sexta-feira, 3 de maio de 2019

QUEM ESTÁ NO VOLANTE? - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT ACHAREI MÓT 5779

BS"D
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QUEM ESTÁ NO VOLANTE? - PARASHAT ACHAREI MÓT 5779 (03 de maio de 2019)


"Certa vez, um rabino precisou fazer uma viagem e chamou um táxi. O taxista era um homem extremamente educado e cordial, e o táxi era bem confortável e espaçoso. A única coisa que chamou muito a atenção do rabino foi que, diante do banco do passageiro havia outro volante, igual ao do motorista. Ele achou muito estranho, não entendeu para que servia aquele segundo volante. A curiosidade falou mais alto e ele finalmente tomou coragem e perguntou:

- Perdão pela curiosidade, mas para que serve este volante diante do banco do passageiro? Ele funciona?

O taxista deu risada ao ouvir a pergunta e disse:

- Não tem um único passageiro que entra no meu carro e não pergunta sobre este volante. Sei que parece estranho, mas vou explicar ao senhor. Eu tenho um filho pequeno que é hiperativo. Isto era especialmente perigoso nos momentos em que viajávamos de carro, pois todas as vezes que ele entrava no carro, quase me deixava louco. Ele queria ficar apertando todos os botões, ligava e desligava o rádio, acionava o pisca alerta e queria mexer até no câmbio. Eu tinha medo de me desconcentrar e acabar batendo o carro. Certo dia, eu tive uma ideia genial. Instalei este volante diante do banco do passageiro e perguntei ao meu filho se ele queria dirigir. Ele ficou muito empolgado com a ideia de estar conduzindo sozinho o veículo. Agora, andar de carro é uma maravilha, pois ele fica tão concentrado no volante, achando que realmente é ele que está conduzindo, que não mexe em mais nada e me deixa dirigir em paz."

Assim também acontece em nossas vidas. Vivemos com a falsa sensação de que somos nós que estamos dirigindo nossas vidas. Esquecemos que, na verdade, é D'us que está dirigindo, enquanto nós estamos apenas mexendo em um "falso volante", concentrados, achando que somos nós que estamos no controle da situação.

Nesta semana lemos a Parashat Acharei Mót (literalmente "Depois da morte"), que começa descrevendo os complexos Serviços espirituais feitos no Mishkan (Templo Móvel) no dia mais sagrado do ano, Yom Kipur. O Cohen Gadol fazia muitas atividades neste dia, como oferecer Korbanót (sacrifícios) e incensos, para despertar a misericórdia de D'us e possibilitar que as transgressões do povo judeu pudessem ser expiadas.

Um dos serviços mais interessantes de Yom Kipur era um sorteio que o Cohen Gadol fazia, utilizando um utensílio chamado "Kalpi", dentro do qual havia duas placas, uma onde estava escrito "Para D'us" e outra onde estava escrito "Para Azazel". Dois bodes eram colocados diante do Cohen Gadol e o destino de cada um deles era sorteado. O bode cuja placa estava escrito "Para D'us" era oferecido como um Korban no altar. Já o bode cuja placa estava escrito "Para Azazel" passava por um processo enigmático. O Cohen Gadol apoiava suas mãos sobre a cabeça do bode e confessava as transgressões do povo judeu. Ele então designava uma pessoa para levar este bode ao deserto, onde ele era atirado do alto de uma montanha muito íngreme. Este processo simbolizava que o bode estava levando embora as transgressões dos judeus, deixando-os purificados. E foi justamente deste processo, de transferir ao bode a culpa pelas transgressões do povo, que surgiu a expressão "bode expiatório", que significa alguém levar a culpa pelo erro dos outros.

Porém, o que significa o nome "Azazel"? O Talmud (Yoma 67b) explica que "Azazel" é a contração de duas palavras, "Az" (rigoroso) e "Eil" (forte), indicando que o bode deveria ser atirado do alto da montanha mais íngreme e escarpada possível. O Talmud traz ainda outra explicação, um pouco mais profunda. O nome Azazel é a contração de "Uza" e "Azael", o nome de dois "anjos caídos". Eles eram dois anjos de destruição que questionaram a vontade de D'us de criar o ser humano, argumentando que não valia a pena povoar o mundo com seres que futuramente se corromperiam e cometeriam muitas transgressões. Eles pediram a D'us para serem transformados em seres humanos, para que pudessem cumprir a vontade Divina mesmo vivendo no mundo material. Porém, conforme D'us havia advertido, assim que eles se transformaram em humanos, começaram a se envolver em várias formas de comportamentos promíscuos e imorais, incluindo adultério, como está escrito: "Os Nefilins (literalmente "caídos") estavam na terra naqueles dias, e também depois, quando os "filhos dos nobres" se relacionavam com as filhas dos homens, e elas tiveram filhos com eles" (Bereshit 6:4). De acordo com o Talmud, o bode de Azazel vinha justamente expiar estas transgressões de depravação e imoralidade.

Entretanto, esta segunda explicação é aparentemente contraditória com outro ensinamento. Há um versículo na Parashat que descreve o poder de expiação do bode de Azazel: "E Aharon apoiará suas duas mãos na cabeça do bode vivo e confessará sobre ele todas as transgressões dos Filhos de Israel, todas as suas rebeliões e todos os seus pecados não intencionais, e as colocará no bode" (Vayikra 16:21). Nossos sábios aprendem das palavras "todas as transgressões" que não há limites sobre quais tipos de transgressão o bode de Azazel vinha expiar. Então por que o Talmud afirmou que o bode vinha expiar somente a transgressão de imoralidade e depravação, se o versículo escreve de uma maneira que incluiu a expiação de todos os tipos de transgressão?

A resposta está em outro ensinamento interessante da Torá. Muitos comentaristas questionam o motivo pelo qual o último dos 10 Mandamentos é justamente o "Não cobiçarás", algo aparentemente muito mais leve do que os Mandamentos anteriores, que nos advertem contra o adultério, o sequestro e o assassinato. Responde o Rabeinu Bechaya zt"l (Espanha, 1255 - 1340) que o "Não cobiçarás" é o último Mandamento pois inclui todos os Mandamentos anteriores. Mas o que isto significa?
 
De acordo com o Rav Yohanan Zweig, o "Não cobiçarás" dos 10 Mandamentos não se refere a uma pessoa que sente desejo e luxúria. Embora isto possa explicar a cobiça de um homem pela mulher do próximo, a imoralidade não é o motivo pelo qual a pessoa cobiça os bens do próximo. A motivação verdadeira para a pessoa cobiçar o que é do outro está no desejo por poder e por controle. O adultério e a busca de prazer em relações proibidas nem sempre vêm da falta de autocontrole ou de um desejo irresistível. Muitas vezes estes comportamentos imorais vêm da necessidade que a pessoa sente de impor sua vontade e afirmar seu controle sobre os outros. É muito comum que pessoas em cargos de liderança apresentem comportamentos imorais, como consequência da sua necessidade de se autoafirmarem em suas posições de poder. Cobiçar a esposa do vizinho ou as posses dele é uma maneira através da qual a pessoa pode impor a sua vontade e afirmar seu controle sobre seu companheiro.

Esta necessidade já enraizada de exercer o controle sobre os outros não é algo que tem impacto apenas nos nossos relacionamentos interpessoais. Apesar desta conduta certamente causar consequências sociais negativas, este tipo de comportamento também é uma afronta a D'us e demonstra um desequilíbrio no nosso relacionamento com Ele. De acordo com o Rav Avraham ben Meir zt"l (Espanha, 1092 - 1167), mais conhecido como Ibn Ezra, uma pessoa que deseja o que é dos outros, além de estar transgredindo o "Não cobiçarás", também está transgredindo o primeiro Mandamento "Eu sou D'us", pois o ato de querer exercer controle sobre os outros é, em última instância, uma rebelião contra D'us. Uma pessoa que tem plena consciência de que seu direito de existir é concedido por D'us, automaticamente entende que não tem nenhum direito de impor sua vontade sobre os outros.

Os "anjos caídos" são chamados pela Torá de "filhos dos nobres". Em hebraico, o termo utilizado é "Bnei   Elo-him". O nome Elo-him sempre é utilizado para denotar poder e autoridade. Ao denominá-los através desta expressão, a Torá está revelando que o comportamento de adultério e imoralidade que eles apresentaram era, na realidade, uma consequência da sua necessidade de dominação da humanidade.

Toda transgressão que uma pessoa comete está "contaminada", em algum nível, pela necessidade de exercer controle. Portanto, quando o Talmud ensina que o bode de Azazel vinha espiar as transgressões de Uza e Azael, isto é, a imoralidade como consequência da necessidade de poder e dominação, o Talmud está ensinando que, em última instância, o bode estava vindo expiar todas as transgressões cometidas pelo povo judeu.
 
Este ensinamento da Parashat é algo que pode nos ajudar muito na vida. Queremos sentir sempre que estamos no controle da situação. Nos irritamos quando as coisas não acontecem exatamente da maneira como gostaríamos que acontecesse. Este é um sinal de que esquecemos que é D'us que está no controle. Ele sabe o que é o melhor, pois Seu conhecimento e entendimento são ilimitados, enquanto nós somos limitados. Precisamos desenvolver a nossa Emuná (fé) completa em D'us e colocar no nosso coração que tudo o que acontece é o melhor, pois é D'us que está dirigindo nossas vidas. Obviamente que devemos fazer a nossa parte e nos esforçar para que as coisas aconteçam da maneira correta, mas sem nunca esquecer que o resultado final depende única e exclusivamente de D'us.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L. Que possa ter um merecido descanso eterno.
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