esperando pela chegada do trem. Quando finalmente o trem chegou, pensou que as pessoas logo correriam para entrar, mas para sua surpresa viu que todos continuavam na plataforma, conversando como se nada tivesse acontecido. E assim permaneceram, até que Antônio escutou um forte apito. Muitas pessoas, ao escutar o apito, começaram imediatamente a embarcar. Antônio percebeu que um dos funcionários que circulavam pela plataforma era o responsável pelo apito. Mais algum tempo se passou e o funcionário apitou uma segunda vez, fazendo que mesmo as pessoas que estavam mais tranqüilas começassem a se preparar para o embarque. Quando finalmente o homem apitou pela terceira vez, a plataforma ficou completamente vazia e o trem partiu para o seu destino.

Antônio ficou maravilhado com o poder daquele homem do apito. Na sua ingenuidade, pensou que ele era o homem mais importante da estação. Parecia ser ele quem decidia tudo. Ao seu comando os trens chegavam e saiam, ao som do seu apito as pessoas embarcavam e desembarcavam. Antônio se aproximou do funcionário e começou a elogiá-lo. Depois começou a fazer perguntas complexas sobre o planejamento e o funcionamento dos trens. O homem estranhou, afinal, nunca ninguém o havia tratado com tanto respeito e honra. Além disso, por que aquele homem fazia perguntas tão difíceis para ele, um simples funcionário da plataforma? Virou-se para Antônio e sugeriu:

- Por que você não pergunta tudo isso para o gerente, o homem que controla tudo?

- Como assim? Não é você o homem que controla tudo? – perguntou Antônio, sem entender nada.

O funcionário explodiu em uma enorme gargalhada. Vendo a cara de confuso daquele homem ingênuo, ele explicou:

- Escute bem, meu amigo. Eu sou apenas um simples funcionário, e cumpro as ordens que recebo de cima. Eu não decido nada, quem decide é o gerente, que fica sentado no escritório, no andar de cima, e de lá ele delega as funções para os seus funcionários. Eu sou apenas aquele que cumpre o que foi decidido lá em cima"

Explica o Chafetz Chaim que a maioria das coisas que pensamos que são causas, na verdade, são conseqüências do que foi decretado nos mundos espirituais. Da mesma forma que o funcionário apenas cumpre o que foi decidido no escritório, o que acontece aqui neste mundo é apenas a materialização do que já foi decretado nos mundos superiores.

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No final da tarde desta Sexta-feira (antes do início do Shabat) acendemos a última das 8 velas de Chánuka, revivendo os dias em que ocorreram grandes milagres ao povo judeu, na época do Segundo Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), quando vencemos os gregos invasores e conseguimos retomar os serviços do Templo. E sempre a Parashá desta semana, Miketz, é lida em Chánuka. Qual a relação entre a festa de Chánuka e a Parashá Miketz?

A Parashá da semana passada, Vaieshev, terminou com Yossef na prisão, após ter sido injustamente acusado de tentar molestar a esposa de Potifar, um dos ministros do faraó, para quem Yossef trabalhava. Yossef conheceu o copeiro e o padeiro do faraó, que haviam sido mandados para a prisão, e interpretou o sonho que cada um deles tinha sonhado. Já a Parashá Miketz começa com os dois sonhos do faraó, das 7 vacas feias e magras que engoliam 7 vacas bonitas e gordas e das 7 espigas feias e magras que engoliam 7 espigas bonitas e gordas. Nenhum dos magos do faraó conseguiu interpretar seus sonhos, o que deixou o faraó ainda mais angustiado. Finalmente Yossef foi lembrado pelo copeiro do faraó como sendo alguém que sabia interpretar sonhos. Imediatamente Yossef foi solto, terminando um período de 12 anos de prisão. E após interpretar os sonhos do faraó, Yossef foi elevado a vice-rei do Egito, o segundo homem mais poderoso do mundo.

A Parashá Miketz começa com as seguintes palavras: "E eis que, após dois anos, o faraó sonhou..." (Bereshit 41:1). Como a Parashá passada acabou com Yossef interpretando os sonhos do copeiro e do padeiro, então a linguagem indica que o sonho do faraó ocorreu dois anos depois daquele episódio. Mas o que isto nos acrescenta?

Explica o rabino Yossef Dov Soloveitchik, mais conhecido como Beis Halevi, que tudo o que ocorre no mundo têm uma causa e uma conseqüência, isto é, existe uma causa anterior que se transforma em uma conseqüência. Por exemplo, uma pessoa doente toma um remédio, sendo que aparentemente o remédio é a causa, e após um tempo a pessoa se cura, sendo que aparentemente a cura é a conseqüência. O ser humano tem uma grande dificuldade de identificar o que é realmente a causa e o que é a conseqüência. Quando a pessoa faz um grande investimento em um certo tipo de aplicação financeira, e esta operação resulta em um grande sucesso, o intelecto humano pensa que o investimento foi a causa e o lucro foi a conseqüência. Mas ensina a nossa Parashá que esta é uma visão completamente equivocada da realidade.

Toda vez que alguém lucra em um investimento, não foi o investimento que trouxe os lucros, e sim um decreto espiritual. Após o decreto celestial de que a pessoa vai ganhar dinheiro, D'us cuida para que o que foi decretado se cumpra, e Ele tem o mundo inteiro à Sua disposição para que isso ocorra. Ele pode fazer com que a pessoa decida sobre um certo investimento que futuramente terá grandes rendimentos ou Ele pode fazer com que um certo investimento tenha uma lucratividade maior do que o normal. No final, através de um aparente esforço da pessoa, ela sai com o lucro que já havia sido decretado nos mundos espirituais. Portanto, a realidade é exatamente o contrário do que nós pensamos: o lucro decretado nos mundos espirituais é a causa, e o investimento correto é apenas a consequência.

É isso que a Torá vem ressaltar juntando as duas Parashiot. Aparentemente o sonho do faraó, cuja única pessoa que pôde interpretar foi Yossef, foi a causa dele ter sido libertado da prisão. Mas explica o Midrash (parte da Torá Oral) que é o contrário, quando chegou o momento de Yossef sair da prisão, depois de dois anos que ele interpretou os sonhos do padeiro e do copeiro, então o faraó sonhou. Na realidade Yossef tinha recebido um decreto de 10 anos de prisão, por ter falado mal de seus 10 irmãos ao seu pai Yaacov. Mas quando o copeiro foi perdoado pelo faraó e saiu da prisão, Yossef pediu a sua ajuda, ao invés de confiar somente em D'us, que poderia salvá-lo sem a necessidade de nenhum intermediário. Por isso foi decretado mais 2 anos de prisão para Yossef. O sonho do faraó foi somente uma forma de materializar o que já estava decretado nos mundo espirituais. Exatamente dois anos depois, quando o decreto espiritual de prisão havia terminado, o faraó sonhou e Yossef foi libertado.

Ao estudar a história de Chánuka poderíamos cometer o mesmo erro. Aparentemente os sofrimentos que o povo judeu passou durante a ocupação dos gregos foi uma conseqüência, e a causa foi a invasão dos gregos. E se realmente fosse assim, não haveria o que fazer, pois os gregos eram o maior império da época, seria impossível lutar contra eles. Porém os judeus sabiam que a verdade não era esta. Os sofrimentos já haviam sido decretados espiritualmente, esta era a causa, e a conseqüência foi que D'us utilizou os gregos como um instrumento para cumprir Sua vontade. O povo judeu entendeu que se havia o decreto de sofrimentos sobre todo o povo é porque estavam cometendo algo grave. Ao fazer reflexões de seus atos, chegaram à conclusão de que, apesar de cumprirem todas as Mitzvót da Torá, eles faziam de maneira superficial, sem vontade nem entusiasmo. É por isso que uma das primeiras atitudes dos gregos foi proibir as Mitzvót, como se D'us estivesse dando um recado: "Vocês vão fazer as Mitzvót sem vontade e sem alegria, então Eu as tirarei de vocês".

O conserto veio na mesma moeda. O povo judeu não se rendeu à ameaça grega, e estavam dispostos a entregar suas vidas para conseguir novamente a liberdade de cumprir as Mitzvót. Quando o povo judeu fez Teshuvá (se arrependeu dos erros e recebeu sobre si mudanças em suas atitudes erradas), o decreto celestial foi revogado. Como a causa terminou, a consequência também terminou, e os judeus puderam expulsar, de maneira milagrosa, os gregos, e imediatamente recomeçaram os serviços do Beit-Hamikdash, mas desta vez com alegria e com entusiasmo. O posterior milagre do óleo não era tão essencial para a existência do povo judeu como o milagre da guerra, mas foi como um "beijo" que D'us nos deu, mostrando que havia aceitado a nossa Teshuvá.

Atualmente não temos mais proibições de cumprir as Mitzvót. Mas da mesma forma que os gregos queriam nos destruir através da assimilação, esta luta continua. A assimilação nos faz perder o interesse e o entendimento das Mitzvót. Nos afasta da nossa individualidade e da nossa maneira de viver a vida com harmonia entre o físico e o espiritual.

Que as oito velas que estarão acesas na nossa Chanukia neste Shabat nos iluminem e nos façam entender que todos os momentos difíceis e as pessoas que nos causam dificuldades são apenas conseqüências de decretos espirituais. A causa é que D'us nos ama tanto que não consegue nos ver longe dos caminhos corretos, e como um pai que ama muito seu filho, algumas vezes ele precisa nos dar um tapa para que possamos despertar.

SHABAT SHALOM e CHÁNUKA SAMEACH

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL PARASHÁ VAIESHEV E CHÁNUKA 5770

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QUEM ESTÁ NO COMANDO - PARASHÁ VAIESHEV E CHÁNUKA 5770 (11 de dezembro de 2009)

"Durante os 3.000 anos de história do povo judeu, a cidade de Jerusalém já foi destruída e arrasada nove vezes. Pelos bizantinos, pelos muçulmanos e por outros povos, e até mesmo por um terremoto. O Beit-Hamikdash (Templo Sagrado) já foi completamente destruído duas vezes. Mas o Muro Ocidental do Templo, conhecido como Muro das Lamentações, nunca caiu, cumprindo uma profecia que já se mantém há mais de 2 mil anos, quando D'us afirmou que nunca partiria do Muro Ocidental. Mas será que ninguém nunca tentou derrubar este muro?

Um dos exemplos de pessoas que tentaram, em vão, derrubar o Muro das Lamentações, ocorreu na época da destruição do Segundo Beit-Hamikdash. Descreve o Talmud (Torá Oral) que o imperador romano Vespasiano queria destruir o Templo até as suas fundações, e para isso dividiu seus quatro muros entre 4 generais, para que cada um destruísse completamente a sua parte e não restasse nada. O setor onde estava o Muro Ocidental do Beit-Hamikdash foi entregue nas mãos de um general chamado Pangar.

Todos os generais romanos cumpriram exatamente o que lhes foi ordenado por Vespasiano e destruíram completamente seus setores, não deixando nada de pé. Somente Pangar não cumpriu as ordens do imperador, pois destruiu todo o seu setor mas manteve o Muro ocidental intacto. Ele então foi chamado para explicar porque não havia cumprido as ordens, e disse:

- Fiz isso pela glória do Império Romano. Se eu tivesse destruído o Muro ocidental, ninguém jamais saberia da nossa grandeza e de tudo o que nós destruímos aqui.

Pangar viu no imenso Muro ocidental do Beit-Hamikdash a possibilidade de deixar um marco na história, um monumento de auto-glorificação romana. Mal ele sabia que, ao invés de cumprir a sua vontade de ressaltar a grandeza de Roma, ele estava contribuindo para manter de pé a profecia de D'us, provando ao mundo que D'us tem total controle sobre tudo o que acontece, mesmo os menores detalhes".

A vontade de D'us sempre se cumpre. Mas um sinal da Sua grandeza é que Ele consegue isso utilizando o próprio livre-arbítrio das pessoas, sem precisar constantemente se revelar através de milagres abertos.
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Neste Shabat começamos a comemorar a festa de Chánuka, acendendo, no final da tarde de Sexta-feira (antes do início do Shabat), a primeira vela da Chanukiá. Em Chánuka revivemos os milagres que aconteceram com nossos antepassados durante a dominação grega, quando tentaram nos destruir, primeiro através da assimilação, impondo a cultura helenista, e depois através da ameaça física. Qual a relação entre a festa de Chánuka e a Parashá desta semana, Vaieshev?

A Parashá Vaieshev relata a história de Yaacov e seus filhos. Yossef era o filho predileto de Yaacov, o que causava muita inveja nos seus irmãos. Este sentimento negativo aumentou ainda mais por causa de dois sonhos que Yossef teve, nos quais ele estava no centro e seus irmãos se curvavam diante dele. Os irmãos pensavam que estes sonhos eram um sinal de que Yossef tinha se tornado um rebelde e que tentaria roubar a primogenitura, o que aumentou ainda mais o ódio contra ele.

Certo dia, quando os irmãos de Yossef haviam saído para pastorear, Yaacov pediu para que Yossef fosse verificar se estava tudo bem com eles. Quando os irmãos viram Yossef vindo de longe, começaram a tramar contra ele. Pensaram inicialmente em matá-lo, atirar seu corpo em um poço e dizer ao pai que ele havia sido devorado por um animal feroz, e assim concluíram seu plano: "E então veremos o que será dos seus sonhos" (Bereshit 37:20). O que significam estas palavras?

A explicação mais simples desta expressão é que os irmãos estavam fazendo uma piada sobre os sonhos de Yossef, e disseram com desdém que, se o matassem, certamente os sonhos nunca se cumpririam. Mas o Midrash (parte da Torá Oral) traz uma explicação muito mais profunda. Na verdade quem falou "E então veremos o que será dos seus sonhos" foi D'us, em resposta ao plano dos irmãos de Yossef. É como se Ele estivesse dizendo: "Vocês estão planejando matá-lo, mas Eu digo que ele vai sobreviver e seus sonhos vão se concretizar. Vamos ver qual plano vai prevalecer, o Meu ou o de vocês".

E o desenrolar da história de Yossef nos mostra que a vontade de D'us prevaleceu sem que Ele precisasse fazer nenhum milagre aberto. Reuven, um dos irmãos, teve misericórdia e bolou um plano para salvar Yossef. Sugeriu aos irmãos jogar Yossef em um poço ao invés de matá-lo, com a intenção de voltar para salvar Yossef depois que os outros irmãos tivessem ido embora. Os irmãos concordaram em não derramar sangue a atiraram Yossef em um poço. E novamente a mão de D'us entrou ocultamente para mudar a história. Enquanto Reuven esteve ausente por alguns momentos, os outros irmãos tiraram Yossef do poço e o venderam como escravo a uma caravana que passava no deserto. Ele foi levado ao Egito e, após alguns altos e baixos, se tornou o vice-rei, o segundo homem mais poderoso do mundo, abaixo apenas do faraó. Muitos anos depois os sonhos de Yossef e a vontade de D'us se cumpriram. Durante uma terrível seca, seus irmãos tiveram que ir ao Egito em busca de comida, e sem saber que o vice-rei do Egito era seu desaparecido irmão Yossef, se curvaram diante dele, cumprindo assim o que havia sido decretado.

Várias vezes na história do povo judeu estas palavras do Midrash se repetiram. Apesar de D'us ter nos prometido que nunca seríamos destruídos, muitos povos se levantaram para tentar nos aniquilar, como está escrito na Hagadá de Pessach: "E não somente um se levantou contra nós para nos exterminar, mas ao contrário, em cada geração e geração se levantam contra nós para nos exterminar". E como continuamos vivos até hoje? A Hagadá continua e diz "E D'us nos salva das mãos deles". Somos como uma ovelha no meio de 70 lobos, e se não fosse D'us, que nos protege como um valente pastor, não estaríamos mais aqui hoje.

Esta é a essência da festa de Chánuka. Os gregos, em sua época de esplendor, quando eram parte do maior império do mundo, se levantaram para destruir o povo judeu, achando que através do uso da força física podiam decidir o futuro da humanidade. D'us nos salvou através de um grande milagre, a batalha de muitos contra poucos, de fortes contra fracos, do maior império da época contra um pequeno grupo de corajosos combatentes judeus. Saímos vitoriosos na batalha física e na batalha espiritual. Sobrevivemos à tentativa de extermínio e da tentativa de helenização do povo judeu. É como se D'us novamente dissesse, desta vez para os gregos: "Vamos ver qual plano vai prevalecer, o Meu ou o de vocês".

E o que aprendemos disso para nossas vidas? Em geral é desta maneira que o ser humano vive, achando que estamos no controle de tudo. Chegamos a desafiar a D'us, querendo muitas vezes ser mais espertos e sábios do que Ele. Nos recusamos a escutar Suas palavras e os Seus ensinamentos. Ele nos ensinou como viver, Ele nos entregou a Torá, justamente um Manual de Instruções de Vida, para nos ensinar como tirar o melhor proveito da nossa passagem neste mundo temporário, mas muitas vezes preferimos viver de acordo com o que pensamos ou o que achamos melhor. Não aprendemos com a história, que se repete e mostra que é D'us quem está no controle de tudo, e todos aqueles que O desafiaram já não existem mais.

Que as luzes de Chánuka iluminem não apenas as nossas casas, mas principalmente os nossos corações, e nos dêem claridade para tomarmos as decisões corretas na vida.

"A Mentch Tracht un G-ut Lacht" (O homem pensa e D'us dá risada – Ditado Ydishe)

SHABAT SHALOM e CHÁNUKA SAMEACH

Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAISHLACH 5770

BS"D
É MAIS FÁCIL ACORDADOS - PARASHÁ VAISHLACH 5770 (04 de dezembro de 2009)
"Em uma vila moravam pessoas muito pobres, sem nenhum estudo. Não conheciam os avanços tecnológicos, viviam de maneira muito simples, suas casas ainda eram todas de madeira. Certa vez, em uma das casas irrompeu um grande fogo que começou a consumir tudo, enquanto lá dentro ainda havia um homem que, apesar do incêndio, dormia profundamente.
Os habitantes da cidade todos correram para a casa em chamas, e começou uma grande discussão de como salvar aquele homem, pois ele continuava dormindo e a cama era mais larga do que a porta. Tiveram então uma idéia genial: trouxeram machados e começaram a arrancar os batentes para alargar a porta, o que possibilitaria passar com a cama.
Naquela cidade estava de passagem um homem vindo da cidade grande, uma pessoa estudada e inteligente. Vendo o esforço das pessoas em alargar a porta, ele imediatamente gritou:
- Seus tontos, o que vocês estão fazendo? Por que vocês estão desperdiçando este tempo precioso? Até vocês terminarem de alargar esta porta, não haverá mais quem salvar! Por que vocês não acordam o homem e deixam que ele saia com suas próprias pernas, se salvando do incêndio?"
Quando acontecem sofrimentos em nossa vida, podemos tentar encontrar os motivos naturais que causaram o problema ou procurar em quem colocar a culpa. Mas não existe maneira mais eficiente de entender e acabar com os sofrimentos do que despertando do "sono" espiritual em que vivemos.
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Na Parashá da semana passada, Vaietze, Yaacov tinha fugido de casa para salvar sua vida, pois Essav, seu irmão, queria matá-lo. E na Parashá que lemos nesta semana, Vaishlach,Yaacov começou a voltar com toda sua família, após mais de 30 anos fora de casa. Talvez ele não esperava uma comissão de boas vindas, mas acreditava que o ódio de Essav já teria passado após tanto tempo. Ele enviou anjos para verificar a situação, mas os anjos não voltaram com boas notícias: Essav vinha ao encontro de Yaacov acompanhado de 400 homens, armados até os dentes. E não seguravam nenhuma faixa de "Bem vindo Yaacov".
Ao perceber que um confronto estava iminente, a Torá descreve que Yaacov teve medo, como está escrito "E Yaacov temeu muito, e isso o deixou angustiado" (Bereshit 32:8). Mas como entender este medo de Yaacov, pois aparenta uma grande falta de Emuná (fé) em D'us, que havia prometido que o protegeria. Não temos que acreditar sempre que D'us nos protegerá de coisas ruins? Mesmo que Essav vinha com um verdadeiro exército, D'us não poderia fazer milagres para protegê-lo?
Explica o livro Shaarei Teshuvá (Os portões do arrependimento), do Rebeinu Yona, que neste mundo ocorre um fenômeno interessante. Os Tzadikim (justos), que fazem muitos bons atos e cometem alguns poucos pecados, estão constantemente se preocupando e fazendo Teshuvá (voltando aos caminhos corretos), enquanto os Reshaim (malvados), que cometem muitos pecados e poucas boas ações, estão sempre tranqüilos e confiantes de si mesmos. Por que? Pois os Tzadikim têm Irat HaChet (medo do pecado), eles sabem a gravidade de cada mal ato e suas conseqüências, e por isso estão sempre temendo que possam ter feito algo errado. Já os Reshaim, que não refletem sobre seus atos e vivem como se nada tivesse consequências, estão sempre tranqüilos.
Era justamente este sentimento que atormentava Yaacov, e que o deixava tão preocupado. Em nenhum momento ele temeu por ter de lutar com menos pessoas ou com menos armas, pois ele tinha certeza de que D'us poderia fazer o que bem desejasse. O que Yaacov temia era que D'us talvez o castigasse com a derrota na batalha por causa de algum pecado que ele pudesse ter cometido. Em especial Yaacov tinha medo que Essav tinha os méritos de ter se esforçado muito para cumprir a Mitzvá de Kibud Av ve Em (Honrar os pais), enquanto ele havia passado muitos anos longe de casa, sem honrar os seus pais. Seu medo não era a luta física, e sim a luta espiritual, a possibilidade de que alguma transgressão diminuísse sua proteção espiritual.
Explica o Rav Yerucham Leibovitz que os Tzadikim sabem que todas as dificuldades e sofrimentos que passamos na vida são conseqüência das nossas transgressões. O Talmud (Torá Oral) traz o caso de Rav Huna, um Tzadik que tinha uma grande fortuna em vinho. Um dia Rav Huna foi verificar sua mercadoria e percebeu que seus 400 barris de vinho haviam fermentado e se transformado em vinagre sem valor, o que lhe causou um enorme sofrimento. Quando vieram questioná-lo sobre os motivos daquela gigantesca perda, Rav Huna fez uma longa reflexão sobre seus atos até que encontrou um erro que havia cometido e que explicava a perda e o sofrimento. Em nenhum momento ele procurou as causas naturais do vinho ter fermentado. Ele não colocou a culpa na qualidade dos barris, ele não procurou culpar a temperatura ou a umidade do ar, pois ele sabia que não existem causas naturais, tudo vem da mão de D'us, e portanto o motivo principal era o motivo espiritual. O Talmud conta que quando Rav Huna encontrou seu erro e fez Teshuvá, o valor do vinagre subiu tanto no mercado que ultrapassou o valor do vinho, fazendo com que as perdas dele se anulassem.
Nós fazemos justamente ao contrário. Quando nos acontece algo ruim, algum sofrimento ou dificuldade, procuramos a culpa sempre nos outros ou nos fenômenos naturais. O problema é a crise econômica, o presidente do Irã, os desvios de dinheiro do governo, o vizinho chato. O problema, aos nossos olhos, está sempre com os outros e não em nós mesmos. Chegamos ao extremo de colocar em D'us a culpa pelos nossos problemas e dificuldades na vida. Com isso perdemos a chance de fazer Teshuvá, de consertar algo que estamos fazendo de errado. Um dos conceitos mais importantes do judaísmo é que D'us nos manda castigos "Midá Kenegued Midá" (Medida por medida), isto é, da mesma maneira que erramos somos castigados. Isto ocorre justamente porque o castigo não é por que D'us está irritado conosco, e sim para nos dar a chance de refletir, encontrar o que erramos e consertar nosso erro.
Toda vez que buscamos a culpa nos outros, estamos na verdade fugindo do problema, dificultando a sua solução e nos deixando propensos a errar de novo. Quando despertamos e refletimos, temos a possibilidade de aprender com os nossos erros, aumentando nossas chances de consertá-los e de não voltar a errar novamente. Portanto, ao invés de continuar sempre procurado a culpa dos nossos problemas nos outros, devemos começar a procurar no lugar mais óbvio de todos: em nós mesmos.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIETZE 5770

BS"D
SUBINDO OU DESCENDO? - PARASHÁ VAIETZE 5770 (27 de novembro de 2009)
"Pedro, um experiente lenhador, estava desempregado e saiu à procura de uma nova oportunidade de trabalho. Ele era, porém, muito franzino, e fugia completamente dos padrões dos lenhadores, que em geral eram homens grandes e fortes. Além disso, o machado que ele carregava era desproporcional ao seu tamanho.
Em suas andanças, Pedro chegou a um local onde muitos homens derrubavam árvores a machadadas. Apresentou-se ao capataz da madeireira como um lenhador em busca de um emprego, mas o capataz, após olhar seu tamanho, disse com desdém que precisava de pessoas capazes de derrubar grandes árvores e não de catadores de gravetos. Pedro, que necessitava muito do emprego, insistiu. Pediu que lhe fosse dada uma oportunidade para demonstrar sua capacidade. Afinal, ele era um profissional experiente.
Com relutância, o capataz resolveu levar Pedro à área onde as árvores estavam sendo derrubadas.
E só fez isso pensando em divertir os demais lenhadores às custas de Pedro. Afinal, ele parecia um fracote, seria engraçado vê-lo tentando, sem sucesso, derrubar uma árvore. Sob os olhares dos demais lenhadores, que riam por dentro diante daquele homem franzino, Pedro se postou frente a uma árvore de grande porte e, com o grito de "madeira", deu uma machadada tão violenta que a árvore caiu logo no primeiro golpe. Todos ficaram atônitos. Como era possível tanta habilidade e uma força tão descomunal, que conseguia derrubar uma grande árvore numa só machadada? Pedro foi imediatamente admitido na madeireira. Seu trabalho era elogiado por todos, principalmente pelo patrão, que via em Pedro uma fonte adicional de receita.
O tempo foi passando e, gradativamente, Pedro foi reduzindo a quantidade de árvores que derrubava. O fato era incompreensível, uma vez que Pedro estava se esforçando cada vez mais. Meses depois, ele encontrava-se entre os lenhadores que menos produziam. O capataz, que era um homem experiente, chamou Pedro e questionou sobre o seu fraco desempenho. Pedro não sabia explicar, nunca havia se esforçado tanto e, apesar disso, a produção continuava diminuindo.
O capataz pediu, então, para que Pedro lhe mostrasse o seu machado. Notou que ele estava completamente cego, sem fio de corte. Perguntou para Pedro por que ele não havia afiado o machado. Pedro, surpreso, respondeu que estava trabalhando tanto que não tinha sobrado tempo para afiar a sua ferramenta de trabalho. O capataz ordenou que Pedro ficasse naquele dia no acampamento e amolasse seu machado, e só depois disso poderia voltar ao trabalho. Pedro fez o que lhe foi mandado.
Quando retornou à floresta, no dia seguinte, percebeu que tinha voltado à antiga forma, conseguia derrubar as árvores com uma só machadada. O problema não era falta de habilidade ou de força. O problema é que a ferramenta não estava adequada ao trabalho"
A história de Pedro ensina algo importante para nossas vidas. Preocupados em executar nosso trabalho e julgando que já sabemos tudo, esquecemos de "afiar o nosso machado", ou seja, deixamos de investir no nosso crescimento e, sem saber por que, vamos perdendo nosso potencial. Algumas vezes na vida precisamos "perder tempo" para afiar o nosso machado, para assim continuarmos a crescer.
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Na Parashá desta semana, Vaietze, Yaacov foge de seu irmão Essav, que queria matá-lo, e vai para a casa de seu tio Lavan, onde se casa com suas primas Rachel e Lea. E assim a Torá descreve o primeiro encontro de Yaacov com Rachel: "E Yaacov deu um beijo em Rachel, e levantou sua voz e chorou" (Bereshit 29:11). Rashi, comentarista da Torá, explica que Yaacov chorou pois havia encontrado a mulher com quem gostaria de se casar mas, ao contrário de seu pai Ytzchak, que havia mandado muitas jóias e mercadorias de valor para oferecer à família de sua esposa, Yaacov vinha de mãos vazias, não tinha nada para dar para à família de Rachel. Isso é um pouco estranho, pois a Torá conta que da mesma forma que Avraham teve muito sucesso e acumulou riquezas, assim também Ytzchak cresceu e prosperou muito. Então por que Yaacov vinha de mãos vazias?
Rashi explica que quando Yaacov fugiu, Essav mandou seu filho Elifaz persegui-lo, com a intenção de matá-lo. Mas Elifaz, que havia sido criado no colo de Ytzchak, tinha recebido muitos bons ensinamentos, e mesmo quando alcançou seu tio Yaacov, percebeu que seu valores morais não o deixariam matá-lo. Porém, por outro lado, Elifaz sentia-se culpado por não cumprir a ordem de seu pai. Yaacov resolveu o problema de maneira brilhante. Segundo a Torá, a pessoa que é completamente pobre, pelo fato de não ter condições financeiras de fazer caridade com os outros, é considerado como se estivesse morta. Então Yaacov orientou Elifaz a tirar dele todos os bens que trazia para a viagem, para que assim Yaacov fosse considerado morto e Elifaz pudesse cumprir a vontade de seu pai sem derramar sangue.
Porém, fazendo uma análise psicológica de Elifaz, percebemos que aparentemente há algo muito errado com ele. Por um lado sua moralidade o impedia de matar, mas por outro lado ele queria de qualquer maneira cumprir as ordens de seu pai, mesmo que para isso tivesse que assassinar uma pessoa inocente. Em um momento ele é o filho de Essav, o malvado, no outro ele é o aluno de Ytzchak, o Tzadik (justo). Como pode um ser humano lidar com duas forças tão contraditórias dentro de si?
Ensina o Rav Chaim Shmulevitz que isso não é algo específico só de Elifaz. Dele aprendemos um pouco mais sobre a alma de todos os seres humanos, pois dentro de cada um de nós existe uma luta entre a luz e a escuridão, que se misturam constantemente. E é daí que surgem as grandes contradições do ser humano. Queremos ser boas pessoas, mas gritamos com alguém que nos incomoda. Queremos ser mais espiritualizados, mas não estamos dispostos a abrir mão de nenhum prazer material. É isso que possibilita que muitas pessoas enxerguem a verdade mas prefiram continuar vivendo na mentira.
Desde o erro de Adam Harishon temos esta contradição dentro de nós. Quando Adam Harishon comeu o fruto proibido, ele colocou o mal para dentro do ser humano. O mal se misturou com o bem, e a conseqüência é que muitas vezes fazemos transgressões achando que são Mitzvót. Por que é tão importante este ensinamento? Pois muitas vezes tentamos ser boas pessoas, fazemos bons atos e tentamos viver da maneira correta, e achamos que o mal se anula sozinho. Porém, aprendemos de Elifaz que o lado negativo não se anula sozinho, é preciso um trabalho específico para tirá-lo de dentro de nós. Ele foi criado no colo de Ytzchak, mas mesmo assim se confundia a ponto de pensar em matar alguém para cumprir a Mitzvá de honrar seu pai. Apesar de todos os bons ensinamentos, o mal continuava lá, influenciando em suas decisões.
Portanto, não há nada pior para o ser humano do que o comodismo, achar que já somos boas pessoas e não precisamos crescer. Pois todo momento que não estamos expulsando o mal de dentro de nós, nossos atos podem estar sendo direcionados por esta força negativa. É necessário um trabalho de reflexão, de enxergar as nossas más características e trabalhar para mudá-las. Ser uma pessoa completa exige esforço, exige dedicação. Temos tempo para tudo, mas nunca encontramos tempo para refletir. Isso é um grande erro, pois disso depende todo o nosso sucesso espiritual. Não adianta apenas o talento e a força, pois todo momento em que o machado não está afiado, ele não consegue derrubar nenhuma árvore.
"A vida é uma escada rolante que desce. Se não estamos subindo, então automaticamente estamos descendo"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ TOLDOT 5770

BS"D
DIFICULDADE OU OPORTUNIDADE? - PARASHÁ TOLDOT 5770 (20 de novembro de 2009)
"Certa indústria de calçados decidiu ampliar seus negócios e desenvolveu um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Antes de iniciar as exportações, mandou dois de seus consultores a pontos diferentes do país para que observassem o potencial daquele futuro mercado. Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou o seguinte fax para a direção da empresa:
"Chefe, cancele a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".
Sem saber deste fax, o segundo consultor mandou à direção da empresa o seguinte comentário:
"Chefe, triplique a produção, pois aqui ninguém usa sapatos ainda".
A diferença do vitorioso é que ele foca na resolução do problema e não apenas no problema, e sabe que os desafios e dificuldades que aparecem na vida são, na verdade, potenciais de crescimento.
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A Parashá desta semana, Toldot, nos conta que Yitzchak e Rivka não conseguiam ter filhos, pois Rivka era estéril. Mas quando eles rezaram, um pedindo pelo outro, Rivka milagrosamente engravidou. Desta gravidez nasceram dois filhos, Yaacov e Essav. Yaacov desenvolveu o gosto pelo estudo e pela espiritualidade, se tornando um homem íntegro e correto. Já Essav desenvolveu o gosto pela caça e pelos desejos materiais, se tornando uma pessoa de atos completamente corrompidos.
Quando a Torá descreve a gravidez de Rivka, menciona que os bebês se mexiam muito, como está dito "E os filhos se agitaram dentro dela" (Bereshit 25:22). Mas para que a Torá precisa ressaltar que os bebês se movimentavam no ventre de Rivka, como se fosse algo especial, se isso é algo normal que acontece com todas as mulheres grávidas?
Explica Rashi, comentarista da Torá, que não era uma agitação normal. Todas as vezes que Rivka passava na frente da casa de estudos de Torá de Shem e Ever, filhos de Noach (Noé), Yaacov lutava para sair, e todas as vezes que ela passava em frente a um local de idolatria, Essav lutava para sair. Porém, estas palavras de Rashi, baseadas em um Midrash (parte da Torá Oral), precisam ser melhor entendidas. Elas aparentemente significam que Yaacov já tinha uma pré-disposição para o bem enquanto Essav já tinham uma pré-disposição para o mal, antes mesmo do nascimento. Mas isso seria uma contradição com um dos fundamentos básicos do judaísmo, de que todo ser humano é totalmente livre em suas escolhas. O próprio Talmud (Torá Oral) ressalta que a saúde, a força e a inteligência de uma pessoa já estão decretadas no momento de sua concepção, mas que a tendência dele ser um Tzadik (justo) ou um Rashá (malvado) está em suas mãos, isto é, depende de sua escolha.
A mesma contradição é encontrada nas leis escritas pelo famoso sábio Rambam (Maimônides), que em uma Halachá (lei) escreve que o ser humano já nasce com traços de personalidade pré-definidos, e em outra Halachá enfatiza que a natureza de uma pessoa não causa que ele seja justo ou mal, misericordioso ou cruel, sábio ou tolo, generoso ou avarento, ao contrário, a escolha está completamente em suas próprias mãos. Como o ser humano pode ser livre para escolher que caminho quer seguir se, no ventre de sua mãe, sua personalidade já está definida, como aparentemente ocorreu com Yaacov e Essav?
Explica o rabino Zev Leff que o ser humano é composto de várias características, e estas características são influenciadas por muitos fatores, inclusive o esforço e as decisões tomadas pela própria pessoa. Por isso, os traços naturais de uma pessoa não são inerentemente bons ou ruins, eles são neutros. Uma pessoa mais inclinada a se irritar com facilidade, por exemplo, não tem necessariamente um traço de caráter ruim, pois há situações onde a irritação pode ser utilizada de forma positiva, como no caso de uma pessoa que luta contra injustiças. Porém, a pessoa com esta inclinação precisa tomar cuidado para não se tornar um descontrolado. Por outro lado, uma pessoa mais inclinada a ser pacata também não é necessariamente um traço de caráter bom, pois há situações onde ser calmo é extremamente positivo, mas há situações onde se manter pacato é uma característica negativa, como por exemplo quando algo precisa ser feito com urgência.
Isso se aplica a todas as nossas características, pois todas as tendências e traços naturais podem ser direcionados para o lado positivo ou para o lado negativo. Portanto, embora muitas características sejam pré-determinadas mesmo antes do nosso nascimento, seu uso e controle estão totalmente nas nossas mãos. Nossa livre escolha está no fato de podermos utilizar estas características para o bem ou para o mal, e se quisermos podemos inclusive anular certas características.
Mas mesmo assim ainda fica difícil entender sobre a nossa livre escolha. Por mais que todas as nossas características sejam neutras, é óbvio que aquele que tem a característica de ficar facilmente nervoso tem mais chances de desenvolver uma má conduta, pois são mais freqüentes as situações onde a irritação é utilizada de maneira negativa do que situações onde ela é utilizada de maneira positiva. Ao contrário, alguém que é naturalmente tranqüilo tem mais chances de ter uma boa conduta, pois são mais freqüentes as situações onde a calma é algo positivo do que situações onde a calma é algo negativo. Portanto, aparentemente há certa injustiça, pois uma pessoa que nasceu com tendência de ser irritada tem uma desvantagem quando comparada com aquela que nasceu com a tendência de ser calma. Onde está a justiça de D'us?
Para responder esta pergunta, precisamos esclarecer três pontos. Primeiro, somos compostos de centenas de traços de caráter. Embora uma pessoa possa ter nascido com certa característica que é predominantemente negativa, certamente ela possui outras características que são predominantemente positivas. Em segundo lugar, D'us leva em consideração as características de cada pessoa quando Ele determina as situações e os testes que cada um necessita vencer. E em terceiro lugar, D'us, em Seu julgamento perfeito, utiliza diferentes pesos de acordo com as características de cada pessoa. Por exemplo, se uma pessoa naturalmente nervosa se descontrola, ela é julgada de uma maneira muito menos rigorosa do que se uma pessoa calma se descontrola. E ao contrário, se uma pessoa nervosa consegue se manter controlada, ela recebe uma recompensa muito maior do que aquela que é naturalmente calma.
Portanto, o que Rashi está nos ensinando não é que Yaacov e Essav já tinham suas personalidades definidas ainda no ventre. Eles já tinham certas características que os direcionavam, Yaacov para o lado espiritual e Essav para o lado material. Mas eles tinham a livre escolha de como utilizar estas características. Se Essav tivesse utilizado sua tendência da maneira correta, ele teria cumprido sua missão de elevar o mundo material até chegar na perfeição. Ao contrário, se Yaacov tivesse se desviado, ele teria distorcido e corrompido os valores e conceitos espirituais. A tendência de Essav para se conectar com o mundo material e para o uso da força poderia ter sido utilizada para destruir e erradicar do mundo a idolatria, mas ele preferiu utilizar seu potencial para servi-la e espalhá-la pelo mundo, se corrompendo.
Desta Parashá aprendemos algo muito importante: D'us nos dá exatamente as ferramentas que necessitamos para o nosso trabalho espiritual. Muitas vezes reclamamos de nossas características, nos comparamos com outras pessoas e gostaríamos de ser como elas. Isto é um grande erro, pois cada um tem o seu propósito no mundo, e somente ele pode preencher este propósito, justamente com as características que D'us nos deu. Algumas são mais fáceis de ser bem utilizadas, outras necessitam ser canalizadas, algumas precisam até mesmo ser anuladas. As dificuldades são justamente o que nos dá os maiores méritos. Com trabalho, com esforço, com a vontade de fazer o que é correto, podemos nos elevar e ajudar o mundo inteiro a chegar na perfeição.
"Se a vida te oferece um limão, aprenda a fazer com ele uma deliciosa limonada"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ CHAIEI SARA 5770

BS"D


OS SINAIS SÃO CONFUSOS - PARASHÁ CHAIEI SARA 5770 (13 de novembro de 2009)


"Certa vez estavam um judeu e um chinês brigando. Eles estavam discutindo qual dos dois povos havia trazido mais avanços tecnológicos para humanidade. O chinês começou a contar vantagem:


- Sabe que em Pequim encontraram um sítio arqueológico com mais de 2000 anos. Ao escavarem, encontraram alguns fios enterrados.


- E o que isso significa? – perguntou o judeu.


- Que há mais de 2000 anos os chineses já tinham inventado o telégrafo com fio.


O judeu, para não ficar atrás, disse:


- Sabe que em Jerusalém também encontraram um sítio arqueológico com mais de 2000 anos. E ao escavarem, não encontraram nada.


- E o que isso significa? – perguntou o chinês, um pouco confuso.


- Que há mais de 2000 anos os judeus já haviam inventado o telégrafo sem fio"


Muitas vezes queremos enxergar "sinais" que justifiquem nossas opiniões e decisões, mesmo sabendo racionalmente que não são corretas. Nas piadas pode parecer engraçado, mas na nossa vida não.

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Na Parashá desta semana, Chaiei Sara, Avraham dá a Eliezer, seu serviçal de confiança, a importante missão de encontrar uma esposa para seu filho Yitzchak. Mas Avraham não queria para seu filho uma mulher de Knaan, pois os Knaanim eram pessoas sem valores morais e éticos. Por isso Avraham mandou Eliezer procurar uma esposa na terra de seus ancestrais, onde ainda havia pessoas de sua família e da família de Sara.


Eliezer viajou para cumprir sua missão. Chegou até um poço de água nos arredores da cidade e pediu a ajuda de D'us. Ele pediu para que a mulher escolhida pudesse ser identificada através de um sinal, um ato específico. Muitas mulheres vinham até o poço tirar água para levar para suas casas. Quando alguma mulher viesse, Eliezer pediria para ela um pouco de água para beber, e se ela aceitasse e oferecesse também água aos seus camelos, seria a mulher certa. Assim que Eliezer terminou de pedir para D'us, Rivka chegou ao poço trazendo uma jarra. Eliezer observou que aconteceu um milagre aberto diante dos seus olhos. Ao invés de Rivka ter que colocar a pesada jarra dentro da água, a água milagrosamente foi na direção da jarra e entrou sozinha. Eliezer continuou observando Rivka, aproximou-se dela e pediu-lhe um pouco de água. Rivka aceitou dar água para ele e ofereceu também aos seus camelos, cumprindo assim o sinal que Eliezer havia pedido para D'us. Eliezer então foi falar com a família de Rivka e finalmente levou-a para se casar com Yitzchak.


Desta narrativa da Torá ficam algumas dúvidas. Em primeiro lugar, Eliezer havia pedido a ajuda de D'us em sua difícil missão, e havia especificado um sinal. Mas por que Eliezer continuou investigando para saber se Rivka era a pessoa certa mesmo após ter visto o milagre aberto que aconteceu com ela? O sinal que ele havia pedido, comparado àquele milagre aberto, não significava mais nada. Em segundo lugar, é assim que se escolhe uma esposa? É assim que tomamos decisões de vida? E finalmente, ressaltam nossos sábios que "Eliezer pediu de maneira imprópria, mas D'us respondeu da maneira apropriada". Por que D'us respondeu o pedido de Eliezer, mandando imediatamente Rivka, se o pedido foi feito de maneira imprópria?


Eliezer era um servo muito dedicado e atencioso, e acima de tudo, muito íntegro. Ele havia jurado que não pegaria como esposa para Yitzchak uma mulher de Knaan. Isso foi fim do sonho de Eliezer, que queria casar Yitzchak com a sua filha. Por isso, Eliezer sabia que seu trabalho seria muito difícil, pois ele sabia que teria muitos interesses envolvidos, e mesmo que ele tentasse ser racional, as emoções atrapalhariam. Ele teve medo que suas emoções poderiam levá-lo a escolher uma mulher não tão boa, que terminaria se divorciando de Yitzchak, abrindo o caminho para o casamento dele com a sua filha. Mas Eliezer era uma pessoa muito correta, estava disposto a evitar se auto-enganar a todo o custo, então como poderia fazer para escolher sem que suas emoções atrapalhassem? Por isso ele pediu ajuda para D'us, pediu um sinal. Apesar de ter feito da maneira errada, pois decisões não devem ser baseadas em sinais Divinos, D'us o ajudou neste caso, pois a forma "imprópria" de pedir de Eliezer foi, na realidade, o máximo nível de honestidade e auto-sacrifício pela verdade que ele poderia chegar.


O medo de errar de Eliezer era tanto que, mesmo quando ele viu um milagre aberto, preferiu não acreditar nos seus olhos. Ele pensou que podia estar vendo o que queria enxergar, que estava apenas se enganando. Então como ele poderia saber se era a pessoa certa? Ele havia pedido para D'us um sinal, e este sinal incluía um teste das características pessoais da mulher, um teste do verdadeiro valor dela. Por que ele pediu no sinal que, ao pedir água para ele, a moça oferecesse também aos camelos? Pois isto mostraria, em primeiro lugar, que era uma moça de Chessed (bondade), que agia de maneira pró-ativa e não apenas quando era solicitada. Mostrava que era uma mulher que conseguia vencer a preguiça, pois os camelos eram numerosos, o que exigiria muito esforço para dar de beber a todos eles. Além disso o sinal de Eliezer testava a inteligência da mulher, pois quando Eliezer bebeu da jarra de Rivka, encostou sua boca direto na jarra. Rivka não sabia quem era aquele homem, se ele tinha alguma doença, e ao oferecer água aos camelos, ela estava também encontrando uma maneira de novamente ir até o poço para lavar bem a jarra sem ofender aquele homem estranho. Portanto, como Eliezer fez tudo o que era possível para ser objetivo na sua escolha e fugir dos interesses, D'us respondeu de maneira correta e imediatamente mandou Rivka ao seu encontro.


Das atitudes de Eliezer aprendemos a importância de tentar fugir dos nossos interesses. Assim temos que tomar decisões de vida. Temos que tentar, a todo custo, evitar as decisões emocionais, que nos levam a erros. Mesmo milagres e sinais não são a forma pela qual D'us quer que tomemos decisões de vida, pois mesmos sinais podem ser apenas ilusões e testes. Não precisamos adivinhar o que D'us quer de nós, Ele nos explicitou ao nos entregar a Torá, com todos os detalhes de qual o nosso trabalho aqui neste mundo. D'us nos deu um intelecto, a capacidade de raciocinar, investigar e pesar os dois lados de uma situação, justamente para tomarmos decisões de forma racional e não emocional. Quando decidimos as coisas de maneira emocional, nos desviamos da objetividade por causa de interesses momentâneos.


Portanto, quando nos esforçamos e tomamos as decisões racionalmente, estamos contribuindo para que nossa vida possa seguir na direção correta. Mas se deixamos nosso lado emocional tomar as decisões, podemos estar escolhendo viver uma vida que é, no final das contas, uma grande piada.


SHABAT SHALOM


Rav Efraim Birbojm