Nesta semana lemos a Parashá Pekudei (literalmente "Contas"). Esta é a última das cinco Parashiót do Sefer Shemot que contém os detalhes de como o Mishkan foi construído. Além disso, é a Parashá que fecha o Sefer Shemot, também conhecido como "Sefer HaGalut VeHaGueulá" (o Livro do Exílio e da Redenção). Apesar de a redenção física do povo judeu ter ocorrido com a saída do Egito, a redenção espiritual somente ocorreu com o recebimento da Torá no Monte Sinai e a construção do Mishkan, o local de "moradia" do Criador do mundo. Sentimos uma sensação de realização ao estudarmos essas cinco Parashiót, como se tivéssemos de certa maneira participado da construção do Mishkan. Podemos imaginar, portanto, quão grande foi a alegria que o povo experimentou na ocasião monumental descrita na Parashá Pekudei, quando o Mishkan foi concluído e finalmente montado pela primeira vez por Moshé Rabeinu. Quão incrível deve ter sido o momento em que, diante dos olhares de mais de três milhões de pessoas, a Presença Divina repousou pela primeira vez sobre o Mishkan recém construído. Há um detalhe interessante registrado na nossa Parashá. Quando o trabalho do Mishkan finalmente foi completado, Moshé deu uma Brachá ao povo, como está escrito: "Moshé viu todo o trabalho, e eis que o haviam feito. Como D'us havia ordenado, assim o fizeram. E Moshé os abençoou" (Shemot 39:43). Mas que Brachá foi essa que Moshé deu? Rashi (França, 1040 - 1105) explica que a Brachá foi: "Que a Presença Divina repouse sobre a obra das mãos de vocês". Agora que tudo havia sido feito da maneira correta, a Brachá era para que D'us repousasse Sua Presença sobre o povo e sobre o Mishkan. Porém, o lugar mais lógico para dar essa Brachá ao povo judeu não seria no início da construção do Mishkan? O versículo no começo da Parashá Terumá diz: "Façam para Mim um Santuário, e Eu habitarei dentro deles" (Shemot 25:8). Essa Brachá, de "Que a Presença Divina repouse sobre a obra das mãos de vocês", não teria sido mais apropriada para se dizer naquele momento? Então por que Moshé a guardou para o final do processo? O Rav Yssocher Frand shlita responde através de um famoso ensinamento de David HaMelech: "Quem subirá ao monte de D'us, e quem se manterá em Seu lugar sagrado?" (Tehilim 24:3). Os comentaristas explicam que esse versículo alude ao fato de que há dois desafios diferentes na vida. Há o "Quem subirá ao monte de D'us?", ou seja, o desafio de ter a força de vontade e a determinação necessárias para subir no "monte de D'us". Mas há um segundo desafio, que é ainda maior do que o primeiro. O maior desafio é, uma vez já estando no topo da montanha, conseguir permanecer lá. Entendemos a dificuldade de subir para níveis mais elevados. Mas qual é a dificuldade de se manter lá em cima? O grande desafio é que a repetição cotidiana faz com que o tédio se instale. Por exemplo, repetimos todos os dias, três vezes por dia, a mesma Tefilá. No dia a dia, a monotonia se instala. Permanecer no "monte de D'us" é uma tarefa muito mais difícil do que inicialmente subir até lá. Um exemplo bem palpável é o que sentimos durante Elul, Rosh Hashaná e Yom Kipur. Nestes dias tão sagrados todos estão entusiasmados. Recebemos sobre nós comportamentos mais elevados. Nos comprometemos a subir de nível, a cumprir a Torá com mais rigorosidade, a nos cuidarmos das transgressões mais graves. Mas quando chegamos ao final de Adar, o que acontece? Apenas os mais elevados ainda estão de pé no topo do "monte de D'us". A grande maioria já abandonou seus compromissos de crescimento e voltou ao que era antes. Esse conceito se aplica a muitas áreas da vida. Por exemplo, quando chegamos à idade de Bar Mitzvá, começamos a colocar Tefilin, um ritual que normalmente envolve uma grande empolgação. Porém, quando alguém já coloca Tefilin há 20 ou 30 anos, parte daquela empolgação se perde. Isso também acontece na maioria dos casamentos. O "Shaná Rishoná", primeiro ano de casamento, é maravilhoso. É o período da lua de mel. Tudo parece perfeito, o amor está no ar. Mas quando alguém está casado há 20 ou 30 anos, a empolgação daquele primeiro ano não parece persistir. A quantidade de divórcios é um forte indicador de como muitos realmente não conseguem se manter lá em cima do "monte de D'us". Mas não podemos permitir que isso aconteça. O desafio não é apenas "Quem subirá ao monte de D'us?", isto é, quem alcançará o topo da montanha. O desafio é ainda maior, o "Quem se manterá em Seu lugar sagrado?". É esta mensagem que D'us está nos transmitindo em relação ao Mishkan. No começo da construção, todos estavam entusiasmados, principalmente se nos lembrarmos do contexto no qual a construção aconteceu. Após a transgressão do Bezerro de Ouro, D'us ameaçou destruir todo o povo. Moshé rezou por eles e, finalmente, em Yom Kipur, ele desceu novamente do Monte Sinai com as Segundas Tábuas. Eles começaram a construir o Mishkan no dia seguinte a Yom Kipur. Todos participaram com empolgação e emoção. Mesmo que eram materiais caros e preciosos, as doações foram tão fartas que Moshé teve que pedir para que as pessoas parassem de doar. Aquela era a fase do "Quem subirá ao Monte de D'us?". No entanto, a partir do momento em que o Mishkan estava pronto, a empolgação se dissipou. Agora começava o cotidiano repetitivo, o "dia após dia". Manhã e tarde, manhã e tarde, trazendo sempre o mesmo "Korban Tamid". Portanto, a Brachá de Moshé para eles foi: "Que a Presença Divina repouse sobre a obra das mãos de vocês", isto é, que o entusiasmo inicial seja mantido ao longo da fase contínua dos Serviços diários do Mishkan. É a isso que David HaMelech se referiu quando nos ensinou: "Uma coisa peço a D'us e a procuro: que eu possa morar na Casa de D'us todos os dias da minha vida, para ver a bondade de D'us e visitar o Seu templo todas as manhãs" (Tehilim 27:4). Há uma aparente contradição em suas palavras, pois em um primeiro momento ele pede a D'us para ser um morador em Sua casa, mas logo que seguida pede para ser um visitante. Afinal, ele queria ser um morador definitivo ou apenas um visitante passageiro da Casa de D'us? A resposta é que obviamente David HaMelech queria ser um morador definitivo na Casa de D'us. Porém, ele sabia que um morador definitivo aos poucos vai se acostumando e, algo que no início era deslumbrante e encantador, torna-se normal. Já no caso de um visitante, tudo para ele é mágico, pois tudo é novidade. Portanto, foi isso o que David HaMeleh pediu, que ele vivesse de forma definitiva na Casa de D'us, mas com o frescor e a empolgação de quem está apenas visitando o lugar. Nosso problema é que não sabemos dar valor às pequenas oportunidades do dia a dia. Vivemos apenas em busca de grandes momentos e realizações. Esquecemos que o principal da vida não está nos raros grandes momentos, e sim na esmagadora maioria dos pequenos momentos comuns do cotidiano. E, por esta falta de percepção do verdadeiro valor dos pequenos momentos, acabamos perdendo grandes oportunidades. Este é o grande desafio da vida, e é justamente onde está escondida a verdadeira alegria da nossa existência. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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